Apanhados na Rede

Passado e Presente: A Infidelidade Descoberta, de Augustus EggLongo tempo me irritou a candura com que gerações anteriores acusavam a Literatura de ser responsável pela proliferação de adultérios. Não poderia reagir de modo diferente quando as gentes opinativas do dia acham outro tanto do Facebook. Mas noto que, havendo percentagem tão elevada a acreditar piamente que a rede social estimula a infidelidade, não cessam as menos pias adesões a ela...
Encarar como fatal a permeabilidade aos exemplos, mesmo os nocivos, é incompatível com a dignidade da vontade individual, a única réstia de respeito que a nossa espécie vai podendo reivindicar. E nesse ponto é que a moda da ligação que adiciona pode degradar a Ligação que privilegia, adquirido que está o desvanecimento da firmeza resistente dos sentimentos ou dos compromissos, a um extremo que constata que é a ocasião que faz sempre o ladrão.
Mas claro que as causas são mais fundas, a separação entre perda de dignidade e aventuras do sector, a banalização das concorrências, a desculpabilização dos divórcios e a ideia peregrina da criação de terapeutas familiares, como se as crises fossem como as doenças e não resultassem da responsabilidade e decorrentes condenações.
O que reduz o querer humano no sentido de força ao desejo e na acepção de estima ao controlo.

Sem comentários:

Enviar um comentário