Punição da Parcialidade

Quem não viu a cobertura televisiva dos motins do Cairo pelas televisões americanas só poderá ficar com uma pequena ideia da completa tomada de partido pelos manifestantes se eu disser que o tratamento nos canais lusos era apenas um pálido reflexo do que de lá vinha.
Mas não se pense que a vitória mudou alguma coisa. Violada e gravemente agredida uma jornalista importante, Lara Logan, o comentarismo e os noticiários relapsos se mostram em estender o tratamento favorável à cor que elegeram. Atente-se nesta pérola! Da multidão resultou a brutal investida. Pois o texto deleita-se na descrição de uma prisão antecedente da vítima, incomparavelmente menos violenta e que já não era notícia.

Nada de pôr em relevo a acção dos soldados que contribuíram para a resgatar, antes as forças armadas e policiais são estigmatizadas linhas a fio com pormenores espremidos sobre a detenção anterior. As culpas dos autores do crime são atenuadas pela ausência de rosto da maralha e pelo carácter difuso da confusão que tudo esbate, mesmo quando... ela bate.
Quero deixar claro que o título que escolhi não pretende legitimar a violentação hedionda, nem regozijar-se com ela. Visa sim ilustrar a flagelação de um cancro desinformativo que neste post pretendo esboçar. Se eu tivesse a auto-suficiência analítica do Dr. Pacheco Pereira, achar-me-ia propenso a dizer: Mau trabalho!
A pintura é Multidão, de Derek Buckner

2 comentários:

  1. Nunca vi uma multidão com tão bom aspecto. Proponho que se cubram todas
    Rudolfo Moreira

    ResponderEliminar
  2. Presumo que não devamos tomar a poposta como inserida no léxico de ganadaria, não é, Amigo Rudolfo?
    De resto, também neste caso a mediocridade é protegida por um anonimato, se não o simples da massa, ao menos o dos rostos escondidos: é que as mãos das figuras não estão propriamente a desenhar um V da vitória, os anglo-saxónicos percebem-no melhor.
    Ab.

    ResponderEliminar