O Fim de Um Mundo

Na Alta Idade Média o livro integrava o conceito de tesouro e era (res)guardado nas arcas e cofres a sete chaves cerrados, conjuntamente com os ouros e pedrarias que davam expressão à riqueza. Com este desenvolvimento chega-se a um estádio mais avançado dum processo de desvalorização, muito maior do que o da moeda. Com a disponibilização no monitor de obras para todos os gostos consegue-se, decerto, uma magnífica ferramenta de trabalho e é salvaguardado e fomentado o essencial, a saber a comunicação dos espíritos, vencendo barreiras de tempos, lugares e preços. Mas fica irremediavelmente prejudicado o encanto da busca entre estantes sedutoramente misteriosas da revelação que nos cure da depressão quotidiana, como no quadro Biblioteca, de Pierre-Luc Bartoli:
A inovação é a face que corresponde à Época: Ao critério da produtividade sacrifica-se a alegria e os alfarrábios deliciosamente poeirentos deixam de ser um abrigo contra a agressão que nos rodeia. A consulta computorizada faz-nos escravos do consumo dum texto exibido em frente, sem a contrapartida do maravilhamento do descobridor que erguia um padrão em cada ficha que requisitava um volume. E, passando para as bibliotecas privadas, que coisa mais cusca e sensaborona, a de perscrutar intrometidamente um catálogo, em vez de aumentar a cumplicidade com um anfitrião, no meio de conversa ociosa, percorrendo com o olhar os afectos comuns que lhe preenchem as prateleiras...

5 comentários:

  1. Outro dia um amigo enviou-me dois livros digitais. Aquilo tem graça nos primeiros minutos mas depois a falta do toque no papel, o virar de página, a colocação do marcador, pousá-lo na mesinha de cabeceira... para a minha cabeça não dá, pelo menos para já. Mas tem vantagens reconheço. Esse amigo está em Luanda, sorte de muitos portugueses a debandar do país, e é uma forma de ter acesso fácil a obras que dificilmente poderia transportar nesta nova vida...

    Beijinho Paulo

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  2. És um abencerragem, Irmão Alcuíno!...

    Ab.

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  3. Querida Ariel,
    eu leio livros no computador, presentemente ando enredado numa enciclopédia da Antiguidade que não é pera fácil de ler de fio a pavio. O que me chocou foi a supressão dos Queridos Calhamaços. Nonguém poderá contestar que a Literatura vai perder grande parte do peso que ainda tem...

    E não estou em Boa Companhia, Caríssimo Mestre na Condição? Por acaso, concomitantemente com o que mencionei na resposta à Ariel, mas em realíssimas páginas, ando a ler um onde se fala desse mentor intelectual do Magno carlos, «O DESPERTAR DA EUROPA».

    Beijinho e abraço

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  4. Esse mesmo! É um primor de livrinho.

    Abraço

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