Os animais ferozes de amanhã


Nunca tive as juventudes partidárias em grande conta, mas sempre acreditei que pudessem ter um papel importante na formação de quadros e na preparação de jovens para o combate político. No entanto, quanto mais jotinhas conheço, mais desiludido fico. Afinal, as juventudes partidárias não são mais do que escolas de maus costumes, academias especializadas em introduzir adolescentes medíocres aos vícios dessa baixa política que caracteriza a arena partidária. Jovens sem valores e sem ideias, que nunca leram um livro e que mal sabem exprimir-se em português. Boys e girls, miúdos pobres de espírito ensinados a acenar em vez de questionar, cuja única mais-valia é a capacidade de sobreviver, de manter a cabeça à tona ao longo de jogos de interesses e lutas de influência. É a essa gente que é suposto entregarmos o Futuro de Portugal?

10 comentários:

  1. Descreveste o actual panorama político na perfeição, Amigo Miguel, no que diz respeito às juventudes partidárias. E que abissal diferença em relação aos Políticos formados nas Juventudes Católicas e Monárquicas e que foram Deputados e Ministros nos tempos da outra Senhora.
    Abraço Forte!

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  2. Tal e qual, Miguel.
    Retrato perfeito das academias do oportunismo.

    Abração.

    Luís

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  3. Por isso, salvo em questões como a da honestidade da fé no discurso, que aqui não aquilato, o cessante e o provável entrante parecem tão copiados a papel químico.
    Como dizia Medina Carreira, «estes indivíduos que assentaram praça como deputados aos 18 anos»...

    Abraço, Amigo Miguel

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  4. Não me parece que as juventudes partidárias errem mais do que os próprios partidos, com a diferença de que, por serem jovens, não têm ainda muitas das manhas dos mais velhos para dissimular algumas coisas. As juventudes partidárias fazem sentido enquanto espaço de "preparação de jovens para o combate político", como bem diz Miguel Vaz, e pra levar aos partidos a voz e as preocupações dos mais novos.

    Aquilo que vejo (sou militante e dirigente local de uma das ditas juventudes) é um cenário um pouco diferente do que tantas vezes se traça. Há, na base da estrutura, qualidade que muitas vezes não é devidamente reconhecida. A acção das concelhias e dos núcleos é, em grande parte dos casos, feita com lógica e sentido, na defesa dos interesses das populações e dos mais jovens. Quando se salta para níveis "hierárquicos" superiores, nas distritais e nacionais, aí o caso muda por vezes de figura, dando força ao texto e à imagem que o ilustra.

    A meu ver, um grande erro reside quando se espera que os partidos e as suas juventudes façam "formação de quadros". Essa é hoje uma preocupação muito presente no seu discurso, mas que me parece perversa. Como se pode esperar que estas organizações sirvam para (de)formar quem nelas milita? Grande parte das acções de formação que promovem são uma simples repetição de lugares-comuns do discurso politicamente correcto. Se alguém chega às juventudes partidárias (ou mesmo aos partidos) sem ter as "ideias no sítio", dificilmente aprenderá lá a organizá-las. Para quem procura formação há sítios melhores para a encontrar. Nas universidades ou em casa junto de livros, por exemplo. E quadros há-os sempre nas sedes, dos "pater familiae" dos partidos.

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  5. Caro João,
    Quando se olha para o actual panorama político, convém nunca esquecer que os líderes dos dois principais partidos portugueses foram fundidos no mesmo molde. Abraço!

    Caro Luís,
    Nem mais. Infelizmente, o oportunismo é o vector que orienta a acção das jotas. Abraço!

    Caro Paulo,
    É mesmo! E nem é preciso procurar muito, basta olhar para as trapalhadas protagonizadas por Renato Sampaio, deputado da Nação, Presidente da Federação Distrital do PS Porto e Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS. O tal que escreveu pérolas como «os Portugueses estão à altura e têm a capacidade para resolvermos os seus problemas e ultrapassar a crise», erros que até custam a aceitar em miúdos com o 6º ano. Abraço!

    Caro Tiago,
    Neste texto, quis ser tão crítico das juventudes partidárias (e, por extensão, dos próprios partidos) como daqueles em que nelas militam. Os exemplos que vou conhecendo de militantes envolvidos na jotas deixam-me incrédulo. Em vez de pessoas interessadas e com algum nível cultural, encontro seres desprovidos de pensamento crítico, com dificuldades em articular uma ideia e com tremendas falhas culturais. Curiosamente, as poucas excepções que conheci fazem parte de formações políticas mais radicais. Se não cabe às jotas formar quem nelas milita, para que servem afinal? Abraço.

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  6. Caro Miguel,
    Percebi bem isso. Conheço também muita gente com as características de que fala no artigo. É mais fácil seguir a onda do que contrariá-la, e esta máxima aplica-se na perfeição às juventudes partidárias, em particular dos partidos do "arco do governo". Para além de que, em inúmeros casos, a crítica é mal recebida por quem dirige - em diferentes níveis - estes partidos. Uma infeliz característica que muito tem singrado entre nós. Nos extremos esse espírito crítico é estimulado, pela própria natureza dos partidos em que militam.

    Respondendo à sua pergunta, a meu ver servem para dar espaço aos jovens nos partidos, um espaço que teriam dificuldades em conseguir se o tivessem de disputar com os "seniores". Espaço para "crescerem" e espaço para se fazerem ouvir, levando a opinião e (idealmente) a irreverência da juventude até ao partido.
    Abraço

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  7. Caro Miguel, eu diria mais, os líderes dos três principais partidos vieram da mesma fornada. Chamando os bois pelos nomes: Sócrates, Passos e Portas formaram-se politicamente na JSD. Ah!, pois é.
    Abração!

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  8. Caro Tiago,
    Isso parece-me pouco, muito pouco. Ser a faceta «irreverente» dos cinzentos partidos do centrão, que usam as jotas para segurar bandeiras durante as arruadas e transmitir o que não têm coragem de dizer, não chega. Tal como não chega serem apenas redes de influência dentro do aparelho, espécie de antecâmara para os que querem seguir carreira nos partidos. E se as juventudes partidárias abdicaram realmente do trabalho cultural, da tal formação de quadros, então estão condenadas. Porque de chicos-espertos está o mercado saturado. Abraço!

    João,
    Tens toda a razão. Nem me estava a lembrar do célebre jornalista «anti-poder» tornado Ministro do Mar! Abraço.

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  9. Caro Miguel,
    Penso que não me fiz entender bem (talvez defeito de formação). A formação deve acontecer informalmente, ou seja, as juventudes partidárias devem servir para que os novos se preparem para o combate político, como afirma no artigo. A formação, estruturada, organizada em pequenos cursos ou conferências, como com tanta frequência se faz nas juventudes partidárias, parece-me errada pelas razões que já aqui enunciei.
    A valorização e o crescimento enquanto indivíduos (e, já agora, enquanto membros de uma comunidade) parece-me que deve ser uma preocupação sempre presente em toda a acção desenvolvida por cada um. E as juventudes partidárias não serão excepção, bem pelo contrário.

    Caro João Marchante,
    Aconselho-o, se tiver oportunidade, a dar uma olhadela no "Povo Livre" de 1974/75, jornal do PSD desde a sua fundação. São autênticas peças de colecção. Para além do discurso, que repetido hoje faria tremer qualquer militante do PSD, é ver quem lá escrevia. Guilherme de Oliveira Martins era presença permanente em todos os números, em representação da JSD (julgo que chegou a ser editor do jornal).

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  10. Obrigado pela dica, Caro Tiago Laranjeiro.
    Saudações blogosféricas.

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