Dúvida Metódica

A primeira página de «O Diabo» no dealbar da Época Duarte Branquinho encheu-me de ganas de reler um volume que recorre a um título semelhante, mas para desenvolver matéria diferente. As memórias de Assis Gonçalves não abordam a vida particular do Estadista, «Intimidades», lá, tomam o sentido de "proximidade", através da narração de eventos testemunhados por um colaborador próximo. E eis que dou com um capítulo que me suscitou uma incerteza que me parece relevante. A páginas tantas lê-se:
Alguns oficiais, nomeadamente do E. M., como Luna de Oliveira e Humberto Delgado, queixavam-se da insuficiência dos soldos, dentro da escala social em que os oficiais de Exército tinham de viver, e que os lugares de Bancos e Companhias, a preencher pelo Governo, eram dados a civis com outros rendimentos e sinecuras(...).
A minha hesitação deve-se a saber se este episódio concreto, ou a imagem do biografado que dele emana estarão presentes na epopeia em preparação. É que nem se trata de especular a propósito de motivações, sempre passíveis de vistas diversas, como a induzida pela observação de Jaime Nogueira Pinto em «Portugal Os Anos do Fim», onde se nota ter a passagem do general com armas e bagagens para a oposição sido antecedida pela escolha de rivais para as funções de Chefe de Estado Maior da Força Aérea e para Governador de Angola. Não, apenas de incluir ou não um episódio constante duma fonte. E não há como o amor à bolsa para deitar por terra o ficcionado idealismo dos heróis forjados.

8 comentários:

  1. Meu Caro Paulo:
    Pois eu fiquei cheio de vontade de ler a obra do Embaixador Fernando Castro Brandão, «António de Oliveira Salazar - Uma Cronologia», composta a partir dos 71 cadernos diários do Presidente do Conselho depositados na Torre do Tombo, depois de ter lido a magnífica recensão, em três páginas, assinada por Hugo Navarro n'O Diabo de ontem (o 1.º da Era do Nosso Duarte).
    Já agora, tenho este «Intimidades de Salazar», de Assis Gonçalves, numa edição de 1971. Sabes dizer-me se será a primeira?
    Abração!

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  2. Muito possivelmente, Caríssimo, a segunda, aumentada, que aqui Vos deixo, é de 1972.

    O Marcos já me tinha falado na Cronologia do Embaixador.

    Abraço

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  3. Obrigado pela dica, Caríssimo.
    Eu, mal disponha de pecúnio, arrebatarei a Cronologia do Embaixador, pois pareceu-me escrito seriíssimo.
    Renovado abraço.

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  4. Caro Paulo,
    essa citação mostra e demonstra a mentalidade dos nossos militares!
    Gostam de receber o salário, pois ser tropa é um bom emprego.
    Agora, andar aos tiros é perigoso, pode-se morrer e há que olhar pela vidinha, pela mulher, pelos filhos, pelos amantes...

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  5. E, Meu Caro Nonas, abichar uns biscatezitos que atestem a carteira. Isto é que é defender a integridade nacional, hic et nunc, a África pode bem ficar para os outros, o Passado e o Futuro são cantigas ao vento.
    Abraço

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  6. O Filipe não sei das quantas também refere no seu "Salazar" as queixas do Delgado sobre os patacos que justamente lhe deviam calhar mas não calhavam. Calhando porque Salazar mandava nisso mais que ele é que ele queria ser Salazar.
    Havemos de ver esta no filme, havemos.
    Cumpts.

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  7. Isso era de quando o herói era admirador de Mussolini não era?
    Rudolfo Moreira

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  8. Caríssimo Bic Laranja,
    ainda estou em prolegómenos dessa obra biográfica. Mas parece-me importante para, hã, o esboço da (e do) personagem, não é?

    Sim, creio que podemos esperar muito bem sentados...


    Meu Caro Rudolfo,
    eu acho que ele admirava a Força, onde quer que estivesse. Quando no Eixo, era um "ultra", sempre a recriminar o António por não alinhar pela liderança europeia que imaginava. No pós-Guerra foi para a América do Norte e toca a idolatrar os novos senhores do Mundo. Um cataventro? Pois claro.

    Abraços

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