Quem somos

Ainda há quem alerte para os que embarcam no desastre, quem saiba que o nevoeiro não turva a vista, antes anuncia o renascimento. É o nosso caso: Jovens do Restelo. Somos jovens, porque do tempo presente. Herdeiros do passado, só temos saudades do futuro. Não nos encontramos no Restelo, a ver as naus, mas no nosso almoço semanal numa cervejaria de Lisboa. É no dia do cozido e já tem alguns anos. Aí se fala de tudo e mais alguma coisa, mas há algo omnipresente — os livros. Isto porque o Duarte decidiu iniciar este encontro para matar saudades da extinta tertúlia bibliófila do Bairro Alto. Num dia de nevoeiro os membros mais frequentes decidiram lançar-se numa aventura no mar que é a blogosfera.


Bruno Oliveira Santos
É o mais velho dos «Jovens do Restelo» na blogosfera. Criou em 2003 o blogue Nova Frente, entretanto desaparecido misteriosamente da rede. Explica o ocaso deste feitio, à míngua de coragem para apontar o dedo ao FMI, ao grupo de Bilderberg ou a uma bem urdida conspiração maçónica internacional. Seja dito sem pecado de soberba, nenhuma peneira sombreou os olhos do autor ao publicar os postais blogosféricos. Há vários anos que invoca o direito de não ser lido — direito de que tem usado liberrimamente, tão vã tem sido a sua escritura para o aplauso. Di-lo sem amargura e sem decepção. Isto de ler e escrever vem-lhe de uma mazela de espírito — um caso mórbido já diagnosticado, mas sem remédio. Acolhe-se agora nesta casa para prosseguir a mania: escrever postais. Que prestem ou agradem, menos importa. E se só a poucos prestam ou agradam, tanto basta para satisfação do autor, mais desabusado de vanglórias.


Duarte Branquinho
É o culpado destes almoços. Na sua juventude frequentava a mesma cervejaria onde agora gosta de voltar como se viajasse numa máquina do tempo. Formou-se em História, mas há quem diga que no que ele é bom é a contar histórias. A doença mais grave de que sofre é a bibliofilia, que o faz ler mais e escrever menos. Preza mais os valores que as ideologias e prefere a amizade ao amiguismo. Revolta-se contra o mundo moderno, mas não é reaccionário. Acha-se para além de esquerdas e direitas e tem a certeza que pensar é um acto revolucionário. É um sonhador, mas não confunde a coisa com a imagem. Há uns anos apanhou o vício da blogosfera e recusa-se a fazer uma cura.

Humberto Nuno de Oliveira
Estreado na blogosfera só em 2005 (Janeiro), justifica assim (por comparação com outros jovens desta casa), a sua juventude. Por convite entra nesta tertúlia, sobretudo, para livrar o bom amigo Marcos do ferrete do mais idoso dos jovens que agora assume. Homem de múltiplos interesses, partilha com o Duarte a sina de Historiador e dedica-se aos livros, não apenas como seu amante, mas também a nível profissional, mas espraia-se igualmente no Karate, Heráldica e sobretudo Falerística. Coisas, pois, “sem utilidade” para os homens “modernos”.
É, como não podia deixar de ser, Benfiquista, Monárquico (dos da Legítima Tradição, mas em ruptura com a sua tradição familiar, bem republicana), e de um pensamento político pouco chegado aos dogmas, embora seja frequentemente dito de “extrema-direita” o que nada o incomoda.

