Canta-me como foi


«Catraia», Os Tornados.

O revivalismo está na moda e não há volta a dar. Os Tornados são do Porto e não se limitam a recuperar a sonoridade rock'n'roll que marcou os anos 60. Desde a atitude aos instrumentos e roupas utilizadas, tudo é feito com uma desconcertante fidelidade à época. É, ao mesmo tempo, a grande força e a principal fraqueza deste grupo. A ânsia de replicação impede a banda de ir mais além, de afirmar-se como uma referência própria. Mesmo assim, o disco «Twist do Contrabando», lançado em 2009, é um bom conjunto de canções que surpreende sem maravilhar. Ao que parece, neste momento Os Tornados estão em estúdio a preparar um segundo álbum. Enquanto não há mais novidades, fiquemos com esta «Catraia».

Macaquinhos no Sótão

Mário Vargas Llosa, possivelmente com a melhor das intenções, veio comparar a redacção abreviada e a ortografia mutilada de certa Juventude em rede à escrita dos símios. Parece disparate pegado, pois, a propósito, ataca a Internet em bloco, quando, por exemplo, a blogosfera se presta à atitude oposta, a da disponibilização de textos mais articulados. Se em ambientes como o do Twitter a pecha está mais presente, parece que a origem bicéfala da tal pressa comunicante radica nas mensagens SMS, quer por poupança, quer por imagem de marca de rebeldia contra a norma, como propósito de identificação etária.
Mas é um depoimento infeliz a outro título - na teoria das probabilidades baptizou-se de «Teorema dos Macacos Infinitos» a especulação de que, diante de teclados, num número infindável desses primatas, ou nalguns dispondo de tempo sem fim, um, eventualmente, acabaria por poder produzir um texto coerente, por exemplo o «Hamlet». É possível, mas já não tem transposição aceitável, considerada a relutância perante os clássicos dos seres que usam os tais códigos simplificadores...

Sugestão para a noite de Sábado


Adepto inveterado do cinema europeu de '60-'70 e, quando muito '80, não tenho grande pachorra para filmes estadounidenses, sobretudo os actuais, repletos de clichés demo-liberais, multi-culti e outras parvoíces. Contudo - e ainda bem! - há excepções. E boas. Uma delas é The Apostle, escrito, dirigido e interpretado pelo grande Robert Duvall, o incomparável Consigliere da saga Godfather, o napalm cowboy de Apocalypse Now, o apaixonado pelo tango e pela Pátria gaúcha, quem volta e meia encontro a caminhar por Buenos Aires junto com sua bella mujer argentina. Em contas muito resumidas: a obra trata de um pastor evangélico mulherengo que se mete num grande sarilho e vê-se obrigado a fugir para o Sul, onde, recomeçando a vida sob identidade diversa, constrói a sua igreja e volta a pregar, convertendo e praticando o bem na pequena comunidade.

Tempo de Vacas Magras

É terrível vermos as noções com que crescemos infirmadas pela Ciência arrivista. Ainda sou do tempo em que a Primavera era associada à abundância própria da expectativa que a floração infundia. Eis porém que nos dão como certa a tendência de os bebés surgidos neste vale de lágrimas por altura da Estação que atravessamos serem mais propensos a vir a sofrer de anorexia.
Dá para desconfiar um tanto, porque os ciclos sazonais são um tudo nada mais antigos do que a proliferação das desordens alimentares e não consta que se haja recenseado uma semelhante inclinação escanzelante ao longo de tantas fracções primaveris dos séculos. Mas talvez seja tão sedutora como a imputação à influência dos Astros a atribuição a um período específico do ano de uma fraqueza demasiado humana, directamente resultante da vaidade e do mimetismo fomentados pelo culto das top models.
Simplesmente, há uma consequência possível ainda mais de temer: doravante, adolescentes em massa com o nascimento registado entre Março e Junho sentir-se-ão com liberdade para forçar as dietas mais perigosas, já que poderão sempre invocar a época natal como desculpa.

Reler Abril


Agora que a solução foi revelada, já posso dizer o que me fez levar este livro ao último almoço das quintas. Editado em 2009, «Alvorada Desfeita» passou (convenientemente) ao lado de quase toda a gente. Ou porque faz parte de um género pouco explorado em Portugal — a história alternativa — ou porque assenta na premissa do fracasso do 25 de Abril tal como o conhecemos, a verdade é que a edição não conheceu grande sucesso comercial. O que é pena, porque é um livro extraordinário pelas reflexões a que conduz.

Quase quarenta anos após o golpe que pôs fim ao Estado Novo, já é tempo de submeter a data a uma análise objectiva deixando de lado paixões e sacralizações. Tal como o livro descreve, as coisas podiam ter corrido de forma bem diferente. Se é verdade que, em 1974, Portugal estava numa situação de grande impasse, com um regime que precisava de mudanças decididas e decisivas, não é menos verdade que o 25 de Abril teve consequências catastróficas. Um golpe de estado que durante um par de anos transformou o país numa espécie de «manicómio em auto-gestão», colocando-o no limiar de um conflito armado; e que levou a uma «descolonização» que de exemplar só teve o nome, forçando milhares de portugueses a uma fuga precipitada das suas casas e abandonando milhões de outros a sangrentas guerras civis. Era difícil fazer pior, e só por ingenuidade ou egoísmo se pode continuar a festejar Abril. Nesse sentido, «Alvorada Desfeita» apresenta um retrato alternativo que, apesar de ficcional, abre interessantes discussões. Afinal, Portugal poderia ter sido tão diferente.

A Centelha


Como não quero dar má sorte, temendo que o Príncipe William de Inglaterra por cá passe os olhos, não publico o vestido de noiva de logo, mas o velho conhecido que nele funcionou como faísca desse amor que se espera. Pelo que acrescento, aqui na vez de Laureen Bacall, uma arrastada versão daquela «So In Love» por Cole Porter inserida em «Kiss Me Kate», o que me parece apropriadíssimo.
E agora, com licença, vou a um casamento!

Caldo de Cultura (XI)





O desafio de hoje é fácil. Só almoçaram três Jovens — João, Miguel e Duarte. Quem levou o quê?

Um Comércio de Morte

No tempo do Romantismo a idealização do Suicídio dava para, através dele, certificar a existência de uma alma sensível, a melhor carta de recomendação da época. Hoje, vem a calhar para sugerir uma personalidade liberta da Dor, num momento histórico em que a eliminação dela é a suprema aspiração, quase o comprovativo do sucesso possível. Nada a opor, salvo, no tempo dos centros e livros do género "pare de sofrer" e dos analgésicos generalizados, o desgosto pela absoluta marginalização da reflexão descobridora de sentidos profundos para o Sofrimento, na medida em que redunde em aberrações como a de certa venda de tranquilidade assassina que vai sendo notícia.
Toda a simpatia que poderia inspirar a intenção de proporcionar alívio é esterilizada pela procura do ganho subjacente, numa actividade impuramente mercenária que, ao contrário da dos Profissionais de Saúde, não visa apoiar a resistência individual, mas tornar acessível a via rápida para a Desistência.
Acresce, impressivamente, uma difusa desconfiança de que, sendo a macabra empresária que disponibilizou o kit de suicídio uma nonagenária, algum perverso prazer comparativo poderia retirar da abreviação de vidas mais curtas, uma das poucas explicações possíveis para a insensibilidade de despachar, a pedido, encomendas mortíferamente... despachantes. A Eutanásia nunca poderá ser completamente entregue à iniciativa privada.



A imagem é Sátira do Suicídio Românttico, de Leonardo Alenza.

Uma autêntica Dama de ferro

Estivesse eu na Capital do Império - no dizer do Nosso Marchante - este teria sido o livro levado ao almoço de hoje. Apesar dos coices que a biógrafa aplica aqui e acolá ao fascismo nas suas variadas vertentes, e o espanto que demonstra perante a fidelidade ideológica que a menina Mitford mantém até ao fim da vida - politicamente correcto oblige -, o livro oferece uma muito boa panorâmica do que foi o envolvimento da upper-class britânica dos anos 30, na busca de uma alternativa superadora do demo-liberalismo e do socialo-comunismo. E falar de Diana née Mitford é falar do one and only Sir Oswald Mosley, seu segundo marido e verdadeiro amor de sua vida, leader da British Union of Fascists - os blackshirts. Pode-se dizer, sem medo de exagerar, que a biografada foi das poucas pessoas que lograram conquistar a sincera e devotada amizade de Hitler, aliás, convidado de honra em seu casamento berlinense com Mosley, pelo que têm grande interesse os seus comentários relativos aos Führer.

Toxicologia das Multidões

Em dia de aniversário de Salazar, ocasião perfeita para publicar aquela que, para mim, é a mais feliz ilustração do carácter do Estadista; a leitura por Ernesto de Oliveira e Silva, líder dessa Acção Escolar de Vanguarda de que em breve falarei, dum discurso no gabinete do Presidente do Conselho. O contraste é flagrante entre a exaltação da juventude que presta o tributo e o ar enfiado do Governante, mesmo na circunstância de a organização que o homenageava ser um aspirador de excitações temporário, criado e alimentado pelos colaboradores do Regime, para esvaziar de fulgores heterodoxos ou modistas e de instrumentalizações exteriores os seduzidos em escassa idade pelo apelo Nacional-Sindicalista de Rolão Preto.
O Génio de Santa Comba era absolutamente céptico quanto ao entusiasmo em política, como aos arrebatamentos das e pelas massas, no que, considerados os ímpetos revolucionários delas, quer no campo Nacional, quer nos internacionalistas, igualitarizantes ou concorrenciais, me obriga a reconhecer-Lhe toda a razão. O aspecto algo embaraçado com que escuta os elogios e as juras de disponibilidades exacerbadas, como o facto de permanecer de pé, não disfarçam sob a capa da modéstia tímida e da polidez a pressa de pôr aquela malta a andar dali para fora.
É a irredutível diferença entre quem é vocacionado para exercer o Poder como uma constante de lucidez sacrificial e aqueles que o tomam sem maturação ou maturidade por um feito expresso na conquista e no serviço de um carisma. Sabe-se como a primeira postura costuma prevenir melhor as catástrofes.

Ninguém pára os Jovens!

Parabéns ao Duarte Branquinho! O seu blogue pessoal completa hoje sete anos. Longa vida ao Pena e Espada!

Pergunta técnica



Acaso já houve em Portugal algum regime partidocrático que não acabasse em bancarrota?

