Os Suspeitos do Costume

A desorientação que reina a propósito da e-coli é mais do que muita. Como se não bastasse a vergonhosa indiciação dos pepinos espanhóis com base no vácuo, vêm, depois de apontar a dedo numa cozinheira indefesa, carregar nas costas largas do Egipto, provavelmente com o raciocínio genial de que quem teve dez Pragas do quilate das Bíblicas pode bem arcar com mais uma, nesta contemporaneidade a esvair-se.
Não faço ideia sobre se o Egipto aqui não faria mais sentido se falado a propósito dos seus abutres, aqueles que lhe exploram a imagem na desgraça, com inerente diminuição das defesas, para se desresponsabilizarem. Para mim, a prioridade de atenção que os relatos do Antigo Testamento devem usufruir reflecte-se nas lições de culpa e castigo do Homem em abstracto., a propósito de comportamentos reprováveis susceptíveis de analogia. E, nessa linha, lembraria ao novel Governo Luso que a dezena de maldições contra a Terra dos Faraós foi desencadeada pela recusa de um Feriado cultual. A bom entendedor...
A imagem é Uma das Pragas do Egipto, de John Martin

Hesitações do Patriotismo

Não me consigo decidir, na grave conjuntura que atravessamos: fazer eco das palavras do Presidente e, com a sugestão visual que acompanha, recomendar o consumo de produto Nacional, ou refrear-me, por a mesma imagem poder ser entendida como sugestão de resolver a coisa à bolacha, logo, um apelo à violência que nos chega da Grécia em grande profusão, em análogas, embora hiperbolizadas, circunstâncias.
Mas, como a grande marca Portuguesa é, essa sim, a dos "brandos costumes", corro o risco.
A praça onde os distúrbios evoluem é a Syntagma, parece. Até aí podemos apostar na fonética, já que igual som em português significa uma unidade (vocabular) de que resultam orações. Tomando-as no sentido de preces agreguemos por conseguinte os nossos ditos em ordem ao que se possa salvar do Bem Comum.

Excesso de Velocidade

Como podem os Nuestros Hermanos censurar a supressão da tolice geralmente verificada que era traduzida nos comboiozinhos speedados, quanto tiveram de emprateleirar três ligações desse jaez? Dirão que Madrid-Lisboa une outro tipo de cidades, mas esquecem que, deste lado da fronteira vive também diverso tipo de gente, com bolsos muito mais vazios, como o Governo respectivo. Ao ponto de para cá do Marão, tendo o Marau que inventou a embrulhada deixado de mandar, se haver desistido temporariamente de ver a luz ao fim do túnel.
Enfim, à espera de um Presente Grego que torne irrelevantes as muralhas da União Europeia, sou eu que, como bloguista, paro para reflectir se vale a pena continuar, quer dizer, faço o meu teste de stress. O País está em crise, mas a blogosfera que conheci pujante noutros tempos não o está menos. Vamos ver, porém desconfio de que não terei forças blogadoras para atravessar uma Estação ainda mais Tola do que o habitual.
O Comboio Acelera(n)do, de Ivo Pannaggi

Da excepção à regra

No último sábado, a revista Única, suplemento do semanário Expresso, publicou uma entrevista com o poeta Nuno Júdice. Apesar de orientada pela inenarrável Clara Ferreira Alves, a conversa tem algum interesse. Chamo conversa porque a frequência com que esta loira do regime (não no sentido que Menezes cunhou o termo, atenção!) introduz as suas próprias opiniões é assustadora. Mesmo assim, não resisto a partilhar aqui o seguinte excerto:
"E não achas que esse silêncio faz perder influência? E a influência da literatura era importante na formação do pensamento político. Lembramo-nos do Mitterrand. Ou, na América do Norte, da influência de gente como Norman Mailer, Saul Bellow. Dos escritores da América Latina. Acabou. Esse afastamento do escritor vem de um pensamento politicamente correcto que tem vindo a ganhar peso no mundo, impondo-se. O escritor quando fala e se empenha está a assumir uma posição individual, e quando esse olhar é formatado pelo politicamente correcto ninguém se atreve. Como é que um escritor se vai atrever, por exemplo, a justificar um acto terrorista num determinado país? Esse acto, há 40 ou 50 anos, seria elogiado pelo mundo intelectual de esquerda, que elogiava as bombas que rebentavam no Vietname e no Camboja, ou nos cafés de Paris, e que faziam vítimas. Essas vítimas eram justificadas por uma ideologia, um sonho utópico. Hoje, essa atitude iria condenar o escritor e proscrevê-lo.
Pensar contra a corrente é da essência da liberdade intelectual... Sim. Nunca vivemos tão livres, mas o pensamento é hoje muito pouco livre. 
Tradicionalmente, os escritores e artistas são dessa área, com aquelas excepções, algumas trágicas, que conhecemos. Céline, Pound e por aí fora. Viste o que aconteceu com o Céline, em França. Proscrito. Exacto. Acho um erro tremendo. Céline, quando escrevia aqueles panfletos, estava num contexto, e era um mundo louco. Ele foi embarcado, como Ezra Pound. Não podemos julgar com critérios actuais o que foi vivido por outros noutro tempo, por abominável que possa parecer. Ao escrever, o Céline estava a usar de uma liberdade total. Como o Marquês de Sade, com as matanças e orgias dos seus romances."
Em primeiro lugar, se já não o suspeitássemos, ficamos a saber que o horizonte de Clara Ferreira Alves não vai muito além do seu quintal. Ao afirmar que «tradicionalmente, os escritores e artistas são» de esquerda e que o resto são algumas bizarras excepções, a cronista ignora que esses foram os artistas e escritores que sobreviveram à nova ordem que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Esquece-se (ou não sabe) que os regimes que perderam a guerra tinham o apoio de inúmeros intelectuais, escritores e artistas de inegável talento, que depois de 1945 foram presos, fuzilados ou silenciados. No entanto, o mais interessante da entrevista é a afirmação de Nuno Júdice: «nunca vivemos tão livres, mas o pensamento é hoje muito pouco livre». De facto, a actual liberdade de costumes contrasta com a exiguidade do pensamento. Existe uma margem oficial de pensamento que formatou as páginas dos jornais, o espaço de comentário nas televisões e as estantes das livrarias, que determina o que é certo ou errado dizer. Quem ousa pensar fora da caixa é imediatamente catalogado de marginal e corre o risco de ficar infrequentável para sempre. Estamos sempre mais perto de 1984 do que pensaríamos.

