Riscas à Risca

Anda o Diabo nos EUA, por o congressista do Oregon David Wu ter adoptado uma conduta estranha, com a escrita de mensagens infantis aos colaboradores; e se ter vestido de tigre no Carnaval lá da terra, o Halloween. Faz-me estranheza tanta preocupação, como a incidência maior dela. Talvez por ser compatriota do Dr. Alberto João Jardim, nada de extraordinário vejo numa mascarada sazonal de um político, por muito avesso que seja a tais festividades. E toda a gente reconhece que o infantilismo é uma constante da política norte-americana, desde o uso semi-oficial de diminutivos à concepção de concorrer a cargos públicos como uma corrida (to run, em ambos os casos), à obrigatória piadinha de conserva nos debates e conferências de imprensa.
Mais grave me parece a confissão do visado, defendendo-se, de que tem andado sob o efeito de medicamentos que lhe teriam alterado as faculdades mentais. Isso sim, soa-me perigoso, ter num cargo de responsabilidade alguém que não está na posse plena dos seus recursos psíquicos.

Quando, de repente, percebi! O político em apreço é de origem chinesa. Ora, partilhamos a ideia, creio, de que na China o tigre é o símbolo por excelência do Poder. Num sistema que vive do espectáculo, deve alguém ter achado que se impunha uma denúncia dessa assunção pelo eleito, como avatar mais capaz da eterna e enganosa teorização da limitação dos poderes.
Não há como puxar pela cabeça!

Bon Voyage!


Ao nosso Querido Amigo Marcos Pinho de Escobar, intimando-O a não ficar por lá...

Macacos de Imitação

Após a publicação destas conclusões é que vou passar a andar na rua com máscara anti-gás ajustada. Com efeito, quem duvida de que uma espécie que fez de tudo para aumentar o magnetismo sexual, desde os filtros de amor às missas negras, do culturismo ao Viagra, vá recorrer ao simpático odor natural que tão bons resultados aparenta dar? Nem se diga que a natureza do produto é impeditiva, afinal nas tribos do Deserto Arábico os chefes usavam urina de camelo como... tónico capilar. E, quanto a mim, está explicado o fenómeno de excitação ou satisfação conhecido por chuva dourada. Nem é, como pensava, uma esquina do masoquismo, deve simplesmente tratar-se de imaginar que na Fémea funcionam idênticos mecanismos, combinando com a ânsia de se ser mais atraído por ela. O amor justifica tudo, não é? Mesmo que este primata, o Homem, desate a imitar os primos que prescindiram de indústrias perfumistas caríssimas. Ora, em época de crise(s)...

Flor do Lácio


Cá venho eu outra vez com o raio do aborto ortográfico... Para mais enfaticamente vincar o meu rechaço penso adoptar a grafia anterior à reforma de 1911.

A Defesa das Fugas

Não sou como o Ministro Santos Silva que se refugia na impropriedade da abordagem de conteúdos de documentos confidenciais para se eximir ao incómodo de outras fugas. E dou de barato que as opiniões do Embaixador Americano sobre as fragatas holandesas sejam sintoma de puro despeito exalado pelo representante de um concorrente preterido, como tranquiliza o General Loureiro dos Santos.
Sobre os submarinos, a referência à ausência dos mísseis parece revelar uma certa ignorância por parte do diplomata, as principais utilizações deles para nós prendem-se com o auxílio à vigilância e o aumento da eficácia de treino de forças anti-submarinas, sem o qual ficaria a área marítima, territorial e de exploração económica, completamente desprotegida. Sugiro , aliás a leitura de um ponderado estudo sobre o tema, publicado pelo Contra-Almirante Miguez Chagas. Por outro lado, finda a razão de ser combatente de Portugal, com retiradas africanas e capitulações a interesses determinados por burocratas supra-nacionais, até aceito que se costarriquize o País, eliminando as Forças Armadas, desde que se assuma abertamente a opção.
Há porém um ponto em que o representante dos EUA tinha toda a razão: a bananesca abundância de oficiais superiores para o número de praças, que transformou uma das Nações mais antigas da Europa numa réplica da caricatura:

Ai Tempo, ai costumes!

É muito difícil no nosso tempo manter o valor literário num panfleto. A época dos Swifts e Defoes era outra, a contemporaneidade guarda com avidez o talento para outros empreendimentos e aproveita para descambar nestes instantes, como atesta o célebre desafio do Almada, Autor que venero em muitas outras publicações, mas que, sem qualquer simpatia pelo Dantas, me deixa frio no fácil rastilho de fama do «Manifesto...». Já nas polémicas é mais habitual continuar-se grande, porém a concretização panfletária não passa de um desesperado e precoce apelo a elas. Reconheço uma só concretização coeva do género que tenha conseguido manter intacta a valia artística, o livro de Jacques Laurent contra Mauriac e De Gaulle.
Assim, o apelo que produzirá um escrito do tipo falado repousará sempre nos sentimentos de repulsa que nos inspire a realidade que visa denunciar. Razão mais do que bastante para publicar o poema que segue, inconformado que estou com o que me rodeia, uma multiplicação hiperbólica do que motivou o grito de 1977 que se reproduz. A ponto também de me fazer vencer o temor de ferir com o derradeiro e vernáculo vocábulo, por considerar que as sensibilidades mais exigentes há muito se devem encontrar calejadas pela mediocridade que magoa qualquer patriota.

Encimado pela suína do Bordalo, com epígrafe de Ramalho, de Silva Resende:

TACHISTAS, OPORTUNISTAS
E OUTROS ISTAS

Ave João Felix! Todos os que vão falar
te saudam. Ò Cesar da retórica, ó
boca de ouro, ò sarça ardente,
ò salamandra, ò coluna de fogo! Tu és a
árvore do bem e do mal do palavreado.
Tu és o sicómoro da ciência portuguesa.
Ó monte de civilidade, vaso de gramática latina,
seirão de opúsculos, odre de pedagogia,
torre de nominativos,
cidadela de gerúndios... Misere nobis


Subservientes, rasteiros,
de gesto fácil p´ra vénia...
Atentos como rafeiros,
nojentos como a ténia.

Polulam por todo o lado.
Partem, repartem o bolo,
comendo o melhor bocado,
passando o sábio por tolo.

Não têm credo, política,
do que vontade somítica
de D. Pedro ou D. Lacerda...

Um só tema, um só facho:
a conservação do tacho!
Uf! Que nojo. Que merda.

Música para (ex-)noctívagos e boémios (como eu)

Comme il faut


Inspirado pelo douto postal do Amigo João Marchante, faço aqui a sugestão de "Le Clan des Sciciliens" para a noite de Sábado. Jean Gabin, Lino Ventura e Alain Delon, direcção de Henri Verneuil, música de Ennio Morricone, anos sessenta, politicamente incorrecto, Europa europeia - uma delícia.

Fonte Revisitada

Deglutição de rara conferência de um Mestre Integralista hoje menos falado. Necessariamente breve, como convém a uma peça proferida em público, esta resumida prelecção continua mais actual do que muito do que, mais desenvolvidamente, noutros lados, foi escrito sobre o tema. Claramente aderindo ao Estado Novo, não hesita em sublinhar que a construção corporativa então alardeada pelo regime como resultado se encontra num estado de mera potência, que não de efectiva realização.


E não se fundamenta num saudosismo romântico da sociedade limitada pelos estamentos, em que a força das Corporações era o factor de equilíbrio face a poderes de outras classes, antecipa o que hoje por hoje é uma evidência, a necessidade de regulação pública do preço justo e de disciplina das actividades, como maneira de combater o escancaramento à invasão (ò clarividência!) da produtividade asiática e ao consumismo sempre instável, com as crises que acarreta.


