Memorial de Abril

Que o Capitão de Abril Vasco Lourenço se insurja por o Estado a que chegámos não se prestar este ano ao costumeiro carnaval das florzinhas vermelhas e das oratórias desbragadas, é compreensível, pois quem nada mais fez na vida gosta que lhe seja dada importância, ao menos uma vez por ano. Com a crise, porém, torna-se evidente para todos o que já era certo para alguns - culpabilizar apenas os deputados pela derrocada e celebrar os sobreviventes do MFA é como pedir à família da vítima que estigmatize os gatos pingados, fazendo, em simultâneo, o elogio dos carrascos que despacharam o defunto. Por isso lastimo que alguém com menores responsabilidades históricas mas mais imputabilidades intelectuais, Manuel Villaverde Cabral, tenha alinhado na insistência de festejar, quando tantos Portugueses foram trazidos ao limiar da sobrevivência. É como aqueles que vão de gravata vermelha a funerais, para marcar posição, o que sempre condenei, mesmo quando os autores da proeza concordavam comigo. Sugiro antes, em vez dos transportes retóricos da casa de má fama e pior proveito sita em S. Bento, uma cerimónia digna, em que os cravos de sangue cedam o lugar aos fumos negros e em que por altifalantes seja difundida continuadamente a «Marcha Fúnebre» de Chopin. Não poderia juntar imagem mais descritiva do banzé em prol do folclore habitual do que a dos Cangalheiros Esfomeados, segundo o «Punch».

7 comentários:

  1. É um post que não dá uma no cravo outra na ferradura
    Rudolfo Moreira

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  2. A analogia com gatos pingados e carrascos está brilhante, Paulo. De resto, quem quer saber de festarolas políticas neste momento? :-S

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  3. Meu Caro Rudolfo,
    e que esforço isso implica, pois, fazendo minhas as palavras de certo parlamentar célebre, os abrilómanos "não param quietos com o pé".

    É esse o meu ponto, Querida Luísa. Até é obsceno os delapidadores do País a convidarem os lesados para comemorar.

    Beijinho e abraço

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  4. E sem contar com a poluição oratória que dali se escapa.

    Beijo Paulo

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  5. De nos deixar gaseados, Querida Cristina.

    Beijo

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  6. Das melenas restam uns fiozitos... mas os pás continuam abundantes. Não fosse a destruição nacional e a impunidade dos meliantes a patetice desta brigada do reumático seria engraçada. Abraço Caro Paulo.

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  7. Meu Caro Marcos,
    ainda por cima, é tentar fazer os outros passar por tolos, atribuindo à mera incompetência legislativa o que faz parte da essência do regime dos partidos - partir o País em muitos cacos.
    Abraço

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