Carlos


Carlos tem tudo para se tornar um objecto de culto do cinema europeu. Rodado em nove países, falado em oito línguas diferentes, apresenta um realismo e um detalhe assombrosos para uma obra que se propõe atravessar 30 anos da vida do terrorista. Para isso contribui o talento e o magnetismo de Édgar Ramírez, o actor venezuelano que dá corpo a Carlos e que será sem dúvida um dos maiores actores do mundo num futuro próximo. Contribui também o facto deste filme fugir a julgamentos, tão comuns como indesejáveis neste género cinematográfico.

Pelo meio, há uma ideia que fica, principalmente para alguém da minha geração, que aprendeu a ver a Guerra Fria como coisa do passado. Com uma ou outra excepção, o terrorismo europeu acabou com a queda do Muro. No entanto, durante décadas, à esquerda como à direita, grupos radicais foram alimentados e apoiados pelas super-potências da Guerra Fria como parte de diferentes estratégias de tensão. Apesar da imagem romântica de combatente internacionalista, Carlos — como tantos outros militantes mais ou menos idealistas da sua geração — nunca passou de uma marioneta em jogos de poder.

1 comentário: