A Pepineira

Isto de uniões económicas tem o que se lhe diga, na medida em que quem tem mais carcanhol pode pautar a música como lhe convenha, nem que seja sacudindo a água do capote quanto a responsabilidades, imputando-as aos suspeitos do costume, os parceiros menos iguais que eles, com menor reputação higiénico-tecnológica e mais fraco prestígio de controlo, ainda que sem qualquer culpa no cartório.
O caso da epidemia mortal na e - ao que agora parece - originária da Alemanha demonstra bem como a arrogância do "motor europeu" pode servir para culpar um PIG supra-numerário do que parece ser uma falta do acusador. Nada que surpreenda. A minha pergunta é uma só: se tivesse o alvo sido uma pobre Grécia ou um desvalido Portugal, alguém acredita que houvesse a capacidade de reacção de Nuestros Hermanos, ainda assim irremediavelmente lesados pelo que foi, de facto, uma difamação da sua Agricultura?
A Melodia do Pepino, de Orna Ben Shoshan

Pepineira significa, por exemplo, negócio fácil e brincadeira. Deixo-Vos a escolha.

Vindo do Céu

A aparência em face do actual:
A realidade subjacente:
Ou de como, em sede de bagalhoça, um lançamento de emergência não deverá mudar os hábitos perdulários de um Povo sonhador e dos políticos sem escrúpulos que alimentam essa vida nas nuvens para garantirem, se não o próprio sustento, ao menos a respectiva sustentação...

Questão de Clubite?

Ao Amigo Miguel Vaz, comprovando que estamos todos solidários com um posicionamento Atlético nosso sobre a Madeira, deixo Ana Carolina... Madeira!

Vira o disco e troca o passo


Ontem, o ciclista espanhol Alberto Contador venceu pela segunda vez o Giro d'Italia, naquela que é a sua sexta vitória nos chamados Grand Tours. Até aí nada de novo. É sabido que o homem de Pinto é o maior ciclista da actualidade. O curioso desta história é que na cerimónia de consagração, em Milão, a organização da prova se enganou e pôs a tocar o hino oficioso franquista. À excepção da letra, ausente da versão oficial, o tema é em tudo idêntico ao hino espanhol, conhecido como Marcha Real.
A letra presente na versão utilizada pela organização foi escrita pelo poeta gaditano José María Pemán em 1928, durante o regime de Miguel Primo de Rivera, sendo adoptada com algumas modificações como hino dos rebeldes durante a Guerra Civil.
No entanto, esta não é a primeira vez que Contador sofre este tipo de enganos. Nem sequer a mais grave. Em 2009, quando venceu o Tour de France, a organização da prova mandou tocar o hino nacional... dinamarquês.

Falhanço TOTAL

Na sequência de um comentário de Anónimo Leitor em que se enaltecia a disponibilidade positiva da Mocidade Portuguesa para participar no esforço do Todo, confrontada com a animosidade desagregadora das ervas daninhas plantadas no Rossio, trago-Vos um folheto ainda mais raro que o da notícia da constituição da Acção Escolar de Vanguarda, a organização com que o Salazarismo aproveitou o ímpeto revolucionário das juventudes mais cativadas pelo apelo mobilizador desse Nacional-Sindicalismo que pretendia proscrever.
É texto interessante por mostrar perspectiva de um totalitarismo possível, passe a contradição nos termos, face a uma separação das águas institucionais e ideológicas do Consulado em vigor. Pretende-se, numa espécie de Gramscismo às avessas, juntar o que os autores chamam de resolução do problema cultural às do financeiro, do económico, do social e do político, que considera estarem em vias de consecução pelo Governo. Cultural é entendido numa acepção de Universitário e pretende absorver ideologicamente aquele ensino, uma postura que Salazar, quer por presidir a regime de coalizão, quer por ser alheio ao domínio de um ideário participativo, como ainda por vir duma regência assolada por perseguições de pólo oposto, não poderia perfilhar. A linha por ele preconizada assentaria nuns serviços mínimos de controlo, com afastamento de uns poucos casos limite de oposição aberta e sabotadora, que não da apropriação unilateral das consciências.

Lê-se lá:
Dentro da atmosfera do Estado Novo ela tem de ser nacionalista e não internacionalista; corporativista e não liberalista; organicista e não democrática. Tem que ser uma Universidade nova, com horizontes novos, porque é dentro do Estado Novo que actua, e para servir a Nação através dele.
É curioso notar a espontaneidade com que, noutro passo da brochura, se proclama dever o regime encarnar um Estado de tendências totalitárias, submetendo o Ensino Superior às suas directrizes ideológicas e, por outro lado, se ataca a formação especulativa, em prol do fortalecimento de competências técnicas, o que parecendo contraditório com o próprio labor de doutrinação, se pode explicar por uma audiência mais receptiva que à época, um semelhante discurso desfrutaria nas áreas de Ciências e Engenharias, para além de um desfasamento entre as perspectivas de progressão profissional nesses campos e no das Letras, tomado havia muito por defensores das ideias pela nova Geração rejeitadas.
Resultado da pressão? A breve trecho o Sistema, reagindo, extinguiu este agrupamento que ele próprio tinha criado e edificou a Mocidade Portuguesa, num esquema educativo sem concessões a veleidades de condução orientadora...

E o Atlético subiu mesmo


Ontem houve festa rija em Alcântara, depois da vitória por uma bola frente ao Padroense. Assim, com duas vitórias no playoff de apuramento, o Atlético Clube de Portugal já assegurou um lugar na Liga de Honra para a próxima época. Como escrevi anteriormente, é o renascimento de um clube histórico de Lisboa.

