O Mito e o Homem

No meio dos demagogos cheios de ressabiado discurso que, ultimamente, lideram a América do Sul, Hugo Chávez até passa por aristocrata, embora a altissonante linha retórica que adoptou não o tornasse muito plausível em tal papel. Mas sempre era um Oficial das Tropas de Elite, contraposto aos encobridores de corrupção, nepotistas, padres despadrados, ex-guerrilheiros e traficantes de droga que aquele cone subcontinental nos vem dando. Aliás, o seu Bolivarismo, com camisas vermelhas de garibaldina semelhança, até pode passar por uma compaixão genuína pelos desvalidos, num enquadramento de paixão nacional contra dominadores habituais de língua e sentimentos alheios, mais ao Norte plantados. Não chega o infantilismo verbal de episódios como o célebre com o Rei de Espanha para o reduzir a um insurreccionismo pueril. Se, numa reunião internacional, parece criancice não deixar discursar os outros e, depois de repreendido, maior ainda dizer que se calara porque não ouvira, ajuda a compor a figura o pano de fundo de indignada reivindicação de um lugar digno para países menos habituais, como, internamente, para camadas menos próximas do Poder. A mesma intenção que terá presidido à ambição de ver a Venezuela evidenciar-se no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A mesmíssima que o terá levado à amizade com Fidel Castro, numa assunção de que os inimigos dos meus inimigos meus amigos são, como, da parte do ex-Líder Cubano, já acontecera com o Bem-Aventurado Papa João Paulo II e o seu criticismo às políticas económica e externa dos Yanks. O Prof. César das Neves, quando reduz ao Petróleo o êxito da governação do Falecido e afirma que as coisas deixaram de funcionar no seu País, ao contrário do que antes acontecia, poderá estar certíssimo em termos puramente económicos, mas não conseguiria errar mais, no domínio da Moral. Chávez ascendeu ao Poder, pelos votos depois de o ter tentado pelas armas, justamente por ser a mais identificável oposição aos fungíveis políticos dos partidos, desacreditadíssimos por encherem os bolsos próprios e os cofres das cores à custa de latrocínios e favores pagos. Por isso, pela desforra sobre os detestados rapinadores que oprimiam e por não ter chegado à Velhice, já tinha assegurada a aura do mito, sem que fosse preciso atribuir a Washington a autoria do cancro assassino que o levou. Como dizia o outro, não havia necessidade.
                                                    Da autoria de Eliu Abimelec Arteaga Ortega

8 comentários:

  1. rudolfo moreira06/03/13, 10:56

    talvez por isso os outros presidentes da zona aceitaram ser quase comandados por ele

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  2. caro Paulo, o homem foi arrogante e populista como poucos na américa latina. Falava para o umbigo e falava a todas as horas na comunicação social para satisfazer o seu ego revolucionário mas... que ficou melhor na sociedade Venezuelana depois de tanta revolução?

    abraço

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  3. Sempre nos encontramos a meio, ó IC...
    Quanto às causas da doença, que sei eu?... 50 para a biologia; 50 para a CIA.

    Amplexo estreito

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  4. Excelente análise, Querido Paulo, a verdade é que o homem pesa embora o populismo, as palhaçada e as teorias da conspiração, deixou uma Venezuela onde milhões de venezuelanos conseguiram ter acesso a um mínimo de dignidade nas suas vidas.

    Beijinho

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  5. ó home falta-te ass inar a authoria....

    sinceramente

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  6. Meu Caro Rudolfo,
    claro que havia uma diferença enorme entre eles e Chávez, quer no currículo, quer nas realizações, como ainda na constância interventiva, A partir daí, com os Cubanos permanecendo num limbo do confinamento, era natural cederem-lhe o papel de guia.

    Meu Caro Joãa,
    não discuto isso, masveja lá as saudades que deixou entre tanto Venezuelano, a começar pela Cumunidade Lusa e Lusodescendente! Faz-me lembrar Evita e os Descamisados, a quem os asdversários insistiam em accusar de se vestir de Chanel. São remoques parciais, nos vários sentidos do termo, que pouco explicam.

    Caríssimo RAA,
    haverá, pelo menos, essa virtude no tal meio. Mas atribuir a Doença à Agência parece-me uma teoria da conspiração para os menos delirantes, embora tenha começado no próprio Desaparecido, que, em tempos, declarou ter suspeitas de os EUA estarem propositadamente a fomentar o Cancro na América Latina, presumivelmente para beneficiar grandes farmacêuticas. Se assim fosse, caso para dizer que lhes teria dado ideias...

    Querida Ariel.
    isso resume o fundamental do que penso: profundamente alheio ao personagem, constato que ele foi mais do que o estilo.

    Beijinho e abraços

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  7. Vou tentar ser sucinto:
    - o homem era um demagogo sem vergonha,
    - na cena internacional fez amizades com pessoas tão recomendáveis como os irmãos Castro, Lula, Dilma, Rafael Correa, Ahmadinejad e Sócrates,
    - deu poder a que agentes cubanos controlassem a sociedade venezuelana,
    - empobreceu o seu país de uma forma bem socialista,
    - o desastre só não foi maior porque nos últimos anos o preço do petróleo tem estado em alta,
    - à boa maneira soviética, apadrinhou bandos de guardas revolucionários para desancar em tudo o que fosse oposição.
    Morreu um bandido e um patife.

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  8. Meu Caro Átrida,
    é magnífico ter-Te por cá, mesmo se sucintamente!
    Que Chávez foi um demagogo, ninguém contestará, salvo os adeptos mais acirrados. Já quanto à Sorte, lembra sempre aquela frase de Cocteau, que dizia acreditar nela não teria outra forma de justificar os êxitos das pessoas de que não gostava... De qualquer forma, cabe-lhe o mérito, para mal dos nossos pecados, de ter contribuído, com intervenções anti-liberais, para o aumento do preço do barril, de 14 dollars para os mais de cem a que chegou.
    Da riqueza menos oleosa, parece, sobretudo ter conseguido espalhar a ilusão de uma distribuição mais larga. E, seja ou não correspondente a realidade, trouxe alento a muita gente que vivia sem ele, evitando, em simultâneo, o pauperismo burocraticamente institucionalizado dos Comunismos.
    Mas claro que atirar umas classes contra as outras foi má acção, à unidade nacional bastaria talvez a arregimentação contra os exploradores do Exterior.

    Abraço

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