Saúde Em Trânsito

A princípio, fiquei intrigado por ser a Organização Mundial de Saúde a fazer um relatório sobre a mortal sinistralidade rodoviária da nossa praça. Claro que muitos acidentes têm consequências clínicas e hospitalares, ou pior, conforme as fatalidades, mas pareceria mais compreensível ser um departamento específico a focar no tráfego a sua atenção. Isto, apesar de saber que a Saúde é um território de fronteiras vocabulares movediças, nunca esqueço a justificação duma não-partcipação de célebre maratonista, sob a alegação de se encontrar lesionada, quando estava... grávida. Mas faz todo o sentido esta avocação das preocupações, se considerarmos a barbárie automobilística cá do burgo como um caso de falta de saúde mental. Ainda recentemente, ao ler um livro sobre Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial, vi o testemunho de um estrangeiro então por cá que se mostrava assombrado com a profusa utilização que os nossos Compatriotas davam ao acelerador e ao claxon. E isto numa altura erm que eram muito menos os carros e as frustrações. Também Sven Goran Erickson só conseguiu encontrar no trânsito uma área de que pudesse dizer mal dos nossos. Perante isto, o segundo lugar nem é mau. Penso que o cerne da questão está nas mitificações lusas do automóvel. Nenhum Povo, apesar dos Italianos, se apega tanto aos veículos e ao ideal que neles faz do que quereria, como nós. Talvez porque esse artificial prolongamento de si seja a maneira que resta de ficcionar que tudo corre sobre rodas...
                                                            Choque, de Steph Crase

2 comentários:

  1. O problema é mesmo a falta de civismo em relação aos peões. Trabalho numa zona em que entre o local de estacionamento da viatura e o local de trabalho, tenho de atravessar uma estrada, que sendo dentro de localidade, "dá a impressão" que é "fora da localidade". Resultado, primeiro que os automobilistas resolvam dar passagem ao peão é de espera galego, e com muita sorte quando não se põem a acelerar quando vamos atravessar na passadeira.

    Beijinho Querido Paulo

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  2. Querida Ariel,
    é o que eu sempre digo, deixando a cada um ter um automóvel dá-se-lhes a ilusão de terem poder, como com um televisor se enganam quanto a terem opiniões. E são muitos os que abusam. É dos livros, que cada vez menos vão lendo.

    Beijinho

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