Além do mais, tem palavras proféticas quanto ao descaminho de uma sociedade em que a educação secundária fosse deixada ao Deus dará e em que a célula familiar cedesse às investidas liberalonas que dela sempre fazem um alvo. Também pela preocupação com a Família, gostaria de dedicar um folheto que tanto gostei de ler ao meu Querido Amigo e Jovem Camarada João Marchante.

Dentro do rectângulo


«A Espera é um Arame», peixe:avião.

Para não ser acusado de trazer a esta mesa apenas bandas da capital, hoje vou ao Minho buscar os peixe:avião. Provenientes de Braga, foram imediata e injustamente comparados aos Radiohead. É uma prática recorrente em Portugal, a de colar instantaneamente um rótulo às novas bandas, como se estas fossem uma réplica à escala de grandes agrupamentos internacionais. A comparação é injusta não porque o grupo de Thom Yorke deixe de ser uma excelente banda (que é, isso ninguém duvida, nem o João Marchante me deixava dizer outra coisa), mas porque os peixe:avião valem bem pelo seu próprio talento e originalidade. Quanto ao tema, faz parte do disco de estreia, «40.02», lançado em 2008. Entretanto, o ano passado, a banda voltou à carga com «Madrugada».

A causa duma coisa muito cá de casa

A expressão «Sétima Arte» anda na boca de toda a gente. Falemos, então, sobre a origem dessa — feliz — designação para o Cinema.
Foi o escritor, jornalista, crítico e dramaturgo italiano Ricciotto Canudo (Bari, 1879 — Paris, 1923) que baptizou o Cinema de Sétima Arte. Canudo fundou a revista Montjoie! (1913-1914), com sede em Paris, e manteve uma tertúlia com — entre outros — Léger, Apollinaire e D’Annunzio. Em 1920, cria o «Clube dos Amigos da 7.ª Arte», que é, assim, precursor do movimento do cine-clubismo. Edita, finalmente, em 1923, a Gazette des sept arts, revista fundamental como suporte teórico das vanguardas estéticas da época.
Se, por esta altura, já percebemos que estamos perante um teórico da Arte, não estranharemos saber que Canudo lança, em 1923, o Manifeste des Sept Arts, após uma série de outros textos preparatórios; o primeiro dos quais data de 1908, e num deles, em 1912, cunhou a nossa expressão. Esta publicação definitiva das suas inovadoras ideias, surge como legitimação estética do Cinema, elevando-o à categoria das restantes Artes.
Em primeiro lugar, chama a atenção, no seu Manifesto, para o facto de o Cinema ser muito mais do que apenas indústria e comércio, resgatando-o à mera tentação material e convocando-o para as fileiras da espiritualidade criadora. De facto, o Cinema é, até, antes de tudo — Arte.
Depois, Canudo diz-nos, do seu ponto-de-vista, quais são as seis Artes que antecedem cronologicamente o Cinema. Desde a Antiga Grécia que as Artes têm andado numa roda-viva, no que diz respeito à sua catalogação (convém nunca perder de vista as nove musas inspiradoras). Ainda bem que se trata de uma conversa em aberto, pois isso é um sinal da vitalidade dos pensadores e artistas da Cultura Ocidental. Para este escritor italiano do século XX, as Sete Artes são: Arquitectura, Escultura, Pintura, Música, Dança, Poesia e Cinema. Se as três primeiras — artes plásticas, porque do espaço — aparecem, segundo Canudo, por necessidades materiais (abrigo, no caso da Arquitectura, com as suas complementares Pintura e Escultura), para, no entanto, logo depois se afirmarem artisticamente, já a Música é fruto duma vontade espiritual de elevação e vai irmanar-se com os fundamentos rítmicos da Dança e da Poesia. Curiosamente, no pensamento do teórico italiano, a Dança e a Poesia antecedem a Música, que só se autonomizará destas quando se liberta e chega à sinfonia, como forma de música pura.
É óbvio que a génese das Artes aqui descrita tem de ser contextualizada na época em que foi criada — início do século XX, em toda a sua pujança Futurista (Graças a Deus!) — e entendida como visão pessoal do seu autor. No entanto, se aqui a trago, é porque sem ela não poderemos compreender a expressão «Sétima Arte».
Por fim, entramos naquilo que me parece ter resistido ao crivo do tempo (esse destruidor de mitos de vão de escada) e manter, ainda hoje, enorme actualidade.
Canudo apresenta o Cinema como síntese de todas as Artes e como Arte Total — ao que não é alheio o pensamento de Wagner; assim, na plenitude da sua linguagem estética, a Sétima Arte integra elementos plásticos da Arquitectura, da Pintura e da Escultura e elementos rítmicos da Música, da Dança e da Poesia, que se vão todos revelar nos filmes nas seguintes áreas técnicas (podendo nós tentar fazer um jogo de concordâncias): imagem ou fotografia (ainda a preto-e-branco, em vida de Ricciotto Canudo); som ou, mais tarde, banda sonora (note-se que, quando o italiano teorizou, o Cinema era Mudo e os filmes eram acompanhados, apenas, pela interpretação ao vivo de uma partitura musical durante a sua projecção nas salas); montagem, que confere um sentido às imagens; cenografia, que entretanto evolui para direccção artística, alargando o seu campo de intervenção; realização, que tem como missão a planificação do filme, a orquestração dos vários elementos aqui referidos, assegurados por outras tantas equipas técnicas, e a direcção dos actores; e, por último, sendo no entanto o princípio de tudo, argumento.
Mais ainda: como grande síntese criadora — para além de fusão —, o Cinema une Ciência e Arte, num casamento feliz, e produz uma novíssima Linguagem, para a qual as outras Artes tenderam desde sempre, de imagens em movimento e som — formas e ritmos à velocidade da luz!
É, pois, a última das Artes, fechando o ciclo da Estética; mas, essencialmente, a que, incorporando todas as outras, transporta o património histórico e estético da Civilização Ocidental e o projecta no tempo e no espaço através da permanente reformulação das suas ancestrais e intemporais narrativas.
Haja novos realizadores portugueses à altura desta missão universal.

Anatomia Dum Ridículo

Eu até concordo que nas relações entre Estados não se deva, ao contrário do que é abusivamente corriqueiro, vilipendiar a natureza do regime do outro, ou as características pessoais dos seus líderes. Eu até sei que ridículo, na boca do Sr. Sócrates é pouco mais do que um bordão linguístico num político de léxico curto, que já usou a palavra para classificar as conclusões da comissão parlamentar de inquérito ao caso PT/TVI e para se referir às desconfianças sobre pressões de Obama a países europeus. Eu até acho que o PM está sinceramente satisfeito por antever o chuto/desmentido de si que quase toda a gente espera para Khadaffi. E até concedo que o elogio de há uns anos não passasse de frase de circunstância duma diplomacia oleosa, o que não admira, estando em jogo petróleo.
Mas, tudo considerado, gostaria que o nosso chefe de governo estendesse a designação ridicula(rizante) a todos os que, da sua banda, se deleitam em denegrir Salazar por haver permitido que a bandeira nacional flutuasse a meia-haste, cumprindo uma regra do Protocolo de Estado, na ocasião da morte de Hitler; ou aos que do caso retiram conclusões absurdas de simpatia, quando escassas semanas antes a mesma havia sido aplicada no falecimento de Roosevelt.
O maior ridículo não é a amnésia selectiva para furtar-se a responsabilidades, mas a adulteração da História com interpretações que a distorcem ao sabor das vontades e das inclinações.