So This is England

Crepúsculo Em Abril

Prova provada de que a intriguinha política das cúpulas - e cópulas - partidárias vicia é o facto de, entretida a gente com a pré-campanha, se não ter meditado suficientemente no fogo ateado à maquinaria das portagens a instalar na Via do Infante.
Se o conceito de Desobediência Civil de Thoreau tem uma base de partida mais admirável, porque assente na comoção face a situações de atentado à dignidade humana de outrem, pessoal ou nacional, conforme se referisse à Escravatura ou ao Expansionismo à custa dos Vizinhos do Sul, a força aqui empregue também merece uma certa dose de admiração, embora de diversa natureza - a devida à capacidade de autodefesa perante uma ofensiva de obtenção de receitas que se encontra atolada na ilegitimidade absoluta do esbanjamento correlato e da avalancha da repercussão dos sacrifícios.
O Rebelde do «Bosque» extrapolou, a partir da sua revolta, chegando à conclusão de que o melhor governo seria o que governasse o mínimo possível. Neste sentido, a acção violenta do Algarve, até porque dirigida a entes sem vida, é mais justa, porquanto brota da noção de que este Governo é que é tanto menos mau quanto menos governe. E a Justiça reside em tratar cada qual segundo o seu mérito, a generalização é sempre o inverso dela.
Ao contrário do que aparenta, o fogo não foi ateado pelos incendiários de que se trata. Eles apenas deitaram gasolina nas brasas sobre que os ameaçavam fazer andar. Alvorada em Abril? Só se for pela hora de mais este incidente...

A Céu Aberto

Depois de toda a conversa fiada anterior sobre o Espaço não-Sideral, aquele em que existem corpos celestes, passado o Período de Privação Quaresmal, apetece publicar uma visão celestial que nos deixe siderados:
Arianny Celeste!

Das Faltas de Espaço

A questão aqui exposta é tudo menos nova. Ainda há anos poucos, o General Espírito Santo, então Chefe do Estado Maior ou do Exército, ou das FA´s, dava uma entrevista televisiva em que se pronunciava pela inclusão das Senhoras mais vocacionadas nas Forças Armadas, até em missões de combate como as dos pilotos de caça, mas, pese o exemplo mítico das Amazonas, desaconselhava-lhes certos domínios, como operações de dias inteiros enterrados na lama, por inadequação física, a que poderíamos, acrescento eu, ressalvando a dos tratamentos de beleza, adicionar a escassa predisposição psíquica.
Neste caso da cosmonáutica russa, porém, as dificuldades morfológicas parecem ser apenas um aperitivo para a verdadeira oposição, que é de incompatibilidades de caracteres acentuadas num ambiente restrito, sem viabilidade de passeios em papel de fuga, a salvação rotineira das oposições nos casais. E a conclusão a que se chega é que, num meio fechado como uma nave espacial, as incompreensões entre os géneros são precisamente da mesma natureza das que causam acidez doméstica. Talvez porque seja tentador fazer de uma cápsula um pequeno lar, ao contrário do ambiente mais lato e menos privado dos quartéis e academias. Tensão que poderia ter sido evitada se o Sr. Valeri Bogomolov e restantes responsáveis pela exploração espacial de Moscovo tivessem lido, ou distribuído, este manualzinho de relacionamento, como, simplesmente, seguido à risca o título expressivo que exibe:







Roga-se, contudo, que não seja inferida uma qualquer sugestão de que o envio de tripulações a Vénus devesse acarretar composições exclusivamente femininas...

Do ecrã para a estante




Da blogosfera para o papel. Para a alegria de quem gosta de ler, e de ter boa prosa — e poesia — à mão de semear.

Ossos do Ofício

Ouvi, com estupefacção, o meu velho Condiscípulo do Liceu, o Secretário de Estado Paulo Campos, dizer que este agravamento do deficit não envolve qualquer esqueleto no armário. Fiquei de boca aberta. Mesmo descontando a propriedade expressiva diminuta de tanto político, esta expressão de origem anglo-saxónica, cunhada na viragem para o Século XIX, mas popularizada mais tarde por Poe e Thackeray, nas atmosferas subsequentes ao Horror Gótico e à dos cadáveres roubados para experiências médicas, respectivamente, parece-me de todo inadequada.
Desde logo porque o significado dela é o de "alguém com uma imagem sem mancha ter alguma vergonha escondida". Ora, em matéria financeira o actual Governo é todo ele uma nódoa, sem marketing que lhe valha, e não há contagem humanamente possível para os rabos de fora dos respectivos gatos orçamentais.
Mas também porque deixaram a Administração num estado de total arrombamento, à imagem dos Armários de Victorin Galière, sem hipótese de ocultar sequer o ossito duma falangeta, quanto mais ossadas completas! Ná, a impropriedade é tal que só podem estar a dar-nos música.
E, aí sim, encontrei no Enorme Louis Armstrong a explicação, através da sua recriação de «Skeleton in The Closet»; o que o Governante queria dizer é que estamos metidos numa dança:


(Falado)
Boy, don't you go in there
Come outa there, boy
Don't you know that house is haunted?