O Travo Vermelho

Natureza Morta Com Cravo, de Jean Hélion
O meu antigo Colega Universitário Paulo Portas é um Homem culto e nada burro, logo sabe muitíssimo bem que a preocupação social não é desconhecida de todas as Direitas. Daquela em que me costumam inserir, por exemplo. É verdade que era campo regularmente ignorado pelo laisser faire, laisser passer que tanto o seduzia noutros tempos. Feliz por o ver arrepiar caminho, fico todavia transido por ele fazer figura de urso com o frenesi de cravar um votito ao Pagode, através do agitar da florzinha emblemática daqueles que continuam a atormentar o nosso País. Os cravos há muito perderam as pétalas de fachada e revelaram a sua verdadeira natureza, a de pregos que nos prendem a uma cruz sem Redenção.

Dúvida literária posta em casa especializada

Na convicção de que um bom ensaio tem sempre uma narrativa e uma boa ficção tem sempre uma tese, apetece-me começar a ler hoje um livro de um autor que nunca tenha lido. Que me recomendam os meus Amigos Jovens?

Não Vale Um Real!

Aproveitando o mote dado pelo Miguel e pelo Bruno nos postais precedentes, ocorre-me dizer um par de coisas sobre os "Okupas" do Rossio. Em primeiro lugar, o número é, neste caso, proporcional à importância, apesar de reconhecer que a barulheira pelos ditos ocasionalmente feita excede largamente a de claques desportivas muito mais numerosas. Há que dissecar um ilogismo castrador da respectiva acção - dizem, compreensivelmente, que «a Dívida não é deles», mas não percebem que, pela mesma ordem de ideias, a Praça também o não é. Cantam as apoteóticas turbulências convocadas por Facebook no Mundo Árabe, sem compreenderem que os seus homólogos por lá manifestados queriam precisamente o padrão de Democracia contra a qual nas capitais ibéricas ora se insurgem. Falam em «Democracia Real» como a boa, sabendo-se que a única estimável é a que inexiste, salvo se Real for extraído de Realeza, com associada representação orgânica, não já da Realidade que lhe desmente a bondade, mesmo conceptualmente...
Enfim, nada admira que um acampamento, mesmo com tão pouca gente, haja dado grande barraca. E terão de agradecer à demolição do antigo Galheteiro que se situava na zona o esbatimento da sugestão de resolver o assunto aplicando-lhes atempadamente um par de galhetas.

Do cerco do Porto ao circo do Rossio

Há histórias que acabam bem, com final feliz. O Pedro de Alcântara, Imperador destronado do Brasil e grão-mestre da maçonaria, arranjou finalmente companhia à altura.

Libertem a nossa Praça


A Praça D.Pedro IV, mais conhecida por Rossio, é uma das zonas mais emblemáticas de Lisboa e foi recentemente feita refém por um grupo de manifestantes. Está na hora de devolverem a Praça aos seus legítimos proprietários, ou seja, todos nós. Libertem a nossa Praça!

28 de Maio. Esta é a receita.

Errata a Maio

Em aniversário da Revolução Nacional de 1926, cumpre relembrar que, sendo mais notória a coluna bracarense encabeçada por Gomes da Costa, a primeira unidade que viu, na própria madrugada de 28, elementos seus abalarem dos respectivos aquartelamentos, rumo a Lisboa e teve reconhecimento pela «Illustration» como aquela cujos militares mais cedo entraram na capital, foi o Regimento de Infantaria 33, sediado em Lagos. Deixo-Vos os oficiais dele integrantes que se empenharam em salvar a Pátria decaída: salvo o Capitão Leonel Lima Vieira, sentado, ao centro, todos eles, literalmente, Tenentes de Maio.

A Mina

Ninguém me tira da cabeça que o nosso perdão da dívida guineense é tentativa de mostrar a grandeza na miséria, subrepticiamente à cata de retribuição por terceiro que a olhe e com ela se possa comover, ao ponto de fazer outro tanto com a nossa. Se funcionasse, seria de felicitar os ingleses e a sua argúcia quando apelidaram determinada pecunia em ouro de guinéu. Muito porque ele vinha da feitoria lusa de S. Jorga da Mina, sita no Golfo da Guiné... o que, até historicamente, não tornaria descabida a remissão indexada a esta notória benfeitoria.
De Willems Florent, Um Grande de Espanha Deixando o Seu Credor

Céline

Céline
(27/5/1894 - 1/7/1961)

Biblioteca Ideal

Sem que se deva inferir qualquer intenção de a pôr na prateleira, uma estante com Natalia Vodianova, para lembrar que nem só de alfarrábios vive um homem...

(De)Graus da Vergonha

Enquando a População não se convence de que os partidos políticos só fazem burradas, é bom que se vá insurgindo contra as suas borradas. Mas episódios como o do protesto estudantil contra a poluição propagandista dos Comunistas só serão consequentes quando deixarem de se cingir a resultados e passarem a combater as causas. Exige-se uma Limpeza Ética que remova as siglas partidárias do nosso País no seu todo, que não apenas da parte superficial dele, as paredes e outras construções.
Por outro lado, seria bom que os universitários, a tal vanguarda da Sociedade, exprimissem igual indignação contra as pretensas obras de arte expressas nas pinturas murais, que não morais, sem objectivo político propagandístico confessado. Doutra forma, subsistirá sempre a suspeita de estarem a fazer um frete às forças políticas que primeiro proclamaram com estrondo abdicar de tão serôdia forma de publicidade.
Mas há um sinal de esperança: quando o ambiente mental e reactivo permite que a preocupação com a Beleza e a Higiene dos locais públicos se sobreponha à malfadada liberdade de expressão das agremiações em confronto eleitoral, está meio caminho andado nas disposições íntimas do Homem Comum para a remoção do lixo fraccionante que o tenta seduzir e manipular.

Quem é o louco?


«Psicologia», Feromona.