Do romance histórico enquanto manual de conduta

Releio O Hussardo, de Arturo Pérez-Reverte. Este seu primeiro livro, de 1983, editado em Portugal a partir da revisão do autor feita em 2004, é um romance histórico, passado em 1808, na invasão napoleónica de Espanha.
O fio-condutor da narrativa é assegurado por dois jovens hussardos (oficiais da cavalaria ligeira francesa), que acamaradam a partir de sólidas afinidades de carácter e gosto, sendo provenientes, no entanto, de classes distintas. Os relatos intimistas, com deliciosos detalhes realistas, revelam uma fina sensibilidade para construir personagens e ambientes autênticos; por outro lado, as descrições das batalhas e de toda a militaria prendem pela sua escala grandiosa e revelam um profundo conhecimento de História Militar; e, a Andaluzia está pintada de tal maneira — telúrica e sensual — que sentimos o seu Sol queimar e a sua luz cegar. Os tradicionais valores de qualquer cavalheiro estão aqui bem esplanados: coragem, cultura, honra, fidelidade, heroísmo, hierarquia, camaradagem, sobriedade. Note-se bem que a acção decorre na sequência de todos os males erradiados a partir de França. Os nossos heróis remam, portanto, contra a maré dos novos tempos.
Perante uma obra assim, agradeço à Literatura por ser uma Arte que permite a pausa, a aceleração, o retardamento... — ou seja: possibilita ao leitor comandar o tempo e o ritmo de fruição da obra, para melhor a poder saborear. Aqui, não há ditadura do olhar, como, por exemplo, no Cinema. Posso parar para pensar, e reler, e acelerar à procura do desfecho de uma cena, ou abrandar numa passagem cativante.
Mas, afinal, o que é que esta obra tem?... Faz-nos interrogar sobre o que andamos nós aqui a fazer, neste século materialista. Leva-nos à nostalgia de um passado em que o espírito imperava. Sentimos saudades de um tempo em que os homens se olhavam nos olhos — enquanto amigos, adversários ou inimigos.

Por Um Fio!

A descoberta de que a proximidade do telemóvel de um dos lados do cérebro faz disparar os níveis de glicémia dessa zona não pára, paradoxalmente, de dar-me volta ao miolo. Nem é tanto a potencialidade dopante desse estranho instrumento, sabendo-se que o aumento do açúcar na nossa moleirinha estimula a capacidade intelectual. Estou já a ver o filme de jovens universitários de aparelhómetro no ouvido em pleno exame, defendendo a prática com o argumento de não estarem a cabular através de um cúmplice, do outro lado, senão, simplesmente a estimular a massa cinzenta.
Não, o que me faz espécie é a consequência na vocação que cada qual interiorizará, pois sabendo-se ser a zona direita do cérebro a que rege a percepção espacial e a fixação e ordenação de imagens, enquanto que a esquerda disciplina a memória e a compreensão mais abstractas, como se maximizará o suprimento das necessidades de cada um, compatibilizando a aspiração com a prioridade do uso de uma ou outra mão?
Reduzindo a miúdos: os destros entre os matemáticos, juristas e metafísicos, os canhotos entre os decoradores, artistas plásticos e artesãos, podem queixar-se de handicap que os coloca em inferioridade.
Percebe-se agora por que motivo Platão queria ver todas as crianças educadas para usar com igual facilidade ambas as mãos. E compreende-se a aversão deste Vosso servo à maquineta, quando a versão fixa do auxiliar de comunicação não despoletava tantos problemas e era susceptível de uma alargada panóplia de usos:

Aqui foi Portugal


Fundada por D. Manuel Lobo em 1680 na margem oriental do Rio da Prata, exactamente em frente à Buenos Aires, a Colónia do Sacramento, primeiro assentamento europeu em terras que viriam a ser o Uruguai, foi ponto de altíssimo valor estratégico na disputa hegemónica entre as Coroas de Portugal e de Espanha. E mudou de dono, quase sempre manu militari, sete vezes no espaço de um século. Já lá estive três vezes e é-me impossível traduzir em palavras o que se sente diante desta porta, encimada pela armas de Portugal gravadas na pedra várias vezes secular. Só consigo dizer que ao infinito respeito e orgulho pelos portugueses de antanho, que se batiam e morriam para defender e engrandecer a Pátria, junta-se o absoluto desprezo pela canalha abjecta que se empenhou no Seu esfacelamento e destruição. Tenho uma só certeza: Portugal ou é português ou não vale a pena.

Eu Hoje Acorrerei Assim...

Sem pinga de água na torneira, por culpa da ligação à distribuição da aberrante estação de caminho de ferro de que falei há dias, dou com a notícia de que o Sr. Sócrates volta a poder sorrir, ao despachar o Feitor Amaral para a TVI. O homem de mão para a (des)informação diz-se muito preocupado com a feição tabloidesca da cadeia televisiva. E para a combater vai buscar dois jornalistas conhecidos à outra corrente de transmissão, a pública. Devo asseverar que me parece um pretexto descabelado: os noticiários dos canais generalistas assemelham-se tanto como gémeos siameses. Os mesmos vinte a trinta minutinhos sobre a parangona do dia, ou enjoativa, como o escorropichar do caso Castro /Seabra, ou falhada, como o exagero das referências à arma eléctrica prisional que fracassou em electrizar o público prisioneiro destas redes emissoras. No resto, decalque da CNN de serviço em questões internacionais e, em tudo o mais, reprodução dos faxes das agências noticiosas e clips com as deslocações dos senhores ministros.
Nos canais especializados em actualidade que cada TV explora é que me parece haver diferença e menos falta de interesse. Suponho que será aí que se quererá mexer, de modo a assegurar à governação águas mais tranquilas. E os indícios do que aí vem são maus. Sem colocar em causa a competência de José Alberto Carvalho, lembro-o como um exemplo acabado do facciosismo informativo quando, posto perante a gritante desigualdade de tratamento dada ao BE dos primeiros tempos e aos outros partidos extra-parlamentares, arrumou a questão dizendo que se tratava de um critério editorial, como se tal dispensasse justificações acrescidas.
Ao menos a parcialidade do Khadaffi na ida para o éter corresponde a um esforço do próprio para salvar o pelo e, abstraindo da carnificina, chega a ser divertida.

Patente de Corso


Enquanto o mais recente romance de Pérez-Reverte aguarda publicação em português, resta aos admiradores do escritor espanhol seguir a excelente coluna na revista XL Semanal. A crónica desta semana, «sobre violaciones y fascistas», é um texto de antologia dedicado àquelas palavras ou expressões que, de tanto usadas, abusadas e mutiladas, acabam esvaziadas do seu sentido original e exacto. É o caso da palavra fascista, que «la necesidad, a falta de coherencia ideológica propia, de poner etiquetas al adversario, hace que ahora se aplique a cualquier persona o situación que se aparte, no ya de una posición de izquierda, sino de lo social y políticamente correcto, e incluso de la más fresca tontería de moda». Nem de propósito, ainda hoje no nosso almoço falámos deste fenómeno.

Prosit!

Não há borrego germânico que sempre dure!
Hoje, houve períodos em que as tabelas do meio-campo, com o adversário em cima, pareciam treino. E o magnífico quarteto de baixotes, Sálvio, Gaitan, Aimar e Jara reafirmaram que na habilidade para a bola tamanho não é documento. Já agora, podia-se contratar aquele japonês que dá não um mas dois litros em campo.

Caldo de Cultura (IV)


Mais um almoço e um novo desafio: quem levou o quê?
Desta vez não há ajuda. Todos presentes.