Arenque Esfumado

O que eu gosto deste nome de família! Para além de fervoroso admirador da Ética do Capitão, sou-o também da Estética da Actriz. Não consigo é vislumbrar nela o peixe que lhe compartilha a graça, embora apenas no sentido da nomenclatura. Pois se nem aparenta ligação ao Mar...: Laura Haddock

Grandes Arquitecturas

Os rumores sobre manobras frustradas das cumplicidades Maçónicas em vista à eleição de Fernando Nobre para a condução do Parlamento fizeram-me voltar a esta brochura que contém um requisitório em devida forma contra as manipulações na Legislatura Francesa que permitiram a aprovação sem debate do Pacto a Quatro que, antes de ter sido insulto do léxico do Capitão Haddock, foi acordo considerado lesivo dos interesses da França, na medida em que abria a porta à revisão dos draconianos mas favoráveis tratados de Paz.
Igualmente relata os testemunhos de ligações dos "irmãos de avental" ao assassinato do Arquiduque Francisco Fernando, o qual precipitou o desaparecimento dos resquícios de continuidade na vida pública Continental, como as protecções dos neopedreiros-livres aos implicados no caso Stavisky e a penetração nas Informações Militares.
Nada que por cá não conheçamos, através das imputações do Regicídio e das suspeitas que rodeiam arquivamentos em casos judiciais recentes, acrescidas de nomes na liderança das secretas do Burgo. Mas nem chamo à pedra tais implicações, parece-me suficiente dizer que solidariedades influentes reservadas que se arroguem de transversalidade nos Partidos, mesmo da óptica do Sistema, são nocivas, pois transferem o potencial controlado de conflito ínsito na formulação do regime para uma incerta reacção da Comunidade contra as direcções partidárias no seu todo, irmanadas contra a Religião tradicional pelas ocultas e orientadas sintonias. Nada que merecesse grande lamento, não fora a possibilidade de sangue fratricida, como o que correu em Paris nos protestos de 6 de Fevereiro de 1934, o ano da publicação aqui dada, ou a da instabilidade que precedeu o triunfo da plataforma anti-maçónica presente, nos EUA, na vitória presidencial de William Harrison sobre o elitismo artificial e artificioso que combatia..
E ninguém me tira da cabeça que o Autor, sobretudo um propagandista, foi assassinado por causa da condição que arvorava na capa deste panfleto. Foi, decerto, uma represália pelo assassinato de Zay, mas, entre os Políticos de Vichy, outros havia mais próximos dos Alemães, igualmente não era difícil encontrar quem estivesse mais ligado à repressão dos amigos dos matadores. Mas o passado deste veterano opositor deve tê-lo feito, literalmente, ficar debaixo d´olho.

Corrigenda Política

O Dr. Seguro lá entendeu dever papaguear o Dr. Soares e dizer que se impõe «uma refundação do PS», quando é óbvio que ambos se referem a uma refundição do mesmo. Não deve ser difícil a políticos habituados a inaugurar obras já inauguradas as vezes que lhes forem convenientes simular o lançamento de uma nova primeira pedra de realidade há muito conhecida e, ultimamente, um tanto calcinada. É pura retórica para encher o olho, já que não será através do vigor de mocidade forjada que os Socialistas voltarão ao Poder, mas pelo fatal cansaço brotado das previsíveis dificuldades impostas pelos Laranjas e das por eles vividas. Donde, a lenga-lenga das «soluções adaptadas à realidade de cada momento», a qual, traduzida, significa a habilidade de dançar conforme a música que a Troika toque. E que pretende ser tanto uma credencial de capataz apresentada aos novos donos para aceitação, como uma desculpa antecipada da sua metade do falhanço rotativo que todos perspectivamos, imitando o que os rivais já fizeram, a saber, o abaixamento das expectativas. A mim é que já não resta quota destas.Os Pavões da Fonte da Juventude, de Brenda Philips

O Hábito e o Monge?

Eu ainda acho que o Sr. Sanguinetti, embora com uma incapacidade de expressão descoroçoante, não estava a culpabilizar as Mulheres pelas violações, mas a aconselhar-lhes prudência para evitá-las. Agora, as reactivas manifestantes provaram ser umas barulhentas misturadoras, ao meter no mesmo saco comportamentos execráveis como as condutas criminais obscenas e momentos quase diria lúdicos, por exemplo, o piropo sem mais; ao confundirem as vielas psíquicas que antecedem as violentações criminosas com o mecanismo cerebral de homens limpos, numa cedência ao mais altissonante e belicista Feminismo; e por aceitarem cruzar-se com demonstrações de exibicionismo gay, sobre as quais já disse o que tinha a dizer.
A Marcha das auto-proclamadas Galdérias só tem pés para andar se for um momento de escape para libertar recalcamentos e vestir diferentemente do habitual, uma mascarada carnavalesca, enfim. Como não quero que lhes falte coisa alguma, sugiro que, em próxima edição, às toilettes de meretriz mais ou menos acabada juntem estes expressivos sapatos. Afinal, na gíria lusa cabra vai como sinónimo de galdéria, não é verdade?

O Fim do Regime

O título vale tanto na acepção de objectivo da dieta, como no sentido de final do sistema. Seja como for, percebi finalmente o que os meus Amigos da Sinistra me parece já há muito terem topado: graças à obsessão com o emagrecimento do Estado Social, esta constatação revela à saciedade o que se preparam para lhe fazer...
O Enigma do Oráculo, de G. Di Chirico

Sombra de Uma Dúvida

Um Concelho nosso festeja Gorbachov e eu pergunto se ele o merecerá. Também, no meu tempo, delirei com o desabar do Comunismo e do Mundo dividido em dois, uma reformulação da grande ameaça pendente em que tinha crescido. Mas, se gosto do resultado, não consigo ver grandeza no Instrumento que o possibilitou, uma espécie de Kerensky revertido. A dimensão de estadista encontra-se em quem resiste, dificilmente em quem cede. Dir-se-á que o Visado era um Social-Democrata, não já um Comunista. Mas então ficar-lhe-ia bem tentar aceder ao mando pela oposição, não minar a partir de dentro. Não sou sensível a Marcellos Caetanos, quaisquer que sejam as cores respectivas.
E, sem ser propenso às teorias de conspiração, ainda alimento dúvidas sobre se não terá sido, de forma combinada, que não só involuntariamente, um agente dos EUA. Entenda-se, não o crismo de mercenário, até acredito que pensasse estar o Bem para os seus compatriotas na mudança de regime. O que ponho na mesa é se não andaria concertado com as agências de informação Norte-Americanas para o promover, através do desabamento provocado das instituições vigentes. O que levaria a uma identificação errada da ave cuja silhueta ocupa o lugar da célebre mancha, nesta caricatura de Aislin: não se trataria da Pomba da Paz, mas da Águia dos States.

Porque também somos sete mas não só

The Magnificent Seven /«Os Sete Magníficos» (EUA, 1960), de John Sturges.

[Fotografia captada numa pausa da rodagem do filme.]

Retrato de uma época de ouro

No centenário de Juan Manuel Fangio, recordo aqui o grande corredor ítalo-argentino de fórmula 1, cinco vezes campeão mundial. Nada de computadores de quatro rodas teleguiados por batalhões de técnicos, mas a perfeita combinação de braços, conhecimento, arrojo e máquina feita à mão.

Peter Falk

O Anjo encetou a viagem de volta ao Céu.
R.I.P.

