Empregada modelo


Cristina Kirchner em amena cavaqueira com o patrão George Soros.  Já sabemos quem é que mais ordena...

Caldo de Cultura (XXVI)


Finalmente os Jovens voltaram a almoçar no sítio do costume. Ao Marcos, ao João e ao Duarte juntaram-se dois amigos convidados, mas só os três é que levaram livros, como é hábito. O desafio está, assim, novamente lançado  quem levou o quê?

Fogo fátuo

Há filmes excelentes e "Oslo, 31 de Agosto" é um deles. É por isso que vale a pena partilhar aqui o que escrevi na edição desta semana de «O Diabo» sobre esta pérola cinematográfica vinda da Noruega.


O escritor francês Pierre Drieu la Rochelle foi por muitos condenado à lista dos “malditos”, pelas suas ideias políticas. No entanto, o seu extraordinário talento conseguiu derrubar muitas barreiras e ultrapassar a intolerância dos que se consideram donos da verdade. Talvez por isso só este ano é que a sua obra foi publicada na prestigiada biblioteca da Pléiade. Em 1931, publicou “Le feu follet”, um romance inspirado no suicídio do seu amigo Jacques Rigaut, um escritor dadaísta toxicómano. A obra seria passada ao cinema em 1963 por Louis Malle, que a adaptou à época e na qual o protagonista, interpretado por Maurice Ronet, era alcoólico.

Em entrevista, Joachim Trier disse que chegou até ao livro de Drieu depois de ver o filme de Malle. Daí veio a ideia de transpor a história para a Oslo dos nossos dias. O resultado foi impressionante.

Anders é um toxicodependente que está internado numa clínica de recuperação. No último dia de Agosto é autorizado a sair por um dia para ir a Oslo a uma entrevista de emprego numa revista. Neste regresso à cidade, que também é um regresso ao seu passado, vai encontrar-se com os amigos e locais dos quais se tinha afastado.

A sobriedade mostra-lhe a realidade como ela é. Algo que está longe de ser bom e uma das razões que o levaram ao abuso de drogas e álcool.

Anders tem 34 anos e sente que nada fez na vida e que nada tem a fazer. As experiências dos amigos que reencontra apenas confirmam as suas intenções. O mundo que ele redescobre nada tem para lhe oferecer. A única solução é partir.

Nesta denúncia da vacuidade do mundo em que vive, há duas cenas memoráveis e extremamente bem conseguidas. Uma é o monólogo interior no qual Anders descreve os seus pais e a forma “aberta” como foi educado. Outra é quando está sozinho num café e ouve as conversas fúteis que pairam à sua volta. Momentos para reflectirmos...

O último dia da vida de Anders é a revolta solitária contra o mundo pós-moderno.

Gauchada 2

Gauchada 1


Na Argentina, companheira de Portugal nesta extraordinária gesta que é o suicídio colectivo ou nacional, presenciei, em Dezembro de 2001, a fúria das manifestações de indignados com o "estado a que aquilo havia chegado". Estivemos à beira de uma guerra civil, com direito a mortos, feridos e vandalismo a correr solto. Quase furaram-me os tímpanos os gritos de "que se vayan todos", endereçados à classe pulhítica em bloco, a qual devia ser corrida para não mais voltar.  Bem recordo as legiões de alucinados que martelavam as portas dos bancos a jurar que nunca mais depositariam um só cêntimo. Passou o tempo e nenhum dos pulhíticos foi para casa. Os depósitos nos bancos espoliadores não pararam de aumentar. Bravata mais, bravata menos, tudo permanece o mesmo, com o país a descer acelerada e alegremente o plano inclinado da desintegração. Aperta-me o coração dizê-lo mas vamos exactamente na mesma direcção, conclusão lógica de um processo iniciado há trinta e oito anos.

O Fim Da Macacada

O Dr. Passos garante que não são «cegos nem surdos» e, porque o fez discursando, sequer mudos, numa imitação sem chama dos três Macacos Sábios do Santuário de Toschogu. Imaginando que não usa o plural majestático, é de presumir que se refira também aos Colegas Relvas e Gaspar. Mas a mensagem original fica completamente subvertida: onde os cultuados bichos do Japão faziam profissão de fé de não verem, ouvirem e repetirem o Mal, este e os anteriores (des)governos já demonstraram sobejamente só ter olhos, ouvidos e língua para ele: os precedentes desbaratando recursos, os actuais fazendo insensivelmente morrer da cura muitos dos que a doença não despachou.
Claro que o PM se referia à manifestação. Considerando a agonia socrática e a fraqueza correntemente assumida perante a Rua, está bom de ver que o Poder já caiu nela, embora num sentido diverso do da passagem de testemunho de Marcello a Spínola, por fingir conviver com a aparente mediação de uns restos de executivo. As pessoas começam a perceber que sempre que dão um voto se vêm a desiludir. Esperemos pelo momento em que se capacitem de que o alvo a abater não é um ou outro clube, mas o próprio regime que nos rebaixa. E lhe venham a dar o caminho da tal Rua, a que se dizem tão receptivos...

