Foi no passado dia 25 de Janeiro publicada em Diário da República a Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, que determina a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no sistema educativo no ano lectivo de 2011-2012 e, a partir de 1 de Janeiro de 2012, ao Governo e a todos os serviços, organismos e entidades na dependência do Governo, bem como à publicação do Diário da República.
Se por si só é um disparate a ideia de alterar a língua por decreto (ainda por cima utilizando critérios bastante discutíveis), este (des)acordo ortográfico falha totalmente no seu suposto objectivo de unificar a língua portuguesa. O português que se escreve de um lado e de outro do Atlântico já divergiu demasiado para que um simples regulamento o coloque ao mesmo nível. Isso é particularmente evidente em qualquer manual técnico brasileiro, que se transforma num autêntico desafio de leitura para um português. Tanto a terminologia (binário/torque, só para dar um exemplo) como a própria construção das frases apresentam demasiadas diferenças. Nessa situação, muitos preferem os manuais em inglês, que acabam por ser paradoxalmente mais simples de ler.
No entanto, em Portugal, a resignação tem sido quase total. Depois de uma recolha de assinaturas que não teve consequências, o desânimo tomou conta dos resistentes ao (des)acordo. Na imprensa, muitas publicações já alteraram a grafia, a ponto de, por desconhecimento ou desleixo, as gralhas se terem multiplicado. Alguns jornais, contudo, mantêm-se fiéis à língua portuguesa. É o caso dos diários Público e i, do semanário O Diabo e do desportivo A Bola. No entanto, é apenas uma questão de tempo. A partir de 2016, a nova ortografia passa a ser obrigatória. Se até aí nada mudar, os blogues serão a última barricada. Por aqui, não desistimos.
Escrever como sempre escrevemos é resistir.
ResponderEliminarNada pode ser feito contra a vontade de quem quer escrever BEM.
Se, em espaços como este, o exemplo se multiplicar, não há-de haver lei, governo, academia, tratado ou tratante que nos agrilhoe.
A Língua somos NÓS.
A Pátria somos NÓS.
Aquele Abraço Amigo,
Luís F. Afonso, no Japão
Eu também não desistirei!
ResponderEliminarOlha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é essa Resolução...
ResponderEliminarMiguel, a minha tese vai em PORTUGUÊS...porque não é para inglês ver...
Como reza o fado da Maria da Fé: cantarei até que a voz me doa!
beijinhos
Mobilizemo-nos então contra a ditadura do (des)acordo ortográfico!
ResponderEliminarAté aos fins dos meus dias reservarei o termo " fato " para designar certa peça do vestuário.
ResponderEliminarA recolha de assinaturas continua (imagine-se a ironia) até 25 de Abril. E parece que ganhou bom fôlego em Janeiro, a julgar pelo ânimo da página.
ResponderEliminarDesta vez tornei-me defensor acérrimo (contra). O prejuízo deste aborto gráfico ter lançado já na maior barafunda na ortografia portuguesa - que não era questão, antes era assunto resolvido - era escusado. Só encontra paralelo no caos geral da 1ª República, ela mesma culpada do precedente neste particular e da confusão ortográfica até 1945. A idiotia de hunificar resultará em quase 65.000 formas duplas (e não se incluem os casos couro/coiro &c.). Um bom exemplo detecta-se em todas as flexões do verbo 'detectar' já que se o quer 'detetar' (seja lá isso o que seja) mas só em Portugal (logo onde o clima é mais frio...); duplica-se à vontade, portanto.
E por fim, porque não sou jurista: uma resolução da assembleia é uma Lei nacional? Ou porque terá esta corja de arrasar tudo em que toca?
Cumpts.
Tenho pena que tanta gente escreva tanto sem saber do que fala. Se acham mesmo que o Acordo é mau, então estudem a questão antes de lançar assim as discussões....
ResponderEliminarVamos lá ver:
"Se por si só é um disparate a ideia de alterar a língua por decreto " Todas as línguas estáveis têm decreto, que fixa a ortografia e que permitem que a língua seja usada num sistema de ensino, por exemplo...