O Jogo das Cadeiras

Tenho os partidos, quaisquer que sejam as respectivas cores, por amputações da integridade do Homem. Mas quem se aceite auto-mutillar, comprometendo-se sob a sigla de um, na corrida a um cargo eleito deve aguentar-se. E se a coisa dá para o torto, ao menos no nosso sistema, abandoná-lo, sem pretender esticar a sua permanência nele. Diferentemente nos EUA, em que o voto é na pessoa, sendo a filiação pouco mais que um complemento.
O Sr. Rui Tavares foi eleito para o Parlamento Europeu porque o Bloco o propôs. Zangado com o seu Coordenador tinha de fazer as malas e, deixando-se substituir, voltar ao torrão. Passar-se de armas e bagagens para o grupo parlamentar Verde só pode encontrar fundamento no seu estado para a Política, já que fez depender a sua manutenção na bancada que abandona de umas desculpas que seriam sempre esfarrapadas. Entretanto, há outro ângulo, aderindo escabrosamente, com mentirolas e correcções à mistura, ao agrupamento ecologista desse contestatário moribundo que é Cohn-Bendit, demonstrou ter criado raízes em Estrasburgo. O que explica tudo.
A imagem é O Homem Verde, de David Brooke

Ensino e Educação em Portugal

Ter escrito sobre o tema em postal recente obriga-me a deixar estas notas. A análise completa da matéria pediria hoje menos a pena barbelada de Verney do que um computador de memória bastante para arquivar tanto disparate.
Foi moda a Educação ser o amor confesso dos governantes deste regime. Ora quando estes se empenham a fundo e em cheio no renascimento do que quer que seja, o mais certo é que liquidem de vez o objecto dos seus interesses. Nem os frontispícios escapam. Inchados de progressismo, apagaram o belo e aristotélico nome de liceu para riscar o país de escolas secundárias e, logo a seguir, escolas C+S E.B 2.3 — por um triz não incluíram raízes quadradas na denominação dos novos estabelecimentos.
Avultaram os «cientistas da educação», lidos em Glasersfeld. A ignorância alastrou e a indisciplina tomou conta das salas. Fixou-se como objectivo do ensino obrigatório ensinar a contar até dez pelos dedos — ou com recurso a calculadora. Os programas foram convenientemente politizados para produzir gerações de jovenzinhos republicanos, socialistas e laicos.



Entraram de pulular universidades novas. Anicharam-se por palacetes arrendados, à cata de clientes. Institutos superiores pujaram e intumesceram, centros modernos de todo o saber, espalhados por aldeias e vilórias. A oferta de cursos regurgitou, nada há que se não ensine e à farta, desde licenciaturas em jazz a mestrados em gestão de campos de golfe.
Aboliu-se entretanto a instrução clássica — e instituiu-se a educação moderna, com aquisição de competências e ciência a frouxo. O resultado está visto. Perdeu-se uma e não se ganhou a outra — se os alunos desconhecem a Filosofia, o Latim e até o Português, nem por isso dominam a Física, a Química ou a Biologia.
O nível de exigência é rasteiro. Nada de exames: parece que prejudicam o desenvolvimento cognitivo e podem fazer mal aos miolos e mais partes dos rapazes esfalfados. Nem memória, porque o decorar brutifica; nem leitura nem reflexão, porque a matéria só tem que entrar pelos ouvidos; nem o manejar linguagem com ideias nem ideias com linguagem.
Vejo o modo como os adolescentes se correspondem com mensagens de telemóvel, em código macacóide, e pressinto que a próxima geração já cresça com as patas da frente no solo. (Alguns de agora já ensaiam a rabiscar paredes.) O Vargas Llosa queixou-se do mesmo aqui há semanas. Mas os tratos de polé à língua materna vão dar-me outro postal.

Tudo Sobre Rodas

Há em Portugal uma obsessão com os automóveis que, tão pueril e compensatória de frustrações, se não vê em mais lado algum. Basta observar a condução das nossas estradas, unanimemente apontada e largamente reconhecida como a pior da União Europeia. Qualquer Zé Ninguém, por ter entre mãos um volante e dar patadas num acelerador, se imagina detentor dum poder que não tem. Não admira pois que o verdadeiro Poder estime a acumulação de viaturas como condição e sigo da dignidade que pensa sua.
A inspecção vinda à tona é triste a vários níveis, desde logo por as compras públicas no sector excederem o preconizado nos próprios critérios, já de si generosos, se comparados com o cálculo de necessidades intuído por cada contribuinte. Que admira que os assessores tenham popó às ordens, a sonoridade do próprio nome indica estarem na calha para as mais rápidas facilidades de acesso...
Só espero que a desproporção face à diferença programada de incorporações e abates não venha a inspirar qualquer ratio de contratações e saídas da previsão para a reforma da Função Pública.

Sem Rei Nem Grei!

Confirma Sousa Bastos que a Procissão do Corpo de Deus, saída da Sé na data da comemoração era a mais afamada de Lisboa, onde se incorporavam os próprios Soberanos de Portugal, o que se atesta nesta fotografia do provisoriamente Derradeiro Deles. Sintoma da nossa decadência é a preparação minuciosa de festejos estar hoje reservada a a alarvidades como o Carnaval, ou a festejos dignos mas com cada vez mais reduzida reflexão te(le)ológica, como os dos Santos Populares. Esta que hoje teria lugar começava um mês antes, com as principais artérias da Capital ostentando as janelas e varandas com colchas e demais panos preciosos dependurados, à maneira do que ainda se faz em Espanha nos momentos festivos e hábito que de cá desapareceu, talvez por não restar muito para celebração. A relevância pública ia a pormenores como a mudança de fardamento dos militares, que iniciavam o uso da calça branca estival nesse dia. Era o evento mais interclassista, com popularíssima afluência, incorporação das elites do Reino, Família Real e Pares à cabeça; e todo o Cabido e Irmandades, marcando a presença das Basílicas e Referências de Culto. Como também transversal em matéria de etnias, fazendo desfilar desde oito dias antes o Estado de São Jorge, composto pela Comunidade Negra tornada Alfacinha. Tudo sob a invocação do Santo nomeado, a da vitória em Aljubarrota, cujo intérprete vinha do Castelo para baixo, após ser içado por guindastes similares aos que faziam montar os cavaleiros e armaduras respectivas no célebre filme de Orson Welles.
Tempos em que o sentimento comunitário era mais do que o pretexto para as risadas escarninhas, de hoje, salvo quando são substituídas pelos apelos a "exercício de cidadania", gritos de impotência e esgares manipulatórios que semeiam cada vez maior aversão.

Troçar da Troça

Nem atribuo importância de maior a esta picadinha da Lapónia e arredores, que não tem envergadura para chegar a picardia. Mas até acredito que a grosseira falsificação de um Rei gastador no nosso País ancore no trauma colectivo lá da terra, desde que tentaram implantar uma Monarquia e não conseguiram. É verdade que, então, o Marechal Mannerheim, proclamado Regente, tentou, através de gastos sumptuários com um cerimonial de rigor, dar-se os ares de legitimidade de que a chefia do Estado, sem Coroa, carecia. O facto de terem apostado no cavalo errado, um Príncipe Alemão que os vencedores de 1918 não deixaram tomar posse do Trono, bem como a ulterior aliança com a Alemanha derrotada, também deve ter contribuído para desejarem que dê com os burros na água hoje em dia qualquer ajuda de Berlim a outrem.

