Bem-Aventurado!

Alguém com pretéritas responsabilidades episcopais declarou, sobre a décalage de fervor e prática que um Padre cativante desperte, comparativamente com um desprovido de tais atributos: O que é que a Caneta tem a ver com a Escrita?
Claro que o Essencial na Religião é o Divino. Seria mais realista considerá-Lo o Essencial em Tudo, mas para tanto teríamos de ser sobre-humanos, quer dizer, muito menos imperfeitos também pela clarividência.
Na minha infância e princípio de adolescência a Igreja definhava. Estudando-Lhe mais tarde a História, era tendência contínua desde S. Pio X, pois os Papas das Guerras ficararam com o rótulo dos esforços infrutíferos e os Conciliares, apesar das aclamações, com o da cedência. Ora, o insucesso e a transigência nunca foram boa semente para a fascinação.
Depois chegou Ele. Treinado na luta contra um materialismo ateu que nem se dava ao trabalho de disfarçar sob a capa da convivência a investida e o investimento anti-religiosos, endureceu com o contágio do Exemplo e a solidificação da Doutrina um Corpo Místico de Cristo que ameaçava tornar-se gelatina estragada.
Foi o maior Político sem que, por um instante, tivesse posto esse domínio à frente da Função Pastoral. E usou a arma mais forte assestada à Santa Madre Igreja, para devolver os golpes, sem sombra de hostilidade: na época da Televisão a Sua telegenia ímpar levou o apostolado a cantos onde o simples Dom das Línguas - que também detinha - talvez não o conseguisse fazer chegar. Mas não descansou sobre a comodidade dos circuitos, fez-Se à estrada e assim completou o alcance universal da Mensagem.
Admirará a Juventude alguma classe mais do que a dos Desportistas, a dos Músicos e a dos Viajantes? Assumindo a tríplice vantagem de ser excepcional nestes campos, não os fez subalternizar a Tarefa Principal que Lhe incumbia - a transmissão do Perdão, mesmo no caso concretíssimo em que foi a imediata vítima de agressão. E Isto, paradoxalmente, é O Que acredito que qualquer outro Pontífice saberia fazer, pois a absolvição partícipe da Misericórdia Divina é a incumbência por definição de qualquer Sacerdote, do Herdeiro de S. Pedro ao Cura mais escondido.
Atraiu, recuperou. Os Jovens amaram-no com as adesões ruidosas mas desinteressadas de que só Eles e os Místicos serão capazes. Os que se marginalizaram da Benção Romana viam a cada recepção de milhões um adiamento na expectativa que tinham depositado na volubilidade e no cansaço. Quando Paris, o reduto sonhado dos adversários do Catolicismo, Lhe fez um acolhimento colossal, a voz culta mas melancólica de Eduardo Lourenço só conseguiu deixar escapar o desabafo segundo o qual «os Jovens amam a intolerância».
Era nada perceber. Como impermeabilizar-se artificiosamente à constatação de que a Paz de Cristo é Comunhão e Amor, em muito mais sentido do que palavras bonitas de padres. O que também iam sendo, mas não entendidas como falatório desprovido de realidade. Porque, vendo-O envelhecer num Pontificado longo que nos parece tão curto, conseguimos exergar na decadência física a Cruz que o Trono do Vaticano esconde por vezes, na miopia que a pressa, o conforto e as revoltas provocam.
O retrato, em imagem, é de Elizabeth Zeller

2 comentários:

  1. O dia da Misericórdia Divina não ajudou o Bin
    Rudolfo Moreira

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  2. Meu Caro Rudolfo,
    pelo contrário, só essa lhe poderá valer, a congénere humana, muito justamente, não agiu em conformidade.

    Abraço

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