Tanto patriotismo aí todos os dias se desbarata em génios e comentadores, e nenhum se move em favor da língua materna. Um ror de movimentos, até do foro político, para defesa dos animais em perigo — e ninguém acode às palavras em vias de extinção. Digam-me em verdade se há algum país do mundo, do Vietname à Islândia, onde assim se tripudie sobre o idioma. De dia para dia se sente a introdução de mais uma barbaridade, dentro em pouco repetida por todas as bocas e martelada em todos os teclados.
No meio deste desconcerto glótico a gente gargalha ao pensar que o Diário da República — o mais mal escrito dos nossos periódicos — é que nos vai impingir por decreto a escrita harmoniosa e bela. Um Estado omnipotente, omnipresente e omnisciente, mais tarde ou mais cedo, sentir-se-ia tentado a nomear um chefe de repartição da vernaculidade, ainda que o funcionário incorra amiúde no vício do solecismo. A resolução do Conselho de Ministros que determina a aplicação do Acordo Ortográfico nas escolas a partir do ano lectivo de 2011-2012 é um fartote. Só entre a segunda e terceira frases há sete palavras terminadas em –ão, decerto para dar um sabor popular ao texto. Talvez o legislador não saiba exprimir-se de outro feitio. Mas é precisamente por isso que lhe falta legitimidade para impor a norma.
O português é riquíssimo. Isso de não há palavras que descrevam é muleta de quantos ignoram o manancial da língua. O velho rifão que assegura valer mais uma imagem do que mil palavras tem, à certa certeza, raiz estrangeira. Em português podem às vezes as palavras, desde que bem emparelhadas, valer mais do que qualquer figura, ainda que retocada no Photoshop.
Escrevo este postal depois de saber que os calistos elóis e as ifigénias do ministério dispensaram Camilo Castelo Branco dos programas escolares. Mau aluno do mestre de S. Miguel de Seide, lamento e protesto. Sem Bernardes ou Camilo, sem Aquilino ou Tomás de Figueiredo, fica o português entregue aos gabirus de extracção moderna, nobelitados ou por nobelitar. Uma tristeza pegada.
O português é riquíssimo. Isso de não há palavras que descrevam é muleta de quantos ignoram o manancial da língua. O velho rifão que assegura valer mais uma imagem do que mil palavras tem, à certa certeza, raiz estrangeira. Em português podem às vezes as palavras, desde que bem emparelhadas, valer mais do que qualquer figura, ainda que retocada no Photoshop.
Escrevo este postal depois de saber que os calistos elóis e as ifigénias do ministério dispensaram Camilo Castelo Branco dos programas escolares. Mau aluno do mestre de S. Miguel de Seide, lamento e protesto. Sem Bernardes ou Camilo, sem Aquilino ou Tomás de Figueiredo, fica o português entregue aos gabirus de extracção moderna, nobelitados ou por nobelitar. Uma tristeza pegada.
Assinámos por baixo!
ResponderEliminarA ler também a crónica de Jaime Nogueira Pinto sobre Camilo no Sol de 24/6.
ResponderEliminarIsso está pavoroso! E com imbecilidade pacóvia vão buscar os estrangeirismos mais manhosos como prova de sofisticação. Já disse: a nossa rica língua é o último "ferrolho" da nacionalidade e que esses criminosos têm destruir. Abraço amigo!
ResponderEliminarMais um texto de antologia, do muito nossso BOS.
ResponderEliminarAbraço!
Uma tristeza, é verdade!...
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