(Cantado)
There's an old deserted mansion
On an old forgotten roadWhere the better ghosts and goblins
Always hang out.
One night they threw a partyIn a manner à la mode
And they cordially invited
All the gang out
At a dark bewitchin' hour

When the fun was loud and hearty
A notorious wall flower
Became the life of the party

Mmm! The spooks were havin' their midnight fling
The merry makin' was in full swing
They shrieked themselves into a cheerful trance
When the skeleton in the closet started to dance
Now a goblin giggled with fiendish glee
A shout rang out from a big banshee
Amazement was in every ghostly glance

When the skeleton in the closet started to dance
All the witches were in stitches
While his steps made rhythmic thumps
And they nearly dropped their broomsticks
When he tried to do the bumpsYou never heard such unearthly laughter
Such hilarious groans
When the skeleton in the closet rattled his bones

Se o País está a falir, eu também falo

Pasmo de ver a desilusão dos meus compatriotas com o regime. O 25 de Abril não se fez para equilibrar as contas públicas ou combater o desemprego. Esses estimáveis objectivos não constavam do programa revolucionário. O essencial da data, para além da descolonização, foi garantir a liberdade de falar. E assim aconteceu.
Os Portugueses falam hoje pelos cotovelos, falam, falam, desunham-se a falar, embora poucos digam coisa de préstimo. Há mais telemóveis do que pessoas (bebés e surdos incluídos). Parece que os números apontam para dois aparelhos por cabeça; ou, com mais verdade anatómica, um por cada orelha. Certo que para este afã elocutório contribuíram menos os revolucionários do que os pacotes promocionais da TMN, Vodafone e Optimus. Foi o serviço de roaming que acabou de vez com o "orgulhosamente sós", uma população cinzenta a falar para dentro — e nos fez de golpe um povo cosmopolita e moderno à taxa de 30 cêntimos por minuto.



Com o avanço da tecnologia, podemos mesmo falar sozinhos sem risco de exame psiquiátrico. Espaventou-se assim uma nação de tagarelas. Falamos em casa, nos passeios, nas esquinas, no trabalho, ao volante, na praia, no campo, nas filas, nos restaurantes, nas casas de banho. É a diversidade de toques polifónicos que assegura o pluralismo nacional.
A posição de braço alçado a segurar o telemóvel na orelhinha é-nos natural e tão entranhada que, sem receio de ferir a ciência biológica, podemos crismar o fenómeno de mutação. Algumas pessoas experimentam já dificuldades em baixar o braço e mantê-lo alinhado com o corpo.
Em certo anúncio televisivo, as próprias ovelhas falam. Nesse episódio tocante de desenho bíblico e dimensão democrática, percebemos que — apesar de tudo — Abril cumpriu-se.

Era bonita a festa, pá

Noto menos fulgor nas comemorações oficiais. Estes democratas, ao cabo de 37 anos de "desenvolvimento" e de "progresso", já não ganham nem para os cravos.

Mais Vale Tarde Do Que Nunca!

Em dia de onanismo congratulatório por parte dos autores do golpe do Carmo, tendo em conta ser o Período Pascal propício ao arrependimento que devemos valorizar, deixo, sem grandes acrescentos, A Mão ou Os Remorsos da Consciência, de Salvador Dali, pesadas que foram as recentes palavras desta palinódia do mais creditado criador abrileiro.

Mais um "jovem"

O Bruno Oliveira Santos, para além de nosso Amigo, é um histórico da blogosfera, lugar onde há demasiado tempo sentíamos a sua falta. Sempre que consegue almoça connosco cada vez que vem à capital  e foi na última vez que o João Marchante o convenceu a juntar-se a esta casa. Agora é um dos "jovens". Ainda bem, para nós, e em especial para quem nos lê.

Gloria!

Gloria a Ti, Padre de todo lo creado,
Gloria a Ti Jesus, Misericordioso y Salvador de los hombres,
Gloria a Ti Espirito Poderoso, Luz Eterna y Santa,
Por los siglos de los siglos,
Amén!

ALELUIA!

Ressurreição de Cristo, 1463
PIERO DELLA FRANCESCA (c. 1420 — 1492)
Mural em Fresco e Têmpera, 225 x 200 cm
Museo Civico, Sansepolcro, Toscana, Itália.

Anatomia da Folga

Queria só voltar ao Vosso convívio depois da Festa Maior, mas tenho de afastar-me publicamente - como pudicamente - daqueles que desataram a ficcionar sobre a tarde "dada" pelo Governo na Quinta-Feira de Endoenças. Foi o representante de uma Confederação Patronal, seguiu-o o Dr, Marques Mendes, acabou numa Senhora conselheira do FMI que nos (a)tenta, tudo a fazer coro de que não tendo nós couro, se tratava de um péssimo sinal num país que precisa de trabalhar, etc.&tal.
Está escrito: Nem só de pão vive o homem! Se por estas doze horitas tivermos de penar muita mais miséria, que seja. Não podemos é trocar por um sinal o Sinal, o da Cruz, que guardar o Dia da Ceia representa. Este laicismo materialista invasivo merece ser precipitado do alto do rochedo como o Tentador descrito no Evangelho. Vade retro!


Pena é que o Governo, tendo, o que é raro, agido bem, só neste domínio descubra como fundamento a Tradição. E suspeito-o de resumir o conceito ao descanso, sem pinga da Piedade associada, pois esta gente cinge a Espiritualidade ao telemovel e aos espectáculos, no que estará bem para um eleitorado que cada vez mais reduz a Quadra às férias. Julgo até que, à beira de eleição, as lições da História que terá retirado hajam sido as de evitar o sucedido no Cavaquismo, quando, com o mesmo pretexto, apesar de situação menos indigente, foi tentada a eliminação do feriado no Carnaval, originando a revolta e o decorrente princípio do fim.

