As Cores do Paquiderme

Cesse o entusiasmo com o que a multidão canta! É, por certo, bom ver que as Pessoas tentam vencer a apatia que as trouxe à fossa onde se agitam. Mas indignarem-se em desfile contra o Governo troikado, por se assemelhar demasiado aos protestos contra o Socratismo em estado terminal, a breve trecho revelará ser este mar de gente triste e coerentemente assimilável às marés que, ciclo após ciclo, enchem e vazam, trazendo mais do mesmo. Só uma verdadeira conjugação de actos que rompa com o carrossel dos partidos na barraca da governação obviará à irrelevância dos protestos emblematizados por bombas de fumo, os quais não passam de fumaça, talvez pelo muito que todos estejamos a fumegar. De igual modo, a importação da macabra tendência para atear-se fogo como protesto é duplamente lúgubre: não é preciso tanto literalismo para sublinhar que todos estamos a arder e tem o perigo de, desviando as atenções, nem chamuscar mais um naipe de políticos doutra forma sobejamente queimados.
O problema reside em o revezamento rotineiro das facções encartadas no Poder ter vindo progressivamente a assentar no consenso sem senso de que a População é o verdadeiro elefante branco, custoso de manter e, fora das cabinas de voto, inútill aos mandantes. Um caso de Daltonismo de enciclopédia, porque, desgraçadamente, o que vamos sendo é um gigantesco elefante cor-de-rosa, congeminado pelas mentes diminuídas de uma classe política ébria de coerção inclemente e incapaz de reparar que o contínuo abuso da autoridade, mais do que a escondida ilegitimidade dela, a desautorizou de todo. Compete à justa medida da nossa revolta conduzir os protagonistas e cúmplices desta tirania à persistente ressaca que se chama RESPONSABILIDADE.
A imagem é O Rejuvenescimento do Elefante Branco, de Velika Janceva

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