Em Roma Sê Romano

Com uma surpresa pacóvia, descobriram os Britânicos, pela voz do Sr. Cameron que, por muitas festinhas que fizessem aos imigrantes islâmicos, estes não gostavam nem um niquinha deles. Há que reconhecer que John Bull estava mal habituado, as comunidades judaica e sikh, mantendo especificidades respectivas, atingiram um nível de coexistência e serviço que está longe de ser tão visível nos muçulmanos. E residentes de outros pontos do Ocidente, quais Henry James, esforçaram-se por encarnar um anglicismo de conduta à outrance, que surpreende, por vezes, os próprios naturais.
Qual a diferença, pois?
Em primeiro lugar, a qualificação inicial diversa da da prole, depois os conflitos de gerações, por último os anseios da dignidade intelectual reconhecida. A maior parte dos maometanos chegados nas últimas décadas ao Reino Unido fazia trabalhos menos reputados, como emblematicamente mostrava a voga das lavandarias paquistanesas. Os filhos destes, já alfabetizados nos primeiros degraus do ensino do país de acolhimento, revoltam-se contra a aceitação desta subalternidade pelos pais, tanto quanto os meninos do Ocidente se rebelam vocalmente contra o burguesismo exagerado que detectam nas suas famílias, embora nem tanto contra a mesada. Por último, entre os estudantes que conseguem integrar as universidades há sempre aqueles de pele mais sensível, que sentem numa carne viva pelos seus subconscientes criada a diferença de consideração histórica pelos seus pontos de origem colectivos quando os resultados individuais a que chegaram se aproximam dos dos colegas.

Resumindo e concluindo, o multiculturalismo falhou pela mesmíssima razão pela qual fracassam as (des)educações que mimam em demasia. Uma civilização, ainda que se trate de meros restos, tem de explicitar que quem quer nela viver deve respeitar e moldar-se aos seus usos e costumes, não pode ter a expectativa de querer as benesses do teritório alheio e combiná-las com hábitos ancestrais que gerem repulsa ou com revivalismos de identidade que choquem e, com o tempo, desagreguem. Por isso, contra Amigos que candidamente acreditavam estarmos perante uma ofensiva do laicismo contra todas as religiões, fui a favor da proibição francesa da burkha. Pela mesma razão achei uma cedência inqualificável a restrição dos pendentes com Cruz, na certeza de que o desigual deve ser tratado desigualmente. A persistência visível do modo próprio em terra doutros está reservada aos turistas.
Só essa décalage permite a convicção impositiva que diminua o tumulto interno no Primeiro Mundo. Pelo que o músculo do P-M de Londres parece dever ser recebido de braços abertos. A parte do liberalismo é que me suscita mais e maiores dúvidas...
A pintura é Revolta do Xadrez Islâmico, de Veru Narula.

4 comentários:

  1. Aplauso!
    ...isto para não chegar àquilo do :"não estão bem? vão para a vossa terra!", que parece que não é nada 'p.c.' ou lá o que é...
    :(
    cum'raio...

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  2. Não podia ser mais claro. Parabéns!

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  3. Burkha e niqab, para mim é uma evidência, tanto que me custa perceber que haja quem pense de forma diferente...
    :))

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  4. Querida Margarida,
    obrigado, mas não iria tão longe, penso que bastará este alerta contra a permissividade e a postura que abdica de valores, sempre más pedagogias...

    Obrigadíssimo, Caro Reaccionário, esperemos poder felicitar outrossim os governantes que agora parecem querer arrepiar caminho.

    Querida Ariel,
    mas claro que cada um tem o direito de pensá-lo e agir em consequência, desde que na SUA (DELES) TERRA!
    Beijinhos e abraço

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