A biblioteca "maldita"

A Civilização publicou um olhar sobre a biblioteca particular de Hitler que tenta revelar os livros que mais o influenciaram. Um campo novo para tentar descobrir o pensamento do führer


Adolf Hitler é visto normalmente como uma “encarnação do mal” e deve ser a figura do século XX sobre quem mais obras se publicaram. No entanto, muitas delas raramente trazem algo de verdadeiramente novo sobre o líder do III Reich, que viu o seu fim num dos períodos mais trágicos da História da Europa. Agora, para colmatar a falta, eis que com agrado chega pela mão da Civilização Editora, “A Biblioteca Privada de Hitler – Os Livros que Moldaram a sua Vida” (capa mole, 316 páginas, 18,90 euros).

As pilhagens e a destruição do pós-guerra fizeram desaparecer grande parte dos mais de 16 mil volumes que compunham a biblioteca de Hitler. Do que sobrou, Timothy W. Ryback seleccionou alguns para contarem a história do seu proprietário, do Guia de Berlim de Max Osborn, comprado durante a Primeira Guerra Mundial, à biografia de Frederico II, de Thomas Carlyle, oferecida por Goebbels em 1945, passando pela “bíblia” rácica norte-americana de Madison Grant.

Segundo ele, Hitler tinha "D. Quixote", "Robinson Crusoe", "A Cabana do Pai Tomás" e "As Viagens de Gulliver" entre as grandes obras da literatura mundial e considerava Shakespeare superior a Goethe e Schiller.

O autor não se refere apenas ao conteúdo das obras e à sua influência. É bastante interessante a forma como descreve fisicamente os exemplares, o seu estado, dedicatórias e anotações.

Nota positiva também para a imagem da capa, uma belíssima fotografia de Heinrich Hoffmann, que na edição portuguesa está maior e a cores, ao contrário da versão reduzida e a preto e branco da edição original.
Esta obra não chega a ser uma biografia intelectual de Hitler, nem uma análise sistemática da sua biblioteca. É uma interpretação feita num estilo mais ligeiro, claramente destinada a um público mais abrangente. Não obstante deixar muito a desejar, tem o mérito de despertar a curiosidade para um aspecto pouco conhecido e por vezes até ignorado da vida de Hitler. Kubizek, amigo de juventude de Hitler, disse que “os livros eram o seu mundo”. Que melhor sítio para tentar compreendê-lo do que na sua biblioteca? [publicado na edição desta semana de «O Diabo»]

5 comentários:

  1. Nada tendo a ver com a biblioteca de Hitler, mas uma vez li, já nem sei onde, que Lénine tinha afirmado que a leitura de romances amolecia a alma, pelo que o desaconselhava vivamente. Eu desde esse momento comecei a ler ainda mais romances do que nunca, aumentando consideravelmente a minha biblioteca .

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  2. Pronto, agora vais conseguir que uma data de gente deixe de ler. O raciocínio é: "Hitler gostava de livros? Logo, os livros são nazis!"

    Abraço

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  3. Ah! Ah! Ah! A silogística no seu melhor...!
    Abraços a Ambos!

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  4. Caro Ega,
    Vou ter isso em conta cada vez que ler um romance.

    Caro Paulo,
    Quem entrar nessa (i)lógica é porque nada aprendeu com aquilo que leu... se é que leu alguma coisa.

    Abraços.

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  5. Mais de metade da minha está por ler...; a questão é mesmo essa: ele leu-os?
    Ter livros não significa tê-los lido. Nem por sombras.
    Há muitas razões para se acumularem volumes.
    Desde gostar-se de os ler, até recebê-los de herança (p.ex.).
    Como (quase) tudo, vale o que vale.
    (como a singela opinião de uma 'comentarista' - outro 'exemplo'...)

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