Imagino poucas penas infernais mais duras do que a de ter de suportar as imagens dos políticos. Figuras de estilo balofo, ou, simplesmente, papagueação de expressões feitas, essa fast food do espírito que visa entreter o estômago da credulidade, mas é muito pobre de conteúdo e revela o decréscimo contínuo da Qualidade na classe politica. Veio o Primeiro Ministro acrescentar duas pérolas, a de garantir não estarmos a vogar num ciclo vicioso e a de desejar que vejamos todos a luz ao fundo do túnel. Não tem conta o número de gente com obrigações que arrota o primeiro disparate, quando a expressão original é círculo vicioso. Claro que esta última tem lógica, indica um processo em que, fazendo todo um caminho, se é reconduzido ao ponto de partida, assim como os impostos que se aumentam para fazer crescer a receita e que acabam por ver frustrada essa expectativa pela diminuição dos proventos sobre os quais incidiam. Talvez o Dr. Passos, intimamente, para escamotear a evidência, tenha negado o tal «ciclo» na ideia de abster da imputação de vícios o pessoal que emprega na sua fase governativa, não vejo outro sentido útil...
Já o Túnel do Marau - que não outro por demais encalacrado, o do Marão - é uma escavação tão sombria que não se percebe qualquer saída, salvo a com que o Cavalheiro nos brindou. Mas, de tanto procurar a tal luz, de repente, ao ler o modo como principiei este desabafo, senti-me macabramente iluminado: a sobredita luminosidade é a do fogo do Báratro, de que, cada vez mais, vamos sentindo os calores mesmo nesta galeria sinistra e arrastada que lá conduz, direitinho. Junto prova documental: Os Nove Círculos do Inferno, de Botticelli
Se já é dificil utilizarmos o termo "Qualidade", referindo-nos à classe política, que dizer da linguagem, do português macarrónico, da total ausência de um mínimo de sentido ao nível da expressão oral? O mais trágico é que a esmagadora maioria das pessoas não liga nenhuma a isso, estão-se simplesmente nas tintas, por isso chagamos aqui, ao inferno como muito bem diz.
ResponderEliminarBeijinho Querido Paulo
É precisamente isso, Querida Ariel. Só se liga ao que deixa a bolsa vazia e, na melhor das hipóteses, a de um simulacro de juízo crítico reflectido, até se desconfia de quem fala com correcção, considerando-se um impostor potencial. Mas claro que é excelente deixar à inconsciência das gentes uma opção pré-condicionada entre vários males...
ResponderEliminarBeijinho