Três Nascimentos Interligados a 24 de Junho

2 A. C. — Nascimento de S. João Baptista.
1128 — Nascimento de Portugal, Batalha de S. Mamede.
1360 — Nascimento de D. Nuno Álvares Pereira / S. Nuno de Santa Maria.

Bota abaixo!


Os tapumes escondem o atentado. Um prédio de habitação colectiva da autoria do arquitecto modernista Cassiano Branco, datado dos anos 30 do século passado, localizado na esquina da Av. Almirante Reis com a Praça João do Rio, em Lisboa, cuja demolição integral a Câmara de Lisboa proibira, impondo a manutenção da fachada, foi quase todo destruído antes de a obra ter sido embargada.É mais um lamentável caso de destruição do património arquitectónico da capital, que autoridades locais nada parecem conseguir fazer para evitar.

Chefes de Portugal

“Grandes Chefes da História de Portugal”, publicado pela Texto Editores, é um trabalho de mérito que abre novos caminhos na investigação histórica no nosso país. Coordenado por Ernesto Castro Leal, professor e investigador de História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e José Pedro Zúquete, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, traz-nos uma perspectiva nova, numa abordagem diferente, de importantes figuras da nossa História.


Até um apaixonado pela História – como eu, que a escolhi como área de formação – dificilmente consegue suportar os “complexos histórico-geográficos” e “socioeconómicos” da historiografia marxista. Esta predilecção pelo papel das “massas” como “motor da História” impregnou o ensino com as consequências que sabemos. Afastou o grande público desta matéria tão importante para nos conhecermos enquanto Povo e só recentemente começámos a livrar-nos desse modelo.
O regresso da História narrativa e biográfica voltou a despertar nos portugueses o interesse pelo seu passado comum e pelos homens que construíram. Prova disso é o aumento exponencial de títulos disponíveis e as suas vendas expressivas.

“Grandes Chefes da História de Portugal” tem um título chamativo para o público, que o entende à primeira sem necessidade de explicações, e incómodo para os quadrilheiros do politicamente correcto. Sempre ciosos do seu ‘index’ de palavras proibidas, estes últimos consideram “chefe” como algo ultrapassado, quando não perigoso. Mas, como é explicado na Introdução, “a interpretação que os organizadores deste volume dão à palavra ‘chefe’ é neutra. Embora a palavra tenha sido apropriada, quer pela direita (como factor positivo), quer pela esquerda (como denunciação e crítica), neste volume ela é vista essencialmente como um instrumento analítico para ajudar à compreensão de dinâmicas históricas em Portugal”. É, de facto, o que acontece. Não se espere aqui um álbum de cromos com os heróis da Pátria.

Este é um trabalho original, que junta diversos académicos, que se expressam num registo acessível, que abre novas portas à investigação. Em entrevista a O DIABO, Ernesto Castro Leal explicou o objectivo da obra: “Pretendeu-se que os diversos autores, a partir de um chefe (individual, colectivo ou imaginário) com qualidades paradigmáticas, abordassem os tempos históricos concatenados à acção dos chefes. Não há dúvida que, pela abordagem pioneira de alguns chefes ou pela reinterpretação de outros chefes, com base em novos modelos de análise, este livro é um ‘lugar funcional de memória’ historiográfica com muita novidade, algumas análises surpreendentes e caminhos abertos para continuar.”

A crítica fácil seria questionar a escolha deste ou de aquele “chefe”, apontando supostas “faltas”. É claro que há “faltas”, nomeadamente daqueles que gostaríamos de ver tratados. Mas essa é talvez uma das maiores virtudes deste trabalho, porque garante uma continuação.

Aqui podemos encontrar capítulos dedicados a “chefes” que esperávamos, como o de José Almeida sobre Viriato. No entanto, este está longe de ser uma entrada enciclopédica ou um exercício laudatório. Trata-se, pelo contrário, de um exemplo de “investigação de ponta”, como o considerou Ernesto de Castro Leal, na apresentação do livro em Lisboa. Também D. Nuno Álvares Pereira é apontado como o “Chefe Militar”, por João Gouveia Monteiro, e São Francisco Xavier como o “Chefe Jesuíta”, por António Júlio Trigueiros.

Da mesma forma, encontramos “chefes” que nunca nos ocorreriam, como é o caso da própria Constituição, considerada como “chefe” por Paulo Ferreira da Cunha. Outros casos que demonstram originalidade de escolha e novidade dos temas são Pêro da Covilhã, considerado o “Chefe Aventureiro”, por António dos Santos Ventura, ou os capítulos dedicados ao “Chefe Luso-brasileiro” ou à “Chefe Feminista”, por exemplo.

Outros casos que merecem destaque são os do “Chefe na Extrema-Direita”, onde Riccardo Marchi analisa uma área política que tanto necessita de um chefe, mas que nunca o encontrou verdadeiramente. Também o capítulo dedicado a João de Castro Osório, o “Chefe Fascista”, da autoria de Eduardo Cintra Torres, aborda uma figura ainda muito desconhecida entre nós. O capítulo sobre Franco Nogueira, naturalmente escolhido como “Chefe Diplomático” por Bruno Cardoso Reis, apresenta uma abordagem interessante sobre o papel do Embaixador.