Rebordo Ortográfico

Doravante, em Português corrente, tss tss passa a dizer-se e a escrever-se TSU TSU
                                             A Sedução das Palavras, de Allan Lissner

Truques de Cartolas

A princípio pensei que fosse uma nova taxa moderadora. E, no caso dos divórcios, por muita paz podre que pudesse eternizar, a ideia até me seria simpática, na medida dos imensos rompimentos decididos com ligeireza que dificultaria. Mas, depois, li o resto. E, afinal, é mais do mesmo, mera tentativa de recolher adicional arame para equilibrar contas e se aguentarem na caminhada noutro. O tiro sairá pela culatra, como aconteceu já com os impostos, cuja receita diminuiu, em consequência do aumento da percentagem da tributação. Num país em que era preciso estimular o surgimento de empresas, incrementa-se é, pelo volume de taxas, os obstáculos que têm de enfrentar. O propalado feitiço revela-se, afinal, mero truque de ilusionismo, como ilusão maior é a benignidade da escolha de executivos com base em listas cozinhadas nos bastidores partidários, quando não em aglomerações mais inconfessáveis. Abraca(l)dabra!

Odor di Femina

A Igreja Copta, pelas contingências hostis em que se move, inspira-me uma simpatia que aqui deixei expressa logo nos alvores da Primavera Árabe que mudou o Egipto. Todavia, defende doutrinas muito estranhas à tradição religiosa em que nos fizemos, como a veneração de Pilatos como Santo, achando que ele tinha feito muito, onde por cá se pensa ter feito demasiado pouco. No caso do papiro tardio que referiria a Mulher de Jesus, todo o background gnóstico é notório, mas parece-me curteza de vistas acreditar que os objectivos se cingiriam à reivindicação do sacerdócio para as Mulheres. Tenta ser mais, legitimando a interpretação da união carnal de Cristo, abre-se espaço para a mais que conhecida mi(s)tificação que identificaria o Santo Graal com a eventual Descendência do Senhor, desvalorizando, concomitantemente, o dogma da Presença Real na Consagração do Vinho litúrgica. E, last but not the least, despromoveria o papel de Nossa Senhora, Odiada por tantos progressistas e feministas como Referência Ideal Eclesiástica do Belo Sexo, no duplo enfoque de Mãe Protectora e da Concepção pelo Espírito Santo, apesar de o parto de uma virgem ser um antiquíssimo arquétipo de religiosidades várias, impulso reiterado e natural antes de ser confirmado pela Encarnação. Não creio que este epifenómeno das heterodoxias contestatárias e desvirtuadoras tenha pés para andar, muito menos no que resta de um País tão Mariano qual o nosso.
                                                 O Santo Graal, de Dante Gabriel Rossetti

O(s) Espírito(s) das Finanças

Parece-me importante sublinhar uma linha de análise que supere a interpretação seca e infecunda dando os elogios do Ministro Gaspar aos manifestantes contra si como mera revivescência da ladainha do "civismo e da expressão ordeira das divergências". Não que o Governante seja masoquista, mas agitar o fantasma da contestação aos seus patrões da Troika, começando pelo Amigo Shäuble, pode bem render umas condições um tudo nada melhores na caridade a juros com que nos puxam os cordelinhos. Faz assim juz ao nome que partilha com o célebre Gasparzinho, mas bom será que os opositores de rua se não deixem enganar - enquanto a luta for apenas da boca para fora, permanecerão na iminência de serem comidos...

Eu Já Vi Este Filme

Corre por aí fora a imagem do beijo que a Jovem Adriana Xavier pespegou num elemento da Polícia de Intervenção. Como a Menina é toda "pensamentos bons e afectividade", mais do que de «BEIJOS ROUBADOS, procura-se uma nova versão de «A BELA E O MONSTRO, em que este, substituindo a paixão do original pelo embaraço, se prestaria, por via da exibição de uma impassibilidade superiormente forçada, a sublinhar o odioso de um corporação votada a reprimir. Eu, porém, dei tratos ao miolo e descobri uma referência artística muito mais ajustável a fonte da coisa: veja-se, La Belle Dame Sans Merci, de Sir Frank Dicksee, não é muito mais coincidente? E se os meus Leitores bem recordam a história, cantada no poema de Keats, a beijoqueira visava adormecer o cavaleiro... Que este se mostrasse em êxtase e o agente policial o contenha mais não é do que a vantagem de trabalhar por conta própria.

Entretanto, a Assembleia da República antecipou eventuais moções inúteis, para expressar a sua desconfiança quanto à relação de poder privilegiada entre o Dr. Passos e o Ministro Relvas - exibe, com estrépito, «O GEBO E A SOMBRA»!