A imagem é A Tentação de Cristo, por Duccio



Uma Santa Páscoa!

O problema do bibliófilo


Hoje foram entregar-me as três novas estantes que comprei. Mesmo antes de as começar a preencher sei que não resolverão o eterno problema do bibliófilo - o espaço.

Prontuário Terapêutico

Conformando-me com o dever de actualização, ao princípio rejubilei com mais uma descoberta da Medicina, a qual prometia melhorar grandemente a sanidade dos meus Compatriotas. Ingenuamente entusiasmado, passe o pleonasmo, quis, de imediato, disponibilizar Aos Que me vão lendo este guia de fármacos, sendo certo que, conhecido o princípio activo, posso, para os mais necessitados, autorizar genéricos.Eis senão quando reparei na parte que menciona estarem os resultados especialmente dependentes da não habituação a medicamentos deste tipo. Conhecendo a Expressão tuga permanentemente concretizada no uso e abuso de tais substâncias (não olvidando as formas), temo que o efeito esperado de todo esteja perdido.
Haja saúde!

Génese de uma Clivagem

O início do afastamento sem retorno da primeira Geração do Integralismo Lusitano face a Salazar ocorreu aquando da gestão da Pasta das Colónias por este, no último governo da Ditadura Militar anterior à sua elevação à Presidência do elenco ministerial. O pretexto repousou na insuficiente repressão dos autores do assassinato do Tenente Alfredo Morais Sarmento, velho Aliado dos Homens do Pelicano. Anterior Responsável pelas Informações de natureza policial, viera a protagonizar a confluência de dois grupos distintos - um de Monárquicos, de Republicanos o outro -, unidos pela concepção orgânica da Nação difundida em «A Ideia Nacional». Depois, atolara-se no Golpe dos Fifis, havendo seguido um deles, Filomeno da Câmara, rumo ao Alto Comissariado dessa Angola para onde antes ele fora degredado.
O caso em si encontra-se muito mal estudado, hesitando os Historiadores actuais em considerar a predominância de uma questiúncula pessoal com o Comandante Militar do território, Coronel Genipro de Almeida, ou o carácter preponderante de uma verdadeira revolta contra a Situação.
A meu ver, a disputa é estéril. Em meios pequenos, nas mais das vezes, o Político torna-se pessoal e o Privado determina tanta vez os alinhamentos na luta pelo Poder...

O que gostaria de salientar é a tristeza de ver dois Lados que fizeram o que deviam mergulhando na incompreensão recíproca, por via da irredutibilidade dos pontos de Honra em que se firmavam. Os Herdeiros de Sardinha pugnando pela justiça aplicável aos matadores de um Camarada; o Estadista, moderando, em prol da composição a que um regime de muitos ideários coligados obrigava. É a perversão de um conflito entre Os que tinham a receita para salvar a Pátria e O que desse salvamento arcava com a responsabilidade imediata.
A versão impressa do protesto foi apreendida, pelo que raros exemplares terão sobrevivido. Havendo chegado às minhas mãos esta folha, com o texto dactilografado, dou-a à blogosfera, como subsídio e homenagem.
Uma derradeira frase finalizava o abaixo-assinado: Se qualquer outro cidadão português livre, quiser associar-se ao presente protesto, pode fazê-lo assinando esta folha e endereçando-a ao senhor Presidente do Ministério. Com as adaptações a que o tempo me obriga, é o que, emblemática e serodiamente, ora faço.
Mesmo apagado pelos anos, consegue-se ler, clicando em dobro.

A aquecer os motores...

Sugestão para Sábado à noite


Desta vez um filme argentino, com inegável sabor europeu anos 60/70: El Custodio, com a magistral interpretação de quem eu considero o maior actor da actualidade no país sul-americano - Julio Chávez. O filme trata da vida de um agente encarregado da segurança pessoal de um ministro. Obrigatoriamente um relato duplo, a obra dá conta da relação protegido/protector no ambiente hipócrita e corrupto da política espectáculo. Praticamente sem palavras, Julio Chávez nos conduz ao longo desta trama e deste drama com as sensações à flor da pele. Definitivamente um must.

Esta Pérola vai para o Nosso Jovialíssimo Jovem

Esta Compilação vai para o Nosso Jovem Director

Esta Brochura vai para o Nosso Euro-Ultramarino

Esta Acta vai para o Nosso Noivo

Vai dar "barraca"