João Marchante
João Marchante, desde muito novo, sempre cultivou a estética e o espírito, através do seu gosto pelas mulheres e pelos livros. O que, aliás, só lhe valeu desconfiança, por parte dos que preferiam o pontapé na bola e na gramática. Quando, muito cedo também, igualmente no início da adolescência, raciocinando pela sua própria cabeça e seguindo o seu coração, se confirmou católico e se revelou nacionalista e monárquico, o espanto e a admiração geral aumentaram entre as massas acéfalas que seguiam as modas da época. Conjugando o pensamento e a acção, logo se fez militante da causa de Deus, Pátria e Rei, coisa considerada bizarra nos antros artísticos que, por amor à arte e especialmente à boémia, frequentou e frequenta. Por outro lado, participa com honra e proveito em várias tertúlias de homens cultos, porque acredita que a boa mesa fortalece o corpo e a boa conversa alimenta a alma — e vice-versa. Continua ainda, hoje e sempre, a crer nos valores eternos e a querer que eles sejam veiculados de formas modernas; e, nesse sentido, prossegue a sua pessoalíssima demanda em busca da síntese entre tradição e vanguarda. Quando chegar lá, avisa. Não perdem pela demora.

Lourenço Morais
Lourenço Morais só chega ao Restelo na época do Santos Populares, porque se move pelo cheiro a Sardinhas e a Vinho. É um tipo simpático, mas tem defeitos. Não é muito fiel, nem pontual e - pior que tudo isso - é conservador.
Dedica parte do seu tempo a fazer tortamente um curso de Direito, que ainda não fez, embora já o devesse ter feito. Mas, pelo que estudou até hoje, ganhou a certeza que o dever ser raramente se impõe ao ser, por isso prefere Idiossincrasias a Ideologias, não acredita em utopias e luta pelo possível e nem sempre pelo mais desejável.
Gosta principalmente de duas coisas na vida: livros e mulheres. O que, como quase tudo na vida, é antagónico e contraditório. Mas a coerência é coisa que não existe. E ainda bem, porque se o mundo fosse perfeito, não existiria literatura.
Detesta-se a si próprio e, talvez por isso, - para que não sofra com a “consciência aflitiva da morte” de que falava Kierkegaard - não se leve muito a sério.
Se é Monárquico ou Republicano, ninguém sabe. E, como o outro, ele também não o diz. Aliás: ele não pode dizê-lo, porque ele também não o sabe dizer. Sabe apenas que é Católico – e, por isso, obviamente praticante – e que quanto a regimes, não o preocupam as formas, desde que funcionem.
Desenganem-se, pois apesar de ser o mais novo do grupo, ele é, certamente, aquele que possui uma alma mais enferma.


Marcos Pinho de Escobar
O mais “idoso” deste grupo fundador. Depois de transitar da Economia às Relações Internacionais e à Ciência Política, e de um largo périplo por oito países, decide regressar ao que resta do torrão lusitano, que conhecera grande, soberano e português. Bibliófilo inveterado, amigo da boa mesa e da boa companhia, foi com grande satisfação que aceitou o convite para ingressar nesta confraria. Católico e monárquico — no sentido tradicional dos termos, claro está —, vê no Estado “um ministro de Deus para o bem comum”. O resto, todo o resto, é consequência. Incompatível, pois, com o mundo moderno, e ciente do seu poder avassalador, se encontra refúgio na vie de l´esprit, no culto da História e dos nossos Maiores, inclina-se sem pestanejar pela orientação dos Camelots du Roi: na mão um bom bastão e no bolso um bom livro.

Paulo Cunha Porto
Paulo Cunha Porto é, vai para mais de dois anos, um sem-blogue. As insuficiências próprias, decerto, são a causa visível de tal condição, tão livre e tão triste como a vagabundagem, até que a generosidade dos demais Membros desta casa permitiu atribuir-lhe o abrigo que com Eles passa a compartilhar. Outros lugares de conchego, partidos, seitas e sociedades opacas, não são para semelhante vagabundo dos livros, que encontrou a sua razão de viver nas passeatas sem peias pelas páginas impressas; e na rudeza que o caracteriza a maneira tosca mas eficaz de escapar ao diletantismo. Detesta tudo o que fragmenta a comunidade em que nasceu. Daí a fidelidade a Trono e Altar, bem como o amor ao Benfica, o qual, salvo para os recalcitrantes, encarna a Grandeza capaz de representar o Todo, em vez de o dividir.