Pragas do Egipto

Decorrendo as revoluções contra o Poder Legítimo, o Tradicional, são o próprio Crime por antonomásia. Não admira, portanto, que deflagradas para demolirem qualquer outro regime, sejam arvoradas em referencial de legitimidade para uma multidão de delitos miseráveis. Os relatores assombrados pela superstição do progresso tentam desculpar os assassínios com o calor da refrega, bem como os latrocínios expropriatórios com a legitimidade revolucionária e a programática restruturação social. O que lhes escapa de todo é a pilhagem pura e dura que acompanha por norma os tumultos e a oportunidade aproveitada por ladrões mais antigos no ramo, os profissionais.Todos nos lembramos do saque dos museus de Bagdad, na queda de Saddam. Agora repete-se a história, sendo a curiosidade maior a de o alvo ter residido em objectos preciosos pretensamente protegidos pela mais célebre das maldições. Espera-se que a ameaça de Tutankhamon sobre os violadores dos seus despojos não haja sido desactivada, desde os anos em que os expedicionários que os desenterraram com a desculpa da Ciência foram misteriosamente dizimados. O que, contudo, aqui mais gostaria de frisar é o desafio presente na nova profanação, como que uma adição mais na inversão de valores do gigantesco motim. Ou de como um crime comum, na inscrição da irracionalidade dos povos, pode ter o seu significado político, substituindo pela exposição aos fétiches de novas interpretações religiosas e ao seu oposto, o do consumismo estrangeiro, a sobrenatural protecção dos seus Maiores.
A fotografia é do explorador Carter indicando o lugar do túmulo do Faraó.

6 comentários:

  1. É incrível como o movimento revolucionário legitima quase tudo, por si, não tanto pelos objectivos com que se apresenta, como se a sua natureza não pudesse ser atacada por causa de um qualquer entrave ideológico em que vivemos. O Público fazia capa com as garrafais "Egipto livre". Livre de alguma ordem que, bem ou mal, era a sua. Há-de agora haver alguém que lhe decida o destino, pela importância económica e geoestratégica.

    Um abraço

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  2. Compare-se o 28 de maio de 1926 com a abrilada de 25 de 74... Um par de horas é suficiente para saber se o novo poder está nas mãos de Senhores ou de delinquentes.
    Abraço amigo.

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  3. Ao lado de Carter é o Rei Farouk?

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  4. Meu Caro Afonso Miguel,
    é precisamente esse um dos meus pontos: quando passei pelos bancos da faculdade ensinaram-me um brocardo que rezava assim: «quem pode o mais pode o menos». Ora, os prevaricadores, vendo impune e festejado o delito maior da destruição da Legitimidade (ou simplesmente de uma ordem estabelecida, como aqui), sentem-se, evidentemente, libertos para as suas próprias e subsidiárias tropelias. Para além de a polícia estar ocupada, claro.

    Se não um pouco antes, Meu Caro Marcos, que até à Marcha sobre Lisboa de 1926 os delinquentes estavam, claramente, no Poder.

    Viva, Caro Luís Bonifácio!
    Foi a primeira coisa que pensei, a figura e o fez assemelhavam-se...
    Mas como a foto é de 1923 e o Soberano nasceu em 1920...
    Um Amigo meu, Egiptólogo Amador, diz-me que deve ser o Conservador do Museu do Cairo. Sem compromisso.
    Abraços

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  5. Então deve ser o Pai. O Rei Fuad I

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  6. Também pensei nisso, Caro Luís, mas confesso que não tenho presente a compleição desse Membro da Dinastia.
    À cautela, vou investigar na net.
    Abraço

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