Sob o céu azul da luminosa cidade branca


No primeiro dia verdadeiramente de Sol deste ano, com aroma de Primavera no ar de Lisboa e tudo, vieram-me à mente estas poéticas palavras do grande Yeats na melódica voz rouca da musa Bruni.

SNS ou SOS?

O sempre recomendável Dr. Johnson pôde escrever um panfleto contra os colonos norte-americanos indignados, dizendo que o levantamento de impostos não era tirania. Mas ele não conhecia a Dr.ª Ana Jorge. A Senhora quer, visivelmente, tratar-nos da saúde; e criar uma tributação arrepiante para financiar os cuidados com a mesma. Já as taxas moderadoras eram iníquas, porquanto não configuravam uma efectiva penalização casuística dos abusadores, mas constituíam uma quase geral e abstracta arma de dissuasão. Estendendo ao comum dos nacionais a prestação, em vez de a cingir aos utentes quer-se, unicamente, aumentar os patrimónios sobre que incide a colecta, num exagero fiscal nivelador que esmaga o contribuinte.
Até porque, para os que tiverem a felicidade de não recorrer ao Serviço Nacional de Saúde, um tributo para aquela consubstanciará um verdadeiro imposto sobre o estado são. Que seria o da sua constituição até aí, não cabendo a designação aos que - Constituição e Estado - se escrevem usual e injustamente com maiúsculas.

Umas miúdas da minha geração

Um dos "Cinco Mais"

Não; não é este o livro que levarei para o "Caldo de Cultura" desta semana. Não é mas poderia ser, pois trata-se de um dos meus preferidos, destes que entrariam na lista dos "Cinco Mais". Em poucas palavras, Au plaisir de Dieu mostra-nos a trajectória descendente de uma família nobre a través das convulsões e revoluções - i.e., involuções civilizacionais - que marcam o "avanço" do mundo moderno. Mas lembrei-me hoje de d´Ormesson não porque vivemos o auge da sociedade "rasca", mas pela sua prodigiosa memória. Capaz de citar textualmente largas porções de uma infinidade de obras, incluindo a numeração das páginas e a respectiva edição, foi durante uma entrevista televisiva que o autor explicou o segredo de tal aptidão. À pergunta de como fazia para memorizar tantas coisas, respondeu: "lembro disto e esqueço o resto". Assim é mesmo fácil!

Notícias à vista para rasgar o nevoeiro?

O muito nosso Duarte, mentor das manifestações gastronómico-culturais que deram origem a este blogue, anda, aparentemente, muito sossegado... Sendo ele um homem de pensamento e acção, cheira-me que deve mas é andar a preparar alguma...

Que Barbaridade!


Coube à Itália a fortuna de se tornar um apêndice privilegiadíssimo do Grand Tour, o périplo complementar da educação clássica que muitos membros das classes dminantes empreendiam, desde fins do Século XVII, mas com predomínio na centura de Setecentos. Mais em Inglaterra, porém o hábito de redigir um relato dessa viagem estendeu-se, como os casos emblemáticos de Goethe e Taine demonstram, em épocas diferentes. Procurava-se compensar a aridez da pura erudição que estiola, disponibilizando uma atractividade tangível capaz de fazer a ligação dos restos veneráveis da Antiguidade a pessoas de carne e osso, portadoras, à custa de algum pitoresco, do condão de abrir vistas e sensibilidades que os alfarrábios, o desporto e os serviços religiosos deixassem na sombra.Porquê a Itália, em vez da Grécia, ou da Palestina? Muito pelo domínio Turco que afligiu estas últimas e pelo semi-barbarismo que se lhe seguiu, mas também pelo apelo das gentes e da alegria de viver transalpinas. Transplantando para os nossos dias, a "Bota Mediterrânica" manteve o seu magnetismo, embora mais como anti-depressivo sem contra-indicações e evasão das opressivas condicionantes da rotina e do clima. Razão mais do que bastante, na hora de desanuviamento, para proporcionar um momento de escapismo, através daquela Barbara de que tanto gosto, dedicando «Gare de Lyon» ao Miguel Vaz, por todas as razões e mais uma.

Em que estás a pensar?

Anseio pelo «Caldo de Cultura» de amanhã.

Droga de Política!

De repente, os noticiaristas superficiais que temos passaram a chamar ao estandarte hasteado pelos rebeldes anti-Khadaffi em vários pontos da Líbia bandeira da Independência, o que, não sendo mentira, surge como versão esterilizada e politicamente correcta do que ela também é, ou seja da Monarquia. Faria, de resto, mais sentido dizer assim, como os meios de comunicação anglo-saxónicos vão fazendo, posto que a razão do arvorar dela não se prende com autonomias do jugo estrangeiro, mas com a contestação do regime enquadrada pela nostalgia do que precedeu.

Quanto ao líder do País, reputo das maiores vergonhas entre muitas por onde escolher, a reconversão permitida pelo Ocidente de um terrorista confesso, mediante uma indemnização simbólica às vítimas de um atentado aéreo que ele patrocinou, tanto mais que, embora acalmado, o condutor do País Norte-Africano continuou vocalmente a mobilizar outras zonas do Mundo contra a nossa. Depois de ver que entre os Árabes ninguém lhe dava atenção (muito, cheira-me pela extracção berbere tão desprezada pelos que se consideram de arabicidade mais genuína), tentou encabeçar um pan-africanismo agressivo, para dar utilidade à idolatria por Nasser que igualmente o levou a promover-se "somente" ao posto de Coronel.
De resto, os uniformes de largas dragonas, numa variedade de fazer inveja a Goering, a guarda pretoriana de Amazonas, com vrgindade associada e tudo, o folclore das recepções oficiais na tenda, à Saladino, conglomeram-se para revelar o tom de opereta do animal.
Como o último discurso, semi-desesperado, em que chamava aos opositores drogados e possessos do Diabo, nem percebendo que qualquer das acusações, a ser verdadeira, diminuiria as culpas que o seu ponto de vista lhes imputava. Coisa que se não verifica nele, salvo se atentarmos na embriaguez do Poder. Esperemos que a ressaca lhe seja iminente.

Acabadinho de sair


«Senhora do Monte», Os Velhos.

É verdade que Os Velhos têm temas melhores, mas este é o primeiro teledisco da banda mais lisboeta de Portugal. Como já é hábito nas produções da Amor Fúria, o vídeo baseia-se uma ideia simples, e apesar de não envolver grandes recursos é montado com extremo cuidado e atenção. Depois do excelente EP editado em 2009, a banda está a ultimar o primeiro disco de longa duração, do qual é extraída esta «Senhora do Monte». Com lançamento previsto para Abril, o novo registo ainda não tem título. As expectativas, essas, estão em alta.

Marcas de Oralidade


Os maços de cigarros foram consabidamente obrigados a carregar a prevenção sanitária que alerte para o cancro do pulmão e outros malefícios. Vivo no momento uma terrível perplexidade, a de saber onde afixarão paralelo aviso referido a estoutro flagelo...

Do melhor que a rede nos dá

Pedro Guedes da Silva, autor do Último Reduto e director da Alameda Digital, regressou à Internet com a coluna semanal «Expresso do Ocidente» no Eternas Saudades do Futuro.

