Não devemos repousar sobre a tranquila suposição de que é exclusivo de algum atraso ou até primitivismo o culto da Morte. Se a nossa auto-proclamada civilização não a tem por santa, não é por a veneração dela lhe repugnar, mas porque a Santidade deixou de ser estatuto que a fascinasse. Tem vindo a tornar-se traço mais do que característico fazer olhinhos ao macabro, por desfastio, como subvalorizar o que de revoltante haja na morte de inocentes, desde que não se possam defender, queixar, ou servir de "escalpes" de petições, como na entronização dos abortistas; e, ainda, a promoção hedonista a alívio daquilo que mais não é que uma confissão do fracasso e a desvergonha da desistência, caso da Eutanásia, a morte tida por boa, que esse é o grau de bondade a que uma sociedade atrofiadamente laica pode chegar e prezar. Mas se certo número de Mexicanos presumivelmente pouco ensinados leva as suas oferendas a esta entidade cultuada, fá-lo para dar força a pedidos para as suas vidas. Nós, os híper-civilizados saturados de sofisticação, prestamos homenagem a uma idealização de término para a abreviarmos e escaparmos ao aborrecimento ou a dores, desconfortos ou contrariedades mais intensos. Aqui na minha vizinhança, vejo pintados pelas paredes ditos como «make a change, kill yourself». É a distância que vai da heresia popular e iletrada ao niilismo capado de que ainda somos capazes, ao ponto de ver Beleza na alegoria do fim terreno, que só a comportará, possivelmente, por confronto com as carantonhas horrendas adequadas a simbolizar os espasmos e pulsões do Ocidente contemporâneo.
A Morte e as Máscaras, de James Ensor
O culto da Santa Morte, é uma tradição enraízada no incosciente colectivo dos mexicanos, tenho grandes dúvidas que apelidá-la de blasfemia contribua para a sua irradicação. Se esse misticismo ancestral floresce agora por entre os quarteis da droga, é porque estes conhecem bem a massa humana que têm nas mãos. Seria bom que a Igreja em vez de adjectivar sem resolver, lidasse com o fenomeno de forma menos "teórica"..., mas isto sou eu a falar que tenho horror a estas práticas que me põem os cabelos em pé!
ResponderEliminarBeijinho Querido Paulo
Glorificar a morte numa sociedade mortal para muitos dos vivos. Não se trata de religião mas de laicismo travestido de oração herége.
ResponderEliminarCada um pode fazer o que quiser, ou o que pode, no caso da eutanásia, o desejo do "conforto" por uma morte "light" é a expressão visível de quem nasceu mas não soube viver as contingências da própria vida.
a confusão entre a vida e a morte é de todos como quando se culpa Deus por ter deixado que pessoas desaparecessem
ResponderEliminarQuerida Ariel,
ResponderEliminara Santa Madre Igreja, na Sua imensa Sabedoria, é conhecida por aproveitar as formas de religiosidade popular enraizadas, cristianizando-as. Mas só quando tal seja possível, o que não é o caso da exaltação da Morte, dentro de uma Mensagem que aponta para a Vida. E a Teoria é a mãe de todas as práticas que contam...
Meu Caro João,
justamente, a tónica não é de pôr no poder, mas no querer. E a Indisponibilidade para o Sofrimento, por nele nada se ver que sentido faça, é a via rápida para a nulificação de uma Dignidade transcendente mas própria do Homem, até estes tempos deprimentes de regressão.
Meu Caro Rudolfo,
não encontro como discordar, mas essa é uma fraqueza humana, enquanto que o confucionismo que obscurece será um mergulho no infra-humano. No mundo pagão também um princípio vital de Eros andava em aproximações ao seu contrário, Thanatos, mas isso foi antes da Revelação da Eternidade.
Beijinho e abraços