Estado da democracia em França


O gráfico foi retirado do blogue François Desouche e, apesar das óbvias limitações, exprime bem a diferença entre as escolhas políticas dos franceses nas últimas três eleições e a composição da Assembleia Nacional. Vale a pena analisar a representatividade deste sistema eleitoral, que privilegia de forma desproporcionada os dois maiores partidos do espectro, marginalizando todas as formações políticas concorrentes. Nesse aspecto, o caso do Front National é particularmente evidente. Trata-se de um partido que elege regularmente deputados para o Parlamento Europeu (neste momento são três), mas que não consegue ter um único representante na Assembleia Nacional.

Suicídio da Língua

Arma Para Suicídio, de Adam Brooks
Como pode um suicídio ser forçado, sem que o deixe de ser? Se ainda houvesse uma hipótese de escolha, como o que os Hitlerianos sugeriram a Rommel, vá. O Marechal era um adulto na posse das suas faculdades e fora-lhe dada como macabra alternativa a comparência perante um tribunal político, o que, sendo certeza antecipada da sentença, configuraria morte diferente da auto-infligida.
Agora, quando se força uma Menina de oito anos a envergar um colete de explosivos que a fará volatilizar-se conjuntamente com quem mais calhe, é precisamente o inverso. Nem a idade permite uma manifestação da vontade atendível, nem sequer houve o cuidado de tentar a persuasão, o recrutamento foi efectuado à força, o que, para além de remeter para o contra-senso de um "suicídio coacto", revela uma decadência neste tipo de bombistas, na medida em que em vista a estas acções já não conseguem o voluntariado bastante. Paradoxalmente, trata-se também de uma certa humanização, pois ao não seleccionarem na respectiva família o veículo do assassínio em massa, os autores do golpe falhado vivem um triunfo do afecto sobre o orgulho do martírio, recorrendo à filha de outro, coisa para eles tão pouco valiosa como um burro, uma vez que chacinar inocentes não os perturba.
Só assim, de resto. Não parece que, pelo género e idade da protagonista, a promessa de recompensa das 72 virgens pudesse obter qualquer efeito útil.

O Fio à Meada

Prosseguindo a minha vocação de treinador de bancada, passando da equipa ao programa de Governo, posso até enfileirar pelos que aduzem estar Portugal perdido num labirinto, o financeiro. Mas, para se sair deles, a receita clássica é recorrer ao Fio de Ariadne. Onde, porém, encontrá-lo? Sugiro que nos inspiremos numa Liga mais poderosa, a Espanhola, ainda resistente a intervenções externas. E, eureka, eis o golo de ouro com a descoberta da Ariadne... Artiles!

Almas Ardentes


«O Amor Separar-nos-á», Os Golpes.

Acabadinho de chegar, está aí o novo teledisco d'Os Golpes. Se é certo que a escolha do nome do tema é infeliz (achei-o da primeira vez que ouvi — não havia necessidade de uma colagem tão evidente ao clássico dos Joy Division), a produção e a própria música dão a volta ao problema. Extraído do meio-disco «G», este single anuncia novos trilhos para a banda. A música portuguesa volta a mostrar que está bem e recomenda-se.

Altos voos


Em miúdo alimentei um desejo que nunca concretizei e que se tornou impossível de concretizar: voar no Concorde. Lembrei-me disto ao ler a notícia sobre o ZEHST, o projecto do avião ultra-sónico de fabrico europeu que "promete ligar Paris a Tóquio em menos de duas horas e meia". Impressionante, sem dúvida. O problema é que tal só se passará lá para 2050. O sonho vai continuar a ser apenas isso...

Patético


É o que se pode dizer de mais um triste episódio de Fernando Nobre protagonizado ontem. O homem da "galinha", do "tiro na cabeça" e das constantes contradições, afinal fica na Assembleia da República como deputado. Mais um caso par(a)lamentar...

Nobilitação Armadilhada

Ao Dr. Passos não saiu nada bem a escolha para presidir ao Parlamento, mas saiu-se optimamente do caso: livrou-se a um tempo de uma voz com possibilidades de agenda própria numa tribuna de ouro, depois de haver garantido que não mais estaria sujeito à flagelação eventual de um notável aureolado com uma importante percentagem de votação pejada de independentes e desiludidos.
Não creio que o iminente Primeiro-Ministro tenha sido imbuído do maquiavelismo de trazer por casa que lhe permitisse representar todas estas vantagens. Julgo simplesmente que estava tomado da vertigem do favorito, a qual, dada a previsibilidade da conquista do Poder, leva a acreditar num destino próprio de excepção a preencher e na decorrente grandeza ao alcance de mão conducente à angariação de apoios extra-facciosos.
Mas já não digo outro tanto do futuro Ministro Relvas. Se é certo que o não sinto com inteligência bastante para aperceber previamente toda a dimensão do desenvolvimento constatado, vislumbro-lhe a esperteza suficiente para tentar comprar cumplicidades com a oferta de um penacho.
De tudo isto quem sai mal é, evidentemente, o preterido. Nunca tive boa opinião dele. No esforço humanitário parecia-me um exibicionista, mas, como a acção contribuía para fim estimável, calava-me. Na eleição Presidencial achei sempre que aquelas declarações de amor aos apoiantes eram sobretudo dirigidas à sua imagem e que a boca cheia de cidadania escondia um vazio a fazer pensar se os não-alinhados com os partidos não mereceriam representação melhor. A aceitação de benesses destacadas oferecidas pelos prospectados vencedores não lhe garantiu amigos no meio militante em que mergulhou e alienou-lhe muitos dos que arrebanhara na campanha passada por quixotesca. Paz à sua alma política.


Os Loucos Estão Certos


«Os Loucos Estão Certos», Diabo na Cruz.

Os Diabo na Cruz foram uma das sensações do Verão passado e prova disso foi o excelente concerto no festival Sudoeste. Num final de tarde, uma multidão de jovens foi-se juntando no palco secundário para cantar em conjunto com este super-grupo, que junta o rock ao folclore numa mistura castiça e bem portuguesa. Durante a actuação houve até tempo para um cover do tema «Lenga Lenga» dos Gaiteiros de Lisboa, conjunto que curiosamente abriu o Sudoeste em 2007 num final de tarde bem parecido. Porque numa época como a que vivemos nunca é demais lembrar que «os loucos estão certos», deixo aqui esta versão acústica do êxito dos Diabo na Cruz.

O Tal Charme Discreto

O Porco da Burguesia, de Karl Addison
O BE não percebe coisas que entram pelos olhos dos outros adentro. A esclerose que o fez mirrar em sufrágios vem do aburguesamento das intervenções parlamentares, com época de moções e tudo. E agrava-se quando brigam por Direitos de Autor do Partido. Até porque estes só são creditáveis estando em jogo um bem cultural, não tanto um mal eleitoral...

