Infiltrada nas Femen


Iseul faz parte das Antigones e infiltrou-se durante dois meses no movimento feminista radical Femen, que considerou "muito hierarquizado e muito opaco". Diz que uma das coisas que a surpreendeu foi "precisamente que não se fala muito de ideias. Não tem nada a ver com o feminismo intelectual a que estamos habituados em França". Acrescentou ainda que "elas demonstram um verdadeiro ódio por aqueles que consideram seus inimigos". Esta viagem ao interior do feminismo extremista deu origem a uma reportagem publicada na revista «Valeurs Actuelles».

Olhares a Leste

A Sotheby's vai leiloar, no início do próximo mês, uma espantosa colecção privada de mais de 800 fotografias tiradas na Rússia e noutros países de Leste entre 1959 e 2004, a que chamou "Changing Focus - A Collection of Russian and Eastern European Contemporary Photography", que estão expostas em Londres e que é possível ver em linha.


Para abrir o apetite, aqui fica um dos fantásticos trabalhos de Alexander Sliusarev (1944-2010). Boa viagem fotográfica a Leste!

Um samurai do Ocidente


Este foi o título que Dominique Venner deu ao seu editorial do primeiro número deste ano de “La Nouvelle Revue d’Histoire”, revista que fundou e dirigiu. Agora, depois do seu suicídio em frente ao altar da Catedral de Notre-Dame, em Paris, encontramos nessas linhas uma reflexão que nos leva a compreender e respeitar o seu acto trágico de sacrifício. Aí expressou um paradoxo premonitório: “Morrer é por vezes uma outra maneira de existir. Existir face ao destino”.

Desde que descobri a sua obra que este historiador e pensador me marcou e influenciou profundamente. A sua partida abalou-me, mas compreendi que não foi uma desistência. Foi o culminar de um percurso completo, de uma vida plena dedicada ao que acreditava e sentia  a de um combatente que lutou até ao fim e morreu de pé. Lembrei-me automaticamente de Yukio Mishima e de Drieu La Rochelle, entre outros.
Recordou nesse texto que “a morte tanto pode constituir o mais forte dos protestos contra uma indignidade como uma provocação à esperança”. Que melhor motivo para a sua última decisão?

“Rebelde por fidelidade”, como se definiu no autobiográfico “Le Coeur Rebelle”, esteve sempre ligado ao seu povo e às suas raízes ancestrais, considerando que “as formas antigas não voltarão, mas o que é de sempre ressurgirá” e acrescentando: “A tradição é uma escolha, um murmúrio dos tempos antigos e do futuro. Ela diz-me quem eu sou.”

A sua morte não foi apenas mais uma onda no oceano. Foi antes um farol que nos avisa da perigosa proximidade da catástrofe. Um alerta para uma civilização multimilenar ameaçada que partilha as mesmas origens, os mesmos valores e o mesmo espírito. Dominique Venner morreu como viveu  como um homem livre.

Editorial da edição desta semana de «O Diabo».

Festa de Guarda do Corpo de Cristo

Procissão Corpus Christi, 1913
AMADEO DE SOUZA-CARDOSO (1887 — 1918)
Óleo sobre Madeira, 29 x 50,8 cm
Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Lisboa.

Museu do Brinquedo


Li hoje uma má notícia para a Cultura. O Museu do Brinquedo, em Sintra, pode fechar no final do ano, porque a nova Lei-Quadro das Fundações impede autarquia de continuar a subsidiar e a ceder gratuitamente o espaço para o museu.

A directora responsabilizou o Governo, afirmando: A legislação para as fundações foi feita de forma transversal. Nem viram, nem sabem, nem fazem ideia nenhuma, nem sequer visitaram o museu. Esta é uma fundação que vive com o apoio de cinco mil euros. Tem um património, está aberta todo o ano, desde as 10 às 18 horas, com actividades e visitas guiadas”.

Este é um museu pelo qual tenho um especial carinho. Espero que se encontre uma solução para além desta cegueira legislativa e deste nivelamento cultural por baixo.

Avenida da República

Av. da República, 50. Edifício já demolido, Lisboa, 1970. 
Adaptado de Nuno Barros Roque da Silveira, in Arquivo Fotográfico da C.M.L..

Ontem, em conversa com uma arquitecta, uma geógrafa e uma jurista, veio à baila a Avenida da República, em Lisboa, especialmente os edifícios que foram demolidos para dar lugar a prédios novos.Todos concordámos que o que aconteceu numa das principais vias da capital —  que, infelizmente, não é excepção   é um crime contra a cidade e os seus habitantes. Mais, durante a defesa da reabilitação urbana, a arquitecta recordou que não basta preservar as fachadas, como se vê em tantos casos, antes se deve preservar o conjunto.

Por fim, falou-se da Praça Duque de Saldanha, onde os novos prédios  como o caixote espelhado que substituiu o Monumental, ou a taveirada de esquina  convivem com edifícios de outra época, muitos já devolutos. A triste conclusão a que se chegou foi a de que, em breve, não restará nesta praça qualquer vestígio de outros tempos.

N. B. - A imagem acima foi retirada, com a devida vénia, do excelente blog Bic Laranja, que muito se tem dedicado a este tema. Um trabalho muito importante, pelo qual está de parabéns.

Quando chegará a hora dos intelectuais activos?

