Tempos Moderníssimos

Chama-me um Querido Amigo a atenção para uma iniciativa que em rede social corre, de canalizar entusiasmos contra os responsáveis pelo triste estado de coisas que se eterniza na medida em que eles também o fazem. Tenho de responder-Te sem constrangimentos, Meu Caro João: fosse o Facebook capaz de ressuscitar Salazar e imediatamente aderiria a ele este Teu admirador que tanto lhe vem resistindo, pela timidez de se ver demasiado seguido. Meter medo com o papão dos Militares não cola, trata-se de Espécie em vias de extinção. E quanto aos Metalúrgicos, só virão à colação se lhes queres dar algum emprego, depois das consabidas liquidações siderúrgicas. Não, o problema que se coloca bem debaixo do nosso nariz é o do legítimo poder do computador para desencadear movimentos políticos, maxime vagas protestatárias. É estranho que no dia da Internet Segura os comentadores se hajam cingido ao pouco ambicioso repisar a mera protecção de dados pessoais, ou da vigilância dos acessos de crianças e adolescentes, sem equacionar o risco inerente à luta que a digitação de um teclado pode despoletar. Nos EUA Obama venceu, não só porque "herdou" a teia de contribuintes da campanha de Howard Dean, como pela mobilização de delegados afastados da elite, duas armas facultadas on line.
E no Egipto revoltado de hoje as concentrações viram os cordelinhos puxados pelo mesmo meio, até de fora do País, vencendo a própria clivagem de dialectos no Mundo Árabe. A fortiori poderia no nosso Rectângulo esse exemplo frutificar, tanto mais que a fruta está madura para tal colheita e o exemplo do apaziguamento pelos 15% de aumento no Cairo pode calar fundo numa Grei que pena sob o jugo das reduções salariais e de benefícios, vendo adiado o descanso. Seria um detonador muito mais eficaz e. espera-se. menos inconsciente, que o personagem de Chaplin vendo uma multidão reivindicativa correr atrás dele quando inadvertidamente agita uma bandeira.
A classe política que nos saiu na rifa merece isto e muito pior. Mas duvido que o desiderato seja alcançado - se ao (des)governo luso falta o petróleo para comprar os contestatários, também a instalada generalidade das pessoas com tempo carecerá de outra forma de energia.

12 comentários:

  1. Mas qual é a motivação que a geração dos nossos jovem (aquela que mais está presente nas redes sociais) tem para se insurgir contra o que quer que seja? A situação pode ser má e muito dificilmente será melhor, mas não parece existir alternativa viável. O caminho faz-se caminhando, mas como bem diz, carece outra forma de energia.

    Somos filhos de instalados, crescemos com certos confortos. Será que estamos dispostos a abandoná-los em troca do incerto? O risco é elevado... Mais que o da dívida soberana!

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  2. Claro, Meu Caro Tiago Laranjeiro, que alternativa no voto não se vislumbra no horizonte. Por isso é que um engajamento contra a situação visará, se não o regime, ao menos a classe nele dominante, que urge substituir porque falhada e irresponsavelmente insensível ao sofrimento e dificuldades alheios.
    Penso que a cavilha dessa granada em potência será despoletada quando a frustração atingir uma insuportabilidade que não sei quantificar, mas de que me parece sentir-se os primeiros fumos, até pelo lindo serviço educacional dos sucessivos executivos.
    Abraço

    Abraço

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  3. "...quando a frustração atingir uma insuportabilidade que não sei quantificar, mas de que me parece sentir-se os primeiros fumos..."

    Também sinto o mesmo Caríssimo, e acho que quanto mais depressa essa granada explodir, melhor...

    Ab

    Tiago Santos

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  4. Caríssimo Tiago,
    creio que já estivemos mais longe desse momento. Resta saber é se o sentido do rebentamento será aproveitável...
    Abraço

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  5. Hmmm...Acho que neste momento, o que interessa é que rebente...com toda esta gentalha! O resto se verá depois...

    Ab

    Tiago Santos

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  6. Cuidado, ou ainda ficamos nas mãos de gente repugnante que, normalmente, é a que se manifesta e agita mais prontamente.

    Abraço, Meu Caro Tiago

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  7. Bem, há esse risco, claro, mas a alternativa é esta podridão sufocante e cada vez mais entranhada em que vamos vivendo...

    Ab

    Tiago Santos

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  8. Há que canalizar a aversão que ela gera para o rumo certo, Tiago Amigo.

    Abraço

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  9. Pois, a questão é como...

    Ab

    Tiago Santos

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  10. Rei, Município, culto do que herdámos.
    Abraço

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  11. Sim, mas permite-me que insista: COMO? Isto é, como chegar lá?

    Ab
    Tiago Santos

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  12. Doutrinando os Distraídos e Indiferentes, Meu Caro Tiago. As Praças Tahrir florescerão.
    Abraço

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