Nus e Suplicantes

Caindo, de Harry Holland
Defendo com unhas e dentes o direito ao nudismo, mas só para os portadores de corpos com medidas escolhidas. Por muito que pareça discriminatório, corpos deformados ou envelhecidos deveriam, por consideração ao Próximo, procurar outras formas de comunhão e paz interior, por as suas características quadrarem no conceito, em voga nalgumas legislações europeias, de poluição visual. Mas esse é o problema genérico da Praia.
Agora mais a sério, o que tenho de impugnar é a justificação aventada pelos naturistas de a sua prática ser uma libertação e um regresso à Natureza. A do Homem é justamente associada ao sentimento da culpa e a vergonha de se ver como veio ao mundo foi a alegoria da insuportabilidade do mal que a Expulsão do Éden configurou, para nos distinguir dos outros animais, que não se exergam nem se arrependem. Nesse sentido, o da nossa herança cultural, prescindir das roupas é tudo menos natural, será falsificarmo-nos como inocentes e, por tal via, ainda mais do que pela ostentação dos genitais, a totalmente obscena forma de exibicionismo, porque enganadora e enganosa.
Além de que, reivindicar percursos pedonais específicos para quem precisa de que lhe cheguem a roupa ao pelo, como exigir nadadores-salvadores, lavabos ou bares de apoio nos seus espaços próprios, não será uma artificialização incompatível com o Natural circundante? Já dizia A. N. Whitehead que «a melhor maneira de dominarmos a Natureza é submetermo-nos a ela».

O novo governo

Não espero nada do governo que vai tomar posse. Ou melhor, aguardo a mesma dose de mediocridade e indecência. A maior parte dos seus membros está comprometida com o sistema: um modelo hemiplégico, zarolho e antinacional, onde circula a mentira como moeda corrente. Isto não vai lá com remendos, boas vontades ou revisões da Constituição. Plus ça change, plus c'est la même chose ou pior. O novo Sócrates anda há lustros a cheirar a política gorda, sem assombrar aliás nem pelo saber nem pela erudição.
Os comentadores, à esquerda e à direita, já apalparam os novos ministros, escabichando-os com a gula de quem esvazia pernas de lagosta. Puseram a nu parentelas ignotas e hábitos desconhecidos. O costume. Não quero estender-me por aí.
Uma coisa devo confessar, porém. Anunciados os governantes, entrou de me luzir logo o nome de dois ou três deles. Sim, há dois ou três que, há pouco, fui acolchetando na minha admiração íntima. Um caso raro nestas fornadas sucessivas de cavalgaduras que a república tem alimentado com forragem e feno do orçamento de Estado.
Há dois ou três (milagre!) que se não autolegitimam pelo antifascismo e que são até acusados de inexperientes por não terem alinhado, ao largo de 40 anos bem puxados, nas mais disparatadas ideias socialistas e marxistas.
Nuno Crato tem catado as palermices e os vícios da Educação em Portugal, numa observância perscrutadora. Em obras como O «Eduquês» em Discurso Directo (Gradiva, Lisboa, 2006) denuncia certeiramente a influência nefasta das tretas pedagógicas e construtivistas: as teorias românticas, o "ensino centrado no aluno" (e que se limita a ensinar as matérias de que as crianças gostam), a auto-aprendizagem, o laxismo, a desvalorização do conhecimento em favor da aquisição de «competências». Com tais ideias espúrias, pretendiam decerto os "cientistas da educação" que as crianças viessem das escolas com o cérebro pingue, como quem sai de uma ceva. Pelo contrário, conduziram os alunos à ignorância e ao analfabetismo. Querer hoje que os alunos dominem a língua materna é pelos modos atestado de caturreira de reaccionário, de gramaticão embrulhado no chambre caricatural do Tolentino. Possa o novo ministro acudir ao desastre com as ideias claras que defendeu publicamente nos últimos anos.


O novo governo junta na mesma pasta a Agricultura e o Ambiente.


O bloguista Álvaro Santos Pereira vai sobraçar a pasta da Economia, Obras Públicas e Emprego. Professor da Simon Fraser University, no Canadá, afastado assim do chorrilho de interesses do sistema, tem provado com gráficos precisos e explicações claras que o actual regime, também do ponto de vista económico e financeiro, é uma nódoa entranhada. No livro Portugal, Na Hora da Verdade (Gradiva, Lisboa, 2011), que li recentemente, demonstra que o único período da nossa história recente em que na verdade convergimos com a Europa foi o do Estado Novo, época em que fomos desempobrecendo face aos demais países europeus: «Entre 1953 e 1973, o PIB per capita nacional cresceu a uma taxa média de 5,5% por ano. Em comparação, durante o mesmo período (conhecido como período de ouro do crescimento europeu), a economia europeia cresceu à taxa anual de 3,6% e a economia mundial, em média, à de 2,9%.» (ob. cit., p. 19); «Os primeiros anos da ditadura foram dedicados à estabilização económica e financeira do país, e menos ao crescimento económico. Porém, a partir do final dos anos 1950, Portugal industrializou-se e, assim, alcançou taxas de crescimento económico habitualmente reservadas aos milagres económicos.» (ob. cit., p. 30)
Sem papas na língua nem receio de meter-se em fofas, Santos Pereira afoita-se na explicação do desastre: «(…) efectuámos uma descolonização que poucos beneficiou e muitos prejudicou (inclusive os novos países independentes), e tivemos de suportar os exageros revolucionários de uma minoria que ambicionava instaurar um novo regime autoritário (agora de ideologia comunista ou socialista) no nosso país.» (ob. cit., p. 30)
Sobre a política do camartelo e betão, assevera ele em tom crítico: «Tudo o que é passível de ser inaugurado é bem-vindo pelos novos fontistas. Quando se pretende a modernização da economia nacional, constroem-se auto-estradas e mais auto-estradas.» (ob. cit., p. 46) E acerca da regionalização, estatui: «(…) só vai criar mais burocracia, mais compadrio, mais clientelismo, mais favorecimentos pessoais, e ainda mais Estado num Estado já demasiado pesado e omnipresente.» (ob. cit., p. 522)
É dos poucos economistas que se preocupam com o declínio da natalidade, propondo incentivos e medidas sérias para inverter a tendência. Não é meu correligionário, isso não. Mantenho uma distância profiláctica em relação às suas propostas sobre imigração e outros assuntos, mas é um tipo desempoeirado, bem escovado do pó dos estatismos, sem currículo antifascista e a quem reconheço algum mérito.
Há, pois, no novo governo dois ou três titulares a quem posso apertar a mão, apesar das divergências. Pode ser que a mudança signifique o fim de carreira para aqueles progressistas assanhados que, há 40 anos, com assinalável sacrifício pessoal, vieram da Rive Gauche para nos "desenvolver" e "democratizar" — e nos deixaram falidos e mal pagos. Só isto, na hora negra que passa, já é de celebrar.

O Furo

Sem ofensa para os quadrúpedes participantes neste evento, que pode haver de novo em uns quantos burros se concentrarem em vislumbrar Carreira?
O Furo não foi o da retumbância pretendida, mas o das intenções que saíram furadas. A concepção retratada na imagem é de Jonas Forsman.

