Cruzes, Credo!

Temos de ser mais cuidadosos antes de darmos sentenças sobre o comportamento face ao desanimador estado de coisas que nos rodeia. Assim, deveríamos indagar melhor acerca da origem, significado e consequência dos gestos antes de, por exemplo, estatuirmos que, perante esta realidade envolvente, não podemos permanecer de braços cruzados.
Com efeito, parece ter nascido o referido gesto com mais espontaneidade do que a progressiva institucionalização deixaria perceber. Conhecido de macacos e chimpanzés, diz-se ser instintivo modo de proteger com uma barreira tranquilizadora o coração e os pulmões, orgãos por excelência intuídos como vitais. Outros dizem simplesmente que é uma posição de descanso. Quer num, quer noutro caso, ninguém pode censurar um indivíduo agredido por tentar repousar dos golpes ou, num acto reflexo, se proteger deles.
Um estudo norte-americano apurou que os ouvintes de conferências industriados para permanecerem com os braços cruzados durante a leitura exibiam conclusões de muito maior cepticismo quanto ao conteúdo da prelecção. Antevê-se pois uma luta entre os influentes dos meios públicos de hoje e as associações de defesa dos cidadãos, no sentido de estabelecer ou banir do protocolo a atitude que, pelos vistos, determina em tão grande grau a receptividade.
Mas há mais, parece que a mensagem que passa para os interlocutores é, de facto, a de mau humor e indisponibilidade para receber a acção ou iniciativa deles, o que é muito digno de encómios na rapariga da escultura, sabendo-a contemporânea da Revolução Francesa.
E eis-nos chegados à razão detonadora do presente postal - os Cientistas descobriram que tão simples posição braçal funciona como analgésico. Quem poderá então censurar as almas sensíveis que ainda subsistem por procurar, de forma pouco viciante e falha de contra-indicações, alijar a imensa dor que a degradação circundante fomenta?

3 comentários:

  1. Está encontrada a explicação para a persistente atitude nacional de braços cruzados sempre à espera de D. Sebastião que nos trará de volta a Glória, Querido Paulo.

    Beijinho

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  2. Formidável conclusão: o cepticismo deve-se aos braços cruzados. E sobre que versavam as palestras?...
    Depois o efeito analgésico. Mais parece um estudo encomendado pela liga anti-aspirina.
    Juro que não li o "estudo" de braços cruzados.
    Cumpts.

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  3. Por essas e por outras é que o Governo do Sr. D. Miguel mandou o panfletaríssimo José Agostinho de Macedo desancar os tardo-Sebastianistas, Querida Ariel.

    Ehehehehehe,tenho a certeza de que não, Meu Caro Bic. Mas está a ver as vantagens da coisa? a princípio poupava-se uns tostões, embora, como é hábito, no fim o barato pudesse sair caro.
    Já o conteúdo das palestras foi informação que não pude alcançar. Por coerência, talvez devessem ter adoptado o mote «O Gesto é Tudo»...

    Beijinho e abraço

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