Sete Cavaleiros

A trilogia dos “Sete Cavaleiros” juntou dois grandes talentos: um grande romancista, Jean Raspail, e um grande autor de Banda Desenhada, Jacques Terpant. O resultado não podia ser melhor e os álbuns, de extraordinária qualidade e beleza, transportam-nos para um mundo trágico que é uma alegoria ao nosso.

Jean Raspail é um grande romancista francês e autor de uma extensa obra. Foi também explorador e viajou durante trinta anos conhecendo pequenas civilizações em vias de desaparecer. A sua obra mais famosa e mais polémica foi “Le Camp des Saints”, que seria traduzido e publicado em Portugal pelas Publicações Europa-América, em 1977, com o título “Mortos: 200 Milhões - Todos Nós”. Publicado em 1973, em França, o livro foi uma verdadeira bomba incendiária. De uma qualidade literária indiscutível, versava sobre um tema polémico e provocou um intenso debate. Esta parábola sobre o futuro da Europa, na qual um milhão de pobres vindos do terceiro mundo desembarcavam nas costas francesas, alterando com a sua invasão pacífica toda uma civilização, foi considerada “racista” pelos sectores do costume e viria a revelar-se verdadeiramente profética. Depois de vários anos sem ser publicado, o livro foi recentemente reeditado, alcançando um êxito de vendas considerável. Numa entrevista recente, Raspail afirmou que sabe muito bem o que é uma civilização que vai desaparecer e que esta “se deve defender antes de desaparecer”.

A história agora vertida à Nona Arte é retirada do seu romance “Sete cavaleiros deixaram a cidade ao crepúsculo pela porta do Oeste que já não estava guardada”, publicado em 1993.

Jacques Terpant, é um ilustrador, pintor e autor de Banda Desenhada, conhecido pelas séries “Messara”, passada na Antiguidade, e “Piratas”, publicada pela Casterman. Os “Sete Cavaleiros” valeram-lhe o Prémio Saint-Michel para o Melhor Desenho, em Bruxelas, no ano passado.

O primeiro volume da trilogia dos “Sete Cavaleiros” foi publicado em 2008 pelas edições Robert Laffont, mas como considerou o próprio Jacques Terpant estes “reveleram-se como totalmente incompetentes na sua difusão”. Tal motivou a mudança para a Delcourt que, no ano seguinte, reeditou o primeiro tomo, com oito páginas suplementares ilustradas com notas complementares sobre “O Mundo dos Sete Cavaleiros”, publicou o segundo, intitulado “O preço do Sangue”. Em 2010 a saga era concluída com a saída do último tomo, “A ponte de Sépharée”.

Como o título da obra original indica, a história é a de sete cavaleiros que deixam a cidade do Margrave hereditário que outrora foi próspera e pacífica, mas que agora está ameaçada. Este punhado de homens, bastantes diferentes e simbólicos, mas unidos entre si na disciplina, na fé e na preservação do seu reino, tem como missão encontrar a soberana herdeira, a Margravina Myriam. Na sua senda, vão encontrar resistentes isolados e fiéis aos costumes antigos, bem como várias ameaças tanto internas como externas, já que “do outro lado das montanhas” está quem avança para destruir e conquistar a sua civilização. Uma sociedade europeia moribunda que depende destes homens, movidos apenas pela esperança e pelo sentido do dever. Como afirmou Terpant, “a cidade do Margrave hereditário é ao mesmo tempo tangível e imaginária, um reino que pode ser no fim do século XIX, nos confins da Europa e da Ásia, uma Sildávia de Jean Raspail”.

Tudo se passa num cenário maravilhosamente construído pelo talento e cuidado de Jacques Terpant, que dá uma atenção extraordinária ao pormenor, conferindo aos álbuns uma riqueza gráfica impressionante. Nota para um pormenor curioso, a ilustração do Margrave hereditário é feita a partir do próprio Jean Raspail. Uma bela homenagem a um autor de referência.

A união destes dois raros talentos produziu uma obra-prima. Felizmente, não se ficou por aqui. No ano passado saiu “Oktavius”, o primeiro dos quatro volumes da série “Os Reinos de Bóreas”, baseado no romance homónimo de Raspail, publicado em 2003 e traduzido e editado entre nós pelas Publicações Europa-América, em 2005. Aguardemos a continuação deste óptimo encontro.