Receita Redonda

Há muito que a situação nacional só deixava margem para alegrias ao Futebol, apesar do espaçamento delas para a Maioria Benfiquista. Mas segue daí que muito boa gente intuiu dever buscar-se nos relvados a inspiração da cura da emergência genérica que nos aflige. Assim o Dr. Passos: sabendo que o actual Seleccionador Nacional tem feito um bom trabalho de recuperação da triste herança que lhe haviam deixado, começou por convidar para as Finanças um Bento, certamente almejando que o Vítor não desmerecesse o Paulo. Frustrada a iniciativa, decidiu que tinha de apostar num onze, de qualquer forma. Em vez de enveredar por uma clara formulação clássica, tipo 4-3-3, introduziu um elemento de dúvida, incluindo na táctica todos os jogadores e não só os de campo. Aos seus quatro defesas do PSD, juntou um trio de centrocampistas claramente indicados pela sigla CDS e contratou os independentes que se espera darem três avançados concretizadores e, provavelmente nas tais Finanças, um guardião que mantenha inviolada a baliza a mais golos especulativos. Esperemos é que esse guarda-redes não o seja das de influência ilegítimas e que o plano não descambe no tudo ao molho.

Dos Procuradores da Troika

Crise geral, ou crise em mim? Já nem consigo experimentar a leve excitação de outrora, na curiosidade de ver anunciados os nomes de um novo Governo. Há muito que deixei de crer na fecundidade das mudanças no presente sistema, por não envergar uma das camisolas dele, decerto, mas, muito mais, por ser contra a própria essência dessas divisivas insígnias.
Ouvi os comentadores por mero descargo de consciência. E o enjoo voltou, ao ter de suportar tudo o que seja cão, gato, cobra ou papagaio dos debates televisivos elogiar a competência técnica dos novos titulares das pastas das Finanças e da Economia, lamentando-lhes, no entanto, a inexperiência política. Não creio que, para além de opinadores prudentes e remunerados em busca de uma reserva salvadora que funcione como escapatória se as coisas correrem mal, alguém partilhe receios desse teor: seria muito pior se lhes reconhecessem experiência política e incompetência técnica, coisa reservada para as coordenações ministeriais por, aí, a tecnicidade ser um romantismo a esquecer. Quero ser bem claro, a virgindade governativa, considerando o caos a que tantos experimentadíssimos políticos nos conduziram, é a melhor das cartas de recomendação que o actual regime pode facultar.
No resto, se há quem nos possa tratar da Saúde, é o Escolhido; e tenho uma prudente expectativa na Educação, a par de um imprudente cepticismo na Justiça. Espero, neste último caso, que seja eu, hic et nunc a ser... injusto.

Escrúpulo, Esse Bota de Elástico...

Roubando Tempo, de Kenney Mercher
O que admira mais no caso do decadente Centro de Estudos Judiciários nem é a facilidade com que futuros magistrados se permitiram fazer batota. De tanto beneficiarem da indulgência para com a cabulice nas Universidades, acabam por a tomar como direito adquirido, para mais quando, por se encontrarem prestes a aplicá-la, se imaginem em todos os aspectos acima da Lei.
O pior é a desculpa da falta de tempo para repetir um teste, solução que só deveria abranger os inocentes desta vigarice. Em vez de lhes corrigir os vícios, está-se a acentuar-lhes a tendência. Em breve, chegados às responsabilidades decisórias, ambém eles invocarão a falta de tempo, para justificarem a não-produção de sentenças justas, ou, sequer, a sua tentativa.
E como muito ouvem dizer que "tempo é dinheiro", a máxima garimpagem dele, com acumulações ilícitas, deverá fazer proliferar casos como este.

Caldo de Cultura (XVII)


Quinta-feira é dia de almoço dos Jovens do Restelo. Para além dos residentes Duarte, João, Miguel e Paulo, o encontro desta semana contou novamente com a presença do Luís Afonso, o tal Último Nan Ban Jin que por estas alturas aproveita o regresso temporário à Capital do Império. Mas não foi a única presença extraordinária. Desta vez compareceu também o Humberto Nuno Oliveira, estimado confrade e grande apreciador da cervejaria que serve de base a esta conspiração. Como é da praxe, cada um trouxe o seu livro. Mais uma vez, cabe aos leitores descobrir quem levou o quê.

Libertem a Balança!

A desorientação propaga-se e, a breve trecho, paga-se. Um sintoma inelutável dela é a nova tendência desta Primavera/Verão de se recorrer à Justiça que se diz desfuncional para sancionar negativamente os dislates da Política. Ele é a insistência em copiar a Islândia, levando o Primeiro-Ministro cessante ao banco dos réus, bem como a mais recente propositura uma acção contra o Estado pela desertificação do Interior que favoreceu. Sou contra, mesmo nos âmbitos que julgo como crime efectivo, caso da abortagem reconhecida e aplicada e, outrossim, a desvalorização da Família por alargamentos alegres e abolições de culpas dissolutórias. Que raio, nem os Hitlerianos deixaram de pagar as reformas tranquilas de muitos ministros Social-Democratas que os haviam precedido no Poder.

Anteontem vi dois comentários muito lúcidos de figuras que me não despertam emoções particulares. Quando muito, alergias às transições de campo e o cepticismo perante unilateralismos patronais poderiam afastar-me delas. Quer Adriano Moreira, quer o Eng. Van Zeller defenderam que os anteriores governantes devem ser julgados na História, que não na Barra. Concordo inteiramente, embora a tentação do Abismo e a confiança falaz do Jogador me levem a crer que, presentes nos vindouros, os impedirão de retirar lições do nosso falhanço. Seja como for, é tempo de deixar os Tribunais cumprirem a sua vocação, sem sobrecarregá-los ainda mais.


A Justiça e a Vingança Divina Perseguindo o Crime, de P-P. Proud´hon

Sem Rei nem roque


Ao ouvir nomes como os de San Martín e Artigas, julgo que a muitos vêm-lhes a mente a imagem de dois revolucionários republicanos e anti-espanhóis, com o Contrato rousseauniano na mesa de cabeceira e o avental bem engomado e ajustado. Tornada dogma pela historiografia oficial, confesso que essa era a minha percepção das duas personagens - para àquela, motivo de êxtase, para mim, claro está, motivo de consternação. Entre os próceres autênticos e a caricatura liberal medeia um abismo. Proyectos monárquicos en el Río de la Plata, de Bernardo Lozier Almazán, é um interessantíssimo contributo para desmistificar um embuste duas vezes secular, ao demonstrar como os chamados Libertadores queriam mas é libertar as terras do Vice-Reinado... dos liberais! Analisando os diversos projectos de continuação monárquica gizados entre 1808 e 1825 em reacção à vacância do Trono na Metrópole espanhola e, mais tarde, à restauração em chave liberal, a obra trata dos vários pretendentes: a "nossa" - ainda princesa - D. Carlota Joaquina; o Infante D. Francisco de Paula de Borbón y Borbón; os canditados incaicos Dionísio Inca Yupanqui, Juan Andrés Ximénez de Léon Manco Capac e Juan Bautista Túpac Amaru; D. Luís Filipe, Duque de Orleães; o Infante D. Sebastião de Borbón y Bragança; e, finalmente, D. Carlos Luís de Borbón, Duque de Luca. Como se sabe, todas as iniciativas saldaram-se por um rotundo fracasso, e o final (?) da es/história é o que está à vista de quem quer ver.

