Se Michael Phelps fosse português (género Obikwelu,
versão caucasiana), existiriam por cá ruas Michael Phelps, avenidas Michael
Phelps e alamedas Michael Phelps, para além de praças, esplanadas, auditórios,
bibliotecas, cine-teatros, hospitais, ginásios, escolas, pontes e até centros
comerciais (sob a marca registada "Phelpshopping").
Em postais distintos, os bloguistas lusos esfregariam nas
ventas da troika as vitórias do campeão como prova irrefutável do acerto português
e da superioridade de Keynes.
O Presidente da República ver-se-ia obrigado a contratar
mais um assessor de imprensa, por coincidência primo do actual, só para
escrever os comunicados laudatórios. E em cada 10 de Junho seria já o próprio
Phelps a impor as comendas de mérito nos pescoços derreados de tanto mourejador
pela Pátria.
Os jornais divulgariam, com indisfarçável incómodo, os
escândalos da Fundação Michael Phelps, tomada de videirinhos e comissários
políticos. As revistas esquadrinhariam a intimidade do nadador – e Lili
Caneças, campeã olímpica da vida cor-de-rosa, viria em socorro do atleta com
sentença aforística: «Viver a nadar é o contrário de morrer afogado».
Por força da popularidade crescente, o atleta figuraria
no cartaz dos carnavais de Ovar ou Torres Vedras, de bóia e braçadeiras em cima
de um carro de lavoura, como rei do corso.
Um grupo de intelectuais, sempre a farejar o "desenvolvimento" e o "progresso", exigiria em manifesto um tanque de 50
metros por cada freguesia como novo "desígnio nacional".
No parlamento, uma comissão de especialistas discutiria,
com ar solene e solerte, a mudança da própria bandeira: em lugar da esfera
armilar, uma piscina olímpica; em vez das 5 quinas, 8 pistas de natação.
Em séculos de história marítima, nadaríamos assim do
herói de elmo e espada para o herói de calção e touca de banho. O progresso é
acalorado, meus amigos. Não suporta armaduras nem roupa apertada.
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