O livro conclui com o excelente texto de José Pedro Zúquete, dedicado ao “Chefe Imaginário”, sobre o Sebastianismo em Portugal. Uma análise cuidada que termina com uma reflexão muito importante: “Reconhecer o contributo histórico do Sebastianismo não é cair no sentimentalismo fácil. Pelo contrário. É fazer o mais difícil. É pensar Portugal como um todo, em vez de o pensar de costas voltadas, seja para a razão, seja para o mito.”

Homenagem


Intervenções:
Duarte Branquinho - "Uma vida de combatente"
Humberto Nuno de Oliveira - "Historiador sem amarras"

Um retrato que é toda uma biografia

 
Retrato do Poeta Fernando Pessoa, 1954
JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS (1893 — 1970)
Óleo sobre Tela, 200 x 200 cm
Câmara Municipal de Lisboa / Museu da Cidade
(em exposição na Casa Fernando Pessoa, Lisboa).

10 de Junho — Dia de Portugal


Retirei do baú este autocolante que usei — do alto dos meus 14 anos — na primeira manifestação do 10 de Junho em que participei. Fui sozinho. Juntei-me à concentração no Largo do Príncipe Real e incorporei-me no desfile até à Praça dos Restauradores. Num e noutro lugar ouvi inflamados e inflamantes discursos de jovens fascinantes figuras da Cultura Nacional. Nesse mesmo ano fundei o NEM — Núcleo de Estudantes Monárquicos (do Liceu Nacional de D. Filipa de Lencastre) e, a partir daí, passei a estar nos 10 de Junho e nos 1.º de Dezembro à cabeça do referido núcleo liceal, até 1985. Bons tempos.

Livros decorativos


Continuando no tema do post anterior, é para mim inconcebível que alguém ache bem ter em casa uma "biblioteca" de lombadas. É uma falta de respeito, até por si próprio, para além de ser totalmente estúpido. Talvez não seja de estranhar, num país em que tão pouco se lê, mas onde tanta gente fala do que não leu...

A este assunto dediquei, no início do ano, um editorial intitulado "Os livros enforcados", onde afirmei: "Bibliófilo confesso, para além de leitor ávido, um livro para mim não vale apenas pelo seu conteúdo, mas também enquanto objecto. Não compreendo, por isso, os que usam livros como decoração."

Momentos Decisivos

Faz hoje um ano que inaugurei a exposição Foto-Síntese.
Aproveito a ocasião para revelar que voltarei a apresentar-me com um novo projecto  na magnífica Sala do Veado do Museu Nacional de História Natural e da Ciência em Julho de 2014.

Diálogo bibliófilo


— Li há tempos uma notícia sobre a compra de livros para decoração no Brasil. Não é uma novidade, bem sei, mas falavam em encadernações de papel em branco ou revistas velhas que se vendiam para o efeito. Perante isto, uma decoradora, supostamente reputada, aconselhava a que fossem usados livros verdadeiros. Aqui também há disso? — perguntou o bibliófilo.

— Livros a metro? Há que tempos! Mas não são essas falsificações. De qualquer modo, não são para ler... — respondeu o alfarrabista.

— É pá! Custa-me sempre ouvir essas coisas. Aconteceu-lhe alguma? — lançou o bibliófilo, esperando uma daquelas histórias que os livreiros têm sempre prontas a contar.

— Uma vez vendi uma série de livros com belas encadernações para decorar a sala do conselho de administração de um banco. Aquilo era grande e faltava preencher as últimas prateleiras. Como não tinha mais encadernados, sugeri as obras completas de Lenine e Marx. — revelou com um sorriso de escárnio.

— E eles aceitaram?

— Sim, sem qualquer problema. Disseram-me apenas que ficavam lá em cima.

— Belos capitalistas! — exclamou o bibliófilo, rindo.

Argentina: 4 de Junho de 1943



Há exactos setenta anos – 4 de Junho de 1943 – um golpe militar em Buenos Aires dá início a um processo histórico que, três anos mais tarde, vai levar Juan Domingo Perón ao poder. Pensado e executado a partir do GOU – Grupo de Oficiales Unidos, organização que reúne militares nacionalistas, i. e., anti-liberais e anti-marxistas, o movimento castrense estabelece um governo que será chefiado por uma sucessão de generais: Arturo Rawson, Pedro Ramírez e Edelmiro Farrell.  É este último que nomeia um Coronel Perón para uma função de direcção num modesto Departamento Nacional del Trabajo, encarregado de assuntos laborais e sindicais. Pouco depois, o enorme prestígio granjeado pelo coronel junto à massa trabalhadora obriga a transformação do pequeno organismo em Secretaría de Trabajo y Previsión. Em 1945 Perón, já todo-poderoso no mundo do trabalho, acumula os cargos de Ministro da Guerra e Vice-Presidente da República. A 10 de Outubro do mesmo ano é obrigado a demitir-se; a 13 é preso e a 17, por imparável pressão e mobilização popular que culmina com uma greve geral, é posto em liberdade. Conduzido à sede do Governo, é da varanda da Casa Rosada que irá pronunciar o primeiro de muitos discursos. Neste quente fim de tarde de 17 de Outubro de 1945 nasce o Movimento Peronista. Nas eleições de 24 de Fevereiro de 1946 Perón, já General na reserva, recebe 52% dos sufrágios. Toma posse a 4 de Junho de 1946.  O resto já se sabe...