Há dois dias, em pleno verão antecipado, uma viagem de comboio entre o Cais do Sodré e Cascais serviu como preview das coming attractions que nos estão gentilmente reservadas pelos gerentes locais da tirania mundialista. Estava eu concentrado na leitura quando num repente irrompem pela carruagem dentro duas dúzias de "jovens", como lhes chamam os meios de (des)informação de massa, já que precisar a raça ou origem étnica dos indivíduos - i.e., reportar-se aos factos, à realidade - é preconceito nazi-fascista da pior espécie. Aos gritos histéricos e com palavreado ora ininteligível ora abjecto, a rapaziada dos "bairros problemáticos" aproveitou o percurso para caminhar freneticamente de um lado para o outro, arremessar objectos e achacar aqueles a quem, com grande gozo, chamavam "tugas". O selecto grupo apeou no Estoril, antiga pérola da Riviera portuguesa e refúgio de Reis. Consta que o Sr. Primeiro Ministro demissionário declarou que os imigrantes estão aqui em "sua" casa. De facto senti que estão mesmo. Eu/nós é que não estou/estamos na nossa - que há 37 anos nos foi roubada, despedaçada, vendida, arruinada, invadida. É curioso que gente como o Sr. Primeiro Ministro demissionário e seus camaradas consideram que os metecos estão aqui em casa deles, mas que nós, no Ultramar, não estávamos em nossa casa. E é igualmente singular que o regime da abrilada, depois de suprimir em 24 horas a nacionalidade portuguesa a quinze milhões de pessoas por não serem de etnia europeia, agora a distribua, tal qual bilhete de circo, a qualquer quidam que por aqui aporte, especialmente se não tiver nada, mas nada que tenha que ver com Portugal - a começar pelo respeito. Isto está mal e vai ficar pior. É certeza matemática.

Caldo de Cultura (X)



Mais um almoço, mais um desafio. Hoje estiveram ausentes o Paulo e o Miguel, mas tivemos o Pedro Neves como convidado. Quem levou o quê? Venham de lá esses palpites.

Cheira a Verão


«Rei Bã», Os Pontos Negros.

Há mais de um ano atrás, escrevi aqui que «uma das características que distingue Lisboa de todas as grandes cidades que conheço é a sua luz. Uma claridade inconfundível». Por isso, e porque o céu limpo e o calor dos últimos dias têm feito maravilhas pelas vistas da cidade (em todos os sentidos), nada melhor do que ouvir um tema que nos fala de óculos de sol e olhares que «disparam ultravioletas».

Apocalipse de Raspão

Ninguém esperava? Isso é muito pouca gente. Veja-se os dois casos abaixo. Se nessa altura a sobrevivência imprevista se deveu a um erro dos cálculos dos cientistas, quem nos diz que no que se antecipa para breve uma discrepância semelhante mas de sinal contrário não levará ao desenlace fatal?Um velho pessimista como este Vosso servo não pode deixar de acarinhar uma libertação dos Khadaffis, tsunamis e FMI´s das nossas perspectivas próximas, sem, sequer, a contrapartida pessoalmente vergonhosa e Superiormente condenada que dá o trabalho malgré lui "esperançosozinho" de um suicídio. Não tentando esgueirar-me da submissão à ironia que desse o nosso Futuro condicionado final e radicalmente pelos Astros, ou por um eleito deles, poderia apaziguar a revolta íntima por detrás do eterno sorriso social, através da observação complacente da inevitável avalancha de arrependimentos e conversões de última hora que a contiguidade do passamento propicia, com a sinceridade ditada pela urgência. Desditosamente, após este devaneio por meteóricos alívios e asteróides em função de endireitas, perscrutando os noticiários, encontro causa muito mais credível para o chinfrim que se fez soar à volta da proximidade do aerólito - a promoção de certo filme que se prepara. E a indelével melancolia que me condiciona impele-me a novo esgar de divertimento, quando talvez se esteja perante uma mera diversão em manobra fácil. A de que o Amor é sempre o escape da angústia que as plateias preferem, seja o da Misericórdia última, ou o das satisfações mais imediatas.

Diabo, Pátria e Rei

Aspectos da Decadência

Até na bancarrota é preciso ter sorte. Como na face visível que o FMI nos destine para a função de Gauleiter(in)


- Teresa Ter-Minassian, em 1978, por Luís Carvalho fixada:

Poul Thomsen, hoje, como aventa o «Público»Vim ao mundo bloguístico mesmo no tempo errado! Não há colorido que dê a volta ao texto!

Momento Zoolander


O impagável "apanhado" de Sócrates, antes da declaração pública a anunciar o pedido de ajuda externa, foi hilariante e trouxe-me à memória o filme "Zoolander" (2001). Nesta comédia atrapalhada, Ben Stiller representa um manequim que tem como grande trunfo profissional os seus olhares, a que inclusive dá nomes. O problema, aliás, uma das piadas da história, é que os olhares são indistinguíveis.

Ora, voltando ao nosso rectângulo, lembram-se quando o primeiro-ministro disse: “Ó Luís, vê lá como fico a olhar assim para os... Achas que fica bem assim? Ou fica melhor assim?” Alguém notou a diferença? Pois...

Assistimos a uma (tragi)comédia. Sem graça de espécie alguma...

Perda de Velocidade

Muito antes de ele ser meramente de gestão, bastantes foram os que avisaram o Governo de que seria imperativo fazer o que hoje se consumou: deixar este projecto pendurado.
Estou desolado, já não posso ir ao Poceirão num pé e vir no outro, é caso para dizer que os (ir)responsáveis meteram os pés!

