O Jogo e as Cinzas

No fim da linha das aversões ou indiferenças que muitos se criam e queriam será apenas uma vitória de Obama sobre Osama. Mas não é, trata-se do fim de uma era. Bin Laden, neste momento já não era um homem. Nem falo na humanidade esgotada na adstrição ao objectivo exclusivo da matança de gente sem culpa, quero simplesmente significar que se tinha transfigurado num símbolo. Sob esta perspectiva, tendo o fantasma de uma década inteira encontrado os seus ghostbusters, a sensação que fica é a de as Twin Towers, como a Fénix renascidas das cinzas, terem recuperado a sua erecção. E com elas o Ocidente, por muita demarcação que se procure da coisa americana.
Foi uma cegueira de vingança simbólica que guiou os autores do atentado do 11 de Setembro, pois os maiores edifícios de Nova Iorque eram por eles vistos como o paradigma do orgulho alheio. O Engenheiro Saudita transmutado em terrorista tornou-se por sua vez a bandeira do equivalente sentimento, agitada por todos os que no mundo Islâmico são sensíveis à dor de uma subalternização da sua esfera, numa Religião em que o Poder sobreleva em tudo o Amor.
Esta morte, objectivamente um acto de justiça, por a retribuição do mal ficar aquém da medida da vingança, a qual exigiria mais sofrimento infligido, comparativamente com o sofrido, não escapa porém ao travo da desforra, em virtude das identificações em que muitos de nós, mesmo a contragosto, tenhamos sucumbido, na contemplação dos milhares de inocentes desaparecidos nos edifícios em chamas. Mas se requinte houve nesta revanche, residiu em, mesmo que involuntariamente, só executar o líder dos responsáveis após a contemplação por ele dos morticínios e guerras civis que as "aspirações democráticas" por Facebook interposto levaram ao universo Muçulmano. Era a única compensação psicológica possível de punição a operar contra um ser para quem a imagem de um auto-construído martírio estava longe de ser desagradável.
Um assassino em fuga tem de ter sorte todos os dias. Aos seus perseguidores basta serem bafejados num só. Foram-no neste.

4 comentários:

  1. Caríssimo

    Este teu post fez-me lembrar a famosa frase do Churchill, a seguir ao desembarque Aliado no Norte de África:

    "Isto não deve ser considerado o fim. É possível que se trate do princípio do fim, mas é, com toda a certeza, o fim do princípio"!

    Ab
    Tiago Santos

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  2. Meu Querido Paulo, que magnífico Post!!!!.
    [eu diria, muito prosaicamente, que ele faz tanta falta como a peste]

    Beijinho

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  3. E o filho morto não é vingança?
    Rudolfo Moreira

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  4. Meu Muito Caro Tiago,
    em mais do que um sentido: no cronológico, sem dúvida, mas igualmente no axiológico - o PRINCÍPIO de que partem os terroristas, da impunidade dos atentados.

    Querida Ariel,
    mas, entendendo-o como uma... peste, a falta é a que por si só fazia..

    Meu Caro Rudolfo,
    diria mais isso no caso do do Khadaffi, afinal este foi morto com ele.

    Beijinho e abraços

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