“Os políticos querem institucionalizar a asneira na língua portuguesa”

Contra o disparate do Acordo Ortográfico há que não baixar os braços. Aqui fica a entrevista que fiz a Vasco Graça Moura e que foi publicada no “O Diabo” da semana passada.

Escritor, tradutor e eurodeputado durante dez anos, Vasco Graça Moura tem sido um incasável opositor ao Acordo Ortográfico (AO) desde o início da polémica sobre a sua adopção. Alertando sempre para as consequências nefastas do AO, publicou em 2008 o livro “Acordo Ortográfico: A Perspectiva do Desastre”. Recentemente apelou ao novo Governo que suspendesse a sua aplicação. O DIABO, jornal que recusa o AO, entrevistou-o.


Sempre foi um feroz opositor ao Acordo Ortográfico (AO) e recentemente apelou ao novo Governo que suspendesse a sua aplicação. Porquê?
Porque me pareceu que este Governo tinha todas as condições para agir com sensatez na matéria. Infelizmente, o que li no seu programa é muito decepcionante e mostra que o Executivo não percebeu. Nem de perto nem de longe, o que está em jogo.

Acha que existe uma real possibilidade deste Governo suspender o AO?
Acho que sim, mas é cada vez mais remota.

Como já afirmou, juridicamente ainda não está em vigor…
Esse é o meu entendimento: um tratado internacional, para entrar em vigor e produzir efeitos, tem de ser recebido na ordem interna de todos os Estados que o assinaram. Ora o AO não foi ratificado pelo menos pela República Popular de Angola e pela República Popular de Moçambique.

Não tem poupado críticas ao AO, chamando-lhe mesmo “abominável”. Acha que não há a percepção das consequências da sua adopção?
Este é um dos casos em que os políticos deveriam atentar nos pareceres especializados, como fazem para um aeroporto ou para o TGV. Não o fizeram, não percebem o que andam a fazer e querem institucionalizar a asneira na língua portuguesa…

Que responde àqueles que o acusam de ser “fundamentalista” ou “retrógrado”, dizendo que o português é uma “língua viva”?
Sugiro-lhes que não sejam parvos e pensem um pouco na língua que dizem falar. Mas não penso gastar o meu latim com eles.

Parece que no caso do AO se ignoraram as críticas de vários especialistas e os protestos de tantos cidadãos apenas porque são contra. Concorda?
Só há posições contra. Existem pelo menos nove pareceres altamente qualificados contra o AO. A favor dele não há nenhum. Mesmo no Brasil reconhecem que está cheio de vícios. Só os autores materiais da coisa é que são a favor. Há dezenas e dezenas de milhares de cidadãos que protestaram. Mais de 130.000!

Foi uma imposição?
Foi uma patetice cujos responsáveis não querem dar a mão à palmatória

O que é possível fazer para parar o AO?
Apelar ao bom senso dos governantes e das Academias e levar à suspensão com vista a uma revisão do texto. Esperar pela criação do vocabulário ortográfico comum, elaborado com intervenção de todos os países subscritores. Guardar a ratificação pelos países que ainda não o ratificaram.

Não é uma guerra perdida?
Espero que não seja.

Acha que é importante haver meios de comunicação, como “O Diabo”, que se recusam a adoptar o AO?
Acho essencial: é um verdadeiro exercício de cidadania.

Vai continuar a publicar as suas obras segundo a ortografia actual, mesmo que a editora adira ao AO?
Ponho sempre como condição o uso da ortografia em que escrevo.

2 comentários:

  1. Bic Laranja23/07/11, 10:25

    Este é um caso em que, por mais que sejamos, nem um conta. Os governos têm ignorado tudo. É um enxovalho perpetrado por tratantes descarados e idiotas úteis. Merecem todos, não tanto como desprezo, mas antes cuspirem-lhe em cima e tratarem-nos a pontapé.
    Honra ao «Diabo».
    Cumpts.

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  2. Du Seabra Calado23/07/11, 16:27

    muito bom

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