Os Povos e os Reis

Assisti ontem, no Museu do Mar, em Cascais, a uma notável conferência de Margarida Magalhães Ramalho, sobre a obra fotográfica e artística do Rei D. Carlos, de Quem se inaugurou uma pequena exposição de trabalhos inéditos. O prato forte foi o virtuosismo cultural do Martirizado Monarca, onde se confrontou a suspeita, levantada pelos seus inimigos, de serem as aguarelas devidas mais ao seu Mestre Espanhol Enrique Casanova com a humilde ironia do visado dizendo-Se satisfeito com a confusão do seu com o talento de um Pintor que admirava e com o facto, hoje de pacífica aceitação, de ter a Sua produção maior qualidade do que a do respectivo iniciador. Mas mais, o reconhecimento por parte de gente hostil como o primeiro Fialho ou Rafael Bordalo Pinheiro e a recordação do que era a preparação do Príncipe Herdeiro, com dez horas de estudos diários e sem férias, dose cavalar pouco compatível com a disponibilidade do comum dos mortais de hoje e rotunda infirmação da vida regalada que a canalha tenta sempre assacar às Cabeças Coroadas para acirrar os ânimos do que de pior haja no vulgo. Mas sabe-se como as paixões pela Educação secam subitamente quando é abordada no respeitante à Coroa.
Depois, as Admiráveis Mulheres daquela Real Família: a Rainha D. Maria Pia, atirando-se ao mar para salvar o Filho primogénito, aí pelos oito anos Dele, com o mais novito D. Afonso pela mão, para o não perder. E D. Amélia, num impulso semelhante, para socorrer um barqueiro acidentado debaixo de um bote que se virara. Mas foi Material Humano Deste que a República entendeu dever pôr a andar, decerto para não que não destoasse da mediocridade que ascendera. O primeiro dos eventos narrados deu-se no Mexilhoeiro, quatro vezes pintado pelo Soberano homenageado, aqui reproduzido na versão de 1885, e em que numa nova visão trabalhava quando o crime do Terreiro do Paço O interrompeu. O nome diz muito: mais uma vez, vitimados pela «choldra» que é a nossa vida pública e publicada, quem se lixa são o Ceptro e... o Mexilhão.

6 comentários:

  1. rudolfo moreira20/04/13, 10:46

    gostar tanto do mar depois de quase ter morrido afogado é mesmo dar a outra face

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  2. E, não esqueçamos, um apaixonado pela História Natural...Os dois volumes de aguarelas sobre as "Aves de Portugal", em boa hora reeditados pela INCM, são magníficos...

    Ab
    Tiago

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  3. Belo postal Meu Caro Paulo. Não falarei dos inegáveis dotes artísticos do martirizado Rei, mas apenas do espírito de sacrifício e sentido de responsabilidade (para mais paternal) dos autênticos Monarcas, atributos que já bastam para os colocar num patamar infinitamente superior à escumalha que os pôs "a andar".
    Forte abraço!

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  4. Sem dúvida, Meu Caro Rudolfo, sendo que talvez encontremos uma ressonância explicativa no facto de, pela localização cascalense, o dito Mexilhoeiro ser a mais visível forma de se passar ao lado da... Boca do Inferno. Como, sem Geografia à mistura, o cumprimento da Mensagem Evangélica, de resto.

    Aves e Peixes, Meu Caro Tiago. A Oradora referiu-se à correspondência por Ele trocada com Alberto do Mónaco em que as espécies marítimas ocupavam todo o espaço, com exepção de uma carta em que se queixava de os esforços que desenvolvia para evitar que a politiquice partidária arruinasse o País O estavam a desviar da atenção à Ciência.

    E, Meu Caro Marcos, nem sou muito sensível à personalidade do Rei D. Carlos, em que me repugnam o embarque nuns veios de anti-clericalismo (regular) e a tuteação a despropósito da classe política que esbatia a distância devida entre Trono e membros de partidos. Mas que tinha um inegável sentido Patriótico e categoria pessoal superior, ninguém pode negar, sobretudo quando confrontadas essas características com a facinorosa propaganda dos Republicanos sem escrúpulos.

    Abraços

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  5. "...os esforços que desenvolvia para evitar que a politiquice partidária arruinasse o País O estavam a desviar da atenção à Ciência."

    Isso é que é sentido do Dever...

    Ab
    Tiago

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  6. Meu Caro Tiago,
    ontem voltei lá, para ver uns diapositivos complementares, acerca do Iate Real Amélia, que, a partir da sua terceira versão, dispôs de laboratório a bordo e tudo. O Rei identificou trinta e tal espécies na Costa Portuguesa e estudou com afinco a pesca à sardinha e ao atum, bem como as movimentações de tubarões menos perigosos que os da politica partidária.

    Abraço

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