Portugal é hoje fértil em intelectuais estéreis. Ouvem, vêem, lêem, memorizam; e, depois, passivamente, repetem todos as mesmas coisas. Coisas previamente formatadas pela cartilha do pensamento único politicamente correcto. Compreendo-os. Se assim não fosse, arriscar-se-iam a perder os seus privilegiados lugares, nas televisões e nos jornais, e nenhuma editora publicaria os seus livros. Além disso, pensar pela própria cabeça dá muito trabalho! Quando chegará a hora dos intelectuais activos?

Idiocracia


“[Até o século XIX] o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais se atreveu a mover uma palha, ou tirar um cadeira do lugar. Em 50, 100 ou 200 mil anos, nunca um idiota ousou questionar os valores da vida. Simplesmente, não pensava. Os "melhores" pensavam por ele, sentiam por ele, decidiam por ele. Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobriram que são em maior número e sentiram a embriaguez da omnipotência numérica. E, então, aquele sujeito que, há 500 mil anos, limitava-se a babar na gravata, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturalmente etc. houve, em toda parte, a explosão triunfal dos idiotas.”

Nelson Rodrigues

Tradição e Futuro da Europa

A Europa criou uma identidade própria assente em três sólidos pilares: a filosofia grega, o direito romano e a teologia cristã. Saibam hoje as nações europeias estar de novo à altura desta herança para a poderem transmitir no futuro.

Da Defesa do Ocidente

Neste momento, em Paris, convocadas por dezenas de diferentes associações, organizações, movimentos e partidos, estão na rua cerca de um milhão de pessoas em defesa do casamento tradicional e da família tradicional; e, portanto, da França! Será possível acontecer o mesmo em Portugal?

Das Árvores e dos Homens

Atravessando apressadamente um jardim onde existe uma árvore que há muito me suscita a dúvida sobre o seu nome, encontrei finalmente lá um jardineiro e pedi-lhe para me dizer que espécie era aquela. Respondeu-me que realmente trabalhava ali mas que não percebia muito de árvores e portanto não sabia. Mais um sinal evidente do fim de um mundo onde outrora era conservada e transmitida uma sabedoria popular que enriquecia a cultura geral.    

As razões de uma morte voluntária

Esta foi a última mensagem que o escritor e historiador Dominique Venner deixou antes de se suicidar, ontem, na Catedral de Notre-Dame, em Paris.

Estou são de corpo e alma, cheio de amor para com a minha mulher e meus filhos. Amo a vida e não espero nada para além dela, a não ser a perpetuação da minha raça e do meu espírito. Portanto, na noite da minha vida, perante os imensos perigos para com minha pátria francesa e europeia, sinto-me no dever de agir enquanto ainda tenho forças.

Penso ser necessário sacrificar-me para romper a letargia que nos abate. Ofereço o que ainda resta da minha vida numa intenção de protesto e de fundação. Escolho um lugar altamente simbólico, a catedral Notre Dame de Paris que eu respeito e admiro, edificada pelo génio dos meus antepassados sobre locais de cultos mais antigos, recordando as nossas origens imemoriais.

Enquanto tantos homens são escravos das suas vidas, o meu gesto encarna uma ética da vontade. Entrego-me à morte a fim de despertar as consciências adormecidas. Insurjo-me contra a fatalidade.

Insurjo-me contra os venenos da alma e contra os desejos individuais invasores que destroem as nossas âncoras identitárias, nomeadamente a família, alicerce íntimo da nossa civilização multimilenar. Tal como defendo a identidade de todos os povos em suas casas, insurjo-me também contra o crime que visa a substituição das nossas populações.

Como o discurso dominante não pode sair das suas ambiguidades tóxicas, cabe aos europeus tirar as suas conclusões. Não havendo uma religião identitária à qual nos possamos amarrar, partilhamos desde Homero uma memória própria, repositório de todos os valores sobre os quais refundaremos o nosso futuro renascimento em ruptura com a metafísica do ilimitado, a fonte nefasta de todos os desvios modernos.

Peço antecipadamente perdão a todos aqueles a quem a minha morte fará sofrer, primeiro à minha mulher, aos meus filhos e netos, bem como aos meus amigos e seguidores. Mas, uma vez esbatido o choque e a dor, não duvido que tanto uns como outros compreenderão o sentido do meu gesto e transformarão o seu sofrimento em orgulho. Desejo que estes se entendam para resistir. Encontrarão nos meus escritos recentes a prefiguração e a explicação do meu gesto.

Para qualquer informação, podem dirigir-se ao meu editor, Pierre-Guillaume de Roux. Ele não estava informado da minha decisão, mas conhece-me há muito tempo.

Dominique Venner

Dominique Venner, um samurai do Ocidente

Um telefonema de Paris trouxe uma triste notícia. Dominique Venner, uma das minhas referências maiores, suicidou-se ontem em frente ao altar da Catedral de Notre-Dame. Um sacrifício ritual deste samurai do Ocidente, no altar da Pátria, para "despertar as consciências adormecidas".


É sempre revoltante a falta de respeito que caracteriza aqueles que, baseados numa notícia tendenciosa e telegráfica sobre a morte de Dominique Venner, opinam de papo cheio, do alto da sua ignorância. Nota-se à légua que nem uma linha leram da extensa obra deste historiador. Mais, nem o nome dele sabem pronunciar... Leiam. E depois falem.

Abaixo reproduzo o post escrevi há uns anos, intitulado "Que ler? Venner!":


O Miguel Vaz releu "O Século de 1914", uma obra imprescindível de Dominique Venner, publicada em Portugal no ano passado pela Civilização, com tradução de Miguel Freitas da Costa. Este é realmente um livro para ler e reler, e para depois a ele continuar a recorrer. Por isso o Miguel diz que se tornou "de cabeceira". Eu li-o pela primeira vez no original, em francês, e reli-o em português. É, de facto, um livro inspirador, que cito amiúde. Uma síntese formidável para melhor compreender o século XX e perceber a actual situação da Europa.


Da ampla bibliografia de Venner, há outro livro que, na minha opinião, é ainda mais importante: "Histoire et tradition des Européens. 30 000 ans d'identité". Esperemos que um dia seja também traduzida para a nossa língua. Este regresso às origens, às referências europeias maiores, é um apelo ao renascimento de uma identidade multimilenar.


Referência ainda para outro livro excelente, "Le Coeur Rebelle", onde Venner faz uma reflexão autobiográfica profunda, falando do activismo político, da guerra, da prisão e da forma como mudou ao longo da vida sem no entanto se arrepender do passado.


Por fim, não me canso de recomendar aqui a óptima e obrigatória "La Nouvelle Revue d'Histoire", dirigida por Dominique Venner, que se vende nas bancas portuguesas.

Ainda e Sempre Dominique Venner na Blogosfera

Num momento em que toda a gente quer saber tudo sobre Dominique Venner remeto os nossos leitores para os posts que Duarte Branquinho foi produzindo ao longo de vários anos a propósito desse extraordinário Homem de Pensamento e Acção no seu Pena e Espada e no nosso Jovens do Restelo

Carl Schmitt actual

Decorreu, nos passados dias 8 e 9 de Maio, no Auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, o colóquio “Carl Schmitt revisitado”, organizado por Carlos Blanco de Morais e Luís Pereira Coutinho, do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas (ICJP). A iniciativa foi um êxito, tanto pela elevada qualidade e preparação dos oradores, como pela presença e interesse do público. Os organizadores estão de parabéns por proporcionarem esta revisitação, tão importante para a reflexão política actual. Regresso a um pensador essencial.



Carl Schmitt (1888 – 1985), alemão e católico, foi jurista, filósofo, politólogo e professor universitário. Um intelectual de alta craveira cuja obra e pensamento influenciaram vários autores. A sua breve aproximação ao III Reich, entre 1933 e 1936, valeu-lhe, para alguns, a classificação de “filósofo maldito”, mas o valor inegável do seu trabalho acabou por ser reconhecido. Como escreveu Alain de Benoist, “Schmitt faz parte desses autores e teóricos da direita alemã cuja atitude em relação ao nacional-socialismo foi, pelo menos, bastante matizada”. De facto, depois de ter sido alvo de duras críticas por parte de certas facções desse regime, renunciou a qualquer actividade que não a docente.

Actualidade
A recente discussão nacional sobre o respeito à Constituição da República Portuguesa independentemente da realidade do País, mostrou a actualidade do pensamento de Carl Schmitt. De facto, houve quem recordasse, a este propósito, a oposição do decisionismo e o estado de excepção schmittianos ao normativismo de Hans Kelsen.

Já Alain de Benoist havia demonstrado a actualidade de Carl Schmitt no livro “Guerra Justa, Terrorismo, Estado de Urgência e Nomos da Terra”, publicado em Portugal pela Antagonista, em 2009. Na introdução, Benoist afirma: “A tese da influência de Carl Schmitt sobre os neoconservadores americanos por intermédio de Leo Strauss não passa de uma fábula. Mas há, por outro lado, uma incontestável actualidade do pensamento schmittiano, actualidade bem discernida por numerosos observadores, singularmente depois dos atentados do 11 de Setembro de 2001, que a vida internacional, bem como certas iniciativas do governo americano, não cessaram de nutrir no decurso destes últimos anos.”

Política
O que é a política? Era o que perguntava Julien Freund, num ensaio publicado em Portugal em 1974, pela Futura, respondendo: “Podemos basear-nos nas relações e correlações entre os diversos pressupostos: comando e obediência, privado e público, amigo e inimigo. Parece-nos, no entanto, que a melhor maneira consiste em caracterizá-la pelo encadeamento das dialécticas que estes pressupostos orientam. A política é, então, a actividade social que tem como objectivo garantir, pela força, geralmente apoiada no direito, a segurança exterior e a concórdia interna de uma unidade política particular, salvaguardando a ordem no meio de lutas que têm origem na diversidade e divergência das opiniões e interesses”. Freund, que procurou demonstrar que existe uma essência da política, considerava Schmitt como um dos seus mestres e foi um dos principais responsáveis pela introdução do pensamento deste pensador alemão no universo francês dos anos 60 do século XX. Nota-se na definição freundiana a clara influência de Schmitt, que afirmou que “a específica distinção política à qual é possível reconduzir as acções e os políticos é a distinção entre amigo (‘freund’) e inimigo (‘feind’).” Nesta oposição, há que precisar que o inimigo a que Schmitt se refere é o inimigo público, o ‘hostes’ latino, e não o inimigo privado, o ‘inimicus’.

