Não espero nada do governo que vai tomar posse. Ou melhor, aguardo a mesma dose de mediocridade e indecência. A maior parte dos seus membros está comprometida com o sistema: um modelo hemiplégico, zarolho e antinacional, onde circula a mentira como moeda corrente. Isto não vai lá com remendos, boas vontades ou revisões da Constituição. Plus ça change, plus c'est la même chose ou pior. O novo Sócrates anda há lustros a cheirar a política gorda, sem assombrar aliás nem pelo saber nem pela erudição.
Os comentadores, à esquerda e à direita, já apalparam os novos ministros, escabichando-os com a gula de quem esvazia pernas de lagosta. Puseram a nu parentelas ignotas e hábitos desconhecidos. O costume. Não quero estender-me por aí.
Uma coisa devo confessar, porém. Anunciados os governantes, entrou de me luzir logo o nome de dois ou três deles. Sim, há dois ou três que, há pouco, fui acolchetando na minha admiração íntima. Um caso raro nestas fornadas sucessivas de cavalgaduras que a república tem alimentado com forragem e feno do orçamento de Estado.
Há dois ou três (milagre!) que se não autolegitimam pelo antifascismo e que são até acusados de inexperientes por não terem alinhado, ao largo de 40 anos bem puxados, nas mais disparatadas ideias socialistas e marxistas.
Nuno Crato tem catado as palermices e os vícios da Educação em Portugal, numa observância perscrutadora. Em obras como O «Eduquês» em Discurso Directo (Gradiva, Lisboa, 2006) denuncia certeiramente a influência nefasta das tretas pedagógicas e construtivistas: as teorias românticas, o "ensino centrado no aluno" (e que se limita a ensinar as matérias de que as crianças gostam), a auto-aprendizagem, o laxismo, a desvalorização do conhecimento em favor da aquisição de «competências». Com tais ideias espúrias, pretendiam decerto os "cientistas da educação" que as crianças viessem das escolas com o cérebro pingue, como quem sai de uma ceva. Pelo contrário, conduziram os alunos à ignorância e ao analfabetismo. Querer hoje que os alunos dominem a língua materna é pelos modos atestado de caturreira de reaccionário, de gramaticão embrulhado no chambre caricatural do Tolentino. Possa o novo ministro acudir ao desastre com as ideias claras que defendeu publicamente nos últimos anos.
Os comentadores, à esquerda e à direita, já apalparam os novos ministros, escabichando-os com a gula de quem esvazia pernas de lagosta. Puseram a nu parentelas ignotas e hábitos desconhecidos. O costume. Não quero estender-me por aí.
Uma coisa devo confessar, porém. Anunciados os governantes, entrou de me luzir logo o nome de dois ou três deles. Sim, há dois ou três que, há pouco, fui acolchetando na minha admiração íntima. Um caso raro nestas fornadas sucessivas de cavalgaduras que a república tem alimentado com forragem e feno do orçamento de Estado.
Há dois ou três (milagre!) que se não autolegitimam pelo antifascismo e que são até acusados de inexperientes por não terem alinhado, ao largo de 40 anos bem puxados, nas mais disparatadas ideias socialistas e marxistas.
Nuno Crato tem catado as palermices e os vícios da Educação em Portugal, numa observância perscrutadora. Em obras como O «Eduquês» em Discurso Directo (Gradiva, Lisboa, 2006) denuncia certeiramente a influência nefasta das tretas pedagógicas e construtivistas: as teorias românticas, o "ensino centrado no aluno" (e que se limita a ensinar as matérias de que as crianças gostam), a auto-aprendizagem, o laxismo, a desvalorização do conhecimento em favor da aquisição de «competências». Com tais ideias espúrias, pretendiam decerto os "cientistas da educação" que as crianças viessem das escolas com o cérebro pingue, como quem sai de uma ceva. Pelo contrário, conduziram os alunos à ignorância e ao analfabetismo. Querer hoje que os alunos dominem a língua materna é pelos modos atestado de caturreira de reaccionário, de gramaticão embrulhado no chambre caricatural do Tolentino. Possa o novo ministro acudir ao desastre com as ideias claras que defendeu publicamente nos últimos anos.
O novo governo junta na mesma pasta a Agricultura e o Ambiente.