Um Fim

Faleceu Santiago Carrillo.  Também a mim incomoda que a morte faça, por fariseísmo e conveniência, dos recém-desaparecidos uns anjos sem mácula.  Mas concordo em que o termo das andanças por cá não constitui o momento de lembrar a pior faceta do que nos deixa. Assim, não falarei das responsabilidades directas que lhe são imputáveis nas matanças de Paracuellos, como não cairei em tecer loas ao Eurocomunismo que, com Berlinguer, inventou, por me não ser fácil admirar os Marcellos Caetanos de muitos entreguismos, mesmo quando frustrem as esperanças de quadrantes opostos ao meu.
Procurei um pouco de Bem que pudesse dizer do Político Espanhol. E lembrei-me da cena que em mim ficou gravada, desde a adolescência, a de um dos únicos três membros da classe política que permaneceram de pé, quando o grande Tejero de Molina deu uns tirinhos nas Cortes, sendo os outros Adolfo Suarez e o General Gutiérrez Mellado.
No pano de fundo dos poltrões de todas as cores que marcharam para o chão protegido das respectivas bancadas parlamentares, foi digno ver Alguém, como as árvores, disposto a morrer de pé.  É o mais longe que consigo ir.
A imagem é Árvore Morta, de Susan Grisell

Emagrecimento ou Anorexia?

Se eu achasse que, em sistemas eleiçoeiros, as declarações dos políticos têm mais substância do que a de agradar à audiência que lhes calhe, desde que potencialmente votante, angustiar-me-ia com as declarações do candidato Republicano à Presidência dos EUA, Mitt Romney, dizendo que quase metade dos eleitores se vê como vítimas e está convicta de que deve ser ajudada pelo Estado, «nõo assumindo as suas responsabilidades». O caso é tanto mais estranho porquanto, na sua governação do Massachusetts, o autor do desabafo edificou um arremedo de sistema de saúde público, clamando contra os excessos dos puristas do não-intervencionismo. E alinhou, compreensível mas incoerentemente, com os apoiantes do resgate a bancos à beira da falência, para evitar as convulsões maiores do pânico dos depositantes. Apesar de movimentos populares das bases do Partido lhe torcerem o nariz, ninguém o olhou como aos liberais do Governo que nos aperta, os quais se querem ver livres de toda e mais alguma actividade estatal, sobretudo se lucrativa, mas, concomitantemente, aumentam os impostos! A meu ver, a coisa é simples: se o Estado se demite das funções a que nos habituou, tem de arranjar, muito bem arranjadinha, uma razão para continuar a existir. E inverter os papéis da vítima e do agressor é um demagógico truque oratório que não compensa pelo apreço de pequenas audiências a desconfiança das grandes massas (em sentido outro que o da concentração de riqueza). A levá-lo a sério, seria referida às arbitrariedades da demissão do Poder e não à iniciativa individual que passaria a entender-se a famosa citação de um dos próceres da teorização clássica do Mercado e da Concorrência:

Praça das Preocupações


Se me dissessem que eu acabaria a comentar o trânsito, daria o preditor de tão improvável facto como um doido varrrido. Mas tenho por líquido que o dever de um bloguista, como o de um entrevistado segundo Chesterton, é comentar todos os assuntos de que saiba algo, como aqueles de que perceba coisa nenhuma, E, assim, aventuro-me. Sabendo pela própria boca do Dr.Costa & Colaboradores que previam, no mínimo, maus começos para as voltas duplicadas à Rotunda, assaltou-me uma dúvida que não me parece de rejeitar liminarmente: não teria a republicaníssima edilidade tido em mente prestar um tributo ao local em que numa madrugada triste de 1910 nasceu a forma de Estado em que exulta? Talvez o melhor meio fosse construir a partir do nada, mas, encontrando-se o lugar ocupado por uma quase irremovível bolacha e os orçamentos entrevados pela míngua de cheta, aproveitar uns arruamentos para criar outro círculo, vicioso ao menos pela indexação ao primeiro, é capaz de ter surgido como uma saída. E a memória do entrincheiramento sobreleva a anunciada devoção à mobilidade... De resto, que importa a autarcas convencidos do seu génio que os munícipes automobilizados e os condutores das adjacências sejam usados como cobaias? Afinal, estamos no sítio em que, desde que atiraram para lá o monumento ao Ministro de D. José, a memória dele, pelo anti-jesuitismo e centralização, os deixa com a cabeça a andar à roda!

Cuzados do Delírio

Fazer um filme gratuitamente ofensivo de uma religião é a publicidade mais barata e certeira a que hoje se pode recorrer, pelo que pouca vontade tenho de abordar o pretexto cinematográfico dos atentados e manifestações que, pelo universo Islâmico, se vêm sucedendo, em desafronta a Maomé. O que me importa mais é chamar a atenção para o facto de só nas mentes que o odeiam o Ocidente, por conveniência do desforço, este não ser visto como decaindo sem remissão: ao imaginar um gregarismo vibrante que fizesse o todo conivente com a parte ínfima que congeminou esta fita, os sangrentos ou vocais desafrontadores do Profeta dão a imagem mais irrealista de um hemisfério hostilmente coerente em que cada cabeça não pensa para seu lado, ou seja, o contrário do que constatamos em redor de nós.
É uma concepção delirante que nem na reacção à película encontra sustentação: sem qualquer animosidade, o próprio Governo Alemão se pôs e dispôs a discutir o que fazer com a obra, quando, a um poder menos complexado, nada competiria salvo assegurar que a exibição das imagens não perturbasse a ordem pública. Quanto ao movimento político Pro Deutschland, que, na minha imensa ignorância, de todo desconhecia, de igual forna resvala para o declínio geral, ao fazer tábua rasa da História, na vertente da aliança privilegiada que o passado Nacionalista germânico estabeleceu com líderes da Comunidade Maometana, a começar pelo Grande Mufti de Jerusalém. Ninguém escapa. Será preciso ser primário para assegurar vitalidade?
Achei sugestivo ilustrar com Vingança, de Jogoku Dayu