Rede Schmittiana
Se o colóquio “Carl Schmitt revisitado” demonstra que o interesse neste pensador e na sua obra tem aumentado no nosso país, devemos dizer que Portugal não é uma excepção. Um dos oradores, Alexandre Franco de Sá, professor na Universidade de Coimbra e especialista em Schmitt, de quem traduziu “Catolicismo Romano e Forma política” e “Terra e Mar”, revelou que no Brasil os estudos schmittianos estão a desenvolver-se a um ritmo elevado. Para além da publicação de obras de Schmitt (ver caixa), Franco de Sá mostrou a edição do seu livro “Poder Direito e Ordem. Ensaios sobre Carl Schmitt”, recém-publicado pela editora Via Verita, que também publicou uma versão brasileira de “Metamorfose do Poder”, saído em Portugal em 2004, pela Ariadne Editora.

Alexandre Franco de Sá é também, juntamente com os professores brasileiros Joelma Pires e Roberto Bueno, fundador da Rede Internacional de Estudos Schmittianos, que tem já importantes membros de vários países, como Alain de Benoist, Alberto Buela, Günter Maschke ou Jerónimo Molina.

No segundo semestre de 2012, a “Revista Brasileira de Estudos Políticos” dedicou um número monográfico, que conta com 13 artigos de eminentes especialistas estrangeiros e brasileiros, ao tema “Os paradoxos do Estado Democrático de Direito: entre o estado de excepção e os contrapoderes de resistência”, onde o homenageado é naturalmente Carl Schmitt.

Minha Eterna Dúvida de Velho do Restelo

Será que deveríamos ter partido ou seria melhor termos ficado e reforçado e alargado a nossa presença na Península Ibérica  — nomeadamente contrariando a primeira cláusula de Zamora e conquistando a Galiza  —, nas Ilhas Atlânticas (ai as Canárias...) e no Norte de África — qual tampão-guardião do Ocidente? 

Adeus, Pátria e Família

E eis que, enquanto o povo anda distraído a ver a bola, o sistema laico, republicano e socialista  — travestido agora de social-democrata e democrata-cristão — toma à socapa a decisão par(a)lamentar de dar mais uma machadada na célula-base da sociedade que é a Família.

Do antibenfiquismo


O Bruno Oliveira Santos explicou como ninguém este fenómeno que se tem acentuado nos últimos dias. Aqui fica:

«Dos vários géneros de antibenfiquistas, gosto dos emplastros. Alegram-me os dias ao fim de cada derrota. O emplastro antibenfiquista diz que odeia o clube, trata os seus adeptos de lampiões, mas assiste em silêncio religioso aos jogos do Benfica. Chega a ver mais partidas do que os sócios. Imagino-os sempre aos saltinhos no sofá com a língua de fora à espera do golo dos adversários.
O Facebook permite um registo único do fenómeno. Ao cabo de cada revés, sincronizado com o apito do árbitro, o emplastro antibenfiquista começa a comentar. Estava colado ao ecrã. Os jogos do Benfica mobilizam toda a gente, a favor e contra. Quando jogam os clubes deles, por vezes nem me lembro. Ser grande é isto.»


Nem mais!

Para hoje!

Dos Homens e dos Livros

Folheando rapidamente alguns volumes, num sítio de livros usados, dei-me conta que vários deles eram provenientes da biblioteca particular de alguém que conheci bem, pois estavam marcados com o seu ex-libris. Não foi a primeira vez que algo semelhante me aconteceu. Na verdade, vai-me sucedendo cada vez mais. E fiquei novamente a matutar sobre as razões que levarão as viúvas, os filhos e o netos a empandeirar assim colecções que foram construídas durante longos anos, e com tanto amor, por parte de notáveis bibliófilos. 

Um pensador português

A cultura é normalmente relegada para segundo plano numa imprensa que hoje abusa da crise económico-financeira, das tricas políticas e das frivolidades sociais. Assim, infelizmente, há notícias que passam ao lado do grande público.

A celebração de um dos grandes vultos da cultura nacional contemporânea não deve ser algo relegado para um punhado de académicos. Pelo contrário, merece a nossa maior atenção enquanto portugueses que se preocupam com o destino da Pátria.

No ano em que se assinalam os 90 anos do nascimento de António Quadros e os 20 anos desde a sua morte, há a referir a realização do Colóquio Internacional “António Quadros: Obra, Pensamento, Contextos”, que decorrerá nos meses de Maio e Junho, em Lisboa, Cascais e no Rio de Janeiro.

Filho de António Ferro e Fernanda de Castro, António Quadros foi um notável filósofo, escritor, pedagogo, escritor e tradutor que nos deixou uma obra impressionante, tanto pela sua dimensão como pela sua elevada qualidade.

Numa das suas obras maiores, “Portugal, Razão e Mistério”, escreveu: “O que na realidade se esbateu ou desapareceu quase por completo entre nós não foi o patriotismo emocional que, por ser insuficiente, é muitas vezes manipulado por ideólogos e demagogos de má fé, foi a relação fundamental da substância e dos princípios da identidade pátria com a sua razão teleológica em movimento, relação que um dia corporizou no projecto áureo português, centro vital e motor de tradição lusíada, e que aguarda a reactivação ou a renovação sempre possíveis desde que se cumpram as imprescindíveis condições.”