Não sendo particular entusiasta de nenhum dos partidos com assento parlamentar, não consigo compreender como é que (ainda) há gente disposta a votar no senhor Pinto de Sousa. Fico na dúvida: será ele o caso de estudo, pela admirável capacidade de sobreviver e esgueirar-se a todo o tipo de desaires, suspeitas e acusações, ou serão os portugueses que acreditam nas suas patranhas?

A Douta Ignorância

Já perspectivei a queda do Sr. Strauss-Kahn sob vários ângulos de análise, mas só agora o posso fazer do ponto de vista óbvio, o do Pecado. Parecia evidente que era uma concessão à Luxúria, o que pode despertar simpatias, já que está sempre presente a máxima Evangélica do atirar da primeira pedra. Face aos pormenores das mais recentes revelações, penso, de forma bem diversa, que a infracção carnalmente emblemática deve ceder face à prioridade que a Soberba no caso ostenta: a frase do libidinoso financeiro Socialista «Sabes quem eu sou?», no sentido de derrogar as consequências da Ética geral e da Deontologia da profissão da vítima, revelam todo o inchaço de si que faz pensar à generalidade dos megalómanos e a muitos dos falhos de escrúpulos que as suas acções estão acima das sanções desaprovadoras. O caso é agravado pela pesporrente desvalorização do caso pela entourage do arguido, quando expressa a convicção de que o dinheiro comprará a impunidade e é ou terá sido o principal objectivo da agredida.
Felizmente, a Sr.ª Diallo não conhecia, nem as autoridades da Big Apple se impressionaram com a identidade deste grandíssimo
Filho da Soberba, de Ron English

Liga Contra o Despesismo!

Começo a vislumbrar alguma verdade nos entusiastas do Liberalismo. Ao contrário da gasolina e de certa área alimentar, há pelo menos um bem de primeira necessidade em que o Mercado funciona! E oponho-me terminantemente a que, em altura de crise como a vigente, o produto venha a ser subsidiado. O meu medo, no entretanto, é que o período de Campanha Eleitoral se sobreponha ao interesse do País e os partidos demagogicamente se concertem para aprovar neste campo uma Época de Saldos...

Segunda Feira de Cinzas

Há um ano estava sem blogue, pelo que direi neste aquilo que me ocorreu, sendo certo que me parece estarmos neste momento perante uma segunda oportunidade mais do que generosamente dada aos Europeus. Não peço que Todos sejais crentes, apelo é ao Vosso gosto e humanidade, no sentido de entender não serem estes os voos que nos devemos acautelar; tendo presente a nova vaga de cinzas que se prepara para invadir o Continente, deve ser lida como o substrato simbólico do arrependimento, dado numa Segunda Feira em tempo não-quaresmal, como na emblemática primeira Quarta da Quaresma se propõe, pela imposição delas em forma de Cruz.
A Natureza não é senão um adicional artifício de Deus, sendo nós o mais notório e o único rebelde. Para quem se dê ao trabalho de perscrutar os sinais, também o mito da Fénix poderá valer, no sentido de nos inculcar que, em arrepiando caminho, o renascimento não será apenas o mais importante, que é o do interior, mas, igualmente o retomar da projecção perdida a partir no momento em que nos esvaímos no sangue que, herança por herança, era o conjunto dos Valores que não soubemos ou quisemos conservar.
Desperta, Europa, ainda há tempo!
Os óleos são Cinzas, de Louwtjie Kotzé e Fénix, de Yanko Yankov

Objectos de culto


A igreja de São Julião, em Lisboa, tem uma história curiosa. Arrasada pelo Terramoto de 1755, foi reedificada em 1810, com um traço típico pombalino. Em 1933, a Confraria do Santíssimo Sacramento da freguesia de São Julião vendeu o edifício ao Banco de Portugal para custear a construção da nova igreja de Nossa Senhora de Fátima. Como consequência, em 1934 a igreja foi encerrada ao culto e dessacralizada. Até há pouco tempo serviu de garagem, o que, sempre que lá passava, me provocava um certo desconforto. Ver automóveis a atravessar a porta de uma igreja é uma visão mais típica de uma Segunda República Espanhola. Com as obras da sede do Banco de Portugal que entretanto começaram, o quarteirão está a sofrer uma grande intervenção. Entre os planos, está previsto que o corpo da igreja dê lugar ao futuro Museu do Dinheiro. Não deixa de ser irónico que uma antiga igreja seja agora transformada em local de culto ao vil metal. Sinal dos tempos.

Fins Entomatados

Já começa a cansar tanto maduro convencido de que interpreta a Bíblia como ninguém a vaticinar o Fim do Mundo. Contra as leituras autorizadas da Igreja e previsões exóticas como a dos Maias, a qual difere para 2012 tão desejável sucesso, cá veio o Sr. Camping garantir que os Bons, presumivelmente ele e mais uns quantos favoritos, iriam ser ontem mesmo, 21 de Maio, levados para o Céu, com todo o resto da Espécie a sucumbir.
Eu em questões de Fé não me quero meter, mas, então, por que carga de água é que a organização deste cavalheiro aceita tantos donativos? Julgarão que há um centro comercial no Paraíso? Pensando bem, com a fama de que os Norte-Americanos não se livram, essa presença mercantil concentrada deve ser indissociável da representação que façam do Supremo Prémio.
Como também me entristece que Braga, uma das Cidades que disputam a honra de hospedar o Primaz da Península, importe, das cercanias de Valência, não o arroz, mas um divertimento que não lhe está na história. É ter de provar que se tem tomates, esmagando-os, quer dizer, tornando-os imprestáveis. Nem resulta daí grande bem, nem o divertimento eventual é compensado pelo opróbrio da imitação. Além da habitual procedência do argumentário contra a estragação num planeta ainda cheio de esfomeados e da estranha apetência por sujar-se até à exaustão. Se esse objectivo é tão libertador, podem sempre optar por meterem-se na política dos partidos.
A imagem é Tomates Esmagados, de Corbert Gauthier

Outra cultura


A sessão de lançamento do segundo número da Finis Mundi, revista de cultura e pensamento, é hoje às 16 horas, no Hotel ibis Lisboa Saldanha, onde decorrerá uma apresentação subordinada ao Regresso do Elmo de D. Sebastião, levada a cabo pelo conhecido especialista de armas antigas, Rainer Daehnhardt.