As Cores do Paquiderme

Cesse o entusiasmo com o que a multidão canta! É, por certo, bom ver que as Pessoas tentam vencer a apatia que as trouxe à fossa onde se agitam. Mas indignarem-se em desfile contra o Governo troikado, por se assemelhar demasiado aos protestos contra o Socratismo em estado terminal, a breve trecho revelará ser este mar de gente triste e coerentemente assimilável às marés que, ciclo após ciclo, enchem e vazam, trazendo mais do mesmo. Só uma verdadeira conjugação de actos que rompa com o carrossel dos partidos na barraca da governação obviará à irrelevância dos protestos emblematizados por bombas de fumo, os quais não passam de fumaça, talvez pelo muito que todos estejamos a fumegar. De igual modo, a importação da macabra tendência para atear-se fogo como protesto é duplamente lúgubre: não é preciso tanto literalismo para sublinhar que todos estamos a arder e tem o perigo de, desviando as atenções, nem chamuscar mais um naipe de políticos doutra forma sobejamente queimados.
O problema reside em o revezamento rotineiro das facções encartadas no Poder ter vindo progressivamente a assentar no consenso sem senso de que a População é o verdadeiro elefante branco, custoso de manter e, fora das cabinas de voto, inútill aos mandantes. Um caso de Daltonismo de enciclopédia, porque, desgraçadamente, o que vamos sendo é um gigantesco elefante cor-de-rosa, congeminado pelas mentes diminuídas de uma classe política ébria de coerção inclemente e incapaz de reparar que o contínuo abuso da autoridade, mais do que a escondida ilegitimidade dela, a desautorizou de todo. Compete à justa medida da nossa revolta conduzir os protagonistas e cúmplices desta tirania à persistente ressaca que se chama RESPONSABILIDADE.
A imagem é O Rejuvenescimento do Elefante Branco, de Velika Janceva

Do Sagrado ao Sacrílego

Ontem, na Sic Notícias, Maria de Belém Roseira chamava correctamente a atenção para um discurso em 1962, de Veiga de Macedo, Ministro das Corporações de Salazar, onde se reiterava a impossibilidade de afectar os descontos dos Trabalhadores para a Previdência a qualquer outro fim, por «ser sagrado esse dinheiro ganho por eles com o seu suor».
É de louvar a perscrutação do Passado, para reanimar noções consensuais sob fogo cerrado das sanguessugas ministeriais que chupam os menos defendidos, com objectivos de equilíbrio financeiro. Mas a coerência manda que enderecemos o olhar ainda mais para trás, para abarcarmos plenamente a razão da insensibilidade governativa do sistema ao que parecia adquirido como intocável. Nada como as palavras de um Papa do Século XV, Eneas Silvio Piccolomini (futuro Pio II), que, antes de ascender ao Trono Pontifício, já pontificava; «Nas repúblicas não se respeita a honra..., mas o lucro. Debaixo de um governo popular nada é sagrado ou santo». Está explicada a empresa de Gaspar & Cª