Directo ao Fim

A Morte Tocando Imaginária Guitarra, de Chet Zar
A questão da legalização da Eutanásia não é a que me importa aqui. As opiniões sobre a pretensa bondade de uma morte antecipada artificialmente dependerão das concepções da Dignidade Humana que situem esta na resistência e na resignação, ou, ao invés, na fuga ao sofrimento ou à decadência. Se creio que qualquer Católico deve tentar resistir à tentação da desesperança e da comodidade, admito que o Estado laicizado conceda essa facilidade a candidatos ao passamento que possam exprimir uma vontade actual e consciente nesse sentido.
O problema da exploração televisiva da filmagem do fim induzido de Peter Smedley é bem outro que o da mera propaganda de uma posição sobre tema fracturante, reforçada com uma aura de alívio que esteriliza o halo do sacrifício, já que a libertação pretensamente obtida se rege por um critério que não é, em primeira linha, altruísta, embora secundariamente o possa ser, na vertente de poupar a Família e os Amigos aos embaraços e penalizações do acompanhamento. O que aqui sobreleva é o triunfo do Espectáculo sobre a Verdade, com a excitação propiciada pelo anúncio de um directo, quando o acontecimento registado se deu vai para seis meses. E, em época de crise, com o unto prestigioso dos milhões, sejam os das audiências cativadas, ou os dos bolsos do Finado, numa execranda exploração dos piores instintos de voyeurisme, aqueles que assentam no inconsciente conforto da constatação de os milionários também morrerem e penarem, nem notando que a eleição do caso para transmissão é, ela própria, uma gritante proclamação da desigualdade, em prejuízo de qualquer pobre diabo que, vivendo dramas da mesma natureza, não tivesse onde cair morto.

Prata da República


Para aqueles que insistem em chamar (erradamente) de fascismo o período do Estado Novo português, trago aqui a moeda comemorativa da implantação da república, cunhada em 1914. É certo que o fascismo, enquanto ideal e regime, ainda estava para nascer, mas não deixa de ser curiosa a utilização do fascio pelos republicanos portugueses.

Os Poleiros

Parece que hoje - ou amanhã, para aqueles cujos dias são ditados não pelo relógio, mas pela hora de deitar - o Presidente da República começa a ouvir os partidos políticos, antes de indigitar o novo governo. É mera formalidade, visto já se prever quem será o Primeiro-Ministro de Portugal, pois crê-se que PSD e CDS, apesar das diferenças programáticas, estejam condenados a entender-se.
A questão que fica e que gera alguma curiosidade é quem serão os novos Ministros do País. Quais serão as caras do novo governo?


Há sugestões?


Vamos tornar isto mais interessante: vamos a apostas?





(Apesar de eu não ser a favor de poleiros, para quem tiver interesse em adquirir um (dos propriamente ditos, entenda-se), eis uma dica útil: http://www.pombeiropetshop.com/. Foi onde adquiri este.)

Não sou comentador dos posts do Miguel, mas...

Chamem-me machista, mas depois de ler o post do Miguel, fiquei a perguntar-me se era apenas minha ideia, ou se o Clube Bilderberg era, de facto, caracterizado pelo seu secretismo. A Internet confirmou a minha ideia inicial. Eu não estava enganado. Por isso nasceu em mim uma nova dúvida: será que pretende deixar de sê-lo?
Como prescreve o provérbio: «Segredo em boca de mulher é manteiga em focinho de cão»...

Mal Maior

São Jorge e o Dragão de Briton Riviere
Até que ponto a luta do Bem contra os Males não é frustrada pela indevida miscigenação de um e outros? Penso nos ultra-sons, concebidos para detectar malformações, tumores e quejandos flagelos, transformados em base da selecção sexual que está a diminuir o número de meninas nascidas, principalmente na Ásia, como resultado do egoísmo parental expresso na preferência pelo género masculino, em conjugação com a Lei - outro mecanismo que se desviou do lado certo - proibitiva de mais de um filho por casal.
É opção espúria por antonomásia, em clara oposição ao espírito imagético do crescei e multiplicai-vos, mas, igualmente, contrária à revalorização da Mulher que enche as bocas dos políticos contemporâneos, tão ignorantes das aspirações daqueles que por si são governados. Porque este é um campo em que a diminuição do número disponível não acarretará o aumento da cotação, antes abrirá caminho a uma cascata de escolhas arbitrárias enformadoras do poder alheio sobre a vida e a morte de quem se não pode defender. E do Continente Amarelo já se importa a malfadada prática para Georgias, Albânias e outros Azerbaijões, não na decorrência de imposições legais, mas tão-só do nível económico superior que um único rebento (macho, também aqui) permitiria. Enfim, o ultrage supremo contra a própria Metade que dá à luz.
De Aline Calixto, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, mostrando que a metaforização dos paroxismos do Acto encontra aplicação diversa mas ajustada ao compósito triunfo do amor que, de tão próprio, se transmuta em vaidades de perpetuações assassinas:

Uma reunião nada Clara


Podia ser uma bela piada, mas tudo indica que é mesmo verdade. Parece que este ano o contingente português no encontro do grupo Bilderberg inclui, para além do habitual Francisco Pinto Balsemão e do conselheiro de Passos-Coelho António Nogueira Leite, a ilustre Clara Ferreira Alves. A lista refere-se à personagem como escritora e «CEO» da Claref Lda. Uma rápida busca no Google indica que a Claref é uma sociedade unipessoal com sede num rés-do-chão da Rua da Artilharia Um, dedicada à «Produção de Filmes, de Vídeos e de Programas de Televisão». Meus amigos, eu não acredito em bruxas, mas...

L´Important C´est la Rosie!

Rosie Huntington-Whitley, ou de como continuo sem perceber como alguém pode gostar do Amarelo.
E se torna inteligível a incurabilidade para os vitimados pela Doença de Huntington...

Qual Peçonhento!

Nunca fui entusiasta de bruxarias, nem de terapêuticas que a Ciência estivesse renitente em validar, salvo, como anti-depressivo, algumas bebidas alcoólicas, entre os aborígenes Americanos apodadas de Grande Medicina. Todavia, essa prioridade à investigação e ao experimentalismo laboratorial não me cega ao ponto de evitar reconhecer que uma descoberta caucionadíssima pela Ciência tinha sido precedida por convergentes intuições, quer das poções da Feitiçaria, quer das formas arcaicas de vacina e fortalecimento da civilização Ameríndia.
A polivalência das propriedades da pele do sapo é que mais me espanta e me faz assimilá-las à panaceia hiperbólica produzida pelos caldeirões mágicos: 70 doenças por elas tratáveis são pretexto suficiente para uma generalização universalista do remédio. Espera-se é que, identificados os princípios activos, a sofisticação da Química contemporânea consiga produzir sintecticamente substâncias paralelas, de modo a que não se caia em mais uma inflicção de sofrimento a bichos inocentes, para nosso proveito e conforto.
E, no entanto, alegoricamente, a constatação era previsível: no pântano da incapacidade em erradicar o Cancro, onde nos atolamos, a capacidade de os batráquios nele se moverem alegremente, saltando de folha em folha, faria antever que o caminho seria por eles indicado.
Espera-se é que outra forma de egoísmo coevo, o do exagero da função lucrativa das farmacêuticas, não leve a pôr no mercado a preços obscenos o que a Natureza disponibilizou gratuitamentte.

