Gente de Paz, Gente de Guerra

O Sr. Juncker diz-nos apenas adormecidos os demónios da Guerra na Europa, uma avaliação que merece ser comentada. De que guerra fala ele? Quanto ao conflito clássico entre as nações, não parece haver muito por onde temer recrudescimentos: os actuais poderes políticos, por incompetência convicta e preguiça acomodatícia, têm degradado as capacidades militares e, sobretudo, a margem de opção menos consensual em Política Externa. O único País um tanto europeu que mantém uma espécie de autonomia em ambos os campos é a Rússia de Putin e tem-se vocacionado mais para o apoio aos resistentes de outras latitudes ao predomínio Norte-Americano, do que para a pressão ameaçadora sobre o Velho Continente de que ocupa o extremo Leste. Assim não caiam os gestores da União Europeia em hostilizá-la mais do que a conta, na ânsia de lamber as botas a Washington. Resta o perigo real e sempre mais cruel, o da guerra civil gerneralizada. Se formos rigorosos, o segundo conflito mundial já foi isso mesmo, embora disfarçado pelas retóricas exigências de Espaços Vitais. Mas era um confronto ideológico a prolongar o Ensaio Espanhol e não já um episódio bélico circunscrito à recomposição territorial com a mera anexação desta ou daquela região fronteiriça em vista. O resultado foi o que se viu, com eternizações arrefecidas da contenda mesmo após um dos lados ter sido, na prática, erradicado. Porém, muito mais difícil de controlar é a deflagração que venha de baixo, das facções não institucionalizadas, em vez de porvir dos governos. E é esse o grande risco actual, nestas guerras civis em estado latente, definição das Democracias segundo Alfredo Pimenta. Passada a anestesia do bem-estar artificialmente sustentado pelos pés de barro do endividamento, de novo mil e um ressentimentos irrompem na ordem do dia, ameaçando de patenteação a tal latência tranquilizadora. E quem sabe qual o macguffin que desempenhará o papel de despertador ou o grau de leveza do tal sono?
                                                   Marte Descansando, de Velázquez

2 comentários:

  1. Eu creio que o Juncker teme pela desagregação da UE (Alemanha estica a corda; a França bloqueada; a Itália na balbúrdia; a Inglaterra distanciada). E desse ponto de vista,os perigos são reais.

    Ab.

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  2. Meu Caro RAA,
    claro que esse temor estava em perspectiva, mas em vista do que se poderia seguir, julgo. E aí, não me parece de recear um enfrentamento militar clássico de qualquer espécie, a atomização está longe de fazer tábua rasa da viciação em posições facialmente certinhas e obedientes porque desprovidas de braços armados que prolongassem interesses particulares. A própria sufocação das aspirações nacionais assim gerada poderia ajudar a libertar o perigo maior de um conflito sem regras, uniformes, disciplinas ou benevolências. Tal como o difuso sentimento anti-germânico, de resto.

    Abraço

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