Chagas do Regime

A candidatura de Fernando Nobre ao parlamento como independente pelo PSD está a gerar um chorrilho de apreciações e detracções da figura, que é o que menos interessa. Julgo que seria mais proveitoso equacionar o estatuto de menoridade que condiciona a Independência neste regime, ao permitir que não-filiados apenas se apresentem em listas de partidos, ou seja, com a sua autonomia completamente embaciada. A aceitação deste condicionamento pode, porém, fazer ricochete pontual, quando o arrebanhado tem peso próprio. Foi o que se passou com João Chagas e o Partido Democrático na sinistra I República, em que o aureolado polemista da Propaganda defendia por norma posições mais alinhadas que o próprio Afonso Costa, mas em que a satisfação de uns quantos caprichos de ambição e posicionamento o levaram a ser chamado a amante cara do Partido. E, não pondo em causa a sinceridade do ex-Presidenciável no desejo de intervir, mesmo engolindo a hesitação estimável que o terá assaltado, há um aspecto no caso vertente que soa muito malzinho: anunciar à cabeça a atribuição da Presidência da Assembleia ao aderente tresanda a suborno por todos os lados.
Cardume de Candidatos Improváveis, de Paul Wootton

Delírio semântico

Diz o cartaz que anuncia o congresso do PS: "Há 38 anos defendendo Portugal"...




Com "defensores" desta espécie não há dúvida de que Portugal não precisa de inimigos.

Moral da História

Desta, especificamente:

Quando se deixa as gentes desesperadas por uns cobres, todo o sistema pode vir abaixo O Triunfo da Pobreza, de Lucas Vosterman

Queridas Estatísticas!

Quem não as conhecer que as... compre!

Se acreditarmos num estudo que nos chega do Nascente, abrir os cordões à bolsa é o caminho certo para o prolongamento deste vale de lágrimas, num sentido mais abrangente que o reconhecido e comprovado da penúria. Dando tratos ao miolo para levar a sério a coisa, poderia dizer que me parecem duvidosas as explicações que reconduzem o facto pretensamente demonstrado à alimentação e à ginástica, pois não creio que se possa inferir da quantidade a qualidade e de umas passadas uma prática desportiva. Penso que poderá ter algum sentido, realmente, o prolongamento vital pela manutenção de um interesse actuante, uma vez que há unanimidade médica e empírica quanto à extinção deles apressar o fim físico. Saltando para a Crise, ocorre-me outra questão: as penalizações do Consumo que se perpetraram e se preparam, além da depressão económica, vão agravar outro dos nossos problemas atestados, o de sermos um País envelhecido. Deve então ser para equilibrar a situação demográfica que se anunciam também ataques às reformas...
Resta uma nota importante, a de nas Senhoras a elasticidade física decorrente da aquisição de bens não ser, ao que parece, tão pronunciada como nos homens. Só vejo uma explicação, a angústia que se desprende da eterna insatisfação com o que se comprou não permite à vertente somática do shopping fazer o seu caminho!

Vidas Paralelas

No Dia do Combatente, enveredo pela lembrança das duas últimas Guerras que Portugal travou, a Grande de 1914-1918 e a do Ultramar, nas décadas de 1960-1970. E admiro simbolicamente os pontos de contacto entre dois Mártires desses conflitos, o Francês Ernest Psichari e o nosso José Carlos Godinho Ferreira de Almeida. Aquele vitimado no primeiro mês do conflito que seria mundial, o Outro o primeiro Oficial Português tombado na defesa de uma Nação multi-continental, num estúpido acidente de Jeep, na Guiné.Ambos eram Familiares de Escritores de nomeada, Um, Neto de Renan, o Segundo, Sobrinho-Neto do Herói Colonial e Publicista de Mérito General João de Almeida. Os Dois eram Católicos Fervorosos sobre quem, muito embora, influíra a doutrinação indomável de Maurras. Cada Qual tinha louvado o papel da Vida Militar e do Exercício como possibilidades de superação das desvantagens física e anímica com que, por vezes, se chega aos primeiros tempos da Idade Adulta, o Gaulês no «Apelo às Armas», o Nosso Patrício num texto de juventude. Semelhantes na Qualidade Intelectual, trate-se do Escritor Aclamado em França, ou do Brilhante Jurista Luso recém-formado que já garantira uma regência universitária. Iguais foram no voluntariado para postos difíceis, fossem a aridez ou o perigo. Da mesma forma caíram por não se furtarem à exposição, num caso tentando socorrer o comandante ferido, nestoutro recusando ser emprateleirado numa qualquer repartição que O afastasse da zona de maior risco, nela mergulhando com os Seus Camaradas de Cavalaria 7. Debruçando-me agora só sobre o Compatriota, há que prestar homenagem a Quem não quis impugnar um recrutamento incorrecto, para se não furtar à provação a que estavam sujeitos tantos dos Seus Coevos. Isto num País em que os esquemas para "se safar" eram das mais transversais preocupações constatadas, desde os empenhos junto de gente bem colocada, ao atravessamento da fronteira a salto. Pela honorabilidade impositiva da Conduta, como pela Esperança abruptamente cortada no cumprimento do Dever, não admira que algumas das Notabilidades do Estado Novo, como Amigos sinceros de áreas diferentes, se reunissem no tributo de um «In Memoriam» que merecia maior difusão do que a que teve: Para quem, como eu, neto de Combatente do confronto em que faleceu Psichari, acredita que Os que arriscam a pele pelos Seus são, necessariamente, superiores aos que a põem matreiramente a salvo, esta hora só pode ser de gratidão, mesmo que uma desgostante falta de talento na escrita não permita dar a medida certa da Grandeza do(s) Tema(s). Peço que relevem a intenção.