PAN! (Breve nota eleitoral)

Acabamos sempre por matar aquilo que amamos, dizia Oscar Wilde.
Lembrei-me dele enquanto revia os resultados eleitorais lendo o post do Miguel sobre os pequenos partidos, e me detive no PAN - Partido dos Animais e da Natureza, que obteve 57 641 votos. Apesar de tudo, não é preciso exagerarmos: o número não representa muito. Mas é o suficiente para relembrar o velho Augusto de Castro, que em tempos escreveu um artigo intitulado Os Tezos, que iniciou com a seguinte frase:

«Portugal é o unico país do mundo em que se pégam bois de cara.»

O resto do texto descai para uma interpretação da psicologia portuguesa, e análise da situação política da época. Tem interesse para quem se interessar.
Mas para o leitor que não me conhece, desejo apenas sublinhar: sou daqueles que preza muito a exclusividade. E por isso acho necessário relembrar a velha lição do escritor irlandês. Acabamos sempre por matar aquilo que amamos? Sim, Oscar Wilde tinha razão.

Caldo de Cultura (XVI)


Esta semana, o almoço das quintas contou com duas presenças muito especiais: nada mais nada menos do que Lourenço Morais e Luís Afonso, também conhecido como o Último Nan Ban Jin. Posso dizer que o jovem Lourenço estava incluído nos planos desde que surgiu a ideia de lançar este blogue. Só que, durante uns tempos, andou estranhamente desaparecido. Qual filho pródigo, regressou esta quinta-feira ao convívio e recebeu de imediato o convite para ingressar no blogue. Quanto ao Luís Afonso, é o autor do aclamado The Last Nan Ban Jin. Interrompendo o seu exílio japonês, aproveitou o regresso à Metrópole para honrar com a sua presença o almoço das quintas-feiras. Ambos trouxeram livros que, juntando aos volumes dos jovens residentes, constituem o desafio desta semana. Afinal, quem levou o quê?

10 de Junho



«Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos
Que contra vossas pátrias, com profano
Coração, vos fizestes inimigos:
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns traidores houve algumas vezes.»


Ali pela segunda metade do século XVI, Camões ainda não tinha visto nada. Hoje os traidores são a regra, inchados ademais de legitimidade democrática. O problema actual, todavia, é menos o dos traidores que o do próprio regime. Como se disse (e bem) na pretérita campanha eleitoral, não se pode esperar que os homens que nos mergulharam na crise nos façam emergir dela. Mas do mesmo passo, também não se alcança como o sistema que nos conduziu à bancarrota nos possa trazer agora a prosperidade. Os regimes, às vezes, nascem risonhos e vão com o andar do tempo entristecendo. Mas não há nenhum que, nascendo torto, se endireite.

Até ao Lavar dos Cestos

Perante este dado, embora me seja mais simpática a interpretação predominante de aconselhar a que nunca se festeje antes do tempo, tenho de notar que também me parece legítima a conclusão de nunca desesperar enquanto nem tudo está perdido. Precisamente o contrário do que ia fazendo o executante do pontapé, ao qual pouco faltou para arrancar os cabelos na jeremíada genuflectida em que se lançou.
O Grande Optimista, de Frank Magnotta

A Compra Imoral

A minha relação com o Viagra é complicada. Não, nada do que estão a pensar, o que tirei dele foi apenas o patrocínio do contador de um blogue pretérito. E não o fiz para potenciar o número de visitas, senão, inadvertidamente, sem atentar na sponsorização, quando o subscrevi. Como, ainda por cima, o template era azul, da cor das célebres pílulas, o embaraço foi acrescido.
Vale isto para comentar mais uma vergonhosa recaída terrorista desse Khadaffi cujas vias de extinção deveriam ter sido mais rápidas. Isto a acreditar que o objectivo visado residiria na intimidação popular. Tenho para mim que seria outro, o de garantir a fidelidade dos seus, numa prática que, infelizmente, tem imensos precedentes, a de dar rédea solta à violação para garantir o moral das tropas.
A ser uma "sanção penal", preferiria transportar-me à conhecida romanceação do Saque de Canossa: tendo as tropas de Luís o Grande ocupado a cidade, um dos oficiais, filho de Silvestre Dancs, o comandante militar, foi morto, sem que se soubesse por quem. Irado, o Rei teria dado ordem de que, durante um dia, o saque, compreendendo bens e Mulheres, fosse livre, para os seus soldados. Pois o cabo de guerra enlutado - que assim encontraria vingança - mandou alinhar as tropas na praça maior e arengou-lhes:
«Esta é a Justiça do nosso Rei, pelo que tudo o que nestas horas tomardes será vosso, sem que sejais punidos. Mas digo-Vos que homens de bem não procedem dessa forma.»
Até ao pôr do Sol as companhias mantiveram-se perfiladas onde estavam. Nem um só dos seus integrantes se teria mexido.
Ninguém dá a ler uma tradução deste postal ao louco de Tripoli?

A imagem é, por Bernard Buffet, O Império ou Os Prazeres da Guerra: Depois da Violação

Em boa companhia

Ouvi dizer que o quase Eng. Sócrates abichou um emprego de caixeiro-viajante, oferecido pela camarada terrorista que preside ao Patropi verd´amarelo. Fosse o país do samba um pouco sério, levantaria eu dúvidas a respeito da sanidade mental dos ocupantes do Palácio do Planauto (será Pranauto?), já que depois de levar o restinho de Portugal à bancarrota (Portugal, claro está, não ele e cia.), melhor sorte não poderia esperar a terra da Bramachôpi e da TV Grôbo. Mas em vista do calibre de patroa e empregado, penso mesmo que a colaboração será altamente frutífera. Não há surpresa. É sinal dos tempos parusíacos em que vivemos, quando o vício toma o lugar da virtude, a aberração passa a ser a normalidade e o delinquente é tido por modelo do homem de bem.

Malhas da Captura

Desgosta-me que a tatuagem haja extravasado dos meios que lhe colavam bem, como o criminal, em que substituía sem tanta dor o ferrete infamante, ou o de certos grupos combatentes, na função de avivar a memória e estreitar os laços. A decoração do corpo feminino, por vezes pletórica, surge-me sempre como o propósito inexplicável de melhorar a Perfeição conceptual. Vai daí, reconheço inteira razão à Holandesa que diz representarem a época actual as figurações dos adicionados de Facebook com que decidiu preencher o braço.
Mas se o concedo, é, sobretudo, pelo que nos elucida acerca da ligeireza da Amizade que é o entendimento predominante. Desde sempre se denegriu tão nobre vínculo, os Gregos Antigos diziam-na a sombra de uma sombra. Mas já Montherlant notava que tinham sido os mesmos a elevá-la aos píncaros, como ninguém mais.
Hoje estamos pior um pouco. A própria auto-interventora da sua pele esclarece que nem todos os amigos do Face que em si gravou são, afinal, seus Amigos. Torna-se desnecessário precisar mais o conceito: foi uma mera tentativa de entranhar o combate à solidão. Depois da pesca com a rede, tentou conservá-los à antiga, dando sal às relações. Pelo menos neste campo, uma estratégia mais promissora do que congelá-las...