Um Fim

Faleceu Santiago Carrillo.  Também a mim incomoda que a morte faça, por fariseísmo e conveniência, dos recém-desaparecidos uns anjos sem mácula.  Mas concordo em que o termo das andanças por cá não constitui o momento de lembrar a pior faceta do que nos deixa. Assim, não falarei das responsabilidades directas que lhe são imputáveis nas matanças de Paracuellos, como não cairei em tecer loas ao Eurocomunismo que, com Berlinguer, inventou, por me não ser fácil admirar os Marcellos Caetanos de muitos entreguismos, mesmo quando frustrem as esperanças de quadrantes opostos ao meu.
Procurei um pouco de Bem que pudesse dizer do Político Espanhol. E lembrei-me da cena que em mim ficou gravada, desde a adolescência, a de um dos únicos três membros da classe política que permaneceram de pé, quando o grande Tejero de Molina deu uns tirinhos nas Cortes, sendo os outros Adolfo Suarez e o General Gutiérrez Mellado.
No pano de fundo dos poltrões de todas as cores que marcharam para o chão protegido das respectivas bancadas parlamentares, foi digno ver Alguém, como as árvores, disposto a morrer de pé.  É o mais longe que consigo ir.
A imagem é Árvore Morta, de Susan Grisell

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