O bloguista Álvaro Santos Pereira vai sobraçar a pasta da Economia, Obras Públicas e Emprego. Professor da Simon Fraser University, no Canadá, afastado assim do chorrilho de interesses do sistema, tem provado com gráficos precisos e explicações claras que o actual regime, também do ponto de vista económico e financeiro, é uma nódoa entranhada. No livro Portugal, Na Hora da Verdade (Gradiva, Lisboa, 2011), que li recentemente, demonstra que o único período da nossa história recente em que na verdade convergimos com a Europa foi o do Estado Novo, época em que fomos desempobrecendo face aos demais países europeus: «Entre 1953 e 1973, o PIB per capita nacional cresceu a uma taxa média de 5,5% por ano. Em comparação, durante o mesmo período (conhecido como período de ouro do crescimento europeu), a economia europeia cresceu à taxa anual de 3,6% e a economia mundial, em média, à de 2,9%.» (ob. cit., p. 19); «Os primeiros anos da ditadura foram dedicados à estabilização económica e financeira do país, e menos ao crescimento económico. Porém, a partir do final dos anos 1950, Portugal industrializou-se e, assim, alcançou taxas de crescimento económico habitualmente reservadas aos milagres económicos.» (ob. cit., p. 30)
Sem papas na língua nem receio de meter-se em fofas, Santos Pereira afoita-se na explicação do desastre: «(…) efectuámos uma descolonização que poucos beneficiou e muitos prejudicou (inclusive os novos países independentes), e tivemos de suportar os exageros revolucionários de uma minoria que ambicionava instaurar um novo regime autoritário (agora de ideologia comunista ou socialista) no nosso país.» (ob. cit., p. 30)
Sobre a política do camartelo e betão, assevera ele em tom crítico: «Tudo o que é passível de ser inaugurado é bem-vindo pelos novos fontistas. Quando se pretende a modernização da economia nacional, constroem-se auto-estradas e mais auto-estradas.» (ob. cit., p. 46) E acerca da regionalização, estatui: «(…) só vai criar mais burocracia, mais compadrio, mais clientelismo, mais favorecimentos pessoais, e ainda mais Estado num Estado já demasiado pesado e omnipresente.» (ob. cit., p. 522)
É dos poucos economistas que se preocupam com o declínio da natalidade, propondo incentivos e medidas sérias para inverter a tendência. Não é meu correligionário, isso não. Mantenho uma distância profiláctica em relação às suas propostas sobre imigração e outros assuntos, mas é um tipo desempoeirado, bem escovado do pó dos estatismos, sem currículo antifascista e a quem reconheço algum mérito.
Há, pois, no novo governo dois ou três titulares a quem posso apertar a mão, apesar das divergências. Pode ser que a mudança signifique o fim de carreira para aqueles progressistas assanhados que, há 40 anos, com assinalável sacrifício pessoal, vieram da Rive Gauche para nos "desenvolver" e "democratizar" — e nos deixaram falidos e mal pagos. Só isto, na hora negra que passa, já é de celebrar.
Sem papas na língua nem receio de meter-se em fofas, Santos Pereira afoita-se na explicação do desastre: «(…) efectuámos uma descolonização que poucos beneficiou e muitos prejudicou (inclusive os novos países independentes), e tivemos de suportar os exageros revolucionários de uma minoria que ambicionava instaurar um novo regime autoritário (agora de ideologia comunista ou socialista) no nosso país.» (ob. cit., p. 30)
Sobre a política do camartelo e betão, assevera ele em tom crítico: «Tudo o que é passível de ser inaugurado é bem-vindo pelos novos fontistas. Quando se pretende a modernização da economia nacional, constroem-se auto-estradas e mais auto-estradas.» (ob. cit., p. 46) E acerca da regionalização, estatui: «(…) só vai criar mais burocracia, mais compadrio, mais clientelismo, mais favorecimentos pessoais, e ainda mais Estado num Estado já demasiado pesado e omnipresente.» (ob. cit., p. 522)
É dos poucos economistas que se preocupam com o declínio da natalidade, propondo incentivos e medidas sérias para inverter a tendência. Não é meu correligionário, isso não. Mantenho uma distância profiláctica em relação às suas propostas sobre imigração e outros assuntos, mas é um tipo desempoeirado, bem escovado do pó dos estatismos, sem currículo antifascista e a quem reconheço algum mérito.
Há, pois, no novo governo dois ou três titulares a quem posso apertar a mão, apesar das divergências. Pode ser que a mudança signifique o fim de carreira para aqueles progressistas assanhados que, há 40 anos, com assinalável sacrifício pessoal, vieram da Rive Gauche para nos "desenvolver" e "democratizar" — e nos deixaram falidos e mal pagos. Só isto, na hora negra que passa, já é de celebrar.
Ó Bruno, mas, pela imagem, o novo elenco faz Ambiente com uma Cultura que não sei se será agri mas é sobremaneira doce.
ResponderEliminarAbraço
Uma excelente análise, com direito a "piquena" e tudo. Partilho as opiniões do Bruno. Apesar de o governo mudar mais na forma do que no conteúdo, há algumas escolhas que me deixam curioso. Veremos! Abraço.
ResponderEliminarUma análise de fôlego e de rebimba o malho! Bravo, Confrade Bruno!
ResponderEliminarAbraço!