Cruzes, Credo!

Temos de ser mais cuidadosos antes de darmos sentenças sobre o comportamento face ao desanimador estado de coisas que nos rodeia. Assim, deveríamos indagar melhor acerca da origem, significado e consequência dos gestos antes de, por exemplo, estatuirmos que, perante esta realidade envolvente, não podemos permanecer de braços cruzados.
Com efeito, parece ter nascido o referido gesto com mais espontaneidade do que a progressiva institucionalização deixaria perceber. Conhecido de macacos e chimpanzés, diz-se ser instintivo modo de proteger com uma barreira tranquilizadora o coração e os pulmões, orgãos por excelência intuídos como vitais. Outros dizem simplesmente que é uma posição de descanso. Quer num, quer noutro caso, ninguém pode censurar um indivíduo agredido por tentar repousar dos golpes ou, num acto reflexo, se proteger deles.
Um estudo norte-americano apurou que os ouvintes de conferências industriados para permanecerem com os braços cruzados durante a leitura exibiam conclusões de muito maior cepticismo quanto ao conteúdo da prelecção. Antevê-se pois uma luta entre os influentes dos meios públicos de hoje e as associações de defesa dos cidadãos, no sentido de estabelecer ou banir do protocolo a atitude que, pelos vistos, determina em tão grande grau a receptividade.
Mas há mais, parece que a mensagem que passa para os interlocutores é, de facto, a de mau humor e indisponibilidade para receber a acção ou iniciativa deles, o que é muito digno de encómios na rapariga da escultura, sabendo-a contemporânea da Revolução Francesa.
E eis-nos chegados à razão detonadora do presente postal - os Cientistas descobriram que tão simples posição braçal funciona como analgésico. Quem poderá então censurar as almas sensíveis que ainda subsistem por procurar, de forma pouco viciante e falha de contra-indicações, alijar a imensa dor que a degradação circundante fomenta?

A Árvore das Patac(oad)as

No dia em que começa a enxurrada de bagalhoça que, diziam, nos ia salvar, tenho de fazer coro com os que relembram estar em nós o problema da predisposição à insolvência. Nem tanto pela razão mais aventada, a da falta de capacidade produtiva, mas por condicionantes psicológicas enraizadas que levam à desvalorização das boas contas e ao acolhimento benévolo da indisciplina perdulária.
Do livro que ontem levei ao almoço, dois passos me pareceram particularmente ilustrativos. Num, evoca-se o Infante D. Afonso, Irmão do Rei D. Carlos, sempre pedinchando pequenas somas que nunca pagava aos oficiais de serviço, popularíssimo entre as vítimas e, ainda mais, junto do Povo que lhe conhecia mil e uma historietas destas. No outro, a dificuldade que a Rainha D. Amélia teve em penetrar os corações dos súbditos, apesar da conduta exemplar, ou, talvez, por causa dela. Tendo imposto controlos rigorosos nos gastos, ao contrário do deixa andar da Sogra, D. Maria Pia, despertou mil e uma aversões e calúnias, sendo a verticalidade orçamental apresentada como avareza e mesquinhez.
Como pode espantar que políticos gastadores obtenham bons resultados eleitorais, mesmo quando se perdeu o rasto a muito do bago dissipado?

Caldo de Cultura (XIV)


Mais um almoço e desta vez cheio de convidados. Infelizmente, só os "jovens" presentes - Paulo, Miguel e Duarte - se lembraram de levar livros. Está lançado o desafio: quem levou o quê?

Feira do Livro

Decorreu em Lisboa a 81.ª edição da Feira do Livro, histórico evento cultural da capital que celebra e promove a leitura, atraindo o público com promoções e preços convidativos. Mas será que as mudanças introduzidas recentemente foram para melhor?



Para muitos de nós, a Feira do Livro é algo de que nos lembramos desde tenra idade. Um dos primeiros contactos com a leitura que perdura e nos faz regressar todos os anos, até ao dia em que é com os nossos filhos. Quer dizer que cumpre, para além de uma função comercial, uma importante função cultural.

No entanto, parece que a vertente do negócio tem ganho cada vez mais importância e a feroz competição entre grandes grupos editoriais provocou várias alterações. Infelizmente, não para melhor.

Outras feiras
Iniciada pelo Grupo Leya, com o seu “espaço” próprio, esta tendência para o ‘apartheid’ editorial agravou-se este ano. Também a Bertrand e a Babel aderiram a ideia de ter uma configuração diferente, fugindo às clássicas barraquinhas. Parece que deixámos de estar na Feira do Livro para entrar na feira “x”. E assim se vai andando, de feira em feira...

Mas o problema não é só de forma. Para além de tentarem escoar rapidamente as “novidades”, fazendo destes espaços uma versão alargada das “boutiques de livros” em que hoje se tornaram tantas livrarias, pouco mais fazem que despachar existências.

Interessante
Vão valendo os ‘stands’ de publicações científicas e académicas, ainda que, como disse um dos responsáveis por uma editora universitária, os preços sejam incompreensivelmente elevados. Mas o melhor está mesmo na parte reservada aos alfarrabistas, infelizmente diminuída. Aí é possível encontrar verdadeiras preciosidades a preços acessíveis. Mas a continuidade desta oferta pode estar em risco, já que muitos destes livreiros se queixam de que os lucros conseguidos não compensam os gastos.

