Depoimento
Se penso em mim por um bocado
E me pergunto quem sou eu,
Sobre mim mesmo debruçado
Sou um poeta que morreu.
Venho do mapa sem lugar
Onde a Terra é uma bola.
Atiro aos outros um olhar
Como quem dá mais uma esmola!
Quanto ao mundo - um ermitério.
Quanto à morte - a minha vida.
Caminho para o mistério
(Para a flor não colhida).
A negra calma difusa,
Eu quero a Noite mais noite,
Mais noite a Noite do Campo!
(-Nem só luza
Um pirilampo!)
Tão-pouco estertor de velas.
Eu quero a Noite mais a noite.
Mais noite no Firmamento!
(-Apague as estrelas
Um sopro do vento!)
Nem longe luz de luzeiros.
Eu quero a Noite mais noite,
Mais noite a noite na Rua!
(-Nem candeeiros,
Nem lua!)
Noite silente! - nem um balbuceio...
Noite de luto! - nem um bruxuleio...
Nem do ao longe uma canção,
Nem um fósforo se afoite!
-Perca-me eu, na Escuridão...
Perca-se a noite, na Noite!...
Rodrigo Emílio
in "Primeira Colheita (1957-1972)", Editora Pax (1973).
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