Vale Em Ti(m)

São Valentim é um Santo impreciso, mas no sentido de que a sua história e existência são incertas, não no de que não seja necessário, nestes tempos em que o Sentimento privado pode ser uma das derradeiras bolsas de resistência à opressão da Coisa Pública, como a sua lendária insistência em celebrar casamentos contra as ordens imperiais que visavam excluir a concorrência que afastasse os recrutas. O êxito do dia a si alusivo é curioso: se pensarmos como repugna o amor concretizado a horas certas, a exemplo do que transmitiu Flaubert em Charles Bovary, também aquele que emerge em datas determinadas parece ter poucas pernas para andar, agravado por não ser um aniversário de memórias queridas de cada par, mas subsunção a incitações consumistas de mais uma quadra de alegria condicionada. Há, entretanto, mais outra razão para consagrá-lo, a reafirmação de um alívio anual por ver ainda sobrevivo um passageiro sujeito a tantos perigos, como, no caso oposto, o dos "amores mortos", a assunção curricular do naufrágio como enriquecimento e engrandecimento espirituais. Exactamente a ultrapassagem da tristeza de que, sem o explícito aproveitamento tornado inviável pela persistência já sem concretização, nos fala Nolwenn Leroy em «14 Février»:
Il y a des jours
Des jours où les dieux vous oublient,
Où certains souvenirs vous pèsent
Des jours qu'il ne faudrait pas vivre,
Où mettre entre parenthèses,
juste un jour,
que j'ai rayé
Pour toujours
14 février
Il y a des jours
Des jours qui sont des ennemis
Pire que des vendredis 13
Des jours qui passent au ralenti
Sans que les pendules se taisent
Juste un jour
Du calendrier
Juste un jour
14 février
Quand on sait le temps,
Quand on sait le mal
Que ça demande - pour oublier
Quand on sait le vide
Quand on vit ce manque
En attendant - de ne plus aimer
De ne plus aimer
Il y a des nuits
Qu'on ne voudrait pas voir venir,
Vous mettent au bord d'une falaise
Des nuits trop blanches pour s'enfuir
Parce qu'elles vous rendent mal à l'aise
Comme ce jour
Du sablier
Juste un jour
14 février
Quand on sait le temps,
Quand on sait le mal
Que ça demande - pour oublier
Quand on sait le vide
Quand on vit ce manque
En attendant - de ne plus aimer
Quand on sait le temps,
Quand on sait le mal
Que ça demande - pour oublier
Quand on sait le vide
Quand on vit ce manque
En attendant - de ne plus aimer

4 comentários:

  1. rudolfo moreira14/02/13, 14:20

    mesmo se forem imaginários Valentins destes são muito melhores dos que os que temos

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  2. Pois, Caro Rudolfo, temos que viver com o que temos, pecadores muito longe de chegar a santos...

    Abraço

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  3. "Des jours qui sont des ennemies, Pire que des vendresids 13"? nasci a uma sexta-feira 13, no belo mês de Maio, não posso acreditar que seja o pior dia que existe...:))))
    ah, e não ligo nenhuma ao dia de S. Valentim...

    Beijinho Querido Paulo

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  4. Querida Ariel,
    aqui quero, para Todos, deixar testemunho de uma minha (re-)conversão: a partir do que hoje foi revelado, no comentário anterior, declaro passar a estimar as Sextas 13 e a achar que elas nos trazem a Sorte!

    Beijinho
    PS: mas como é que Alguém Que nasce no dia maior de Fátima pôde escorregar tanto para a heresia???
    Beijinho

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