"Tanto a terminologia (binário/torque, só para dar um exemplo) como a própria construção das frases apresentam demasiadas diferenças." Se se tivesse dado ao trabalho de ler umas linhas sobre o acordo (ou pensasse sequer no que significa 'Ortográfico'), chegaria à conclusão de que o que aqui diz é um disparate: este acordo não tem nada a ver com semântica (significado de palavras) nem com sintaxe (ordem e função das palavras na frase)... Só se altera a forma de ESCREVER algumas (muito poucas, por sinal) palavras.
"este (des)acordo ortográfico falha totalmente no seu suposto objectivo de unificar a língua portuguesa" Mais uma vez, a precipitação na crítica leva a equívocos: o que o acordo pretende é unificar uma parte da ortografia da língua, não unificar a língua, já que isso seria impensável. Confundir ortografia (forma de escrever as palavras) com a língua é um erro básico e que afecta a discussão.
"Se até aí nada mudar, os blogues serão a última barricada. Por aqui, não desistimos. " O que dizer desta afirmação? Se o sr quiser desatar a escrever aqui no seu blogue como se escrevia no século XVI ou como se escreve em SMS's do séc. XXI, alguém o censura por isso? Não! Claro que pode continuar a escrever como quer. A nova ortografia aplica-se apenas a publicações oficiais. Mesmo que queira publicar um livro, poderá sempre manter a ortografia anterior e ninguém tem nada com isso. Mas tem de haver uma regra. E essa regra é a que se ensina/aprende na escola e que os documentos oficiais devem seguir.
Nos comentários, continua o desconhecimento:
"NanBanJin disse...
Escrever como sempre escrevemos é resistir.
Nada pode ser feito contra a vontade de quem quer escrever BEM." E o que é isso de escrever BEM? Dizer "Pharmácia" é bem? e "muinto" é bem? Antes de 1945 escrevia-se assim... e mudámos...
Já a "cristina ribeiro disse...
Até aos fins dos meus dias reservarei o termo " fato " para designar certa peça do vestuário." E quem lhe disse que teria de mudar essa palavra? Se for pesquisar onde deve (www.portaldalinguaportuguesa.org) poderá verificar que essa palavra (e muitas outras que são usadas como exemplo, apenas para causar ruído) não muda, pela simples razão de que nós, em Portugal, pronunciamos esse C. Só mudam as palavras em que a consoante dita MUDA é mesmo Muda, e não se lê...
E acrescento: obviamente que tendo escrito isto à pressa deve ser fácil encontrar por aí gralhas. Mas isso é só um dos argumentos para a não unificação...
ResponderEliminar«No entanto, é apenas uma questão de tempo. A partir de 2016, a nova ortografia passa a ser obrigatória. Se até aí nada mudar, os blogues serão a última barricada. Por aqui, não desistimos.»
ResponderEliminarNem nós desistimos: http://ilcao.cedilha.net
O cavalheiro que quer rebater tudo e todos duma vez demonstra afinal não saber que já antes de 45 se não escrevia 'pharmacia' (embora se dissesse, e diga, assim, tal e qual, 'pharmacia').
ResponderEliminarTal como notoriamente ignora que para Acordo com o Brasil já temos o de 1945. Que o Brasil até hoje não cumpriu.
Cumpts.
Caro(a) Bic Laranja
ResponderEliminarNaturalmente que o Brasil não cumpriu o de 45, como nós não cumprimos o de 43. E isso não interessa nada para esta discussão. Nunca entrei na discussão da oportunidade do Acordo. Limito-me a verificar a forma como quem não concorda com ele defende a sua posição. Quanto ao exemplo que dei, pouco me importa quando é que caiu o h de farmácia. Apenas quis demonstrar que este apego a uma forma gráfica é anacrónica, já que o uso (e consequente simplificação) acabam sempre por levar a melhor.