Seja como for, a Feira do Livro não deixa de ser uma referência incontornável nos ritmos de Lisboa e um acontecimento cultural a continuar. Esta deve continuar a ser uma festa do livro e não tornar-se um centro comercial a céu aberto. [publicado na edição desta semana de «O Diabo»]

Elixir da Longa Vida

No tempo em que blogava decentemente escrevi sobre o café. Hoje, gasto como estou, não tenho muito mais a acrescentar, salvo que as últimas do tema me impõem uma homenagem. Algo que me mantém desperto, bem disposto, dá prazer e, sabe-se agora, favorece a continuidade de uma certa função básica podia bem passar por descrição da Mulher, sendo, no entanto, este apenas o elenco de algumas das qualidades da delícia negra líquida. Quando nem o grande João Sebastião se furtou a prestar-lhe tributo, não serei eu a dissociar-me do reconhecimento acrescido a que a evolução da Ciência obriga. Um excerto da Cantata Café, do maior Bach:


A imagem é o Homem Café, de Rachael Shankman

Um palco invulgar


«Frio Bafio», peixe:avião.

Há sítios invulgares para tocar música. Escreve-vos alguém que já deu um concerto num lagar. No entanto, os protagonistas deste vídeo são peixe:avião, que não só tocaram numa livraria bracarense como decidiram apresentar o tema literalmente no meio dos livros. A ideia não deixa de ter o seu encanto. Quanto à faixa, pertence ao disco de estreia editado em 2008, «40.02».

Estamos Em Maio!

Há que parar o Espírito de Abril e não apenas na pessoa do seu mais esforçado portador de ontem...

Sangue na Consciência

Era fatal o clamor de demarcações e citações da declaração de Lars von Trier em Cannes. Dizer que aprovava Hitler e os seus feitos, num certame de institucionalismo cultural adverso, tinha de concitar condenações e defesas, enquanto se esperava o pouco tempo que a publicitação da ocorrência levasse a revolver as consciências mais puras, aquelas que estão fora do meio.
A princípio, até pela pronta apresentação de desculpas e garantia de arrependimento, pensei estarmos simplesmente diante de um truque de promoção desse «Melancholia» com que se apresentava no Festival. Com efeito, se tivesse pedido a Dunst e Gainsbourg que se despissem na conferência de imprensa, falar-se-ia do caso durante cinco minutos. Assim tem asseguradas cinco semanas de holofotes.
Mas uma noite de sono fez-me reflectir que talvez não seja caso assim tão simples. A velha história por ele tão divulgada da paternidade desmentida no derradeiro suspiro da Mãe, fazendo-o passar de um filho de Judeu para rebento ariano, conjuga-se com o evento que catalisou estas observações, para me fazer concluir que o cineasta dinamarquês vive uma essencial avidez de seguimento, bem explicável pela ausência de educação que a família lhe dera, por a considerarem como repressão. Desta forma, o dístico da imagem completaria bem a toilette ostensivamente informal com que compareceu na alocução, outra forma clara de dar nas vistas.
E vejo-me então relegado para uma diversa melancolia, a de ver um realizador cuja filmografia prezo atolar-se em esquemas e truques para garantir-se ainda mais acompanhamento, já que a qualidade notória da obra parece insuficiente para atrair a quantidade de público que almeja. O nome que usa é uma mentira, acentuada pela partícula von. Mas não o será também toda a digladiação de fidelidades de herança e de ideário com que se deleita em dar aos olhos dos outros?

Profeta em casa


A ideia de que a simples posse e uso dos bens materiais assegura a felicidade é inteiramente falsa. Concepção política que não reconheça a superioridade do espírito e o dever de lhe subordinar a riqueza pode levar à edificação de uma sociedade brilhante, mas nunca de uma autêntica civilização.

António de Oliveira Salazar
(Férias com Salazar, Christine Garnier, Parceria António Maria Pereira, 2ª ed., 1952, p. 124-125)

Escusado será dizer que no caso português, esquecido que foi o conselho do Grande Sábio, não só não se chegou à "autêntica civilização" mas nem se quer à "sociedade brilhante".

Para recordar


Em época de renovação do regime da abrilada, através da perversão partidocrático-eleiçoeira, fica aqui a lembrança do Portugal que aquele destruiu com requintes de crueldade.

Desagravo a Sócrates

Detesto injustiças, mesmo quando o prejudicado seja o Primeiro-Ministro. Acusam-no de desbaratar os certificados universitários, sem critério de atribuição ou proveito vindouro para os contemplados. São incapazes de reconhecer que ele não quis beneficiar de um regime de excepção, tendo decidido estender aos seus concidadãos facilidades equiparáveis às de que desfrutou aquando do processo culminado pelo cartão de envio do famoso trabalho de Inglês Técnico, como conclusão da respectiva licenciatura.
Por outro lado, os comprovativos de estudos em análise têm utilidade atestadíssima, à maneira dos exemplos que nos surgem desse modelo universal norte-americano, no caso sob a forma de reputada Universidade.
Por favor, ataques gratuitos também não!

Que Melão!

Antes de perorar sobre os alarmes alimentares da explosiva contingência que se narra aqui, quero dar uma palavra de apreço aos Verdes da política que temos, pelo perigo em que incorrem, dada a consabida vermelhidão interior; aventar a hipótese de a Al Qaeda, com a morte do líder carismático, já não ser o que era. E, finalmente, interrogar-me acerca da possibilidade do propalado Boom da Economia chinesa não passar, afinal, de um Buum!
Melancia Cósmica, de David Huffman

Outra Valsa de Strauss - Kahn!

