Neste tempo de escassez impregnado pelo odor de mais um ciclo primaveril, penso no mito de Pomona, a Abundância que se recusava a todos, como no estratagema a que Vertumnus o Deus das Estações, recorreu para a induzir a entregar-se: disfarçado de Velha conseguiu aproximar-se e convencê-la da necessidade de espalhar a Alegria para não desperdiçar os seus frutos, quer dizer, para ser fecunda. No dia em que se quer comemorar a Poesia e o fim do Inverno no Calendário, saibamos terminar o do nosso descontentamento insuflando a atmosfera espiritual propícia à Partilha, na certeza desinteressada de não ser o nosso protagonismo volitivo ou actuante o que releva, mas sim o quinhão que pudermos dar para esbater os antagonismos ávidos e concorrenciais provocadores do definhar geral. E tendo em atenção que, por vezes, a aparência vetusta não é mais que um disfarce da eficácia que soluciona.
Vertumnus e Pomona, de Paulus Moreelse Por Alberto Caeiro:
Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
a miúda olha para nós com aquele ar malandro e depois a velha é que a sabia toda
ResponderEliminarBeijinhos, meu bom amigo!
ResponderEliminarBonitos votos Querido Paulo,tão necessários nestes tempos áridos, de enganos e desesperança.
ResponderEliminarBeijinho
Meu Caro Rudolfo,
ResponderEliminarjá dizia o velho Alphonse Allais que «o Amor é uma caçada em que o caçador se entretém a fingir que é a caça»...
Querida Cristina,
que Recompensa e Alegria vê-La de volta a estas paragens!
Querida Ariel,
se a Poesia não nos salvar, que outra entidade terrena poderá fazê-lo?
Abraço e beijinhos
Com Alberto Caeiro é tudo tão simples e evidente... Uma boa Primavera, Paulo!
ResponderEliminarQuerida Luísa,
ResponderEliminarIgualmente, do coração! Que bom vê-La por aqui, com retrato e tudo! É sempre bom termos um pouco mais presentes Os Que estimamos.
Sim, a simplicidade da aceitação a que se chega depois de tantas voltas complexas... Ainda ontem vi um filme assimilável, nessa perspectiva, sobre o caminho de conciliar-se com o que a princípio se pretendia evitar: «DOS DEUSES E DOS HOMENS», acerca do mássacre real de uns Monges Trapistas na Argélia, que recomerndo.
Beijinho muito amigo