Do Convento para o Cabaret


Katy Perry nasceu Katheryn Elizabeth Hudson, filha de mãe luso-descendente. Mais interessante que isso, os pais de Katy Perry são ambos pastores evangélicos. Foi assim que a jovem Katheryn se iniciou, entre cânticos da igreja e acampamentos cristãos. Em 2001, com 17 anos e assinando como Katy Hudson, lançou um álbum homónimo que misturava rock cristão com gospel. O disco não conheceu grande sucesso comercial, tendo a editora encerrado pouco depois do lançamento, mas uma revista evangélica elogiou o registo e anunciou que Katy chegaria longe no mundo da música. A profecia haveria de cumprir-se. Em 2007, a jovem assinou contrato com a major CMG, mudando o nome artístico para Katy Perry. A editora encarregou-se de transformar a artista cristã em ícone de massas. Mesmo assim, parece que ainda sobra algo das suas raízes. No pulso esquerdo, Katy Perry tem uma tatuagem com a palavra Jesus.

Sportsman & Gentleman (1935)

Ramerrão

Num repente muitos governantes das Arábias passaram a ser ditadores, i.e, alvos a abater. Não fosse o trágico espectáculo da miséria humana, seria mesmo delicioso apreciar a ilimitada hipocrisia da famigerada comunidade internacional e dos seus formadores de opinião. Esperemos, pois, pela apresentação da factura. Bem pesada, como de costume. Plus ça change...

Círculo TVicioso

Coisa que a mim me faz espécie é a emergente mania de pôr a votação telefónica nas televisões uma qualquer escolha múltipla sobre os mais diversos temas, dando no final a percentagem atingida por cada opção como se fosse um dado válido. Sossega-me porém um pouco o facto de se ir estendendo a factos futuros tais escrutínios, como quem ganhará a eleição X, ou quem vencerá o jogo Y, uma vez que tal traduz a rutilante confissão de se estar a opinar acerca do que se desconhece.Outra animadversão contra o contraditório televisivo a que temos direito incide sobre a crescente tendência para fazer dos painéis de debate uma espécie de senado, agrupando elder satesmen e elementos com mais responsabilidades dos grupos parlamentares e das direcções partidárias, em vez de, como outrora, serem chamados preferencialmente jornalistas e universitários.
O prestígio dos programas de discussão da actualidade política cimentou-se com a primeira composição do radiofónico «Flashback», mas, aí, a reputação alicerçava-se no halo de heterogeneidade dos integrantes, apesar de todos estarem ou terem estado nos orgãos ditos de soberania. Vasco Pulido Valente dizia mal com uma constância generalizante, Pacheco Pereira e José Magalhães valiam-se das transferências de campo espectaculares. Hoje é a decadência, cada interventor parece acorrer para transmitir a posição partidária, como se duma extensão do tempo de antena se tratasse. E a mesma fraude que se constata nas eleições é complementada pelo que primeiramente referi: a ilusão de poder conferido ao espectador limitada pelas hipóteses escolhidas por outrem, cozinhadas algures pelo círculo sevicioso dos verdadeiros poderosos nas costas do target a que apontam. Ou seja, votar é sempre um apelo a interpretações parafreudianas que, neste caso sim, poderiam desempenhar um papel descritivo útil.
A imagem é Homem-Televisão, de Slowinski

Su Casa Es Mi Casa

Numa pendência que não estou para recordar, com a Academia Francesa, Samuel Johnson definiu o seu polemismo vigoroso: Sir, um cavalheiro inglês para quarenta franceses parece-me uma proporção perfeitamente equilibrada.
Outro tanto não se pode dizer de nove ou dez Benfiquistas, contra onze Sportinguistas. Os primeiros foram sempre superiores. Talvez reduzidos a uns oito...

Crimes e Castigos

Fogo de Hellenne Vermillion


O Coronel Khadaffi chamou à Líbia Jamahiria, isto é «Estado de Massas» e elas tomaram-no à letra.
Os Norte-Americanos rejubilaram com a transição no Egipto e apanham agora com o trânsito de navios de guerra iranianos pelo Suez, rumo ao Mediterrâneo.
Os Argelinos quiseram dar ideias ao Sr. Sócrates e desvalorizaram os resultados dos Estudantes para dar digno emprego aos que os não têm. Pois viram aqueles aliar-se aos desempregados.
Os Yemenitas mandaram para Israel, em Missão, a Rainha de Sabá, ela perdeu-se por lá em salomónicos amores e deixou ao País apenas os ódios que ainda hoje o dividem.
Os Xiitas do Bahrein comportaram-se mal e o Governo e as Federações cortam-lhes as corridas de carros.
Os Europeus celebraram a chegada da Democracia ao Mundo Árabe e pagam-na no depósito de combustível a peso de ouro, com aumentos do petróleo em cada dia, motivados pela instabilidade na região.
Um casal de Egípcios filo-revolucionários, grato pela mobilização na net deu à Filha o nome de Facebook e será humilhado no resto da vida, quando ouvir os colegas e demais concidadãos dizer que entraram lá ou que por lá passaram...
Não há dúvida, cá se fazem, cá se pagam!

Uma banda da minha geração

Pronto-a-pensar...

Julgava eu que aos escribas do regime faltava - entre muitas coisas - imaginação, pois nas constantes referências ao Estado Novo o que se lê é cantiga da ditadura e do ditador, em doses verdadeiramente cavalares. Pensei sugerir a estes iluminados que, doravante, qualificassem as ditaduras: a dos reis, a militar, a do Estado Novo, a dos partidos, dos políticos profissionais, do politicamente correcto, da contra-natura, etc. Assim ficávamos todos esclarecidos. Mas reconheço que me enganei. O melhor é que continuem - lépidos e fagueiros - a utilizar a sua taxinomia manhosa para o consulado de Salazar. Sim senhores: ditadura. Assim fica esta bem diferenciada daquilo - disto - que a substituiu: a tirania do número, ou, se preferirem, a dos partidos, dos políticos profissionais, do politicamente correcto, da contra-natura, etc.

Dos livros e das mulheres

Há livros para lermos, outros para coleccionarmos, outros ainda para nos fazerem companhia, e até há alguns só para mostrarmos. Para a vida há só um, e não vale a pena procurá-lo — ele há-de aparecer. Em relação às mulheres, passa-se exactamente o mesmo.

Corrupção da Juventude

Ontem, na análise aniversariante da TVI, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu as perguntas estudadas e propícias ao brilharete de três Jovens com bom aspecto e, parece, igual aproveitamento. Uma delas versava sobre se as culpas da desilusão da Mocidade com a actual classe política se deveriam a ela ou aos elementos do grupo que a desgostava. Marcelo, que tem o hábito de sustentar as piores coisas sem abandonar um fundo pessoal bastante mais agradável, não defendeu o indefensável, quer dizer a faixa etária dos Poderes a que pertence. Disse-lhes antes que, estando insatisfeitos, a mudassem e para isso se inscrevessem em partidos, onde defendessem as respectivas vistas.


Assim, iludiu o problema fundamental, o da designação dos ocupantes do Mando, aliciando os Novos para se comportarem como os actuais capatazes no trilho da influência, procedimento que constituiria o preço a pagar pela faculdade de exprimir a rejeição. Por menos deram cicuta a Sócrates - ao que conta -, sob o pretexto de ter atacado a Poesia que integrava os cultos tradicionais de Atenas, dando mau exemplo aos discípulos inexperientes.
E, sendo basicamente o mesmo raciocínio, a presente constatação de que no Mundo alguma coisa tem de mudar para que tudo continue na mesma não possui sequer a grandeza que a condição e a resignação conferem ao dizer do Príncipe do viscontiano «O Leopardo», cinge-se a uma tentativa de domesticação de justos ardores contestatários por concretizar.