Em tempos como estes, de grande indecisão e ausência de referências, fazem-nos falta pensadores deste calibre. Regressemos aos nossos clássicos.

Editorial da edição de «O Diabo» de 2 de Abril de 2013.

Foice Em Seara Alheia

Não há duas sem três e as pedras do Templo da Cidade triplamente Santa tinham de sofrer uma terceira tentativa de destruição. Depois de Nabucodonossor e Tito, por um tribunal, que autorizou umas reivindicadoras de igualdades a rezar da forma tradicionalmente reservada a homens, naquele lugar sagrado para os Judeus. Para quem cresceu assombrado pela existência de um Muro da Vergonha, faz um pouco de impressão que uma grande Religião não tenha vergonha dum muro que lembra uma derrota cruciante. Mas "Templo" é um conceito que se presta a equívocos, como sabemos desde que Jesus usou a expressão para designar o Seu Corpo Salvador, deitado por terra e reconstruído em três dias. E o certo é que, mesmo alicerçada em lamentos, aquela prática religiosa tem conseguido contribuir para manter a identidade de um Povo acossado como poucos na História. E aqui é que bate o ponto: se alguém se identifica com uma genealogia religiosa, não deve tentar mudar-lhe as formas, ou aquela passará a ver degradada as referências que aglutinam. Se sentem tamanha necessidade de participação mimética, fundam outra edificação ritual, não tentem, a partir de dentro, modificar a que existe, tornando-a menos reconhecível. Esta é uma máxima ética que vale para todos os credos, sendo que, no caso vertente, os habituais fiéis das lamentações murais poderão juntar a lamentação moral de, com a nova companhia, se não conseguirem concentrar em Deus. Pelo menos, se aparecerem Senhoras com propriedades diferentes das da fotografia...
                               Destruição do Templo de Jerusalém, de Nicolas Poussin

Perigo de Morte

Não devemos repousar sobre a tranquila suposição de que é exclusivo de algum atraso ou até primitivismo o culto da Morte. Se a nossa auto-proclamada civilização não a tem por santa, não é por a veneração dela lhe repugnar, mas porque a Santidade deixou de ser estatuto que a fascinasse. Tem vindo a tornar-se traço mais do que característico fazer olhinhos ao macabro, por desfastio, como subvalorizar o que de revoltante haja na morte de inocentes, desde que não se possam defender, queixar, ou servir de "escalpes" de petições, como na entronização dos abortistas; e, ainda, a promoção hedonista a alívio daquilo que mais não é que uma confissão do fracasso e a desvergonha da desistência, caso da Eutanásia, a morte tida por boa, que esse é o grau de bondade a que uma sociedade atrofiadamente laica pode chegar e prezar. Mas se certo número de  Mexicanos presumivelmente pouco ensinados leva as suas oferendas a esta entidade cultuada, fá-lo para dar força a pedidos para as suas vidas. Nós, os híper-civilizados saturados de sofisticação, prestamos homenagem a uma idealização de término para a abreviarmos e escaparmos ao aborrecimento ou a dores, desconfortos ou contrariedades mais intensos. Aqui na minha vizinhança, vejo pintados pelas paredes ditos como «make a change, kill yourself». É a distância que vai da heresia popular e iletrada ao niilismo capado de que ainda somos capazes, ao ponto de ver Beleza na alegoria do fim terreno, que só a comportará, possivelmente, por confronto com as carantonhas horrendas adequadas a simbolizar os espasmos e pulsões do Ocidente contemporâneo.
                                                       A Morte e as Máscaras, de James Ensor

Melancolia In-Continente

Fim de tarde bem passado, numa notável conferência de José Pedro Serra, subordinada ao tema das Narrativas Homéricas. Em Dia da Europa, o espectro da Crise presentíssimo, desde logo na introdução da Vereadora e no concomitante voto de, pela produção intelectual, se escapar ao triste império dela. Depois, mergulhámos na temática e, se o escapismo das viagens turísticas andava arredio da abordagem de textos fundadores das referências do Continente, a evasão inerente às alturas dos ideais por eles patenteados compensou-nos amplamente, fosse a da procura da Excelência como forma de o Homem recém-compenetrado da sua mortalidade tornear as dimensões enclausurantes da sua finitude emanada da «ILÍADA», fosse a sua assunção de individualidade e background assentes na memória do lar a que se regressa, na «ODISSEIA». Também um património histórico-mítico-cultural comum que servisse de fio condutor às edificações sociais futuras viu a sua ausência diagnosticada nesta época em que nada parece haver a que nos agarrarmos. Não se põe já a questão de a raptada exultar ou não com o seu estupro pelo touro olímpico que escondia um Deus, antes a constatamos como cúmplice arrivista da barbárie que a sequestra, numa Síndroma de Estocolmo que é, também, angustiante sinal dos tempos.

