O que sucedeu à Aldeia da Luz, com nome de tão irónica ressonância, é a condenação da Utopia, mesmo que em versão mitigada. O que se tentou foi, clonando uma povoação a submergir, evitar o choque e a falência certos de uma criação total a partir de um projecto inteiramente novo, mas não se percebeu nesta aventura urbanística o que de sobejo se sabe na vida íntima: um sucedâneo nunca chega aos calcanhares da real thing. Assim, com a burla das expectativas dos habitantes e a quota-parte de desertificação que lhe compete, a nova aldeola é um autómato desalmado, levando a que hajam sido dois os grupos de casas a meter água e não apenas o que se pretendia tomar por ela. Mas toda esta tristeza pode também ser vista como uma metáfora de Portugal. Ao tentarem construir um novo, com os melhoramentos da Europa evoluída sobre uma cultura tradicional decalcada para turista ver, arruinou-se a habitualidade que pacifica e reconforta, por carenciada que seja. E a aceleração inexorável para o fim bate, hoje, a cada porta angustiada e deprimida.
Portão de Entrada, de Marcelle La Cour
e mudanças assim só são atracção turística enquanto dura a novidade
ResponderEliminarSim, Meu Caro Rudolfo, apesar do deslumbre que é o Alqueva, a parte especificadamente relativa à Aldeia da Luz, neste momento, só apela aos entusiastas das explorações subaquáticas.
ResponderEliminarAbraço forte
Deslumbre, o Alqueva? Deslumbre era antes...Felizmente ainda tive oportunidade de conhecer o Alto Guadiana antes da instalação do Grande Lago...E o Tua...e o Sabor...
ResponderEliminarAb
Tiago
Bem, eu andei num mini-cruzeiro por lá, no antigo cargueiro à vela holandês Sem Fim e não desgostei, Meu Caro Tiago.
ResponderEliminarAbraço