Este País Não é Para Velhos

Uma traumatizante razão biográfica faz com que em mim constate, passados 22 anos, alguma antipatia persistente para com a Dr.ª Manuela Ferreira Leite. O que não me impede de com ela estar em total e absoluta concordância quando denuncia como logro intolerável a infame diminuição das retribuições dos Pensionistas que descontaram uma vida inteira na esperança cada vez mais infirmada de escaparem à miséria. A insensibilidade imbecil destes governantes escolhidos pelo Povo traz-me à lembrança uma história que já contei na blogosfera, a do ancião da Grécia Antiga que procurava inutilmente lugar nas bancadas do recinto onde os jogos se disputavam, até que chegou à parte ocupada pela claque Espartana, onde todos os jovens e muitos dos de meia idade se levantaram para lhe dar o lugar, perante a ovação dos demais espectadores. Terá então exclamado o Beneficiário: «Todos os Helenos conhecem o Bem, mas só os Lacedemónios o praticam!». Da mesma forma, os ocupantes do Poder em funções, sempre cheios de boas palavras para com a dignificação da Terceira Idade, mas sonegando os meios que permitam concretizá-la, ao menos um poucochinho. Temo que seja mais que incompetência aliada a voracidade fiscal: pressinto neles uma raiva inconsciente contra a maior longevidade, que faz mal às Finanças, com os cofres públicos a gastarem mais e deixando nas ruas da amargura a Segurança Social. Pode ser que um dia uma sucessão vingadora os prive das benesses de que espoliaram os outros. Mas isso não me alegra, pela abrangência fatal das tributações que não permite isolar os responsáveis. Resta a hipótese de ao terrível peso da secura dos muitos anos virem a juntar a tortura de algum remorso redentor capaz de os fazer entender que velhos são os trapos é adágio bem contrário à estulta (ainda que abafada) conclusão "os velhos são trapos". Para que ao menos tenham ideia da lastimável condição dos Gerontes, penosa mesmo para os que amealharem do poleiro para o Futuro, fica a genialidade comovedora de Jacques Brel, com «LES VIEUX»:
Les vieux ne parlent plus ou alors seulement parfois du bout des yeux Même riches ils sont pauvres, ils n´ont plus d´illusions et n´ont qu´un cœur pour deux Chez eux ça sent le thym, le propre, la lavande et le verbe d´antan Que l´on vive à Paris on vit tous en province quand on vit trop longtemps Est-ce d´avoir trop ri que leur voix se lézarde quand ils parlent d´hier Et d´avoir trop pleuré que des larmes encore leur perlent aux paupières? Et s´ils tremblent un peu est-ce de voir vieillir la pendule d´argent Qui ronronne au salon, qui dit oui qui dit non, qui dit : je vous attends? Les vieux ne rêvent plus, leurs livres s´ensommeillent, leurs pianos sont fermés Le petit chat est mort, le muscat du dimanche ne les fait plus chanter Les vieux ne bougent plus, leurs gestes ont trop de rides, leur monde est trop petit Du lit à la fenêtre, puis du lit au fauteuil et puis du lit au lit Et s´ils sortent encore bras dessus, bras dessous, tout habillés de raide C´est pour suivre au soleil l´enterrement d´un plus vieux, l´enterrement d´une plus laide Et le temps d´un sanglot, oublier toute une heure la pendule d´argent Qui ronronne au salon, qui dit oui qui dit non, et puis qui les attend Les vieux ne meurent pasils s´endorment un jour et dorment trop longtemps Ils se tiennent la main, ils ont peur de se perdre et se perdent pourtant Et l´autre reste là, le meilleur ou le pire, le doux ou le sévère Cela n´importe pas, celui des deux qui reste se retrouve en enfer Vous le verrez peut-être, vous la verrez parfois en pluie et en chagrin Traverser le présent en s´excusant déjà de n´être pas plus loin Et fuir devant vous une dernière fois la pendule d´argent Qui ronronne au salon, qui dit oui qui dit non, qui leur dit : je t´attends Qui ronronne au salon, qui dit oui qui dit non et puis qui nous attend.

As Tintas da História

Alegorias do Mau e do Bom Governo, pelos Irmãos Lorenzetti: o primeiro traduzido na divisão das facções e dos partidos, orientado pela Avareza, o Orgulho e a Vã glória da Vanglória:

Em contrapartida, o ideal, em falta, aquele exercido por um Rei informado pela Sabedoria, a Justiça e a Concórdia:
Não, não foi um documento do Portugal de Hoje, apenas um retrato da Florença e Siena dos Sécs. XIII-XIV. Mas inequivocamente premonitório do que temos de suportar hic et nunc. Nada há de novo debaixo do Sol!

Choque de civilizações


Publicado em 2009 pelas edições Chronique, “Chronique du choc des civilisations” (Crónica do Choque das Civilizações), em formato de álbum e profusamente ilustrado, mostra-nos como dos atentados de 11 de Setembro de 2001 à crise dos mercados financeiros em 2008 a História conheceu uma extraordinária aceleração. A emergência de uma China com ambições planetárias, a expansão do islamismo radical, a revolta dos povo latino-americanos e o regresso da potencia russa fez nascer um mundo multipolar. O livro propõe uma análise dos maiores acontecimentos geopolíticos mais recentes à luz da continuidade histórica. Chauprade propõe uma “grelha de leitura” do mundo actual e das suas fracturas.

Em 2011 saiu uma segunda edição revista e aumentada que vai até às recentes revoluções árabes, passando também pelos despertares africanos, o desafio migratório mundial e o fim de Osama Bin Laden, enriquecendo esta obra essencial para compreender o nosso mundo e as lutas implacáveis das relações internacionais.

Ideias incorrectas

O caso é praticamente desconhecido fora de França. Em 2009, Aymeric Chauprade, um eminente geopolitólogo, foi afastado das suas funções docentes na Escola de Guerra por razões políticas, depois de ter publicado um livro onde refere algumas teorias que contestam a versão oficial do 11 de Setembro.


Doutorado em Ciência Política, Aymeric Chauprade é um geopolitólogo francês, discípulo de François Thual, responsável pelo nascimento de uma “nova escola” de Geopolítica em França. Ao longo da sua carreira tem publicado diversas obras, colaborado em várias revistas, sendo director da “Revue française de géopolitique”, e ensinado em várias universidades. Entre 1999 e 2009 foi professor no Collège interarmées de defense (CID), a antiga Escola de Guerra, até ser afastado pelo que escreveu.