Remessas Sem Remissão

Mais do que desforrar-me dos enviesadíssimos críticos do Estado Novo que o diziam ter condenado gerações inteiras à Emigração, estes números devem fazer-nos pensar que o empobrecimento emanado desta República dos Bananas é muito mais imputável, quando os seus dirigentes máximos exortaram à saída dos trabalhadores e não têm a desculpa da fuga à guerra para apresentar. Mas há duas notas que urge sublinhar, por terem ficado no esquecimento mediático: a Alemanha, a que os nossos Compatriotas idos nos anos de 1960 tiveram de impor a sua disponibilidade e qualidade laborais, favorece agora a chegada de todos os provenientes de origenss que lhe permitam corrigir os desequilíbrios da sobreabundância guetificada de Turcos. E a suspeita de que a avidez cega por receitas leve os gerentes de Berlim em Lisboa a escorregar uma vez mais na frieza dos números e a quererem a bom querer mais estes patacos previsíveis. Mas não estarão enganados, com a situação que incompetentemente pioram em vez de corrigir, poderão ainda alimentar a esperança de que aqueles que forçaram à saída mandem para cá o carcanhol?
                                                  Os Emigrantes, de Angiolo Tommasi

Carl Schmitt revisitado

Este é o título do colóquio que decorrerá nos dias 8 e 9 de Maio, no Auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, organizado por Carlos Blanco de Morais e Luís Pereira Coutinho, do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas (ICJP).

Carl Schmitt (1888 – 1985), alemão e católico, foi um jurista, filósofo político e professor universitário cuja obra e pensamento influenciaram vários autores. A sua aproximação ao III Reich valeu-lhe, para alguns, a classificação de “filósofo maldito”, mas o valor inegável do seu trabalho acabou por ser reconhecido. Como escreveu Alain de Benoist, “Schmitt faz parte desses autores e teóricos da direita alemã cuja atitude em relação ao nacional-socialismo foi, pelo menos, bastante matizada”. De facto, depois de ter sido alvo de duras críticas por parte de certas facções desse regime, renunciou, em 1936, a qualquer actividade que não a docente.

O Colóquio divide-se em quatro sessões, sendo que as primeiras dos dois dias começam às 9h30m e as segundas às 11h30m. No primeiro dia teremos as intervenções de Carlos Blanco de Morais, sobre “Constituição e Decisão”, de Maria Lúcia Amaral, sobre “Constituição e sua Guarda”, de Alexandre Sousa Pinheiro, sobre a “Ditadura”, de Luís Pereira Coutinho, sobre o “Estado”, de Miguel Nogueira de Brito, sobre a “Excepção “, de Rui Guerra da Fonseca, sobre a
independência do Juiz, de André Salgado de Matos, sobre “Legalidade e legitimidade”, e de Miguel Morgado, sobre “Soberania”. No segundo dia as intervenções serão de Alexandre Franco de Sá, sobre a “Ficção”, de David Teles Pereira, sobre o “Inimigo”, de Guilherme Marques Pedro, sobre o “Liberalismo”, de Pedro Lomba, sobre a “Opinião Pública”, de António de Araújo, sobre o “Parlamentarismo”, de Diogo Pires Aurélio, sobre o “Político” e de Martim de Albuquerque, sobre “Teologia política”.

Uma óptima iniciativa do ICJP, que nos proporciona a oportunidade de reencontrar ou descobrir um grande pensador, por tantas vezes esquecido ou descurado.

Profilaxia dum Contágio

Há um "iberismo" sem rosto nem ideal que passa relativamente despercebido, qual seja o da imitação do que os Espanhóis fazem e do que  se fazem sofrer, sempre pretensamente justificado pelo estribilho "até na vizinha Espanha", para calar as resistências a alterações para pior. Nessa perspectiva, é mais do que alarmante o caso sórdido que se conhece aqui. Compreende-se que os custos do sistema de Saúde tenham de ser reduzidos, apesar de achar que deve ser sempre o domínio a isentar de cortes o mais possível. E, embora seja contraditório com a edificação constitucional do SNS, até se aceita que, em período de crise, alguma comparticipação dos utentes seja exigida, de acordo com as suas possibilidades. Mas isto é a desumanização total, concertada por decisores e administrativos cegos, como por prestadores para quem o código de Hipócrates é um código de hipócritas. Retirar uma prótese necessária porque o paciente a não conseguiu pagar, em vez de procurar receber pelos meios injuntivos e judiciais adequados é um passo em frente no abismo da reificação que, logicamente, no limite, conduzirá um dia a repor nos organismos dos carenciados os cancros que interesseiramente lhes hajam extraído. Espero bater a bota antes de se generalizar a prática.
                                                          O Superburocrata, de Stefano Zattera

O Nó e o Dó

Este é um Governo da corda, mas não embarco na balada que nos cantam e contam de o Dr. Portas, na comunicação de ontem, ter querido medir forças com o Primeiro Ministro, puxando a dita, pois ele sabe de sobejo que parte sempre pelo mais fraco. A questão fia mais fino, é somente de cordelinhos e de quem os puxa; e o PP está condenado a ver o parceiro grande fazê-lo, lutando apenas para restringir esse controlo à realidade do Poder e não a si próprio numa evidenciação do estatuto de marioneta. Assim, as declarações foram a salvação possível da face, com a manutenção da persona eleitoral assumida pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, de defensor dos pensionistas e idosos. Não digo que tenha sido tudo falso naquelas palavras, porque os homens, se não são embusteiros completos, acabam por se deixar transportar pelos papéis que são chamados a interpretar. E este encaixava em dois princípios fundamentais que me lembra o líder Popular crer: a sacrossanta intangibilidade dos contratos e a hostilidade ao aumento dos impostos, condicionantes da manutenção do regime das reformas. Com pressões internas e espectros de descrédito exterior, creio ter sido congeminada esta saída airosa, o Dr. Passos deixa entreaberta a nesga do "debate em cima da mesa" e o seu coligado homólogo mergulha de cabeça pela pequena abertura, no sentido de, com a exibição da pluralidade de pontos de vista, ambos darem corda a um executivo a que ela vai faltando. Mas, amarrados um ao outro por esse cabo (dos trabalhos) quando um for ao fundo, o outro irá atrás.
                                                        Corda, de Mairi Brydon

