À falta de motivos mais dignos, a voracidade mediática mergulhou na Maçonaria. Com a consequência pacóvia de fazer muitos membros, simpatizantes e estudiosos saltar a terreiro em defesa da dita, numa gama de registos que vai da exaltação do papel libertador da coisa, à instilação de que ela não é tão má como a pintam. Esqueçamos as grandes palavras ocas e as carências de empatias que se perfilam por detrás de qualquer organização do género, o que é evidente é que estamos perante uma estruturação de cumplicidades que visa a obtenção de Poder e excluir ou preterir na disputa dele os que lhe não pertençam. Quando as apetências eram de índole cultural foi encarnada por uns aristocratas desejosos de combateremo ócios e fastios com o domínio dessa vertente, graças ao apoio dos confrades. No Liberalismo emergente, passaram a ser os assaltos às instituições políticas e aos bens nacionalizados o object(iv)o dos entendimentos da
fraternidade em questão. Com o alargamento do espectro social dos seus membros, passou a empenhar-se na República, pois uma quejanda modificação do sistema abre sempre mais cargos à fomeca deles. Fê-lo, diz-se, com actas da organização a respaldarem assassinos de Reis que eram seus membros e, incontestavelmente, usando de forma rotineira a violência de "formigueiros albinos" para esmagar sindicatos, como outros opositores; e para resolver até rivalidades intestinas. Esse Sidónio que ontem um Investigador dava como um dos seus Membros Ilustres, quer dizer, atenuante, tinha-a abandonado ao perceber onde se havia metido e dissera alto e bom som para quem o ouvisse que tinha assinado a sua sentença de morte com a clivagem face a tal submundo. Que admira hoje, quando o arrivismo na Crise visa mera dinheirama, que as pressões da organização se
orientem para cargos e informações propiciadoras de carcanhol? Outro tanto se verificara em França nos desvios do caso Stavisky. Não se pode é pactuar com a cantilena de que não se deve visar a federação, por serem muitas as obediências e núcleos, que não a Loja MKozart das notícias incriminatórias. Essa é argumentação tão procedente como a da defesa da Mafia sob o pretexto de que só uma das suas famílias estava acusada de determinado crime, quer dizer, dar-nos música e de muito pior qualidade do que a do Patrono envolvido. Na melhor das hipóteses, a polarização maçónica, com ritos de hostilidade aos profanos de duvidosa constitucionalidade e incontestável imoralidade, é uma megalomania inócua que tenta inventar-se genealogias de enturmanço e confortos de ambiciosos ou traumatizados sociais da mesma igualha. Na pior, é uma sede de exclusão do Outro que não olha a meios e se deixa aprisionar pela ideia fixa de prevalecer. E seria estranho que tanto se criticasse campos muito mais inofensivos e abrangentes, como a porosidade entre a Política e o Futebol e se deixasse intocada a mixórdia consequente de favorecimentos e preterições, por vezes ilegais, que mancha o Avental. Dos mais livres de aspirações de carreira de entre os seus membros rebentam ramadas da malignidade mais reconhecível, sejam esse Crowley sacrificador de animais e suspeito de homicídios, ou o confesso autor norueguês de atentados repugnantes. Claro que nem todos os
Irmãos chegarão tão longe, mas por que carga de água é que as companhias em que andam não nos dirão, também neste caso, um pouco, quem eles são?
Inteligente e apurada a sua análise, Paulo, sobre o tema momentoso e por demais grave e perigoso que preocupa os portugueses por todos os motivos e com razão. Sendo um dos principais o secretismo absoluto e muito misterioso que rodeia todas as decisões tomadas nessas reuniões à porta fechada, políticas e outras, que podem vir a afectar a vida de milhões de portugueses - como são exemplo os trágicos acontecimentos que se abateram sobre o nosso povo e país no decorrer das últimas quatro décadas, para os quais os portugueses não foram tidos nem achados - de que só os ilustres 'irmãos' dos graus mais elevados (e porventura os mais perversos) têm voto na matéria.
ResponderEliminarOra bem, se eles dizem que não têm nada a esconder dos portugueses então que digam tudo o que se passa nessas estranhíssimas e secretas reuniões, começando por abrir as portas a quem quiser assistir. Afinal alguns já se vão assumindo como maçons, o que já é qualquer coisa...
Maria
Querida Maria,
ResponderEliminarobrigado pelas qualificações, mas é apenas uma pobre chamada de atenção para a segregação dos profanos, quer nas distribuições do hissope laico do Poder vigente, quer no próprio cerimonial pleno de hostilidade a eles nas reuniões que enformam a exclusão "fraternal" do Outro e que parece caracterizar aqueles obscuros convívios.
Só não sei como não defenderam a colocação da respectiva gente nos serviços secretos com a experiência referencial e, se calhar, profissional, nas sociedades que também o são, como elemento curricular relevante...
Beijinho