No seu livro “Chronique du choc des civilisations”, Chauprade dedica um capítulo aos diferentes argumentos e teorias que contestam a versão oficial dos atentados de 11 de Setembro. Na sequência, jornalista Jean Guisnel publica um artigo no jornal “Le Point” criticando-o pelo que escreveu e duvidando da sua autoridade científica. Na sequência desta “denúncia”, o ministro da Defesa, Hervé Morin, decidiu afastar Chauprade do CID. Era a altura do segundo Governo de François Fillon e a França alterara a sua postura internacional para um atlantismo pró-EUA. Chauprade apresentou queixa contra o jornal e o ministro e o tribunal acabou por dar-lhe razão. Para além de vencer a batalha judicial, Chauprade contou sempre com o apoio dos seus alunos e mesmo do director do CID durante a controvérsia, que afirmaram que ele “nunca havia feito proselitismo nas aulas”.

Mesmo assim, o caso não deixa de ser uma mancha num sistema democrático, onde um ministro decidiu cercear a liberdade de um professor e investigador reputado.

Foram Eles...


A vida, dificultada pelas más acções dos eleitos, traz à mole dos eleitores a depressiva raiva, por terem sido enganados. Estranho é que seja uma tomada de consciência hiperselectiva e sem critério, apenas incidindo sobre políticas específicas, exceptuando da premente conclusão a sempre impingida «bondade do regime».  Um despertar consequente deveria trazer às pessoas a noção de que, tendo sido enganadas por tantos e por tanto tempo, elas, votantes, são completamente incompetentes para, dentro das peias em que as prendem, optar. Mas culpar-se a si, está quieto! E assim, numa fuga para a frente da cegueira da fé no sistema, histericamernte espernearão até que, introduzindo a papeleta,  com alegria se precipitem na próxima burla, quais otários impenitentes.
A imagem é a do castigo do Orgulho, nos frescos de O Juízo Final, na Catedral de Santa Cecília, em Albi, Autor desconhecido.  

Do Meio ao Fim

Prossegue em bom ritmo a demolição do Hotel Atlântico, sobre o Paredão, a alturas do Monte Estoril. Um indubitável mamarracho que, contudo, me deixa saudades pelo hábito de o ver lá. Preferiria que deixasssem desimpedidas as vistas para o mar dos chalets do outro lado da Marginal, mas o projecto do Arquitecto Paciência parece-me irrecusável melhoria estética. Só que há a História. E essa é a de décadas a fio integrando o charme estorilense, com as crónicas da função de quartel-general da espionagem Alemã à mistura e a lenda da passagem subterrânea desembocando no mar para recolher os passageiros das balsas que os submarinos largavam...
Quando envelhecemos, a cada derrubado alvo, ex-certeza da tranquila confiança que nos trazia pontos de referência repousantes, é um bocadinho de nós que morre, para lá das retóricas. Até que cheguemos à idade em que olhemos com indiferença e sem pena os desaparecimentos que pressintamos como guardas-avançadas dos nosso.

Karmas e Varões Assinalados

Dos noticiários às comunicações oficiais, tudo nos relembra que fomos arrastados para uma dança, da modalidade macabra, para mais. A dimensão dela, todavia, só nos é dada pelas leis da oferta e da procura, numa conjugação com a sensibilidade Feminina - a outrora pujantíssima actividade em torno dos varões encontra-se pelas ruas da amargura, em preços de saldo, sem ao menos a desculpa do aumento do IVA para 23%:
Na massa, entendida por Gentes como por Valores, isto é que vai uma crise, pura e dura! Estamos fadados para constatar que não há já Varões como antigamente!

Ó da Guarda!

A verdade dói muito, ao ponto de se não suportar a sátira. Os nossos Colegas do «Estado Sentido» reproduziram a pantomina do funeral da Pátria que fez o Poder moribundo manifestar-se no pouco que lhe resta, demitindo uma alta patente da força policial que carrega no nome o opróbrio da República, com a justificação ridícula de não ter impedido subordinados seus de participarem na encenação.
Mais do que a ultra-sensibilidade à flor da pele incapaz de conviver com a evidência de estar iminente para os seus restos mortais um lindo enterro, este estrebuchar é uma tentativa patética de prova de vida por um morto vivo que confunde a (co)acção com vitalidade, quando somente exterioriza um estertor. Nem paz se pode desejar a uma alma que não existe. Mas a Justiça não exigiria aos participantes no cortejo fúnebre verdadeiro que a todos nos toca uma retirada mais radical  ainda do que a imposta aos responsáveis pela sua representação humorística?
A imagem sombria é Enterro de Verão, de Ross Braught 

A Maralha de Adriano

Sem prévia intenção, sigo a entrevista de Adriano Moreira à RTP1. Poucas pessoas vi concitando juízos tão díspares entre os observadores do Poder e tão unânimes entre os detentores dele na vigência que nos desola. Aqui, apareceu nas roupagens de Elder Statesman, com a consequência tanto mais eficaz quanto pouco ostensiva de despromover, por comparação, os actores da vida pública em torno de si. Falou de dois «muros», ou de duas «quedas» deles, a propósito da revelação que teriam sido, para ele, o contacto com a legislação colonial em vigor, mas largamente herdada de sistemas anteriores, e os mecanismos de discussão nos areópagos das sociedades eleiçoeiras. Mas o essencial não esteve nessas derrubadas muralhas metafóricas, antes na clivagem pela qualidade que estabelece entre si e os outros. Com os próceres abrilísticos a coisa era relativamente fácil. Mas, abordando Salazar, debitou mais do mesmo, com maior subtileza aparente e banalidade substancial - insinuou, em paralelo com os velhos lugares comuns camuflados pela memorialística da proximidade, que o Presidente do Conselho não se retirara a tempo e que o seu maior defeito seria ser um homem... fora do seu Tempo.
Faz-me espécie como um Homem inteligente consegue encarreirar com os que consideram um defeito tentar moldar a sua época à concepção intemporal do Bem que perfilhem, em vez de se adaptarem às conformações coevas. Mas nisso se resume grande parte da solução do "enigma" do Entrevistado e da sua adesão ao sistema partidocrático. A razão mais funda, todavia, dever-se-á encontrar na conjugação com a anuência acrítica às pontuais posições da Igreja, lamentando a independência sem hostilidade dos Fiéis que isentam a Política da submissão exaustiva ao Ofício de apascentar as ovelhas. É uma suprema incompreensão, caso não seja hostilidade premeditada: se a Santa Madre garante a sua Dimensão à custa dos aggiornamentos no que lhe não parece essencial, a Governação por critérios diversos do oportunismo implica a aposta do tudo ou nada que não transija com o inaceitável, ainda que momentaneamente forte e dominante. Nessa medida, é em desdenhados por Adriano, apesar dos seus invulgares trato e capacidade intelectual, que se refugia a honra dos homens públicos, a superioridade que não quer ou não pode reconhecer.
A imagem é A Deriva (Drift) da Memória, de Richard Baxter. Também quadraria bem o título Portugal.

O Meu Setembrismo

Num dos seus melhores momentos, Woody Allen deu-nos Setembro como um «mês estranho». Porventura o será, pela ressaca das digressões estivais ainda presentes suficientemente para não engrenarmos por completo no frenesi sem chama das rotinas impostas nas metrópoles actuais & suas periferias. Para quem, como eu, não é receptivo aos hábitos dos veraneantes a sublinhar o calor em traços grossos revela-se um alívio. Mas penso, com melancolia, nas Crianças e Adolescentes de hoje, privadas da fruição inteira desse mês que, no meu tempo, integrava por completo as Férias Grandes e hoje lhes é parcialmente sonegado às ditas, "encolhidas". A civilização estava em conviver de novo com os Amigos de sempre, retornados cheios de descobertas para a troca, após o Agosto das migrações, sem a ameaça escolar impendendo sobre nós. E em voltar a comer o marisco evitado nos meses sem R. Como em tornar a ver futebol, com plantéis definidos há muito e a certeza de largar a aprendizagem que importava, voltando à opressão do ensino enquadrado, só bem entrados em Outubro. Foi um Mundo que se perdeu. Resta pois a volta ao Passado com a ajuda inestimável do inimitável Gilbert Bécaud.


Les oliviers baissent les bras
Les raisins rougissent du nez
Et le sable est devenu froid
Oh blanc soleil
Maitres baigneurs et saisonniers
Retournent à leurs vrais métiers
Et les santons seront sculptés
Avant Noël

C'est en septembre
Quand les voiliers sont dévoilés
Et que la plage, tremblent sous l'ombre
D'un automne débronzé
C'est en septembre
Que l'on peut vivre pour de vrai

En été mon pays à moi
En été c'est n'importe quoi
Les caravanes le camping-gaz
Au grand soleil
La grande foire aux illusions
Les slips trop courts, les shorts trop longs
Les hollandaises et leurs melons
De cavaillon

C'est en septembre
Quand l'été remet ses souliers
Et que la plage est comme un ventre
Que personne n'a touché
C'est en septembre
Que mon pays peut respirer

Pays de mes jeunes années
Là où mon père est enterré
Mon école était chauffée
Au grand soleil
Au mois de mai, moi je m'en vais
Et je te laisse aux étrangers
Pour aller faire l'étranger moi-même
Sous d'autres ciels

Mais en septembre
Quand je reviens où je suis né
Et que ma plage me reconnaît
Ouvre des bras de fiancée
C'est en septembre
Que je me fais la bonne année