Um Dia de Cólera


Há poucos episódios na História que ilustrem tão bem o carácter dos povos ibéricos como o 2 de Maio de Madrid. Povos fatalistas, que suportam aparentemente com resignação e passividade as dificuldades e as injustiças; mas que, de um momento para o outro, por qualquer pretexto banal, são tomados por uma fúria irracional e assassina, tão impiedosa quanto imparável. Foi o que aconteceu em Madrid, numa manhã de 1808 que começou como tantas outras. Até que começou a circular o rumor de que as tropas napoleónicas que ocupavam a cidade e a Península se preparavam para levar aprisionado o infante D. Francisco de Paula. Por toda a cidade se ergueu um clamor popular, enquanto nos quartéis (quase todos) os militares espanhóis permaneciam recolhidos e os nobres silenciosos. Nas ruas, a agitação transformou-se em turba e rapidamente começou uma autêntica caça ao francês, com soldados a serem espancados, esfaqueados e degolados sem piedade. Para dispersar a revolta, Murat ordenou uma carga de mamelucos e dragões sobre a Puerta del Sol, mas ao ataque das tropas veteranas reagiram centenas de populares em fúria, armados de navalhas e uma grande dose de loucura, numa cena que seria imortalizada por Francisco de Goya.

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