Directo ao Fim

A Morte Tocando Imaginária Guitarra, de Chet Zar
A questão da legalização da Eutanásia não é a que me importa aqui. As opiniões sobre a pretensa bondade de uma morte antecipada artificialmente dependerão das concepções da Dignidade Humana que situem esta na resistência e na resignação, ou, ao invés, na fuga ao sofrimento ou à decadência. Se creio que qualquer Católico deve tentar resistir à tentação da desesperança e da comodidade, admito que o Estado laicizado conceda essa facilidade a candidatos ao passamento que possam exprimir uma vontade actual e consciente nesse sentido.
O problema da exploração televisiva da filmagem do fim induzido de Peter Smedley é bem outro que o da mera propaganda de uma posição sobre tema fracturante, reforçada com uma aura de alívio que esteriliza o halo do sacrifício, já que a libertação pretensamente obtida se rege por um critério que não é, em primeira linha, altruísta, embora secundariamente o possa ser, na vertente de poupar a Família e os Amigos aos embaraços e penalizações do acompanhamento. O que aqui sobreleva é o triunfo do Espectáculo sobre a Verdade, com a excitação propiciada pelo anúncio de um directo, quando o acontecimento registado se deu vai para seis meses. E, em época de crise, com o unto prestigioso dos milhões, sejam os das audiências cativadas, ou os dos bolsos do Finado, numa execranda exploração dos piores instintos de voyeurisme, aqueles que assentam no inconsciente conforto da constatação de os milionários também morrerem e penarem, nem notando que a eleição do caso para transmissão é, ela própria, uma gritante proclamação da desigualdade, em prejuízo de qualquer pobre diabo que, vivendo dramas da mesma natureza, não tivesse onde cair morto.

4 comentários:

  1. Absolutamente! Nem consigo perceber a argumentação favorável deste indefensável voyeurisme mórbido...

    Beijinho Paulo

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  2. Se o Sócrates tivesse sobrevivido mais uns tempos ainda se lembrava de mais esta para distrair o pessoal
    Rudolfo Moreira

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  3. Meu Caríssimo Paulo: falta pouco, muito pouco mesmo, para o homem esgotar o catálogo de ofensas ao Senhor da Vida. E depois?
    Abraço amigo!

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  4. É um vale tudo para promover agendas em que o pudor se evaporou, Querida Ariel.

    Creio que estaria na calha, meu Caro Rudolfo. À conta das tais causas ainda levou metade dos votos que pareciam Bloqueados.

    Meu Caro Marcos,
    o Inferno de que a cambada ri, claro. Neste caso até me estaria nas tintas - cada qual tem o direito de se prejudicar e fazer pactos com os chifrudos que queira. No aborto é que está a liquidar inocentes sem defesa.

    Beijinho e abraços

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