O Pacote Armadilhado

PPC encarnou de Mãos de Tesoura o estatuto e nele se encartou, ao catapultar uma encomenda de cortes que vão desde os clips da burocracia ministerial a coisas graves como a dispensa de funcionários, o prolongamento da coacção da vida profissional activa e a taxação adicional de pensões, subversão das regras do jogo que todos vêm notando. A justificação é igualizar os funcionários ao sector privado, embora, já se sabe, a verdadeira causa seja a falta de pilim. Não gosto de paranoias igualitárias, mas percebo que um Estado que não se preza não possa prezar os que o servem. O que deveria der uma elite cumulada de benefícios vê-se, portanto, na contingência de se tornar no bode expiatório dos desperdícios e esbanjamentos acumulados pelas promessas eleitorais, as concessões clientelares e os preconceitos duma incontinência do investimento público cego. Sublinhou a torto e a direito a dificuldade das medidas e a necessidade delas. Mas por que motivo? Para voltarmos a ser bem vistos lá fora credíveis. Ou seja, troca a subserviência de abrir os cordões à bolsa para palmar o votito aos de dentro para passar a fechá-los na mira duma palmada ou palmadinha nas costas pelos de fora. Como País, chapéu, se isso já não tivesse acontecido já, quando os que agora nos mandam fechar as torneiras nos espicaçavam para que as deixássemos correr sem controlo ou medida.                                     
                          Peões, da série Almas Perdidas, por Alexey Terenin

Voo Para A Vitória

Passadas as delícias turcas, que a Tradição ainda seja o que era! Engajando-me na linha superiormente congratulatória e evocativa do Duarte e do João, nos postais anteriores, lembro essa cidade de Amsterdão onde o Glorioso SLB se sagrou bicampeão europeu, desejando que o mesmo final tenha... a final que se avizinha, a propósito da Europa da Liga e não da que não interessa, a institucional que, cada dia que passa, se desliga. Lembro, a propósito, uma canção do Festival da Eurovisão dos meus tempos de menino e moço e faço votos para que a Zona Vermelha aludida não seja a da oferta sexual enjoativa e compartimentada, muito menos a da Política da agressão, mas a do regresso aos triunfos internacionais da Real Águia da Luz, findando de vez o tempo das trevas. Fiquemos, então, com «AMSTERDAM, AMSTERDAM»:

A caminho de Amsterdão...


Limpinho

O Sport Lisboa e Benfica está na Final da Liga Europa. Nós outros, os benfiquistas Jovens do Restelo, estamos de Parabéns!
Aproveito para me congratular publicamente com o facto de ter recebido felicitações de muitas pessoas não-benfiquistas. Daqui, desta tribuna, lhes agradeço. É bom saber que os nossos amigos são cavalheiros.
Viva o Benfica!

O Prato Que Se Come Frio

Parece-me francamente exagerado o orçamento para apagar esta inscrição enriquecedora da base do Leão do Marquês, que em tão má companhia está. Os menos caridosos poderão dizer que é uma vingança pela célebre pintura de listras verdes e brancas na Águia do Estádio da Luz, anos atrás. Eu prefiro ver a coisa como o cuidado em fazer o grande felino voltar a um habitat que lhe convenha, já que o tempo lhe desmente o pedestal. No entanto, preocupado com as Finanças Públicas e sabedor do benfiquismo do Dr. Costa, sugiro que abra uma subscrição pública entre os adeptos sportinguistas para custear as despesas da remoção da inocente frase que, porventura lhes  desagradará. Apesar da crise, deve consegui-lo num ápice, o que com larguezas de previsões de custos semelhantes, até pode dar ideias para receitas futuras...

                                                    As Mãos como Águia, de Guido Daniele

Um herói português


O “Comando” do 25 de Novembro, homem cuja acção no PREC alterou o rumo da História contemporânea de Portugal, morreu no início deste ano. Pouco antes foi publicada esta biografia de autor intitulada “Homem de Guerra e Boémio – Jaime Neves por Rui de Azevedo Teixeira”, com a chancela da Bertrand. O livro, cujo êxito se reflectiu nas vendas, teve uma nova edição com prefácio de Ramalho Eanes e posfácio de António-Pedro Vasconcelos.

Rui de Azevedo Teixeira foi “Comando” durante a Guerra de África, professor de Liceu e professor universitário e é autor de várias obras como “A Guerra Colonial e o Romance Português. Agonia e Catarse”, que tem por base a sua tese de doutoramento, “A Guerra e a Literatura”, “A Guerra de Angola 1961-1974”, entre outras.

