Caldo de Cultura (XX)


Mais um almoço, mais um cozido. Com o João, o Duarte e um convidado especial: o Atrida. Todos levaram livro, como não podia deixar de ser, e o desafio mantém-se. Quem levou o quê?

Morte no Deserto


É já altura de desmascarar a falsidade de pressupostos cumplicemente falsificados nas apreciações dos opinion makers acerca dos tristes detalhes do fim de Khadaffi. Querem fazer-nos crer que as humilhações, agressões e golpe final alegremente infligidos foram coisa reveladora de imaturidade dos Líbios para a Democracia. É falso, nada há tão democrático como um linchamento. Segue daí que devamos aprovar a Lei de Lynch como norma de conduta? Nem por sombras, devemos é, a todo o custo, evitar ser democratas.
Espancar e dar cabo de um inimigo público rebaixado a infractor é a mais acabada expressão da vontade popular, logo a maioritária. Restringir esses barbarismos é que corresponde a uma morigeração dela, porque num certo grau é impossível negar que os seus ditames são nocivos, logo, impõe-se limitá-la, para assegurar a sobrevivência de um mínimo de dignidade.
E não me venham com a lenga-lenga de que isto é um excesso revolucionário, lamentável mas passageiro. Com efeito, toda a Revolução é excesso, qualquer uma é lamentável e a História comprova que todas acabam por passar. Esta noção deveria ser suficiente para afastar qualquer pessoa decente do estatuto de receptador dos frutos desses abalos políticos, só que há muito mais: permanece nos instalados regimes que neles se originaram a impiedade absoluta que leva à negação de uma sepultura condigna aos restos mortais dos inimigos, sejam Rudolf Hess, Bin Laden, ou o Coronel Tripolitano. Os Creontes do nosso tempo é que já não encontram nos seus meios de comunicação as Antígonas que os afrontem. Pelo que regressei brevemente para envergar essas vestes e gritar o mais alto que posso o meu protesto contra a contínua edulcoração das atitudes dos regimes dominantes contra os seus adversários, sendo insuspeito pela contínua detestação que as três figuras citadas me inspiravam.
Única parte positiva: evitou-se um "julgamento" político. Ao menos assim a repulsa incide unicamente sobre as malfeitorias da plebe em estado bruto, não tem de olhar para as baixezas de possidónios que se escondam sob o verniz de tribunais contrafeitos.

Ao Princípio Era o Verbo

E confessar o Verbo ao princípio de todas as coisas é confessar o Espírito dirigindo o Mundo, é confessar a inteligência encaminhando a acção.

ANTÓNIO SARDINHA
(1887 — 1925)

Até qu'enfim!


Vejo pela janela a chuva que cai e descanso. Finalmente terminou aquele horrível Verono/Outão que tanto me incomodou. Preciso de ciclos.

Ao Princípio Era o Verbo


A mesa dos "Jovens" no magnífico casamento de Sábado passado, sob a égide do mestre. As maiores felicidades para o nosso Amigo e a sua mulher.

Agora é que é!

Amanhã, se Deus quiser, irei a um casamento. Por mais voltas que dê, continua a ser a minha festa preferida. Não há nada como um casamento. Conjugação perfeita da espiritualidade e da sensualidade, do sagrado e do profano. Sacramento e grande momento!

Recordar Duarte Pacheco

Inaugurada do dia 23 de Maio, a exposição “Duarte Pacheco - do Técnico ao Terreiro do Paço” celebra o engenho e obra de um dos políticos que mais marcou o nosso país no século XX. Está patente no Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, até ao dia 23 de Novembro de 2011.


Uma óptima oportunidade para (re)visitar o belíssimo edifício do Técnico, infelizmente descaracterizado pelos dois caixotes acrescentados posteriormente, é a exposição “Duarte Pacheco - do Técnico ao Terreiro do Paço”, de entrada gratuita e aberta ao público em geral de Segunda-feira a Sábado das 10:00 às 20:00.

Integrada nas comemorações do centenário do IST e no projecto de recuperação, tratamento, organização e difusão do arquivo pessoal do engenheiro Duarte Pacheco, esta mostra foi colocada no átrio do pavilhão central, o que faz com que um elevado número de alunos passem necessariamente por ela e fiquem a conhecer, ou a saber mais sobre um homem cujas extraordinárias capacidades e extensa obra feita são amplamente reconhecidas, até pelos detractores do Estado Novo. Como Director do IST, ministro das Obras Públicas, ou presidente da Câmara Municipal de Lisboa foi sempre um impulsionador incansável dedicado ao País e, principalmente, um visionário. Não é uma exposição muito grande, organizando-se à volta de uma pequena sala de projecções rectangular montada para o efeito, onde se podem ver os filmes “Lisboa de Hoje e d Amanhã”, “Quinze Anos de Obras Públicas” e “A Morte e a Vida do Eng. Duarte Pacheco” em quatro sessões diárias. Assenta essencialmente em fotografias que nos vão mostrando o percurso de Duarte Pacheco, desde a infância até à sua trágica e prematura morte. Há imagens das várias construções que a ele se devem e que mostram o extraordinário desenvolvimento que se deu naquela altura. Entre elas, algumas da Exposição do Mundo Português, em 1940, de hospitais, de bairros, da Estação Fluvial de Belém, do Estádio Nacional, do Instituto Nacional de Estatística, de património restaurado, da Estrada Marginal Lisboa-Cascais e outras vias, ou da plantação do Parque Florestal de Monsanto, hoje o “pulmão” da capital, bem como as impressionantes fotografias do seu funeral, incluindo uma onde os alunos do IST transportam em ombros o caixão de Duarte Pacheco. Entre os outros objectos expostos, o destaque vai para a mesa de trabalho do escritório particular da sua residência, que está coberta com projectos protegidos por um vidro, mas também é possível ver um busto da autoria de Francisco Franco, os livros com o aproveitamento académico, vários folhetos das suas obras, entre outros.

Para conseguir recrutar a mão-de-obra necessária às obras, Duarte Pacheco criou Fundo de Desemprego, para que contribuíam empregados e empregadores. Tal permitiu ao então ministro cumprir o objectivo de justiça social que o lema do comissariado, cujo cartaz também consta da exposição, tão bem ilustra: “Não se dão esmolas, procura dar-se trabalho”. Um verdadeiro exemplo para os dias de hoje.

Esta é uma justa homenagem a um engenheiro de engenho inegável que, como nos diz a frase de Salazar gravada no seu monumento em Loulé, teve “uma vida velozmente vivida e inteiramente consagrada ao progresso público”. À saída, no topo da escadaria do Técnico, observamos a magnífica Alameda D. Afonso Henriques e ao fundo a Fonte Luminosa... hoje apagada e seca. [publicado na edição desta semana de «O Diabo»]