Não sou especialista na área, e por isso mesmo, não procuro defender-me atrás de argumentos demasiado técnicos. Limitei-me a comentar o que aqui estava escrito, e acho piada ao facto (viram, escrevi faCto) de não terem rebatido os meus argumentos.
Quanto ao JPG, reconheço a tenacidade da luta, que admiro. Apesar de não concordar.
Caro Ricardo,
ResponderEliminarPelos vistos não sou o único a escrever muito sem saber do que falo.
Ninguém disse que a línguas não devem estar submetidas a um regulamento. O que me parece inaceitável é alterar a ortografia por decreto, além disso sem qualquer necessidade, que é uma coisa totalmente diferente.
Mais à frente, distorce voluntária ou involuntariamente o que escrevo. Ninguém disse que o acordo ortográfico visa alterar a semântica ou a sintaxe das palavras. "Se se tivesse dado ao trabalho de ler umas linhas" do meu postal, "chegaria à conclusão de que o que aqui diz é um disparate". O que quis demonstrar com o exemplo que utilizei, tal como disse, é que o português que se escreve de um lado e de outro do Atlântico têm tantas diferenças que um simples acordo ortográfico (e sim, conheço o significado da palavra, muito agradecido) não resolve rigorosamente nada. Antes pelo contrário, desfigura de forma irreversível a nossa língua. E se acha que são poucas as palavras que mudam, a mim parecem-me demais.
Quanto às consoantes mudas, há inúmeros exemplos de palavras que ficarão totalmente ilegíveis. Por ser muda, não quer dizer que não se leia. Em "adoptar" ou "detectar", apesar de não se pronunciar a consoante, esta servia para alguma coisa (ou não estava lá). Como sabe, a consoante servia para abrir a vogal. E agora, como é que se lê "adotar" ou "detetar"?
Caro "Bic Laranja",
ResponderEliminarFará o favor de notar que o Brasil apenas "roeu a corda" em relação ao Acordo de 1945 em... 1955. Ou seja, assinou primeiro o que revogou 10 anos depois.
Também por isso citei antes aqui a expressão "A partir de 2016, a nova ortografia passa a ser obrigatória". Nenhuma lei é irreversível. E tanto mais quanto esta não é uma lei propriamente dita (é uma RAR, resolução da A.R.) e nem sequer se refere a ortografia alguma, já que se trata de simples "cozinhado" político, nada mais.
@JPG
ResponderEliminarFica a emenda sobre o Brasil cumprir formalmente o Acordo de 45 até 55. Obrigado.
Sobre a resolução da assembleia, por acaso pus a questão do que valerá juridicamente esse preciosíssimo termo noutro verbete deste foro. A assembleia ppode resolver (ou publicar uma resolução) de trabalhar 24 horas por dia e fará isso lei de se não dormir?
Disse-se para aí qualquer coisa sobre Portugal não cumprir já não sei o quê em 43. A bem da clareza é conveniente a leitura da introdução ao
Decreto n.º 35.228, de 8 de Dezembro de 1945. Explica o processo que culminou em 45 e exprime polidamente quem roeu a corda.
Cumpts.
Caros Bic Laranja e JPG,
ResponderEliminarAgradeço os comentários e os esclarecimentos. De facto, este assunto tem vindo a interessar-me de forma crescente. Nenhuma lei é irreversível, mas à medida que os contornos desta "resolução" se tornam cada vez mais nítidos, torna-se fundamental tomar uma posição.
Apenas mais duas achas para esta fogueira:
ResponderEliminar1. Os "unificadores" da ortografia regozijam-se com a queda das chamadas consoantes mudas, ao mesmo tempo que aceitam de bom grado que se escreva António deste lado do Atlântico e Antônio do outro.
2. Quando se fala em "consoantes mudas" devia precisar-se quais são elas. Ninguém propõe o fim de todas as consoantes mudas, o que traria palavras como otel, ou oje. As que estão em causa são aquelas que os que tentaram, desde finais do século XIX, criar o "brasileiro", eliminaram.