Ave rara

Da mão de um bibliófilo de alto coturno chegou-me emprestada esta obra fundamental de Jacques Ploncard d'Assac - La Réaction. A sua leitura está-me a ser ainda mais prazerosa por conta da petite histoire que imagino por detrás deste preciso volume: dedicado pelo autor ao Dr. José Venâncio Pereira Paulo Rodrigues, Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho entre 1962 e 1968, ele próprio autor de umas excelentes Memórias para um Perfil de Salazar.

Ler, Escrever e Contar

Da Iliteracia Posta na Linha
Era uma vez uma estação de caminho de ferro, a de S. João do Estoril que era velhinha e nem dava indicações de saída. Quem manda achou por bem substituí-la por um complexo moderno, todo XPTO. Nada contra, apesar de a estética da coisa não me agradar muito, reconheço que se apresenta funcional e protectora, salvo para os deficientes que viram implementadas escadas sem rampinha para amostra.
O pior foi quando decidi inteirar-me dos acessos: topei com este, canalizando-me para uma artéria dum tal Floriano Leal. Ciente de estar num país em que o desporto nacional é a mudança de toponímia, corri a verificar aonde me levavam.

Eis senão que o que encontrei foi o que sempre tinha lido. A Lealdade repousava no nome próprio Florinda, para onde me canalizaram!

Moral da história - sou servido por um apeadeiro representativo do País. Embandeirado em arco com melhoramentos materiais que não ligam peva aos excluídos, acompanhados por um analfabetismo crescente dos que têm responsabilidades de construção e condução do público.
Vou deitar-me, por enquanto não ao rio, mas ao leito acolchoado do meu quartinho.

É um facto

Tenho de mandar fazer um fato para ir ao casamento do P.

Altos Voos

Olhó Avião!

Que admira que um fura-vidas fure uma fila? Quem pode o mais pode o menos, não é? E, no entanto, não foi preciso desvelar qualquer Face Oculta, bastou a visível do Sr. Armando para deixar os Utentes de um centro de saúde mui justamente... varados.

Pela noite dentro

Do mundo automatizado

A reflexão do Eurico de Barros na sua crónica "Cabinas vazias e vozes robotizadas", publicada hoje no Diário de Notícias, debruça-se sobre "uma das características mais sinistras das sociedades contemporâneas", que "é o desaparecimento do contacto humano numa série de situações do quotidiano". A ler.  

E agora?...

Os árabes abriram a caixa de Pandora.

A Grande Parvoeira

Chegou a minha vez de botar faladura sobre a canção-choque dos Deolinda. Sobretudo porque uma legião de "vigilantes" resolveu insurgir-se contra a repercussão dela. Da arrogância do Sr. Vicente Jorge Silva, no debate da «SIC Notícias» à banalidade despudorada da Sr.ª D. Isabel Stilwell, os registos variam; mas cozinharam uma unanimidade na condenação: que a maioria dos jovens até nem experimenta tantas dificuldades, que os tempos estão maus em todo o lado e na estranja também há cortes, patati patatá. O Sr. Silva nem resistiu a recordar-se de que escreveu nas páginas de Cultura e atacou, imagine-se, a qualidade musical da obra, quando o problema é, evidentemente, do foro sociológico. Já a Sr.ª D. Isabel lembrou-se de que os nossos jovens não se deviam queixar porque... os paizinhos, não tendo conhecido as dificuldades do Emprego, tinham, no entanto, ido à Guerra!
Mas que Democratas intransigentes! Quer então dizer que desde que uma maioria, imagino que mesmo a tangencial, consiga subsistir, vivemos no melhor dos Mundos. Ah, bem, assim compreende-se que achem os números da miséria e do desemprego irrelevantes. Pois se, apesar de atingirem centenas de milhar, são minoritários!!!! E, ao que parece, para esta gente, a defesa de uma comunidade, em que o risco pessoal estava bem patente desde o início, é o mesmo que incutir a excelência de um modo de vida que é depois escamoteada, quando fecham as portas antes propagandeadas.

O problema é mais fundo: Os expoentes desta geração entradota não suportam ver fumos de contestação nos mais novos, já que lhes ficou da mitomania do Maio de 1968 a crença de direitos de exclusividade do Protesto. E como essa magna insurreição foi direccionada para domínios que ultrapassavam o estômago convenientemente cheio, a sexualidade pouco explicitada dos progenitores e a reivindicação para a ignorância de deferências iguais às tributadas ao Ensino, tendem a detectar em qualquer vocalizada preocupação material da Juventude um filisteísmo mais ou menos ficcionado.
Traduzindo em miúdos: estes peões de brega de que os governantes se socorrem no Debate querem que os destinatários da incompetência das lideranças as aguentem de bico calado e cara alegre. Ao ponto de nem escutarem a letra convenientemente, a qual é principalmente uma crítica à inacção e falta de iniciativa geracionais, quer no conformismo, quer no adiamento.
Não tenho grandes ilusões. Se aqueles que entram agora no Ciclo Infernal - como lhe chamou Michel Déon - da Profissão já compreendem que estão a ser logrados na linda vida que lhes prepararam, ainda têm o cérebro suficientemente enxaguado com a cantilena de a Democracia ser o menos mau dos regimes, o que continuará a tolhê-los, para além do desabafo em curso.
E, apesar deste susto, os mandarins que nos calharam continuarão livremente a mudar as regras do jogo a meio e a fazer de todos nós os parvos que não nos queremos.

A Idade da Pedra

Paradoxo:
Como é que, espartilhada numa envolvência de irrevogável preto e branco, a Stone pôde exibir tão boas cores?

No País dos Mutantes

Pronto, consumou-se a instituição do género à la carte. Devo dizer que depois de consagrado o colaboracionismo normativo com estas práticas, aprovo inteiramente que se dispense os juízes de analisar as mutações sórdidas. Gostaria de crer a dignidade dos Magistrados ainda acima destes disparates e a sobreocupação deles não parece coadunar-se com decisões obrigatórias neste campo. Simplesmente, espero que, doravante, cada indivíduo traga um certificado de origem do seu sexo, para distinguir o produto da zona demarcada e as imitações.
E ocorre-me uma explicação para serem muito maioritários os nascidos homens que se pretendem feminizar, para além de menores dificuldades cirúrgicas: nestes tempos de crise muito ambicioso será tentado em mudar para o até agora Belo Sexo com o fito de usufruir das vantagens concedidas pelas quotas já instituídas ou a semear...

Caldo de Cultura (III)


Novo desafio: quem levou o quê?
Ajuda: Ausências do João, pelo melhor motivo do mundo, a paternidade, e do Miguel, em passeio na estranja.

Rejoice!

O Amigo João Marchante foi Pai de um terceiro Rapaz:
Há um provérbio árabe que diz: o Homem que tem um filho não morre
Glória a esta tripla Imortalidade!

Hospitalidade Furada

...............................................A Tenda do Beduíno de Magal Ben-Zion...........................
Lawrence, o dito da Arábia adorava os Árabes do Deserto e detestava os da Cidade. Lendo o intemporal e o passageiro fico desde logo com uma ideia do porquê: num estudo de Ahmed Abou-Zeid aprendo que o direito de Wajh - ou asilo - comprometia a honra de tribos das grandes areias ao ponto de se forçarem a receber com todas as honras e atenções o hóspede, mesmo que um criminoso condenado ou um inimigo de juras antigas, desde que este lhes pedisse formalmente que o abrigassem. Tanto maior resultava a honra para a família do anfitrião quanto mais se conseguissem os sus membros reprimir e mais esmerados fossem os cuidados prodigalizados ao estranho.
Como contrapeso dão-nos os noticiários conta de que numa Universidade californiana estudantes muçulmanos, inversamente, apuparam e insultaram o orador convidado que calhava a ser diplomata israelita. É precisamente a conduta oposta, a menos que, como é possível, aqueles fedelhos não se sintam verdadeiramente parte do estabelecimento de ensino que se gasta e que gasta exageradamente neles, o que deveria fazer repensar a política de concessão de bolsas. O conflito da Palestina não me excita, pelo que não levarei a conversa para aí. Nem tomarei partido por ou contra o acusador que entendeu ser a incorrecta conduta um crime. Mas parece-me que um bom correctivo, suprimindo a falta dos que os papás lhes não deram a tempo, seria de grande utilidade. E, revisitando a falta de cortesia das manifestações estudantis dos ocidentais em várias décadas, sou forçado a interrogar-me se não estaremos antes perante um caso de assimilação excessiva...

