Tão afastado estou delas que nem dei, atempadamente, pela passagem do Dia das Redes Sociais. Detesto-as. Desde logo por as tomar como culpadas do declínio blogosférico. Mas muito mais. Porque o tipo de Leitura que veiculam é o do ruído caro a quem não quer estar sozinho, o do alívio de ser encontrado e contactado por indivíduos que a curiosidade ou o acidente hajam feito cruzar-se com cada qual. É o contrário do acto de ler como descoberta, o da procura detida e continuada, aquele que traz a nós as interpelações da Sensibilidade e do que não é superficial, num certo sentido, as das Vozes do Silêncio. Que são todas as que não queremos ouvir, por nos puxarem para fora da banalidade quotidiana que, contudo, a tantos deixa na boca sabor a pouco. O Silêncio dos Mortos que nos fizeram, o das profundezas oceânicas para o Comandante Cousteau, o da Arte, segundo Malraux, como aqueles que tememos, por exemplo o do nosso remorso; e Os Que desejamos protelar ou, ao menos momentaneamente, esquecer, como o de Deus. Silêncios que só existem para quem não quer ouvir os chamamentos das respectivas origens, por não nos sossegarem ou anestesiarem, opostos que são à demanda acéfala da inconsciência que triunfa nestes tempos da Sarjeta.
A imagem é Gárgula, de CayshaDe Anrique Paço D´Arcos:ELEGIA DO SILÊNCIO
Silêncio, voz sem fim das coisas mudas,
Do coração que eu tenho e Deus me deu;
Voz do luar morrendo sobre as ondas,
Das árvores que se erguem para o céu.
Silêncio, cinza que foi chama ardente,
Foi oração, foi canto de alegria;
Voz da vida que finda lentamente,
Da morte que em silêncio principia.
Voz de tudo o que existe e não tem fala,
Voz do incenso que sobe em oração,
Como o doce profundo que se exala
Das rosas esfolhadas pelo chão...
Voz das lágrimas tristes, voz do pranto
Nas faces magoadas pela dor;
Voz do dia ao morrer cheio de encanto,
Na agonia da luz desfeito em cor.
Voz oculta de tudo quanto existe,
Voz dos mundos cruzando-se nos céus;
Voz da alma que eu sinto e é tão triste,
Silêncio, voz de Além, a voz de Deus...
Silêncio, voz sem fim das coisas mudas,
Do coração que eu tenho e Deus me deu;
Voz do luar morrendo sobre as ondas,
Das árvores que se erguem para o céu.
Silêncio, cinza que foi chama ardente,
Foi oração, foi canto de alegria;
Voz da vida que finda lentamente,
Da morte que em silêncio principia.
Voz de tudo o que existe e não tem fala,
Voz do incenso que sobe em oração,
Como o doce profundo que se exala
Das rosas esfolhadas pelo chão...
Voz das lágrimas tristes, voz do pranto
Nas faces magoadas pela dor;
Voz do dia ao morrer cheio de encanto,
Na agonia da luz desfeito em cor.
Voz oculta de tudo quanto existe,
Voz dos mundos cruzando-se nos céus;
Voz da alma que eu sinto e é tão triste,
Silêncio, voz de Além, a voz de Deus...
Estou muito de acordo com o que diz. Mas não tenho a certeza que o declínio blogosférico lhe esteja associado, o que se vai vendo é que quem escreve em blogues acaba por os colocar também no fb. Penso que o efeito inicial dos blogues foi muito forte pela novidade e possibilidades que o novo meio de expressão constituía, mas que não poderia durar eternamente, hoje é tudo muito rápido, é tudo para consumir e nada para desfrutar....
ResponderEliminarBeijinho Paulo e não esteja triste..))
Eu não, Querida Ariel. E já com Kundera tinha descoberto as vantagens da Lentidão.
ResponderEliminarDescobramos pois outro silêncio de ouro, o do sentido da expressão - o próprio.
Beijinho grato por tudo o que aqui trouxe
Então, nada de mais adequado que anunciar o nascimento de um blogue, que calculo te irá agradar! :-)
ResponderEliminarhttp://tronco-em-flor.blogspot.com/
Abraço.
Paulo, querido Réprobo! Feliz por seu retorno ao velho Ainda Podia Ser Pior...
ResponderEliminarQuanto as redes sociais, quase me mataram o blog, até que descobri que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa: o que muda é a diferença...
Um grande abraço.
Esteja sempre por lá.