Notícias da Frente (Literária) (II)


Em Portugal não há a tradição dos livros de bolso, e é uma pena. À excepção de algumas pequenas colecções, este formato nunca se conseguiu impor no mercado editorial, seja por falta de diversificação e qualidade da oferta ou insuficiência de procura. No entanto, com a crise económica a apertar e o uso crescente de transportes públicos, estes livros de bolso têm finalmente uma grande oportunidade, podendo tornar-se a companhia perfeita para muitos portugueses no seu trajecto entre casa e o trabalho.

Vem isto a propósito da reedição de «A Voz dos Deuses», de João Aguiar, em formato e preço reduzidos. Este autêntico best-seller nacional, lançado em 1985, conta com 28 edições (!) pela Asa, e faz agora parte da colecção BIS, da Leya, ao lado de «Inês de Portugal», do mesmo autor, e de clássicos como «O Processo» de Franz Kafka ou «A Cidade e as Serras» de Eça de Queiroz. Embora não seja um escritor brilhante, Aguiar tem uma escrita fluída, simples e muito gráfica, quase como se fosse uma banda desenhada sem quadradinhos. A isso junta-se, neste livro, um exaustivo trabalho de reconstituição histórica, baseado em dados etnográficos, históricos e arqueológicos. Em «A Voz dos Deuses», Aguiar leva-nos até à antiga Lusitânia e à resistência dos povos ibéricos ao domínio romano. Só que a personagem principal é, não Viriato, mas um dos seus companheiros de armas, Tongio, que narra as memórias das sucessivas campanhas. Através das suas palavras, acompanhamos a ascensão e queda do chefe lusitano e, percorrendo vários locais da Península Ibérica, de vitória em vitória, somos levados até à derrota final. Para além disso, como é habitual nos livros de João Aguiar sobre a Lusitânia, há uma forte presença do sobrenatural, personificada pela acção dos vários deuses do panteão lusitano. Em resumo, «A Voz dos Deuses» pode não ser o livro de uma vida, mas é sem dúvida um clássico para todas as idades, com leitura mais do que obrigatória tendo em conta o preço desta edição.

Sugestão para Sábado à noite




Interessante experimento de Antonioni na capital inglesa, a retratar o ambiente particularíssimo desta época divisora de águas que foram os swinging sixties. Além do trailer, e como brinde - especialmente para o nosso PCP -, vai a sessão de fotografia da bela e aristocrática Veruschka, "piquena" da Germânia.

Crime Em Massa

Sinto sempre como causa perdida a procura da racionalização de um assassínio indiscriminado. Justamente por as vítimas serem as que o azar coloque no caminho, creio ser inelutavelmente falacioso procurar motivações menos desconexas, como a da vingança. Assim, na tragédia que atingiu os nossos Irmãos Brasileiros em Realengo, numa escola, à semelhança do que se vai repetindo em paragens diferentes. Tentar, como neste texto, descobrir propósitos de desforra do bullying de anos antes não é aceitável, já que só seria explicação admissível se tivesse havido uma selecção dos atormentadores de outrora, para lhes causar sofrimento, ainda que indirecto, no caso de os alvos serem filhos deles. Claro que a rejeição e o acossar contínuos podem deformar uma personalidade. E, remoendo a solidão daí bombeada, há a possibilidade de tentar ilusoriamente ultrapassar a impotente condição a que se fora remetido, tornando-se, por uma vez, sujeito activo do Mal, circunstância em que a identidade dos atacados já não importará.
Oooops, com divagações deste jaez acabo de cair na pecha sistematizante de que desdenhei, um outro crime contra uma massa, a cinzenta. Cala-te boca, venha o fim de semana. Que desejo bom a Todos os que estejam isentos de lutos destes para carpir.

A Sensatez Em Migalhas

Compreende-se perfeitamente que as associações Judaicas não gostem nem um bocadinho dos símbolos do Nacional-Socialismo, mas parece um tanto disparatado, à luz da Psicologia como da História, o exagero patente na queixa apresentada contra o pasteleiro Austríaco que decorava com suásticas bolos encomendados. Em primeiro lugar, a cruz gamada não é exclusivo de Hitler, contudo não sejamos inocentes. Depois, o confeiteiro deve ser tão nazi como eu sou polinésio, mas também aceito que a desculpa de ganhar uns cobres não alise o valor simbólico de uma arte.


Não, o problema é que a aversão cega. E os queixosos não terão percebido patavina do que se jogava: o espírito dos repartidores do Mundo, em Yalta, era precisamente esse - o de comer os Alemães, em especial os de vocação hitleriana. O que, consumado, faria deste incidente uma mera continuidade. Mas a quem tenha por especiosa tal interpretação, ofereço a prova dos noves - Em 1683 os fabricantes de bolos de Viena, justamente, inventaram o croissant, transposição alimentar do Crescente Islâmico, para celebrar o salvamento da Cidade até aí cercada pelos Turcos, por Sobieski. Com esta genealogia, como é possível a iniciativa que aqui se problematizou?

A pintura alusiva é de Jan Mateijko.

Coisas realmente importantes

Eça nunca falha


Logo no primeiro capítulo das suas Cartas de Inglaterra, o nosso Eça de Queiroz escreve que «a História é uma velhota que se repete sem cessar». Se assim for, e tendo em conta a realidade política destes dias, podemos estar certos que isto ainda vai piorar (bastante) antes de melhorar (um bocadinho). A única dúvida está em saber quem são os republicanos que quebrarão este rotativismo.