Hoje Acordei Assim...

O Arrumador e o Agitador, de Jeff Whipple
Ai, que livro levar hoje ao almoço deste blogue? Ai! Ai! Ai!

Do nascimento da América para o discurso do Rei


Recentemente, Tom Hooper foi catapultado para as páginas dos jornais graças à realização de The King's Speech, um filme que tem conquistado grande êxito comercial e mediático, tendo obtido três nomeações para os Óscares (uma das quais para a categoria de melhor realização). No entanto, Tom Hooper está longe de ser um desconhecido. Em 2008, este britânico foi o responsável por John Adams, uma excelente mini-série de sete episódios produzida pela HBO. Esta produção, que tem como pano de fundo o percurso pessoal e político de um dos founding fathers e segundo presidente dos Estados Unidos da América, aproveita para debruçar-se sobre a fundação do país e os princípios e contradições que lhe deram origem. Apesar de ser um trabalho de ficção com algumas incorrecções históricas, esta mini-série é imprescindível para quem procura conhecer mais sobre os EUA, já que é na génese do país que se encontram grande parte das ideias que continuam a orientar a política norte-americana.

Preparativos...

Acabei de tirar da estante e guardar na pasta o livro que levarei amanhã para o almoço a fim de figurar no nosso semanal «Caldo de Cultura».

Brutal!

Estado do tempo


«Someday a real rain will come and wash all this scum off the streets.»

Is It?



Os Cientistas pasmam com o facto de o beijo ser uma experiência mais memorável, aparentemente, do que a cópula. Mas que admira a gente menos, hã, focalizada? Enquanto que a beijoca é vista com uma aura da intangibilidade que qualquer aceitação muito preferencial comporta, por mais inocente que seja, ao sexo puro e duro sempre esteve reservada a avaliação ambivalente da apetecibilidade e da axiologia degradada. Nem tanto pela transgressão que lhe aumentava a valia tentadora, antes pelo que Saint-Simon já expunha:
O desejo é animalesco, o prazer fugaz, a posição ridícula.
Claro que, salvo para ascetas de santidade acima da média não se coloca a questão da renúncia. O problema reside em a osculação ser uma espécie de aristocracia do gesto, com a delicadeza idealizada do Sentimento por detrás sempre a espreitar, apesar das prevenções em contrário. Enquanto que as trocas de fluidos são a concessão à plebe que todos, mais ou menos, acabamos por integrar, sob pena desumanização. O coito é um pouco como o Desporto ao alcance dos menos dotados, com uma consequente piedade a bafejar os excluídos dele. Enquanto que o Amor, Ah l'Amour, c'est une autre chose!
Por isso as prostitutas mais competentes não beijam, têm uma noção exacta da sua especialização. E pela mesma ordem de razões beijamos, das mais variadas formas, quando exprimimos afecto , ou, ao menos suportabilidade. O problema jaz nas perversões desta seráfica composição: generalizado, o beijo, mesmo na intimidade, escorrega para mais uma mentira convencional E muito sujeito calejado, ou, ao invés, inexperiente, gaba-se no seu interior de prescindir do Afecto e canaliza-se para a dimensão mais tangível.
Mas, até pelas limitações da habilidade de muitos, não é esta a melhor coisa para lembrar...

Punição da Parcialidade

Quem não viu a cobertura televisiva dos motins do Cairo pelas televisões americanas só poderá ficar com uma pequena ideia da completa tomada de partido pelos manifestantes se eu disser que o tratamento nos canais lusos era apenas um pálido reflexo do que de lá vinha.
Mas não se pense que a vitória mudou alguma coisa. Violada e gravemente agredida uma jornalista importante, Lara Logan, o comentarismo e os noticiários relapsos se mostram em estender o tratamento favorável à cor que elegeram. Atente-se nesta pérola! Da multidão resultou a brutal investida. Pois o texto deleita-se na descrição de uma prisão antecedente da vítima, incomparavelmente menos violenta e que já não era notícia.

Nada de pôr em relevo a acção dos soldados que contribuíram para a resgatar, antes as forças armadas e policiais são estigmatizadas linhas a fio com pormenores espremidos sobre a detenção anterior. As culpas dos autores do crime são atenuadas pela ausência de rosto da maralha e pelo carácter difuso da confusão que tudo esbate, mesmo quando... ela bate.
Quero deixar claro que o título que escolhi não pretende legitimar a violentação hedionda, nem regozijar-se com ela. Visa sim ilustrar a flagelação de um cancro desinformativo que neste post pretendo esboçar. Se eu tivesse a auto-suficiência analítica do Dr. Pacheco Pereira, achar-me-ia propenso a dizer: Mau trabalho!
A pintura é Multidão, de Derek Buckner

Dos Fracos Reza Esta História

Uma empresa para lá do Atlântico decidiu despedir quatro funcionários, por terem, sem violência de maior, desarmado o portador de uma arma carregada que os ameaçava e aos clientes. Não houve, note-se, quebra alguma da proporcionalidade. A razão seria de terem posto em risco o público, não actuando como preceituavam as normas da companhia, as quais mandam não resistir e obedecer a qualquer similar meliante. Esta injustiça trivial configura, quanto a mim o espírito do tempo que vai alastrando. E digo espírito também no sentido de fantasma, pois não tardaremos, espero, a ser assombrados pela vergonha e pelo remorso de não termos sabido reagir. Intoxica-se continuamente a população com um ideal de passividade perante o iníquo, desde a pura aberração da matança abortiva à mansa entrega ao cutelo das exacções fiscais. Junte-se uma pitada da antiquíssima simpatia pelos criminosos, mais do que indiferente às vítimas, e estará fervente o caldinho em que nos cozerão semi-vivos, como hoje nos encontramos.
Pode, evidentemente, ter sido um mero expediente de redução de pessoal. Mas se os poderes públicos contemporizarem perante a situação, exorto-os a equilibrar os orçamentos de Estado despedindo em massa a Polícia.
Cá para mim, é um desencorajamento a justiceiros autónomos, como aquele que ilustra. E a avidez da segurança pamonha da cedência, a qual, bem inversamente, é a que deslustra.

Especial para o nosso PCP

Pronto-a-vestir

Estou como o Bic Laranja, furibundo com este traste do aborto ortográfico. Não tenho o hábito ou o vício televisivo e basta-me um zapping, vez por outra, sobretudo para ver o que os canais de notícias estão a veicular. Decidi bloquear as RTPs, já que agora andam a escrever as suas legendas em crioulo brasilês, o que considero não só desnecessário mas, dada a natureza do regime nos vem desmantelando, uma afronta da pior espécie, pois o que se pretende atingir é um dos poucos pilares que restam da nossa identidade. Sabem muito bem o que fazem, esses rapazes... Pensei com meus botões e lanço aqui, a modo de desafio, uma ideia: e se fosse confeccionada uma camisa que levasse impresso um par de frases a enfatizar a nossa ortografia e que, com uma justa medida de ironia, remetesse a nova moda e os seus agentes ao lugar que bem merecem? Vossas Excelências acham que há hipótese? Então aguardam-se sugestões.

