Vidas Paralelas

No Dia do Combatente, enveredo pela lembrança das duas últimas Guerras que Portugal travou, a Grande de 1914-1918 e a do Ultramar, nas décadas de 1960-1970. E admiro simbolicamente os pontos de contacto entre dois Mártires desses conflitos, o Francês Ernest Psichari e o nosso José Carlos Godinho Ferreira de Almeida. Aquele vitimado no primeiro mês do conflito que seria mundial, o Outro o primeiro Oficial Português tombado na defesa de uma Nação multi-continental, num estúpido acidente de Jeep, na Guiné.Ambos eram Familiares de Escritores de nomeada, Um, Neto de Renan, o Segundo, Sobrinho-Neto do Herói Colonial e Publicista de Mérito General João de Almeida. Os Dois eram Católicos Fervorosos sobre quem, muito embora, influíra a doutrinação indomável de Maurras. Cada Qual tinha louvado o papel da Vida Militar e do Exercício como possibilidades de superação das desvantagens física e anímica com que, por vezes, se chega aos primeiros tempos da Idade Adulta, o Gaulês no «Apelo às Armas», o Nosso Patrício num texto de juventude. Semelhantes na Qualidade Intelectual, trate-se do Escritor Aclamado em França, ou do Brilhante Jurista Luso recém-formado que já garantira uma regência universitária. Iguais foram no voluntariado para postos difíceis, fossem a aridez ou o perigo. Da mesma forma caíram por não se furtarem à exposição, num caso tentando socorrer o comandante ferido, nestoutro recusando ser emprateleirado numa qualquer repartição que O afastasse da zona de maior risco, nela mergulhando com os Seus Camaradas de Cavalaria 7. Debruçando-me agora só sobre o Compatriota, há que prestar homenagem a Quem não quis impugnar um recrutamento incorrecto, para se não furtar à provação a que estavam sujeitos tantos dos Seus Coevos. Isto num País em que os esquemas para "se safar" eram das mais transversais preocupações constatadas, desde os empenhos junto de gente bem colocada, ao atravessamento da fronteira a salto. Pela honorabilidade impositiva da Conduta, como pela Esperança abruptamente cortada no cumprimento do Dever, não admira que algumas das Notabilidades do Estado Novo, como Amigos sinceros de áreas diferentes, se reunissem no tributo de um «In Memoriam» que merecia maior difusão do que a que teve: Para quem, como eu, neto de Combatente do confronto em que faleceu Psichari, acredita que Os que arriscam a pele pelos Seus são, necessariamente, superiores aos que a põem matreiramente a salvo, esta hora só pode ser de gratidão, mesmo que uma desgostante falta de talento na escrita não permita dar a medida certa da Grandeza do(s) Tema(s). Peço que relevem a intenção.

12 comentários:

  1. Caríssimo Amigo Paulo:

    Eis um Postal de Antologia.

    Recebe um Forte Abraço.

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  2. Homenagens mais que merecidas.

    Nunca é tarde para louvar o Supremo Sacrifício de uns poucos.

    Valham-nos os bons exemplos.

    Grande Abraço,

    Luís Afonso

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  3. De Cavalaria 7? Então pertenceu ao mesmo Regimento de que o meu saudoso Tio foi sub-comandante, à data do 25A...

    Ab

    Tiago Santos

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  4. Do Psichari conheço a relação que teve com o deserto a fazer lembrar S. João Baptista
    Rudolfo Moreira

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  5. Já agora, aproveito para dizer que o meu Querido e Saudoso Pai também foi Oficial Miliciano em Cavalaria 7 na década de 50. Curiosamente, Ele e os meus dois Tios, o que, ao que sei, lhes confere o record de Irmãos (3) a servirem simultaneamente como Oficiais Milicianos num mesmo Regimento em Portugal.
    Saudações a Todos os Tertuliantaes!

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  6. Pois eu acho-o muito pouco merecedor de beneficiar da descoberta dos negritos, Meu Caro João.

    Meu Caro Luís Afonso,
    se a Guerra tem du bon, é justamente hierarquizar os Homens pela forma como respondem a tal situação excepcional. Mas quando uma comunidade deixa de, hélas, em bloco, Os honrar, está auto-condenada.

    Meu Caro Tiago,
    ocorreu-me precisamente esse facto, ao redigir. Espero que Te haja avivado boas Memórias.

    Meu Caro Rudolfo,
    não deixa de ser curioso que o Avô Dele, Renan, haja escrito que o «Deserto é monoteísta e nele o Neto tenha tido a experiência tão reflexiva como mística que o conduziu à Religião, tendo de vencer as vistas paternas, provação que não viveu o nosso José de Almeida.
    Mas o Próprio definiu lapidarmente o silêncio como «um pouco de céu que desce sobre o homem».

    Ah, mas foram então Contemporâneos? Isso deve ser Caso Único, Amigo João.

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  7. Caríssimo

    Avivou, sim...Tenho-me perguntado como reagiria Ele aos vergonhosos acontecimentos que temos testemunhado nos útlimos tempos, e que já se repercutem além-fronteiras!

    Ab
    Tiago Santos

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  8. Bem, meu Caro Tiago, como foi Ele o Único que procurou reagir contra a génese desvairada deles...
    Pena que poucos mais tenham feito a sua parte.

    Abraço

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  9. É. Isso, pelo menos, ninguém lhe tira!

    Ab

    Tiago Santos

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  10. Paulo, é sempre uma lição.
    Inolvidável.

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  11. Querida Maggie,
    lição deram-nos Os Que Se sacrificaram.

    Beijinho grato

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