Tudo Azul?

Da Austrália, pelo Sr. Clive Palmer, surge o projecto de dar uma segunda oportunidade ao orgulhoso nome que ficou definitivamente comprometido pelo impacto esmagador do Desastre. Fazer uma réplica do Titanic, mais do que tentar o destino, é um tosco meio de tentar ganhar dinheiro à custa de uma refutação do sucedido que alimente nos presuntivos passageiros a ilusão virtual de se fazerem ou verem vencedores do Infortúnio. Até aí, nada de muito novo. Mas na ausência da novidade que se estende ao exaustivo e maníaco acervo de imitação, sobressai uma circunstância mais emblemática dos dias que atravessamos: optando por uma ilha flutuante sem INTERNET nem televisões, diminui-se drasticamente o contacto com a verdadeira catástrofe que vai sendo o Mundo em redor, proporcionando a substituta excitação da memória do risco, esterilizada pela noção da improbabilidade estatística da repetição. Enquanto que todos os que ficam de fora terão de pagar um preço muito mais alto que o dum luxo em bilhete na viagem inexorável para dias piores. O Azul da nova Estrela que dá nome à companhia está longe de apaziguar os espectros que nos assombram, salvo na residual alienação de, curiosos, seguirmos a primeira viagem do clone da tragédia.
                                               Paisagem com Naufrágio, de Jaroslav Róna

2 comentários:

  1. Os Homens são seres repetitivos, digo, seres recicláveis pelo encéfalo. Digo isto mas, acho que a Alma e o Espírito são "construções" irrepetíveis! Vai daí, ver um novo "Titanic" não me espanta o que me espanta é o mentor ainda não se ter apercebido que o Titanic só o foi pelo desastre! Será que esta "embarcação" pretende navegar em águas calmas ou na deriva da tragédia?

    abraço

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  2. No Vinte, Meu Caro João, a imitação bufa do involuntário instrumento da Tragédia pode apenas proporcionar frisson fonte de desfastios a ociosos superficiais que procurem nas curiosidades ocas sinais de excepcionalidade, como alguns, de forma acéfala, fazem no Jogo.

    Abraço

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