... Está tudo tão estranhamente silencioso...

Amigo e espião

Hoje em dia a melhor fonte de um qualquer agente de serviços de informação do mundo inteiro é o famoso espaço de partilha e liberdade chamado Facebook.

Pragas do Egipto

Decorrendo as revoluções contra o Poder Legítimo, o Tradicional, são o próprio Crime por antonomásia. Não admira, portanto, que deflagradas para demolirem qualquer outro regime, sejam arvoradas em referencial de legitimidade para uma multidão de delitos miseráveis. Os relatores assombrados pela superstição do progresso tentam desculpar os assassínios com o calor da refrega, bem como os latrocínios expropriatórios com a legitimidade revolucionária e a programática restruturação social. O que lhes escapa de todo é a pilhagem pura e dura que acompanha por norma os tumultos e a oportunidade aproveitada por ladrões mais antigos no ramo, os profissionais.Todos nos lembramos do saque dos museus de Bagdad, na queda de Saddam. Agora repete-se a história, sendo a curiosidade maior a de o alvo ter residido em objectos preciosos pretensamente protegidos pela mais célebre das maldições. Espera-se que a ameaça de Tutankhamon sobre os violadores dos seus despojos não haja sido desactivada, desde os anos em que os expedicionários que os desenterraram com a desculpa da Ciência foram misteriosamente dizimados. O que, contudo, aqui mais gostaria de frisar é o desafio presente na nova profanação, como que uma adição mais na inversão de valores do gigantesco motim. Ou de como um crime comum, na inscrição da irracionalidade dos povos, pode ter o seu significado político, substituindo pela exposição aos fétiches de novas interpretações religiosas e ao seu oposto, o do consumismo estrangeiro, a sobrenatural protecção dos seus Maiores.
A fotografia é do explorador Carter indicando o lugar do túmulo do Faraó.

Uma precisão

Tomo a ideia emprestada a Maurras: ao contrário do que nos impinge o regime funesto que nos leva ao abismo, Portugal não é uma reunião de indivíduos que votam, mas um corpo de famílias que vivem. Estar plenamente consciente desta realidade é estar a meio caminho da restauração nacional que se impõe.

Genéricos

Há dias, atormentei-me com a perplexidade gerada pelo Amado Ministro quando, visando furtar-se a uma interpelação mais incómoda, declarou que eu saiba, ainda sou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, não sou um comentador.


Pareceu-me logo logo que o caso encerrava mais do que a pesporrência evidente de una classe político-diplomática arrivista. Encarei seriamente a hipótese de aquele ainda querer confessar uma expectativa de demissão próxima. Lá resvalei mais uma vez para o optimismo, já não tenho cura! Tratava-se, afinal, de tentar afirmar uma marca desaparecida, num forum em que todos os oradores se assemelham nos lugares comuns que debitam. Esta linha branca das ralações internacionais chama-se ONU, em que um (ir)responsável Indiano conseguiu fazer seus três minutos inteirinhos de discurso do nosso MNE, sessenta anos depois de o governo de Deli liquidar à força o Estado Português da Índia. Diz muito sobre a capacidade daquela gente, mas ainda mais sobre a lixarada fungível que é o conjunto das tomadas de posição altissonantes do executivo lisboeta.
A pintura é Os Diplomatas, de Peter Purves Smith.

Assim se vê a força do PC

Escrevo em três blogues com um só computador.

Assim se vê a força da TV

A televisão faz e desfaz partidos políticos.

Fotografia inédita dum almoço dos Jovens do Restelo

Recordando um dia portenho

Ai, Sesta!

Leitura da breve síntese de Machado Pires sobre o carácter português. Sendo céptico quanto a rotulações de colectividades tão grandes como são os Povos, aceito, não obstante, a validade das formulações que vingam nessas sociedades, no sentido de cada qual se reconhecer um tom específico. Aquilo que se generaliza como o pensar de si - e do seu - colectivo é dos indicadores mais seguros da especificidade actual de cada nação.
Assim, a mitificação da Saudade no mundo luso, não a vejo como a presentificação avara do Passado, mas como o pretexto aceitável para abdicar do esforço enquadrado rumo ao Futuro, na medida em que é deixada à a costela vindoura do Destino a pilotagem pelas barras (pesadas) que sejamos levados a fazer atravessar este eterno rectângulo de fadistas.
Não é a Preguiça que paralisa individualmente, conforme demonstram o labor emigrante, o talento comercial e o esforço operário no que resta fora dos Serviços, como a Construção. É sim o pecado que inicialmente lhe ocupava o lugar, a Acedia, a qual impede a tomada de posições arrojadas contra o que está, sempre à espera que um carisma pessoal com fumos de Rei perdido em África trate do assunto em seu lugar.
Esta delegação no imaterial encontra a condição agravante em outro traço propalado, a adaptabilidade, que, quando aplicada ao Tempo em vez de ao Espaço, estimula unicamente o derrotismo que se compensa injectando Sonho para a veia, sem perceber que o onirismo tem o seu momento próprio na sonolência, mesmo que seja a modorra do abatimento, travão maior do acto de levantar.

A obra reproduzida, oportunamente sem título em razão da indefinição focada, é de Adelino Ângelo.

Para despistar qualquer tipo de melindre...

Ocorreu-me agora que faltava aqui comunicar à navegação que os Jovens adoptaram o princípio da reciprocidade no que toca ao estabelecimento de ligações permanentes. Isto, dito assim, para quem não seja da esfera dos blogues, parece linguagem críptica... Traduzindo: os blogues que constam ali, da coluna da direita, sob a moderníssima forma de «links dinâmicos», são aqueles que gentilmente fizeram um link ao Jovens do Restelo. Aproveito para agradecer a todos a iniciativa, e manifesto publicamente a minha — até aqui secreta — esperança de que venham mais 25...

Caras ou Coroas?


Passou-se do anunciado ao cumprido e começa toda a gente a enganar-se: os Americanos a repetir compulsivamente que a Al-Qaeda odeia a Irmandade Muçulmana, sem uma palavra para o júbilo que outros figadais inimigos seus, como Teerão e o Hezbollah, denotaram no comentário à mudança em curso. Os comentadores lusos a reiterarem que a juventude e as habilitações dos cairotas mais em vista nas manifestações não convidam à instauração do islasmismo, nem se dando conta de que foi numa das mais letradas e jovens bases populacionais de países muçulmanos que os Ayatollahs vingaram. O povo ri porque vê alguém cair, os reporters porque têm notícias e envios especiais durante um par de dias.
Os militares do Egipto são hoje uns cãezinhos bem amestrados dos yanks. Não admirou pois o papel que tiveram, a partir do momento em que se percebeu que Barack tinha deixado de rimar com Mubarak. Mas as contas que o Departamento de Estado fará podem sair furadas: acreditam que se as facções religiosas radicais ganharem o élan (eleitoral, inclusivé) que as projecte, poderão repetir com as forças armadas o que fizeram na Argélia, metendo oportunamente a democracia na gaveta.
Eu, que não sou maometano, nem pró-americano, nem revolucionário, nem democrata, nem homem da imprensa, tenho também direito à minha ilusão privativa - a de que os detentores das armas naquela grande Nação desfarão a patifaria que empreenderam há quase 60 anos e possam vir a restaurar a Monarquia. Querem um bom prenúncio? o actual Herdeiro do Trono carrega o nome do fundador da Dinastia, Muhammad Ali...