Mário Vargas Llosa, possivelmente com a melhor das intenções, veio comparar a redacção abreviada e a ortografia mutilada de certa Juventude em rede à escrita dos símios. Parece disparate pegado, pois, a propósito, ataca a Internet em bloco, quando, por exemplo, a blogosfera se presta à atitude oposta, a da disponibilização de textos mais articulados. Se em ambientes como o do Twitter a pecha está mais presente, parece que a origem bicéfala da tal pressa comunicante radica nas mensagens SMS, quer por poupança, quer por imagem de marca de rebeldia contra a norma, como propósito de identificação etária.
Mas é um depoimento infeliz a outro título - na teoria das probabilidades baptizou-se de «Teorema dos Macacos Infinitos» a especulação de que, diante de teclados, num número infindável desses primatas, ou nalguns dispondo de tempo sem fim, um, eventualmente, acabaria por poder produzir um texto coerente, por exemplo o «Hamlet». É possível, mas já não tem transposição aceitável, considerada a relutância perante os clássicos dos seres que usam os tais códigos simplificadores...
É o fim da macacada, Caro Amigo...
ResponderEliminarAinda lembro de um estudo linguistico sobre os frequentadores da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, e que demonstrava a pobreza quantitativa do seu vocabulário, quando comparado com o esquema de comunicação utilizado pelos chimpanzés do Gabão.
Forte abraço!
Meu Caro Marcos,
ResponderEliminarsem dúvida, o léxico não é famoso. Mas fazem gala de truncar as palavras, como sinal exterior de leveza...
Abraço
Caríssimo Paulo - essa dos macacos é o tema de um conto do Mário de Carvalho, 'O Nó Estatístico', em «A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho» (1983) - só que o Macaco, chamado Golo, escreve um texto que começa «Menina e Moça me levaram de casa de meus pais...». Parece que o Vargas Llosa está um bocado desactualizado.
ResponderEliminarUm enorme abraço
Helena
Querida Helena,
ResponderEliminarMário de Carvalho, Que, muitos anos atrás, tive a honra de entrevistar, é, para mim, a Prosa mais atractivamente completa da actualidade nas letras lusas.
Pois, o Prémio Nobel usou uma figura de estilo infeliz, quase a lembrar as metáforas dos nossos políticos, que costumam tender para a completa miséria. Mas num escritor laureado é mais grave. Para além do mais, a inteligibilidade pelo público não é facilitada: sendo a condição simiesca normalmente associada à imitação, os visados, como grupo, pretendem marcar uma diferença, apesar de decalcarem a forma uns os outros.
Acresce que já houve voga de detecção de tendências criativas na macacada, embora no campo da Pintura, principalmente: exposições de obras de chimpanzés, estudos por Desmond Morris dos respectivos impulsos artísticos... Enfim, MVL deveria, no mínimo, ter acrescentado "sem ofensa para os macacos". Olhe se um dia ele vem a habitar uma distopia como a do «Planeta...» daqueles!
Beijinho