Literatura alternativa


Terminei há poucos dias a leitura do excelente «O Homem do Castelo Alto», da autoria de Philip K. Dick, o mestre da ficção científica responsável, por exemplo, pela obra que deu origem ao revolucionário Blade Runner. No caso deste livro, lançado em português o ano passado pela Saída de Emergência com um extenso prefácio de Nuno Rogeiro, e cuja edição original o Duarte mencionou em 2006 no seu blogue, o autor apresenta-nos um mundo no qual as forças do Eixo venceram a II Guerra Mundial. No entanto, em vez de uma narrativa cheia de acção em torno de uma personagem que salva o universo, como é clássico neste tipo de abordagens, o livro apresenta uma estrutura fragmentada, com várias histórias pessoais que se vão cruzando, um pouco ao estilo de filmes como 21 Grams ou Crash. O eixo à volta do qual as diferentes personagens se movimentam é o misterioso homem do castelo alto, autor de um livro popular mas polémico, que apresenta uma história alternativa na qual os Aliados venceram a Guerra. No entanto, neste autêntico jogo de espelhos em que se cruzam personagens tão densas que quase saem do papel, é a própria realidade, como a conhecemos, que acaba por ser posta em causa.

7 comentários:

  1. Obrigado pela referência, já que é um autor e uma obra que aprecio bastante. Não li nenhuma das traduções portuguesas do livro, nem a que mencionas, nem a publicada anteriormente pela Livros do Brasil na colecção Argonauta, em dois volumes. Cingi-me ao original.

    Pelo que percebi, o prefácio desta edição é o artigo de N. Rogeiro "A Ruínas Espelhadas - Notas sobre a Ficção de Philip K. Dick", publicado no n.º 14/15 da revista "Futuro Presente, em 1983.

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  2. Caro Duarte,
    O prefácio do Nuno Rogeiro é baseado nesse trabalho, mas não é uma transcrição integral. O ensaio introdutório tem o curioso título "De Um Castelo Ao Outro - Engenharia e Engenho na Ficção "Científica" de Philip K. Dick" e, segundo as palavras do autor, é uma versão "muito manejada e revista" desse texto inicial publicado na "Futuro Presente", até para "ter em contra o largo continente de estudo que, nas últimas décadas, se foi formando sobre Dick".

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  3. Obrigado novamente. Tenho que ler isso, pelos vistos. Não resisto ao título céliniano...

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  4. Confesso que só há pouco, ao conferir o prefácio depois das tuas indicações, é que reparei no título. O Nuno Rogeiro nunca deixa de nos surpreender.

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  5. Curiosamente, um livro onde o tema da busca de uma identidade perdida, tão individual como colectiva, diluída nos fantasmas da derrota, perpassa, indelével, ante os olhos dos leitores menos atentos — os falsificadores de velharias do Old West, que decidem passar a produzir jóias "genuinamente Americanas" e são 'surpreendidos' pelo desdém dos seus clientes Japoneses... (queiram desculpar-me, Caríssimos, eu li o original em Inglês há muitos anos e agora falham-me os detalhes...).

    Ao ler este livro, o cenário e as circunstâncias descritas por K. Dick como base desta ucronia, na altura, a leitura ampliou a minha imaginação de cenarista/aderecista: via os Americanos residentes no Pacific States forçados a usar vestuário orientalizado e o "chong'mage" (o nó-de-cabelo usado por Samurai e demais classes do Japão no Período Edo e até à Restauração Meiji, como procedimento de identificação de castas) e os edíficios da capital, Sacramento, e de outras cidades do P.S.A. estranhamente submitidos ao padrões da arquitectura oriental (como certos edifícios governamentais [raros] que subsistem no Japão, das décadas de 20 e 30 — os melhores exemplos estão em Nagoya).

    Realmente é uma obra que, não obstante não ter um desfecho claro e apoteótico, em qualquer recurso daria um filme de génio — nas mãos certas, claro está!

    Ainda alguém se há-de lembrar. ☺

    Abraço,

    Luís

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  6. Caro Luís,
    É um livro fantástico, em todos os sentidos. As poucas informações desse mundo que são dadas ao leitor permitem de facto construir esse universo imaginário. Se essa é uma das grandes mais-valias da leitura, esta obra leva-a a um outro nível.
    Quanto ao "chong'mage", é muito usado no universo Watchmen, curiosamente outra interessante incursão na história alternativa.
    Relativamente ao filme, nas mãos certas seria realmente uma excelente ideia. Mas esses filmes têm sempre o defeito de desfigurar os mundos que vamos criando na nossa mente durante a leitura. Além disso, neste caso, as múltiplas camadas do enredo forçariam o hipotético argumento a alterar a história de forma substancial.

    Caro NCP,
    Agora, por vezes, emito em estéreo ;)

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