Nunca pensei que um político entradote com uma libido hã imp(r)udente desse pano para tantas mangas. A última traduz-se na da alegação do «sexo consentido», pelo defensor de DSK, que contradiz toda a anterior intoxicação com sugestões de ausência total de avanços e perseguição político-jornalística.
Claro que é querer fazer dos outros, juízes incluídos, parvos. A versão cai pela base, sabendo-se da fuga subsequente. Ou o causídico irá tentar fazer-nos crer que o seu cliente estivera tão... absorvido, que deixara escapar o tempo, quase perdendo o avião, largando pelo caminho, inclusivé, o computador portátil com notas úteis à reunião que tinha agendada?
Sei que sou um advogado falhado. Mas, tivesse eu a cara de pau de certos Colegas que singraram, optaria, inteirados que fomos da origem da vítima, a Guiné-Conacri, por reenviar o comportamento do meu constituinte para a cooperação Norte-Sul, a manutenção da vitalidade da Comunidade de Língua Francesa, ou a manifestação de ausência de racismo, sobejamente atestada na atracção em apreço.
Claro que a questão dos ferimentos seria embaraçosa. Mas poder-se-ia sempre culpar a pesada herança dos hábitos atávicos da exploração colonial, enfim, o descaramento de muitos barristers deste mundo não conhece limites.
Já agora, também parece altamente improvável a tese da armadilha, que alguns colaboradores do arguido tentaram fazer passar. As predilecções anteriores deste lobo faminto eram Mulheres com notoriedade profissional, de origem caucasiana, como agora se diz. A menos que ele tivesse confidenciado alguma vontade de variar, seria uma escolha estranha a da humilde Beldade Africana como isco.
Detesto ver espertalhaços a tentar atirar areia para os olhos doutrem, como Os Advogados, de Clive Barker, essa hidra de falsas caras, conformes à e - conforme a - conveniência.

Música romântica para noite de lua cheia

Fim de Emprego

Infelizmente uma Publicação de Referência acabou e, com ela um dos raros lenitivos eficazes contra a crise. Como protesto publico Danielle Llloyd, a qual, se tivesse integrado a revista, não se teria deixado afastar sem fazer uma fita.
As gentes de posses recorrem ao Lloyd`s, os tesos têm de se contentar com menos um "s", a base do cifrão.

A Europa de Janus

Creio convictamente que a direita e a esquerda europeias são as duas faces horrendas da mesma má moeda. Por isso, não me espanta o conselho que Sarkozy aviou a Strauss-Kahn, em 2007, antes de o socialista assumir a liderança do FMI: "Tem cuidado, nos Estados Unidos não se brinca. Evita apanhar um elevador sozinho com uma estagiária. A França não se pode permitir um escândalo". O aviso resume as minhas ideias sobre o extremo-centro que governa a Europa. Encurtando razões: houvesse Strauss-Kahn aplicado a doutrina socialista sobre o corpo de uma pobre francesa — e ali estaria o amigo Sarkozy a patrocinar o "direito de pernada" para abafar o escândalo. Mas nos Estados Unidos, não, o sórdido geronte deveria manter a braguilha cerrada.

Sanjo made in China?


Embora já não sejam do meu tempo, aprendi desde miúdo a olhar as sapatilhas Sanjo com respeito e admiração. Em grande parte devido à caixa de ténis brancos ainda por estrear que um dia encontrei no sótão dos meus avós. Foi por isso com grande entusiasmo que recebi a notícia de que as sapatilhas Sanjo iam voltar a ser comercializadas. Só que o entusiasmo deu lugar à desilusão quando percebi que estas novas sapatilhas são fabricadas, não em São João da Madeira, mas na China (!). A justificação oficial é que não existe em Portugal maquinaria adequada para produzir este tipo de calçado. Um argumento muito difícil de engolir, sabendo que as Sanjo originais começaram a ser produzidas na década de 40 e que Portugal é ainda um dos maiores exportadores europeus de calçado (as sapatilhas anarquistas mais conhecidas do mundo são produzidas em Felgueiras, por exemplo). Por muito que me custe, a solução é o boicote: não comprarei umas Sanjo enquanto não forem produzidas em Portugal.

Dia-gnósticos

Os chamamentos Divinos já não parecem ser o que eram. Todos compreendemos o de Isaías, aqui pintado por Tiepolo. Mas surge totalmente inacessível a intelecção de um do género do que o Político da Virgínia Ocidental Jonathan Miller diz ter recebido, no sentido de disputar uma eleição. Isto demonstra bem o autismo contemporâneo face ao Criador. Depois da Sr.ª D. Alexandra Solnado haver garantido que Deus lhe dissera para «ir à Livraria Bertrand comprar determinado livro», como se a contrato publicitário estivesse Vinculado, só faltava vir um não muito maduro ambicioso atribuir ao Bem Supremo uma exortação a participar em arte demoníaca, como qualquer acto eleitoral é.

No absurdo desta prática em voga, que nem radical pode ter pretensões a ser, choca-me menos a irresponsabilidade do desafio ao perigo, mais ou menos generalizada nas cabecinhas tontas ávidas do destaque rápido contrariado pelo raro reconhecimento tributado, fora do campo desportivo de Alta Competição, aos verdes anos.
O que me entristece é terem optado por uma postura que é o inverso da vitalidade que, em idades tão disparadas, seria natural exibir. E que contrariem a lenta marcha da Espécie rumo à posição erecta, sabendo-se como, chegando à velhice e à doença, têm largo tempo para ficar de bruços.