Em entrevista a “O Diabo”, publicada em Fevereiro, o autor reconheceu a verdadeira aventura que foi a vida de Jaime Neves, dizendo: “Viveu sempre em alta voltagem. O seu forno de adrenalina esteve sempre aceso. Se não era a guerra – em Moçambique, foi ‘o grande distribuidor da morte violenta’ – eram as mulheres, o jogo, os copos ou as ‘recuperações de património’ que Jorge de Brito perdera na voragem do PREC.”

O autor baseou a obra em vários testemunhos, cruzando sempre as várias versões, e em entrevistas com o biografado. O resultado foi um trabalho de mérito, que conjuga maravilhosamente a estilo áspero e directo dos militares, com a erudição de um académico. Esta fusão, que parece paradoxal, muitíssimo bem conseguida, é que torna este livro diferente – original, no sentido profundo do termo. Primeiro, porque Rui de Azevedo Teixeira passou pelas mesmas origens que Neves, ao servir a Pátria em combate, numa força especial de excelência. Mas, ao mesmo tempo, a sua inteligência e cultura profunda levam-nos mais além e fazem o leitor reflectir. Falar no mesmo livro no Tamila e na noite de Lisboa e citar os clássicos não é para todos, especialmente quando se consegue dar uma sólida coerência a toda a obra. Nesta aventura que entusiasma rapidamente quem a devora, pelo protagonista e pelo estilo, há também o prazer de saborear um texto muito bem escrito, que se lê agradavelmente de um fôlego.

O livro que tem tido uma óptima aceitação por parte do público, como o prova o êxito comercial, não deixou de ser incómodo para alguns. Mário Tomé, o político e militar de extrema-esquerda, atacou-o num artigo intitulado “O herói do regime e o seu bardo”, publicado no “Diário de Notícias”, mas o autor respondeu-lhe à letra, no mesmo jornal, dizendo que “é a ignorância a falar” e questionando: “Terá mesmo lido o livro que critica?!” Há que dizer, por muito que custe a tantos – hoje bem instalados –, que Jaime Neves foi de facto um herói e, em boa hora, surgiu um bardo à altura de cantar os seus feitos e o seu fantástico percurso de vida. Uma vida aqui dividida em quatro estações, como num ano – um ciclo completo.

Esta é uma biografia de autor. Como nos diz Rui de Azevedo Teixeira na “Palavra de Abertura”, “se tivesse substituído os nomes reais por fictícios, Jaime Neves por Manuel Ferreira da Selva, por exemplo, teria sido um romance de personagem”. E que romance!

Infelizmente, é de referir o aspecto negativo de a editora ter optado pela grafia do famigerado Acordo Ortográfico, algo que só prejudica a obra, embora apenas em termos formais.

Por fim, aquando da morte de Jaime Neves, recordei-o num editorial de “O Diabo”, chamado “Homenagem”, afirmando que “tinha a fibra dos heróis. Não deixava ninguém indiferente, algo que se pode ver na forma como o seu nome tinha uma força especial. Ainda em vida, atingiu uma dimensão sobre-humana. Gerou paixões e amores, mas também ódios. Quando se ouvem as histórias dele – muitas já mitificadas – percebemos bem que a lenda cedo se começou a criar.” Este livro é um justo relato dessa lenda que continua viva. A história próxima e sentida de um herói português.

Trocas Baldrocas

SWAP significa troca em inglês e haverá maior trapaça do que pôr, literalmente, em jogo o que nos respeita a todos? Creio que foi Miguel Sousa Tavares que classificou este tipo de riscos financeiros nas Empresas Públicas como batota de Casino e, considerando a perspectiva de toxicidade dos maus resultados, talvez ainda fosse melhor dizer que se trata de um upgrading do célebre afrontar da Sorte, em que a solitária bala no tambor do revolver se vê substituída pelos escolhos contratuais que, de uma vez, nos ajudem a submergir conjuntamente.
                                                        Roleta Russa, de Koulin

Verdade Que Se Evita

Num tempo em que, embora beneficiando, interessadamente todas as pessoas na sua faceta de consumidores, um expoente do Capitalismo, no ano transacto, se apropriou do 1º de Maio, convém aflorar dois ou três pontos da História. O dia surgiu da necessidade de mais tempo livre dos trabalhadores e na luta empreendida para o obter, quando, nesta época de contra-ofensiva, um herdeiro dos opositores da reivindicação, a própria cadeia de supermercados que se apossou da data, o terá retirado ao seu pessoal, reforçando a presença deste no feriado, para dar conta da corrida aos preços baixos. No Estado Novo, ao contrário, imperava a preocupação com o lazer das classes laboriosas, se bem que numa óptica de contestação do aproveitamento partidário e do fermento conflitual da efeméride. Assim, a célebre FNAT adoptou justamente como designação da folha própria o título «1º DE MAIO», enquadrado sucessivamente pelas subtitulações esclarecedoras «JORNAL DE TODOS OS TRABALHADORES» e de «ORGÃO DA FUNDAÇÃO NACIONAL PARA A ALEGRIA NO TRABALHO». A actividade da instituição foi verdadeiro impulso humanizador da vida daqueles a quem ela mais custa e, já que nos aproximamos de dia 7, devidamente caucionada pela Protectora dos Descamisados, a famosa Eva Perón, aqui mostrada a visitar-lhe as instalações, aquando da sua visita a Portugal, e cuja imagem dedico ao nosso Marcos Pinho de Escobar Que tanto ama os dois Países.