Falhanço TOTAL

Na sequência de um comentário de Anónimo Leitor em que se enaltecia a disponibilidade positiva da Mocidade Portuguesa para participar no esforço do Todo, confrontada com a animosidade desagregadora das ervas daninhas plantadas no Rossio, trago-Vos um folheto ainda mais raro que o da notícia da constituição da Acção Escolar de Vanguarda, a organização com que o Salazarismo aproveitou o ímpeto revolucionário das juventudes mais cativadas pelo apelo mobilizador desse Nacional-Sindicalismo que pretendia proscrever.
É texto interessante por mostrar perspectiva de um totalitarismo possível, passe a contradição nos termos, face a uma separação das águas institucionais e ideológicas do Consulado em vigor. Pretende-se, numa espécie de Gramscismo às avessas, juntar o que os autores chamam de resolução do problema cultural às do financeiro, do económico, do social e do político, que considera estarem em vias de consecução pelo Governo. Cultural é entendido numa acepção de Universitário e pretende absorver ideologicamente aquele ensino, uma postura que Salazar, quer por presidir a regime de coalizão, quer por ser alheio ao domínio de um ideário participativo, como ainda por vir duma regência assolada por perseguições de pólo oposto, não poderia perfilhar. A linha por ele preconizada assentaria nuns serviços mínimos de controlo, com afastamento de uns poucos casos limite de oposição aberta e sabotadora, que não da apropriação unilateral das consciências.

Lê-se lá:
Dentro da atmosfera do Estado Novo ela tem de ser nacionalista e não internacionalista; corporativista e não liberalista; organicista e não democrática. Tem que ser uma Universidade nova, com horizontes novos, porque é dentro do Estado Novo que actua, e para servir a Nação através dele.
É curioso notar a espontaneidade com que, noutro passo da brochura, se proclama dever o regime encarnar um Estado de tendências totalitárias, submetendo o Ensino Superior às suas directrizes ideológicas e, por outro lado, se ataca a formação especulativa, em prol do fortalecimento de competências técnicas, o que parecendo contraditório com o próprio labor de doutrinação, se pode explicar por uma audiência mais receptiva que à época, um semelhante discurso desfrutaria nas áreas de Ciências e Engenharias, para além de um desfasamento entre as perspectivas de progressão profissional nesses campos e no das Letras, tomado havia muito por defensores das ideias pela nova Geração rejeitadas.
Resultado da pressão? A breve trecho o Sistema, reagindo, extinguiu este agrupamento que ele próprio tinha criado e edificou a Mocidade Portuguesa, num esquema educativo sem concessões a veleidades de condução orientadora...

2 comentários:

  1. O meu avô foi um dos totalitários do livro
    Rudolfo Moreira

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  2. O meu Tio Augusto, Primo Direito do meu Pai, também integrou o agrupamento.

    Abraço, Meu Caro Rudolfo

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