A Ministra da Cultura, Pessoa de Quem até tinha agradável impressão, está completamente equivocada: a Tutela de um Ministério é uma mera burocratização, no limite a esterilização dos processos criativos. Outrora, os Artistas dependiam bastante da generosidade do Príncipe, porém as publicitações das preferências do Poder, como a divulgação das encomendas, eram processo muito mais límpido do que os dos apoios e concursos de uma estrutura supérflua e gastadora. O trabalho mais útil que lhe deve competir, o da preservação do Património, pode ser realizado mais eficaz e expeditamente por organismos sem autonomia governamental.

Também considero irrealista esta proposta, o Dr. Portas está certamente desactualizado, pois não deve ter dado pela mudança do número da emergência, o qual deixou de ser 115 anos atrás. Já perceberia a sugestão, caso o total adiantado para os futuros deputados fosse o 112. Manifestar-se-ia a intenção de, numa necessidade urgente de assistência, tentarem remediar o mal que fizeram ao País.

Azulejaria portuguesa 2

Em tempos de grande interesse pela ortografia... aqui um azulejo que encontrei nesta jóia lisboeta que é o Convento dos Cardaes, na Rua do Século. Suponho tratar-se de exemplar do Séc. XVIII. Uma delícia!

Ser ou não ser


Exceptuando-se O Diabo, não compro jornais nem perco muito tempo com a chamada comunicação social, sobretudo com aquela imbecilmente adepta da abortografia brasilêra. Mas, durante a temporada na estranja, de quando em vez dou um salto à versão digital de algum diário para ver como andam as modas na terra. Hoje foi a vez de uma vista d´olhos ao pasquim do Eng. Belmiro Azevedo (penso que ainda lhe pertence). Pois não é que ali estava um video do youtube sobre "os novos portugueses"? Exultando de diversidade e multiculturalismo os responsáveis pela matéria anunciam categoricamente que agora "Somos morenos, somos louros, somos negros, somos mulatos, somos asiáticos, somos sul-americanos, somos de muitas nacionalidades, somos europeus, somos portugueses". O que tal fulgurante progresso quer dizer é que já não somos nada, deixámos de ser, pois só somos nós se não somos os outros. Ser tudo ou todos significa logicamente não ser mais nada ou ninguém. É assim de fácil. De uma assentada dá-se cabo da velha identidade portuguesa. Graças aos inestimáveis préstimos da dupla Pinto de Sousa/Cavaco Silva a nossa nacionalidade - leia-se: identidade - foi transformada em simples certificado de residência.

Debates



Prosseguem os debates a cinco — e só a cinco. Hoje vão fingir que se desentendem o 176-671 e o 176-761. Amanhã é a vez do troikista e do trotskista.

Pato... Lógico

Compreende-se perfeitamente a voracidade mediática pela tentativa de violação ancilar de DSK, apesar de o caso cheirar mal por todos os lados. O que já espanta é que Madame Marine Le Pen, (com quem solenemente embirro, esclareça-se) tenha vindo, por entre o blablabla acerca da gravidade todavia real do episódio, dizer que «era público ser a relação do político encarcerado com as Mulheres ligeiramente patológica». Descuuuulpe?! Como disse? Que raio de advérbio! Imagino que, então, há muito que o protagonista deste triste caso devesse estar ligeiramente internado, sei cá eu!
E venham falar-me de "extremismo" numa Política que, para descrever a inqualificável conduta de um rival, usa qualificação tão atenuante! A menos que, ah, eureka, achei! Ela queria dizer que o dirigente do FMI era um pato... lógico, Aí sim, faz sentido - o homem sabia que Sarkozy é mulherengo, quer ir para o lugar dele, concluiu que fazia parte dos requisitos exigidos apresentar um rol de conquistas, como nem todos podem ter sorte decidiu que se não ia a bem, ia a mal, enfim, tramou completamente a carreira e, à conta de tanto encadeamento mental, ficou com as mãos e os pés ligados por outras cadeias.
Um verdadeiro pato, lógico, sem ofensa para este:

O Polvo É Quem Mais Ordena!

O Ministro Rui Pereira é um optimista. Quando estavam indiciados quatro agentes policiais por crimes vários, brindou-nos com umas palavras tranquilizadoras. Agora que o elenco suspeito subiu para sete, deve estar a rezar a todos os santinhos para que a coisa não tome proporções maiores.
Eu, além de não ver tudo azul quando a coisa está preta, tenho azar. Claro que 7 em 20.000 seria uma gota de água no oceano. Mas o mesmo número concentrado num concelho já é relevante e temível. Indica uma rede organizada que não sabemos quantos mais polícias indignos incluirá ainda, já que nada garante que tenham sido todos descobertos. Por infelicidade extrema, trata-se do Município onde vivo, onde jaz aquele Estoril que em tempos foi considerado, depois de Monte Carlo, o melhor canto europeu para viver. As patas da Autoridade assim untadas apenas contribuem para o dar como um canto, sim, mas do cisne, no que toca à atractividade que exerça sobre indecisos em nele se estabelecerem.
Decerto que o Governante não tem culpa de a carne de uns quantos PSP´s ser demasiado fraca. Mas tem-na todinha em deixar-se vencer pela paroxística tentação anti-alarmista de diminuir a gravidade do que rouba o pouco que resta do respeito da População que fora depositado naqueles que são (também) pagos para a proteger.

