As Vivências à Deriva


Por que nos atrairá a ideia da repescagem acidental em situações caracterizadas por alguma suave resignação nas perdas que experimentámos, desde que a Melancolia haja ocupado o lugar da Tragédia? Não posso acreditar que se deva unicamente ao tour de force já sabidamente condenado a pontual da recuperação hedonista de bons momentos. Parece-me haver muito mais, uma mola vital que se tenta activar pela alternância do mecanismo de reviver com o da escapatória fleumática, como que moldando um sentido salvador: o de que deixar-se vogar um pouco ao sabor das correntes que levam e trazem - que nos levam e nos trazem - ainda é a melhor maneira de não se deixar afundar, ou de não nos perdermos para sempre no mar imenso. Mesmo quando as bóias de sinalização, reciclagens de pontos de referência do Passado pessoal, mudaram de localização, tentamos amiúde investir a nossa sede na supersticiosa e informe ideia de que não tenham cambiado a função, ainda que reconheçamos no efémero uma fatalidade, ajudados pelo mesmo álcool que estimula nas vezes em que não faz esquecer.
Jeanne Moreau no mais belo «Tourbillon»

3 comentários:

  1. ..."desde que a Melancolia haja ocupado o lugar da Tragédia". Só o meu querido Paulo tem esta elegância na descrição destas "evidências".....!!!. E depois este "Tourbillon" e Jeanne Moreau são irressistíveis...

    Beijinho

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  2. Querida Ariel,
    se são! E não me tenha por suspeito, porque estimando muito JM como Actriz, não a tomo por ideal de Mulher. Agora o proveito contido que convém à canção, num tom que integra a naturalidade das agruras da experiência no que seria a coutada do entusiasmo de opções artísticas com outros pressupostos é inolvidável.

    Pas de quoi, Ma Chére! Fico sempre contente quando consigo não desagradar à Querida Margarida.

    Beijinhos

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