Brutalidade de Fundo

Não fiquei desiludido com as revelações da mais recente violação tentada pelo Sr. Dominique Strauss-Kahn, porque jamais tive em grande conta o personagem. Só o Dr. Sarsfield Cabral, com a boa vontade Evangélica que o caracteriza, para acreditar que a presidência do FMI pelo concernido poderia dar-lhe «um cunho mais humanista». Nem falo do facto de o sujeito não ser de confiança e dizer sem controlo o que acha que à custa doutros lhe pode render simpatias, como quando acusou Ségolène Royal de beneficiar do sentimento anti-semita, por ele, Lang e Fabius, seus adversários, serem Judeus. Ou quando, para Francês ouvir e chauvinisticamente se deleitar, declarou a realidade Grega recente como a mais mal-cheirosa possível, por «o desporto nacional Helénico ser não pagar impostos». Também passo sobre as aventuras extra-conjugais, apesar das dúvidas emergentes quanto à seriedade. Chamo à pedra, sim, o completo desrespeito pela vontade alheia que caracterizou algumas delas. Kennedy e Clinton tinham reconhecidos problemas em manterem as calças no sítio, mas, além de os eleitores gostarem deles, não precisaram de forçar no campo íntimo quem quer que fosse. É que não é a primeira vez que este indivíduo prevarica, dando a esfarrapadíssima desculpa de um erro de percepção quanto à disponibilidade das visadas. Ora, o meu receio é que adopte idêntica metodologia nas funções públicas e acabe a nossa Pátria por sair ferida da coisa, como a empregada do hotel do episódio mais recente.

Azulejaria portuguesa

O preferido de Sábado à noite


Espero que pelo menos uma vez, durante as férias do verão português, o nosso almoço das quintas possa ser realizado em Buenos Aires. E precisamente aqui. Fica desde já lançado o desafio aos Confrades e Amigos. Hasta pronto!

Sucatear é preciso...

Vi há poucos dias na TV alemã (DWTV) um curto documentário sobre a vigilância exercida pelos federastas da UE, na zona pesqueira do Atlântico Norte. Era a vez de um moderno buque germânico patrulhar as águas onde os "parceiros comunitários", em estrita obediência aos complicadíssimos cânones formulados pelos comissários de Bruxelas, podem lançar as suas redes. Pois o delinquente em questão era nada mais nada menos do que o arrastão português Santa Isabel, a cair aos pedaços, quase uma sucata, sujo, tripulado por indivíduos de aspecto miserável, e que escutavam, cabisbaixos, as reprimendas do alemão pelas faltas cometidas - escada de acesso a desfazer-se, informação incompleta nas embalagens, etc. Por sorte, depois de medições aleatórias dos buracos das redes, o polícia da pesca aceitou como razoável o desvio-padrão verificado. Quando se pensa que o Santa Isabel foi um dos mais modernos barcos de pesca e processamento que já cruzaram os mares, que Portugal possuía uma das três maiores frotas pesqueiras do globo, e que a Nação e o seu Governo impunham-se no estrangeiro pelo respeito que inspiravam, a emissão desde Berlim cravou-me um punhal na alma. Uma grande conquista da revolução dos cravos e dos cravas. O Santa Isabel, sucateado e a caminho do fundo, parece ser o retrato chapado do Portugal dos nossos dias. Valha-nos Deus!

Cádiz 1811


A capa é horrenda, é verdade, mas a sabedoria popular sempre aconselhou a não julgar um livro pela sua aparência. Neste caso o conselho é para levar a sério, já que «O Assédio» tem pouco de história de vampiros, ao contrário do que a primeira imagem leva a crer.
Desde logo, o que mais salta à vista é a forma como Pérez-Reverte condensa num só livro temas recorrentes na sua obra. Xadrez, literatura, náutica, reconstituição histórica, tudo tem espaço neste romance, que toma como pano de fundo o Cerco de Cádiz de 1811 pelas tropas francesas em plena Guerra da Independência. A diversidade dos temas é acompanhada pela narrativa, que adopta o ponto de vista de diversas personagens aparentemente desligadas entre si, cujos destinos se vão cruzando ao longo do livro: desde Pepe Lobo, capitão corsário de grande experiência a Gregorio Fumagal, um taxidermista jacobino, passando por Lolita Palma, importante mulher de negócios gaditana, Simón Desfosseux, antigo professor de Física tornado capitão de artilharia no Exército Imperial, e Felipe Mojarra, destemido guerrilheiro. No centro desta complexa teia está Rogélio Tizón, um comissário de polícia pouco escrupuloso responsável pela investigação de uma misteriosa série de homicídios.
Como sempre, é na caracterização das personagens que o autor espanhol mais se destaca, embora seja admirável a forma como orienta o leitor nesta complicada trama, sem nunca perder o ritmo ou afrouxar a expectativa. Nota ainda para o magnífico trabalho de contextualização histórica, que não só fornece um pormenorizado retrato de Cádiz (o sentimento de exiguidade da cidade sititada é uma constante), como confirma que nunca a História tem um sentido linear. Não é o melhor livro de Pérez-Reverte, mas está construído de uma forma tão cuidada e meticulosa, reflecte tanta preparação, que é impossível não o admirar.

Puxar os Cordelinhos

Longe de mim insurgir-me contra uma experiência que poderá minorar o sofrimento e alienação de muita gente, mas a reprodução de um cérebro a papel químico do nosso faz-me temer dois riscos, curiosamente de sinal contrário. Em primeiro lugar, pode-se diminuir o Humano pelo controlo, numa limpeza mais subtil mas cerceadora do que Lavagem ao Cérebro de Whielki Krasnal, usando os conhecimentos assim adquiridos para criar entes pré-programados, que já não quadram no conceito de Pessoa. Por outro lado, não tendo, apesar das tentativas da Psicologia, a certeza de que a Vontade, orgânica ou autonomamentemente, inexista com localização funcional, a reprodução a papel químico do substrato físico de uma mente pode, no limite, conduzir a uma revolta das criaturas. O que nem seria mau, considerada a baixeza a que chegou a nossa espécie. Mas seria péssimo na medida em que tamanho salto para o desconhecido levasse ao decalque em série dos vícios que nos conhecemos.
Estamos em 2011. O Mundo dos Replicants de «Blade Runner» não foi fixado em 2019?